Algo curioso ocorre nessa categoria em 2021: o favorito nem foi indicado. E não por falta de merecimento, mas por uma questão técnica: pelas regras da Academia, um longa dos Estados Unidos não pode concorrer a Melhor Filme Internacional, ainda que seja falado, em sua maior parte, em outro idioma que não o inglês. Foi pelo mesmo motivo, por exemplo, que Cartas de Iwo Jima (2006) recebeu quatro indicações – inclusive a Melhor Filme (e até ganhou como Melhor Edição de Som), mas ficou fora dessa disputa, mesmo sendo inteiramente falado em japonês. O mesmo se deu dessa vez com Minari: Em Busca da Felicidade. Mesmo que a língua empregada pelos personagens na maior parte do tempo seja o sul-coreano, trata-se de uma produção norte-americana, e, por isso, o filme era inelegível por aqui. No entanto, como na maior parte das demais premiações o nome da categoria é “Melhor Filme em Língua Estrangeira”, uma diferença pequena, mas significativa, ele não apenas pôde concorrer, como ganhou quase tudo. Premiado no Globo de Ouro, Critics Choice e em dezenas de associações regionais de críticos por todo o país, no Oscar conquistou seis indicações – inclusive a Melhor Filme – mas por aqui foi impedido de aparecer (diferentemente de Parasita, no ano passado, que marcou presença em ambas – e ganhou as duas – pois se tratava de uma produção sul-coreana). Assim, o cenário pode parecer um pouco confuso num primeiro momento, mas ainda assim é possível arriscar previsões. Portanto, confira nossas apostas para Melhor Filme Internacional.
Indicados
- Druk: Mais Uma Rodada (Dinamarca)
- Better Days (Hong Kong)
- Collective (Romênia)
- O Homem que Vendeu sua Pele (Tunísia)
- Quo Vadis, Aida? (Bósnia e Herzegovina)
FAVORITO
Druk: Mais Uma Rodada (Dinamarca)
Dos cinco indicados a Melhor Filme Internacional, apenas dois disputam mais uma categoria: Collective, que concorre ainda a Melhor Documentário em Longa-metragem, e Druk: Mais Uma Rodada, selecionado também para Melhor Direção. Ou seja, se esses dois saem um passo adiante dos demais, o drama de Thomas Vinterberg desponta como favorito por ter sido lembrado numa de maior prestígio. E, claro, a ausência de Minari: Em Busca da Felicidade facilitou bastante esse processo. O cineasta já havia sido indicado antes por A Caça (2012) – estrelado pelo mesmo Mads Mikkelsen de Druk – e é considerado um dos pais do movimento Dogma 95. Indicado ao Globo de Ouro, ao Bafta, Satellite e ao Critics Choice, foi também o grande vencedor do European Film Awards e escolhido como a melhor produção estrangeira do ano pelos críticos de Atlanta, Chicago, Georgia, Indiana, Kansas, Londres, Carolina do Norte, Phoenix, São Francisco, Southeastern, St. Louis, Utah e Washington. Ou seja, é uma das apostas mais seguras do ano de vitória.
AZARÃO
Quo Vadis, Aida? (Bósnia e Herzegovina)
Esta é a segunda indicação da Bósnia ao Oscar – sendo que o país foi premiado pela primeira, o drama Terra de Ninguém (2001). Duas décadas se passaram até voltar à maior premiação do cinema mundial, e novamente com chances de vitória. Indicado também ao Bafta e ao Film Independent Spirit Award, foi exibido pela primeira vez na seleção oficial do Festival de Veneza e premiado nos eventos de Roterdã, Miami, Sofia, Antalya, El Gouna, Göteborg, Jerusalem e Luxemburgo, entre outros. Como se percebe, Quo Vadis, Aida? não é um título que possa ser desconsiderado. Escrito e dirigido por Jasmila Zbanic – cineasta que está concorrendo também ao Bafta na categoria de Direção – este é um filme que fala sobre um problema global (os movimentos migratórios devido às regiões em guerra pelo planeta) e certamente tem seus defensores entre os votantes da Academia.
SEM CHANCES
Better Days (Hong Kong)
Se Druk: Mais Uma Rodada, Quo Vadis, Aida? e até Collective eram presenças esperadas, como os representantes da Tunísia e, principalmente, de Hong Kong acabaram aparecendo entre os finalistas nessa categoria? Um dos mistérios que o Oscar volta e meia apresenta. O candidato da Romênia tem poucas chances por ser um documentário, mas como no ano passado também houve um título presente nas duas seleções (Honeyland, da Macedônia), quem sabe isso não esteja indicando uma mudança no comportamento da Academia? Já O Homem que Vendeu sua Pele foi premiado no Festival de Veneza e também circulou, ainda que de modo discreto, por diversos festivais. Mas o que dizer de Better Days (Shaonian de ni, no original), um drama criminal com 2h15min de duração, que chegou a fazer algum barulho no Oriente (foi premiado pela Academia de Cinema de Pequim, no Asian Film Awards, pela Associação de Críticos Asiáticos, pela Associação de Críticos da China, no Festival de Cinema de Macao, pelos críticos de Shanghai e foi o grande vencedor do Hong Kong Film Awards), mas que passou praticamente desapercebido pelo Ocidente – quer dizer, ao menos até agora. Sem previsão de lançamento no Brasil, é, provavelmente, a grande incógnita deste ano.
ESQUECIDO
Nós Duas (França)
Um total de 15 títulos foram anunciados como semifinalistas nessa categoria, dentre os 93 encaminhados por seus respectivos países para avaliação da Academia de Hollywood. Nessa lista estavam La Llorona (Guatemala), indicado ao Globo de Ouro e ao Critics Choice, e Ya No Estoy Aqui (México), indicado ao Satellite e ao DGA. Outro que talvez conquistasse uma simpatia entre o corpo total de votantes, mas que nem chegou a passar por essa primeira “peneira”, foi Rosa e Momo (Itália), que também foi indicado ao Globo de Ouro e ao Critics Choice. No entanto, a ausência de maior impacto, e mais pelo país do que pelo filme em si, é a do drama Nós Duas (França). Igualmente indicado ao Globo de Ouro, Critics Choice e Satellite, foi premiado no César e, mais importante, era o representante da nação com o maior número de indicações em toda a história da premiação (39 até hoje), tendo ganhado em 12 ocasiões – a última vez, no entanto, foi há quase trinta anos (Indochina, em 1992).
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