Um comitê de membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood foi organizado, entre os interessados dispostos, para analisar apenas os candidatos entre curtas e projetos de animação. Esse grupo foi responsável por escolher, dentre 174 curtas-metragens de ficção elegíveis, 10 títulos que passaram por uma primeira seleção, e destes, os cinco finalistas. Os concorrentes são histórias diversas, que falam sobre a questão palestina – como apontamos em um artigo especial que você confere aqui – e sobre uma possível comunhão entre dois desconhecidos, sobre a urgência do movimento #VidasNegrasImportam (#BlackLivesMatter) e sobre o sistema carcerário norte-americano. Há produção estrangeiras e outras com astros bem conhecidos. Ou seja, um cenário bem diverso, que pode resultar até no mais inesperado dos candidatos cantando vitória na última hora. Sendo assim, confira as nossas apostas para Melhor Curta-metragem de Ficção:
Indicados
- Feeling Through (Doug Roland, Susan Ruzenski)
- The Letter Room (Elvira Lind, Sofia Sondervan)
- The Present (Farah Nabulsi)
- Dois Estranhos (Travon Free, Martin Desmond Roe)
- White Eye (Tomer Shushan, Shira Hochman)
FAVORITO
Dois Estranhos
Único dos cinco indicados já lançados comercialmente no Brasil, Dois Estranhos está disponível no catálogo da Netflix. (The Present, no entanto, também é uma produção original da plataforma, e deve ser lançado em breve. Além de ser uma aposta interessante, pois ganhou o Bafta). Esse fator, além de lhe ter garantido uma maior visibilidade, também possibilitou um engajamento a partir de uma abordagem original – o uso do dia que se repete, aos moldes de Feitiço do Tempo (1993) – para tratar de uma questão bastante urgente, a condição negra dos Estados Unidos de 2020. De forte impacto visual, o filme dirigido por Travon Free e Martin Desmond Roe é estrelado pelo cantor Joey Bada$$ e pelo ator Andrew Howard, o primeiro como o jovem negro que, invariavelmente, acaba seu dia morto pelo policial branco interpretado pelo segundo. Com forte conexão com um debate altamente relevante, é o filme que tem estimulado a reflexão de muita gente, além de ser aquele candidato que surge na hora certa. Ou seja, te tudo para levar a estatueta dourada para casa!
AZARÃO
The Letter Room
Apontado por uns como o favorito e por outros com aquele com menos chance de vitória, The Letter Room é o concorrente mais “tradicional”, digamos, dentre os cinco indicados. Ou seja, é uma história com início, meio e fim, e não aborda nenhuma causa imprescindível. Além disso, traz como protagonista o astro Oscar Isaac – não por acaso, marido da diretora Elvira Lind – o que pode facilitar uma familiaridade com muitos dos votantes. Ele aparece como um guarda carcerário responsável por toda a correspondência que entra no presídio, e como acaba se envolvendo com os dramas descritos em cada uma daquelas mensagens. Essa é a primeira indicação de cada uma das produtoras, e além disso o filme foi selecionado para os festivais de Tribeca, HollyShorts e Palm Springs – sem nenhuma vitória, no entanto. Mas corre por fora, tanto pela trama mais acessível como por ser “o curta do Oscar Isaac”, o que deve lhe garantir vários fotos. Não é a aposta mais segura, mas se ganhar, não será surpresa pra ninguém.
SEM CHANCES
Feeling Through
De composição quase amadora, Feeling Through – disponível na íntegra, em formato original, no YouTube – é um filme que fala mais pelo que estimula do que por seu valor fílmico. Ao contar a improvável amizade entre dois homens, um negro que não tem onde morar e um branco cego e surdo que precisa voltar para casa, o filme possui uma narrativa um tanto arrastada e bastante melodramática, que deverá comover apenas os mais sensíveis. Porém, é politicamente relevante, pois trata-se do primeiro trabalho do ator Robert Tarango – que, de fato, é cego e surdo – e, além disso, conta com a produção da atriz Marlee Matlin (vencedora do Oscar por Filhos do Silêncio, 1986), que é deficiente auditiva. Ou seja, deverá angariar os votos daqueles mais preocupados com o politicamente correto do que com o cinema em si. Felizmente, esses segundos devem ser a maioria.
ESQUECIDO
The Human Voice
Entre os cinco curtas pré-selecionados, mas que não passaram por essa última “peneira”, estavam o indiano Bittu (2020), premiado no HollyShorts e no Festival de Denver; o ganense Da Yie (2019), que soma até o momento mais de 70 troféus no circuito internacional de festivais; o norueguês Sparkekoret (2020), vencedor do Festival de Cinema Infantil de Chicago; e o albanês The Van (2019), selecionado para o Festival de Cannes. A ausência de nenhum desses títulos causou maior espanto do que a daquele que, até o anúncio dos indicados, era apontado como o provável vencedor da categoria: The Human Voice (2020), escrito e dirigido por ninguém menos do que o espanhol Pedro Almodóvar! Em sua primeira obra falada em inglês – e filmada durante a quarentena provocada pela pandemia do Covid-19, com todos os protocolos e cuidados necessários – a trama estrelada pela grande Tilda Swinton – em um papel que já foi interpretado por divas como Sophia Loren e Ingrid Bergman – é baseada no texto clássico de Jean Cocteau e marca a volta do cineasta ao formato mais enxuto após mais de uma década (o último havia sido La Concejala Antropófaga, 2009). Ou seja, parecia a combinação perfeita para o estrelato. Pena que a Academia não concordou.
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