Os bons publicitários (e os ruins também, infelizmente) sabem que é sempre bom pegar carona no assunto do momento e fazer dinheiro com isso. Logo, bastou que estudos acadêmicos e coletivos voltassem seus interesses a questões ligadas ao feminismo para que, como num passe de mágica, marcas dos mais variados setores se mostrassem interessadas na valorização da mulher e em fugir de estereótipos que, não podemos esquecer, foram criados por elas próprias. Produtores cinematográficos não pensam muito diferente e basta uma breve observada na lista de próximos lançamentos para ver que o cinema de ação está preparando uma leva de protagonistas femininas.
Um dos últimos exemplos foi um vídeo de divulgação do filme Atômica (2017), estrelado por Charlize Theron. Nele, Charlize aparece treinando golpes e suando a camiseta nos ensaios, já que sua personagem é uma agente secreta. Ao lado da loira, Jennifer Garner está cotada para estrelar Peppermint, próximo trabalho do diretor Pierre Morel (o mesmo de Busca Implacável, de 2008) e que promete ser a versão feminina de John Wick, um dos melhores personagens de ação dos últimos tempos. Até aí, tudo bem. Não é de hoje que mulheres vão ao cinema em busca de tiros e perseguições, pois o gosto por adrenalina nada tem a ver com gênero. O problema é que, assim como as propagandas que se dizem empoderadoras das mulheres, o cinema de ação se contenta em nadar na superfície. O que diferencia Atômica ou Peppermint de outras produções da mesma linha é o gênero do protagonista. O conteúdo da trama é o mesmo das estreladas por homens. Ou seja, no cartaz do filme surge uma supermulher, nada mais que um cara de saias.
Portar metralhadora e dar porrada em homem pode até dar um ar girl power a um filme, mas não satisfaz. Socos, tiros, torturas e cara de mau as mulheres já tiveram de sobra com Sylvester Stallone, Steven Seagal e Jean-Claude Van Damme. Queremos abordagens realmente próximas das dúvidas e dos desejos que nos movem. Nossas vinganças podem ser mais sutis ou até mais violentas que as dos heróis masculinos; nossa relação com o instinto é diversa e até a importância que damos à presença de romance numa trama passa longe do que alguns roteiristas acreditam ser o “padrão”. Queremos ser protagonistas no sentido mais intenso da palavra, donas das histórias, e não apenas um par de seios com boa pontaria. Aqui vale um parêntese para o figurino. Não há qualquer problema em ser sexy entre um tiro e outro, mas isso não pode ser o centro da atenção. Claro que os espectadores homens vão olhar as pernas, a bunda e tudo mais que ficar visível. Ninguém é cego. Mas o que precisa surpreender é o modo como essas mulheres lidam com as próprias curvas. Sem essa de esquecer o objetivo da missão porque ganhou um elogio. É preciso distrair o inimigo. Se ele for homem, é ainda mais fácil. Desculpem garotos, mas isso é uma verdade.
Como admiradora do cinema de ação desde os primeiros anos de cinefilia, aguardo com ansiedade pela estreia das novas garotas movidas a tiro, porrada e bomba. Mas tenho certeza que não serei a única espectadora exigente. Não basta ser badass. É preciso ser mulher. E isso é muito mais perigoso e complicado do que qualquer homem possa imaginar.
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