Ao contrário de anos anteriores, quando grandes estrelas da música pop – como Elton John e Lady Gaga, para ficarmos apenas nas edições mais recentes – acabaram levando a estatueta dourada para casa, dessa vez não se tem celebridades do mesmo peso – a não ser que você considere Laura Pausini ou H.E.R. de igual estatura. Assim, num primeiro momento é possível imaginar uma disputa mais equilibrada. E isso acaba por se confirmar principalmente após a audição das selecionadas: afinal, nada menos do que três das cinco canções são letras de protesto, com os sugestivos títulos “lutarei por você”, “escute minha voz” e “fale agora”. Se essa é uma tendência, difícil apostar qual, portanto, seria a favorita, mas outras questões podem acabar pesando. Ainda mais quando se leva em conta que as duas faixas restantes foram responsáveis pelas únicas indicações ao Oscar dos seus respectivos filmes – seriam o que de melhor ambos tem a oferecer? Diante desse cenário, confira as nossas apostas para Melhor Canção Original.

 

Indicadas

 

FAVORITA
Speak Now”, de Leslie Odom Jr. e Sam Ashworth, por Uma Noite em Miami
Assim como Mary J. Blige (Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi, 2017), Lady Gaga (Nasce uma Estrela, 2018) e Cynthia Erivo (Harriet, 2019), Leslie Odom Jr. também conseguiu dupla indicação ao Oscar num mesmo ano, concorrendo em Canção Original e pela atuação no mesmo filme. E se até agora apenas Gaga conseguiu ser premiada, Odom tem tudo para também repetir essa vitória – ao menos nessa categoria. Astro do musical Hamilton (2020), um fenômeno da Broadway que foi lançado em streaming, ele é tão popular que concorre também como Ator Coadjuvante por Uma Noite em Miami. Por “Speak Now”, ele tem seu momento apoteótico em cena como o cantor Sam Cooke, além de ter se tornado a figura mais emblemática desse belo filme. Premiada no Critics Choice, no Music City Film Critics’ Association e pelos críticos de Chicago, Havaí, Houston, New Mexico, Phoenix e Georgia, a canção foi indicada ainda ao Globo de Ouro, ao Satellite e ao Black Reel Awards, entre outras premiações, e deve fazer bonito também na festa da Academia.

 

Ibrahima Gueye, Sophia Loren

AZARÃO
Io Si (Seen)”, de Diane Warren e Laura Pausini, por Rosa e Momo
Laura Pausini pode ser um cantora bastante popular na Itália ou mesmo no Brasil, mas é por causa de Diane Warren que “Io Si (Seen)” assume a posição de azarão da vez. Afinal, essa é nada menos do que a décima segunda indicação da renomada compositora ao Oscar – e ela segue sem vitória! Será que dessa vez a situação irá mudar? Warren está concorrendo pelo quarto ano consecutivo – ela é a Meryl Streep dessa categoria – e já se uniu a outras estrelas ainda maiores do que Pausini, como Celine Dion, Gloria Estefan, Aerosmith e a própria Lady Gaga, e acaba sempre batendo na trave. Dessa vez, ao menos, ela conta com o empurrão do Globo de Ouro, do Satellite e do CinEuphoria Awards, além de ter sido indicada ao Critics Choice e nas premiações dos críticos da Georgia, Houston e Havaí. Parece, portanto, o típico caso do “quase lá”. Agora, se conseguirá transformar esse eterno noivado com a Academia em casamento, só na noite do dia 25 de abril para descobrir!

 

SEM CHANCES
Husavik”, de Savan Kotecha, Max Grahn e Rickard Göransson, por Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars
Responsável pelo momento mais emocionante de Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars, “Husavik” é uma daquelas canções com cara de Oscar, românticas e repletas de momentos poderosos. Então, por que suas chances são quase nulas de vitória? Porque está em uma comédia besteirol estrelada por Will Ferrell – aliás, é a única indicação do filme, o que não chega a ser uma grande surpresa. Indicada ainda ao Critics Choice e nas premiações dos críticos de Chicago e Georgia, chegou a alcançar alguns reconhecimentos, como junto aos críticos de New Mexico, no International Online Cinema Awards e na Hollywood Critics Association, entidades um tanto obscuras, mas que ainda assim serve para pontuar os esforços aqui reunidos. Apenas para deixar também como registro, todos os três compositores – que já passaram por filmes como Cinquenta Tons de Cinza (2015) e O Bebê de Bridget Jones (2016), entre outros – estão concorrendo ao Oscar pela primeira vez.

 

ESQUECIDA
Tigress & Tweed”, de Andra Day e Raphael Saadiq, por Estados Unidos vs. Billie Holiday
Se a onda “canções de protesto” tivesse sido um pouco mais intensa, é certo que “Tigress & Tweed” teria conseguido um lugar entre as finalistas. Composta para servir de símbolo da luta da cantora Billie Holiday contra a perseguição sofrida por parte do Departamento de Narcóticos do FBI, a música foi indicada ao Globo de Ouro, ao Black Reel Awards e ao Critics Choice, sem falar que foi escrita pela mesma protagonista do filme, a estreante Andra Day – que está na disputa pela categoria de Melhor Atriz! Ou seja, parecia o combo completo… mas, de uma forma ou de outra, acabou não dando certo. O crédito pela ausência, no entanto, parece estar na conta do diretor Lee Daniels, que foi acusado pelo tom pesado da narrativa e pelas críticas controversas que a obra recebeu.

 

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As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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