A última intérprete feminina a ganhar o Oscar de coadjuvante em um papel abertamente cômico foi… Mira Sorvino, por Poderosa Afrodite (1995)? Dianne Wiest, por Tiros na Broadway (1994)? Talvez Marisa Tomei, por Meu Primo Vinny (1992). Agora, aquela capaz de gerar não risos, mas gargalhadas, é provável que tenha sido Whoopi Goldberg, por Ghost: Do Outro Lado da Vida (1990). Como se vê, nos anos 1990 as comediantes eram reconhecidas, mas faz mais de duas décadas que não são premiadas. Será que este será o ano da virada? Ou, pela primeira vez, teremos uma indicada às Framboesas de Ouro (ou seja, como Pior do ano), também apontada como a melhor da temporada pelo mesmo papel? Há ainda a novata embalada por estar no filme com o maior número de indicações, uma respeitada atriz – mas que foi premiada há apenas dois anos – e uma grande dama do teatro e do cinema… na Coreia do Sul! Como se vê, nenhuma é uma escolha óbvia, o que resulta numa das disputas mais imprevisíveis deste ano. Diante deste cenário, confirma as nossas apostas para Melhor Atriz Coadjuvante!
Indicadas
Youn Yuh-Jung, por Minari: Em Busca da Felicidade
Apesar da candidata ter uma carreira de mais de 50 anos, Minari: Em Busca da Felicidade é o primeiro filme nos Estados Unidos da sul-coreana Youn Yuh-Jung (seu único trabalho em Hollywood antes havia sido uma participação na série Sense 8, 2015-2017). Dona de mais de 50 troféus conquistados ao redor do mundo, em festivais como Sitges, Asia Pacific Screen e Asian Film Awards, Yuh-Jung fica apenas um passo à frente de suas concorrentes por ter conquistado o prêmio do Screen Actors Guild Awards, o Sindicato dos Atores dos EUA – um dos mais importantes precursores do Oscar. Indicada ainda ao Bafta, ao Critics Choice e ao Independent Spirit, ficou de fora do Globo de Ouro. No entanto, foi reconhecida como a melhor coadjuvante feminina do ano pelos críticos de Austin, Boston, Columbus, Detroit, Georgia, Greater Western New York, Iowa, Kansas, Los Angeles, New Mexico, Carolina do Norte, North Texas, Oklahoma, Phoenix, San Diego, São Francisco, Seattle, Southeastern, St. Louis, Vancouver e Washington, além do prestigioso National Board of Review. Ou seja, é a escolha da crítica. Historicamente, no entanto, a Academia não tem costume de reconhecer estrangeiros nas categorias de atuação – Haing S. Ngor, de Os Gritos do Silêncio (1984), continua sendo o único asiático já premiado no Oscar. Será que teremos mudança neste ano? É esperar para ver!
Maria Bakalova, por Borat: Fita de Cinema Seguinte
Como dito no texto de abertura, já houve um tempo em que a Academia mantinha uma postura mais aberta em relação às performances cômicas. Faz um bom tempo, porém, que isso parece ter mudado, e nas últimas duas décadas somente foram premiadas atrizes que se debulharam em lágrimas nas telas. Maria Bakalova, em Borat: Fita de Cinema Seguinte, faz de tudo, até chorar. Uma das melhores surpresas do segundo filme com o estranho personagem criado por Sacha Baron Cohen, a atriz búlgara chegou a concorrer no Globo de Ouro como Melhor Atriz Protagonista, e foi indicada ainda ao SAG, Bafta e numa dezena de associações regionais de críticos. Premiada, de fato, foi no Critics Choice e pela Associação Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA, além das agremiações de críticos de Atlanta, Boston (online), Chicago, Florida, Houston, Indiana, Londres, Nova Iorque, North Dakota, Toronto e Utah. Curiosamente, assim como Glenn Close, também está disputando uma indicação nas Framboesas de Ouro. Mas ao contrário da veterana atriz, que deve passar pela sua oitava indicação ao Oscar mais uma vez sem vitória, Bakalova chega com reais chances de vitória, pois nas Framboesas concorre como “Pior Dupla” – pela insólita cena que protagoniza ao lado de um incauto Rudy Giuliani. Se houvesse o prêmio de “revelação do ano” no Oscar, esse certamente seria dela. Mas, como a disputa é com pesos pesados, tudo pode acontecer.
Amanda Seyfried, por Mank
Assim como as duas outras concorrentes apontadas acima, Amanda Seyfried também está indicada pela primeira vez. Porém, no seu caso, é menos pela força de sua atuação e mais pelo impacto do filme em que aparece – nada menos do que Mank, o recordista de indicações deste ano, concorrendo em 10 categorias. Dona de um ‘star quality’, um carisma que apenas as grandes estrelas de Hollywood desfrutam, Seyfried chamou primeiro atenção como uma das Meninas Malvadas (2004), foi protagonista do sucesso musical Mamma Mia! (2008), é lembrada por muitos pelo romântico Cartas para Julieta (2010) e esteve também no denso Fé Corrompida (2017), de Paul Schrader, talvez seu primeiro passo no sentido de ser reconhecida como uma atriz séria. Um movimento que começa a dar frutos agora, ao atuar sob a batuta de David Fincher. Pelo esforço de recriar nas telas a diva Marion Davies, foi indicada também ao Globo de Ouro, Critics Choice, Sociedade Nacional dos Críticos dos EUA, tendo ganhado apenas no Satellite. Somado ao fato de que ficou de fora do SAG e do Bafta, viu suas chances radicalmente diminuídas. No entanto, se encaixa bem no caso de que “apenas a indicação já é uma vitória”. E que se dê por satisfeita!
Ellen Burstyn, por Pieces of a Woman
É uma lástima o fato de Hollywood tratar tão mal seus veteranos, ainda mais no caso das mulheres. Ellen Burstyn possui nada menos do que seis indicações ao Oscar, tendo ganhado como protagonista por Alice Não Mora Mais Aqui (1974). Sua última indicação, no entanto, foi pelo impactante Requiem para um Sonho (2000) – ou seja, há mais de duas décadas! Mesmo assim, ela segue na ativa, apresentando performances poderosas, como a que pode ser presenciada em Pieces of a Woman. Pela composição que apresenta como a mãe de uma mulher que recém perdeu seu filho durante o trabalho de parto, Burstyn foi indicada ao Critics Choice e ao Satellite, além de ter sido premiada pelos críticos de Denver e de Nova Iorque (online). Pouco, diante do tamanho da sua entrega e do quão gigante é a sua presença em cena, mesmo que por tão poucos minutos. Ela certamente merecia mais, tanto no filme como também no Oscar!
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