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PERFIL :: Quem é Bruno Aleixo?

Publicado por
Marcelo Müller

Nesta quinta-feira, 18, chega aos cinemas pela Risi Film Brasil O Natal do Bruno Aleixo (2022), segundo longa-metragem protagonizado por esse personagem famoso em Portugal, que também tem um grupo de fãs brasileiros e em outros territórios da língua portuguesa. Mas, afinal de contas, quem é Bruno Aleixo? Qual é a origem dessa figura que nasceu ewok, ou seja, membro de uma das raças alienígenas da saga Star Wars, e que precisou ser repaginado como “um cão yorkshire terrier com sotaque de aldeias serranas do distrito de Coimbra” por questões de direitos autorais? Surgido na internet, Bruno Aleixo é um personagem de animação que rapidamente conquistou espectadores fieis com o seu humor ácido e a sua característica ranzinzice. Criado por João Moreira, Pedro Santo e João Pombeiro, protagonizava inicialmente esquetes veiculadas no YouTube numa série intitulada Os Conselhos que Vos Deixo, histórias que imaginavam Bruno como um ewok falecido, mas que tinha deixado uma fita com conselhos para as próximas gerações, conforme vemos no vídeo abaixo.

O sucesso imediato de Bruno Aleixo na internet rendeu aos seus criadores o convite para migrar à televisão. Então, ainda em 2008, foi lançado O Programa do Aleixo no canal português SIC Radical, com sete episódios em sua primeira temporada. A segunda leva estreou apenas em 2012 na mesma emissora. A mudança de visual de Bruno Aleixo, que deixou de ser um ewok e passou a ser mais semelhante a um cão, se deu para evitar constrangimentos legais, uma vez que João Moreira, Pedro Santo e João Pombeiro não tinham autorização da Lucasfilm, detentora dos direitos sobre os personagens do universo Star Wars, para utilizar o visual dos nativos da lua de Endor. Com a ida do personagem à televisão, houve a necessidade de expandir o seu mundo, sobretudo o povoando com personagens tão ou mais bizarros do que esse cão falante que está sempre a resmungar. Então surgiram o alvo busto de Napoleão Bonaparte (Busto), a action figure da série O Homem de Seis Milhões de Dólares (1974-1978) (Homem do Bussaco), o Mostro da Lagoa Negra (Renato Alexandre), o médico invisível (Dr. Ribeiro), o porteiro inocente (Nelson) e o amigo brasileiro (Seu Jaca), para citar apenas os mais conhecidos e queridos do público.

Um dos elementos que garantiu a continuidade do êxito multiplataforma de Bruno Aleixo foi a mistura peculiar entre personagens excêntricos, quase estáticos e precariamente animados de propósito, com discussões cotidianas. O Programa do Aleixo contou com os quadros: Revista de Imprensa, Um Amigo Meu, Opinião Civil, O Busto Apresenta um Mito Urbano-Rural (e eu logo digo se é verdade ou não), Entrevista, Mister Cimba, Jogo de Casa e Animatógrapho. Graças a internet, Bruno Aleixo e companhia ganharam uma legião respeitável de fãs no Brasil. Aliás, vale aqui uma observação: Bruno é filho de pai português e mãe brasileira. E, cá convenhamos, há uma malemolência tipicamente brazuca nas aventuras desse personagem adorável e incorreto. Os criadores dizem que o sucesso com o público brasileiro aconteceu de modo completamente orgânico, mas que uma vez identificado esse êxito, eles fazem questão de incentivá-lo, como ao criar um derivado do Programa do Aleixo que se chamou Aleixo no Brasil, criar esquetes em que o protagonista discute sobre o campeonato brasileiro de futebol ou mesmo ao dedicar um verbete da Aleixopédia a explicar o nosso gigante latino-americano, como podemos ver abaixo.

Aliás, por falar em derivados do Programa do Aleixo, vários deles foram produzidos visando veiculação no YouTube como estratégia para expandir esse universo singular. São alguns deles: Aleixo no HospitalBusto no Emprego, Mister Cimba7 Artes, Aleixo Psi A Pandilha – alguns migraram posteriormente à televisão. O Homem do Bussaco, um dos coadjuvantes mais queridos, ganhou espaço próprio num quadro do programa 5 Para a Meia-Noite, transmitido pela emissora portuguesa RTP2, no qual conta uma história sobre o tema da semana, chegando a ser substituído por Bruno Aleixo num dos episódios. Em 2009, Bruno Aleixo estreou no rádio, com pequenas inserções de dois a três minutos cada, em que comenta trivialidades do dia a dia ao lado de seu companheiro Busto. O Aleixo FM saiu do ar em 2010, depois de 104 episódios, retornando à emissora em 2016, quando também entrou no ar o Aleixopédia. Desde 2022, está também no ar o Aleixo Amigo, programa em que Bruno dá conselhos aos ouvintes. De fato, estamos diante de um fenômeno multimídia que abrange até o cinema.

O Filme do Bruno Aleixo (2019) foi a primeira incursão do personagem pelas telonas. Na trama, Bruno decide escrever uma autobiografia. Sem ideias, se reúne com amigos para que lhe deem pistas sobre o texto. Trata-se de uma hora e meia de um brainstorm caótico, muito condizente com o humor ácido de Bruno Aleixo. Já em 2022, às vésperas do Natal, estreou em Portugal O Natal do Bruno Aleixo (2022), inspirado em Um Conto de Natal, de Charles Dickens. Nele, Bruno sofre um grave acidente e fica em estado de coma dias antes do Natal. Para tentar resgatá-lo dessa condição inerte, um psicólogo propõe a amigos e familiares que relembrem à beira de sua cama hospitalar alguns natais passados com Bruno, o que desencadeia memórias nem sempre positivas. É fácil se identificar com os momentos de tensão familiar à mesa, com as desavenças criadas por aquele parente mala que não vimos o ano todo, entre outras situações superdivertidas que aqui ganham como tempero especial o humor ranzinza e ácido do personagem. Além disso, claro, há a participação dos amigos de Bruno, principalmente os inconfundíveis Homem do Bussaco, Busto, Renato Alexandre, Dr. Ribeiro e Nelson. O filme chegou ao Brasil em 18 de janeiro de 2024, ou seja, depois da época natalina, o que bem pode ser lido como uma travessura do sacana do Bruno Aleixo com seus amigos do Brasil.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.