20170711 ida lupino papo de cinema

Não à toa, muitos esquecem que inúmeras mulheres ajudaram a moldar a história do cinema. O sistema dos grandes estúdios da clássica Hollywood foi um ambiente hostil para diretoras, roteiristas, montadoras, produtoras e outras profissionais que exerciam várias funções na indústria, tendência da qual ainda não nos libertamos completamente. As pioneiras que conseguiram conquistar seus lugares por trás das câmeras no século passado, porém, nem sempre são lembradas ou têm suas contribuições reconhecidas. Por isso, é fundamental reescrever a história da sétima arte e conhecer as mulheres que pavimentaram o caminho das cineastas de hoje. Mulheres como Ida Lupino.

De origem inglesa e ascendência italiana, Ida chegou a Hollywood ainda adolescente, quando foi acompanhar a mãe num teste de elenco e acabou sendo contratada. Aos 15 anos, assinou um contrato com a Paramount e, duas décadas depois, tornou-se a única diretora em atividade em Hollywood, além de seguir trabalhando como atriz. Depois de abrir a própria produtora, passou a dirigir, roteirizar e produzir suas obras – entre elas, o primeiro filme noir dirigido por uma mulher: The Hitchhiker, de 1953. Sem medo de subverter as convenções do gênero, ela fez desse longa-metragem um poderoso estudo de personagem, com um enredo simples, orçamento modesto e excelentes performances – todas masculinas.

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Depois de dirigir apenas oito filmes, Ida passou a trabalhar na televisão, colecionando créditos em praticamente todos os tipos de série: de western a ficção científica. Como diretora, passou por episódios de Além da Imaginação (foi, também, a única mulher a dirigir a série), Os Intocáveis, A Feiticeira, Alfred Hitchcock Presents e Gilligan’s Island. Como atriz, continuou trabalhando consistentemente nas telinhas (As Panteras, Bonanza, Batman, entre outros) e telonas. Sempre ciente de sua condição de única mulher no seu meio, a “mãe” do set de filmagem (cuja cadeira trazia os dizeres “Mother of us all” em vez de “diretora”) desafiou completamente as normas da velha Hollywood, aproveitou seu trabalho como atriz para aprender e sustentar o ofício de cineasta e desenvolveu a habilidade de navegar num ambiente predominantemente masculino e conquistar seu espaço. Em entrevistas, lamentava que outras mulheres não tivessem as mesmas chances.

Mais do que uma grande e prolífica atriz, Ida Lupino sacudiu a velha Hollywood e ajudou a formar a televisão dos anos 60 e 70. Hoje, seus filmes entraram em domínio público, e muitos podem ser facilmente encontrados na internet – tarefa obrigatória para quem se interessa pela trajetória das mulheres no cinema.

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cursa Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo e é editora do blog Cine Brasil.
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