A mostra Panorama do Cinema Alemão apresentou durante o mês de novembro em quatro capitais brasileiras uma estudada seleção do que de melhor tem se produzido no cinema germânico atualmente. Dos dez longas escolhidos, apenas quatro são trabalhos de 2012, enquanto que a maioria chegou às salas da Alemanha nos últimos meses, muitos ainda dando início às suas carreiras internacionais – e começando, justamente, pelo Brasil! Essa mesma percepção, no entanto, não se repete nos títulos selecionados para a Mostra de Curtas-metragens, com seis obras bastante variadas e representativas em termos de gênero, formato e temáticas. Estes trabalhos foram lançados há algum tempo, e se o ineditismo se restringe a uma questão local, ao menos temos o referendo de suas passagens por festivais e premiações ao redor do globo, em sua maioria com retornos muito positivos.

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A Princesa, o Príncipe e o Dragão de Olhos Verdes (Animação, 2011)
A única animação do grupo é um divertido e irônico conto de fadas sobre um príncipe empolado, uma princesa muito prática e um dragão que até tenta ser malvado, mas logo é enrolado pelo carinho e pela simpatia da menina real. As técnicas empregadas no desenho animado são quase rudimentares – muito distantes dos deslumbres promovidos pelo 3D cada vez mais usual, por exemplo – mas o bom texto e o carisma dos personagens compensam. Na direção está Jakob Schuh, que foi indicado ao Oscar por seu curta anterior, The Gruffalo (2009).

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O Balanço do Fabricante de Caixões (Ficção, 2012)
Premiado no German Film Critics Awards como Melhor Curta-metragem, este drama ambientado no Azerbaijão tem como protagonistas um fabricante de caixões e seu filho, dono de uma leve deficiência mental. Sem muita paciência com o garoto, que ocupa seus dias ajudando-o em sua oficina, o velho percebe certa noite gemidos estranhos do jovem. Ao levá-lo a um médico, recebe como diagnóstico cruel: dono de um câncer raro, o rapaz deve ter menos de um mês de vida. A notícia é encarada com praticidade, e entre tirar medidas para a construção do próprio esquife e uma tentativa frustrada de uma primeira relação sexual, os dois irão perceber que dependem muito mais um do outro do que imaginavam. Isso, claro, até o final revelador, que comove e apazigua. É um bom filme, certamente o melhor da mostra.

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Olgastrasse n° 18 (Experimental, 2011)
Com apenas quatro minutos de duração, é o menor de todos os curtas. Assim como os créditos já apontam, trata-se apenas de um experimento, uma brincadeira em stop motion sobre a rotina de uma família em sua casa, tendo como testemunho apenas seus coisas e objetos, os únicos que contarão com nosso testemunho. Curioso, no máximo.

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A Central Nuclear Mais Segura do Mundo (Documentário, 2011)
Entre ficções, exercícios dramáticos e uma animação, há espaço também para esse interessante documentário ambientado na Áustria, onde, em 1978, foi construída uma indústria nuclear que, no entanto, até hoje encontra-se desativada, sem nunca ter sido colocada em funcionamento. Isso aconteceu porque na época de sua suposta inauguração, em plena Guerra Fria, uma votação popular impediu sua abertura. Hoje, mais de 30 anos depois, ela segue pronta para o uso, esperando apenas a ordem necessária para tal. Entrevistas com o responsável – até hoje pronto para o início de suas atividades – despertam uma triste ironia, ao mesmo tempo em que outras pessoas acabam justificando a existência do lugar sob diferentes formas, como o uso do espaço por uma escola infantil, campo de golfe e até para ativistas do Greenpeace treinarem seus protestos. Um pouco longo, mas ainda assim pertinente.

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Em Casa (Ficção, 2011)
Indicado ao German Film Critics Award como Melhor Curta-metragem e premiado no Festival de Huesca, na Espanha, este drama sobre jovens ciganos refugiados e sem pátria é o segundo trabalho do diretor e roteirista Nenad Mikalacki. Ele acompanha a rotina de dois garotos sérvios que aceitam servirem de guia a uma senhora alemã que lá se encontra para reencontrar o local onde nasceu e passou sua infância. Enquanto os três tentam reencontrar essa casa de sonhos perdidos e memórias esquecidas, as diferenças entre eles ficarão cada vez menores, até o ponto em que não será mais possível perceber as diferenças entre os que possuem legitimidade para estarem ali ou não. É um filme difícil, que incomoda pelo ritmo truncado ou pelos personagens tão distantes, mas que estimula uma importante reflexão ao seu término.

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O Projeto da Centrífuga de Cérebros (Ficção, 2012)
O mais divertido e insólito de todos os curtas apresentados é nada mais do que uma divertida brincadeira. Escrito e dirigido por Till Nowak, este filme já ganhou mais de uma dezena de prêmios internacionais – entre eles, nos festivais de Aspen, Dresden, Hamburgo, Moscou e San Sebástian – além de ter sido selecionado para o Annecy, o mais importante festival do gênero em todo o mundo. Apresentado em forma de documentário, apresenta um cientista maluco que descreve como, desde os anos 1970, diversos experimentos disfarçados de brinquedos em parques de diversões tem analisado os efeitos e as reações do cérebro humano quando em busca de felicidade e liberdade. Rápido e eficiente, impressiona também pelo visual, desde a competente reconstituição histórica até os criativos efeitos visuais.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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