Dos cinco indicados ao Oscar nesta categoria, quatro disputaram também a premiação do Writers Guild of America (o Sindicato dos Roteiristas dos EUA), o mais forte indicativo ao Oscar neste quesito. Porém, o único a ter ficado de fora é um títulos mais elogiados da temporada, o que deixa a situação ainda mais confusa. E, se todos os concorrentes estão também na concorrendo na disputa principal – a de Melhor Filme – uma análise mais acurada só pode ser feita a partir de outros fatores, como bastidores, premiações paralelas e histórico dos concorrentes. Se, por um lado, alguns novatos já chegaram fazendo barulho, há também velhos conhecidos muito respeitados – e de forma alguma podem ser considerados cartas fora do baralho. O mais curioso, no entanto, são as tramas que defendem: dois são baseados em episódios reais, um aborda a jornada de uma família em busca de uma vida melhor e os restantes acompanham trajetórias particulares, seja de uma mulher tentando superar seus traumas ou de um homem à procura de seu lugar no mundo após sua vida ter sido virada de cabeça para baixo. Qual dessas tramas irá comover em cheio o coração – e as mentes – dos votantes da Academia? Confira nossas apostas a seguir!

 

Indicados

 

 

FAVORITO
Emerald Fennell, por Bela Vingança
Mais conhecida como atriz – apareceu na série The Crown (2019-2020) e em filmes como Albert Nobbs (2011) e A Garota Dinamarquesa (2015) –, Emerald Fennell não pode ser apontada como uma roteirista de primeira viagem: assinou seis episódios da segunda temporada de Killing Eve (2019), entre outros trabalhos no ramo. Mesmo assim, ao conquistar de uma só vez três indicações ao Oscar neste ano – concorre também como produtora e diretora – seu nome foi parar na boca de todo mundo, como aquela na qual se deve prestar atenção. E se nas duas outras indicações suas chances são menores, aqui é a aposta mais provável de vitória: ainda mais após ter ganhado nessa categoria na premiação do Sindicato dos Roteiristas da América (WGA). Somou reconhecimentos também no Satellite, Critics Choice e junto aos críticos de Atlanta, Columbus, Dallas-Fort Worth, Georgia, Houston, Kansas, Los Angeles, Nevada, Nova Iorque (online), Dakota do Norte, Oklahoma, St. Louis e Washington. Além disso, foi indicada ao Globo de Ouro, Bafta, Film Independent Spirit e nas premiações dos críticos de Austin, Chicago, Denver, Detroit, Havaí, Indiana, Carolina do Norte, Phoenix, San Diego, São Francisco, Southeastern, Utah e Vancouver. Ou seja, Bela Vingança é dono do roteiro mais premiado do ano, e tem tudo para repetir essa façanha também na maior festa de Hollywood.

 

AZARÃO
Aaron Sorkin, por Os 7 de Chicago
Vencedor do Oscar pelo roteiro adaptado de A Rede Social (2010), Aaron Sorkin é também o diretor de Os 7 de Chicago. Como ficou de fora da categoria de Direção, concentra todas as suas chances aqui – e elas não podem ser ignoradas. Premiado pelo Globo de Ouro, pelo National Board of Review e pelos críticos de Denver. Vancouver, Utah e do Havaí, foi indicado ainda ao Bafta, ao Critics Choice, ao Satellite e pelos críticos de Austin, Chicago, Columbus, Dallas-Fort Worth, Detroit, Florida, Georgia, Houston, Indiana, Kansas, Londres, Carolina do Norte, Phoenix, San Diego, São Francisco, St. Louis e Washington. Ou seja, é um histórico de respeito, que pode ser suficiente, para muitos dos votantes e lhe garantir o ouro na reta final. Sem falar de Sorkin é um dos roteiristas mais respeitados atualmente em Hollywood, com longa carreira tanto no cinema (essa é sua quarta indicação ao Oscar) como na televisão (possui seis Emmys conquistados pela série The West Wing, 1999-2003). Ou seja, se quem tem amigos, tem tudo, esse é o nome a ser batido.

 

SEM CHANCES
Will Berson, Shaka King, Kenneth Lucas e Keith Lucas, por Judas e o Messias Negro
Minari: Em Busca da Felicidade
foi o único dos cinco indicados aqui que ficou de fora da seleção do Sindicato dos Roteiristas. Mas, como é um dos mais fortes concorrentes na categoria principal, uma surpresa por aqui não pode ser descartada. É por isso que, no seu lugar, quem ocupa a vaga de “estou apenas a passeio” é Judas e o Messias Negro. O roteiro escrito pelo diretor Shaka King em parceria com Will Berson e com os irmãos Kenneth e Keith Lucas – todos estreantes no Oscar – foi indicado, anteriormente, além do WGA, ao Black Reel Awards, pela Associação de Críticos Latinos e pelos críticos de Detroit, tendo sido premiado apenas na premiação dos críticos de Las Vegas. Muito pouco para disputar com chances concretas de vitória, ainda que sua presença seja não apenas justificada, mas também merecida.

 

ESQUECIDO
Jack Fincher, por Mank
Essa talvez seja uma das maiores surpresas na atual edição do Oscar – em todas as categorias! Como o filme campeão de indicações, cuja trama se dá exatamente sobre a construção de um roteiro de um clássico do cinema – e vencedor do Oscar, aliás – conseguiu ser indicado a tudo, menos na categoria à qual dedicou maior atenção? Projeto dos sonhos do diretor David Fincher há décadas, Mank foi construído a partir de um roteiro do pai do cineasta, Jack Fincher, já falecido. Indicado ao Globo de Ouro, Bafta, Critics Choice, ao Satellite e em mais de uma dezena de premiações regionais da crítica norte-americana, deu o primeiro sinal de que algo não cheirava bem quando ficou de fora da seleção do WGA (no seu lugar entrou da comédia Palm Springs). Para entender, no entanto, como essa ausência se deu, o indicado é investigar os bastidores da produção, que foi acusada de repetir o mesmo drama vivido na ficção retratada em cena: Eric Roth, um dos produtores do filme e roteirista vencedor do Oscar por Forrest Gump: O Contador de Histórias (1994), teria praticamente reescrito todo o texto do papai Fincher, mas por uma questão contratual, não foi creditado, já que o Fincher filho sonhava com um reconhecimento único ao pai. Essa história acabou vazando, e ainda que possa ser apenas boato – nada foi confirmado – foi o suficiente para “queimar” a imagem da produção entre os colegas de escrita que deixaram claro o recado de insatisfação com o ocorrido ao excluírem a obra justamente da indicação mais sonhada pelo realizador.

 

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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