Na última segunda-feira do mês de setembro, o Papo de Cinema, junto com alguns outros poucos veículos nacionais – onlines e impressos – foi convidado a participar de uma sessão muito especial. No dia 25, uma sala de cinema em um dos principais shoppings do Rio de Janeiro foi aberta pela manhã exclusivamente para estes convidados, que tiveram uma oportunidade única: conferir, em primeiríssima mão, a cerca de 20 minutos de cenas selecionadas do aguardado Blade Runner 2049 (2017), a tão comentada sequência do sucesso cult de 1982, mais uma vez estrelada por Harrison Ford, agora ao lado de nomes como Ryan Gosling e Jared Leto.
E aí está o ponto da questão: Jared Leto. O vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por Clube de Compras Dallas (2013) é, também, líder da banda 30 Seconds to Mars, uma das grandes atrações da noite de encerramento do Rock in Rio 2017. Aproveitando sua passagem pelo Brasil – e a eminência da chegada do seu novo filme às telas – a Sony Pictures aproveitou para chamar alguns poucos jornalistas para, na capital carioca, bater um papo inédito e exclusivo com o astro, antecipando um pouco deste que é um dos filmes mais comentados desta temporada. E, é claro, o Papo de Cinema estava presente.
Portanto, estes vinte minutos de Blade Runner 2049 a que tivemos acesso não correspondem exatamente ao início da trama, e nem eram tampouco uma seleção específica de todas as cenas com Niander Wallace, personagem defendido por Leto. O objetivo era outro: proporcionar aos jornalistas uma experiência em primeira mão sobre o visual e o clima do longa dirigido pelo canadense Denis Villeneuve, sentir a ambientação da nova história e conhecer um pouco, propositalmente sem muito aprofundamento, sobre os novos personagens. Foi tudo apresentado de forma aleatória e fora de contexto – e era justamente essa a ideia.
Sem spoilers ou qualquer revelação que oferecesse uma conexão maior entre o primeiro e o segundo filme além da presença de Ford, que volta como o blade runner Rick Deckard, as sequências exibidas foram suficientes, no entanto, para servirem de porta de entrada para esse mundo hipnotizante e absolutamente envolvente. Da trilha sonora respeitosa de Hans Zimmer e Benjamin Wallfisch – que bebe direto na fonte estabelecida por Vangelis – à fotografia inebriante de Roger Deakins (que, após 13 indicações, deve, enfim, ganhar o seu mais do que merecido Oscar), tudo aparenta estar colocado no lugar certo. De início, somos apresentados a um texto introdutório, que oferece uma breve explicação sobre o que teria acontecido ao nosso mundo durante estas três décadas, entre 2019 e 2049. Dos céus, acompanhamos a nave de K (Ryan Gosling), o protagonista atual, que também atua como blade runner. E ele está fazendo o que é a sua especialidade: caçar androides – ou, melhor dizendo, replicantes.
Desenvolvidos para trabalharem em fazendas, com força sobrenatural – porém com uma limitada sobrevivência – os replicantes foram reinventados trinta anos depois, muito graças aos esforços do empresário Wallace (Leto), responsável por ter “acabado com a fome no mundo”. Por isso, é curioso quando nos deparamos com um K quase apático, calmo até o limite, indo conversar com um fazendeiro interpretado por Dave Bautista (o Drax de Guardiões da Galáxia, 2014). A conversa que passa a se estabelecer entre eles pode parecer tranquila, mas logo percebemos que há motivações opostas entre eles, e o visitante está ali para levar o outro consigo.
Antes de qualquer embate mais grave, somos levados adiante, com K tendo que dar satisfações a aquela que parece ser a sua superiora: a tenente Joshi – papel que cai como uma luva ao rosto gélido e as expressões duras de Robin Wright, atualmente em alta graças ao sucesso da série House of Cards (2013-2017). A discussão entre os dois é tensa, porém rápida – e, assim, na sequência, entendemos que as verdadeiras presenças femininas desse novo filme devem ser as novatas Ana de Amas (Bata Antes de Entrar, 2015) e Sylvia Hoeks (O Melhor Lance, 2013). A primeira é Joi, a grande paixão do protagonista, enquanto que a segunda aparece como Luv, o braço-direito do magnata que pode – ou não – ter intenções secretas sobre o uso dos replicantes. Ou seja, mais ou menos como Sean Young e Daryl Hannah no longa original.
Essa sensação de “já vi isso antes” retorna em seguida, quando K se depara com… ninguém menos do que o próprio Dekkard, desaparecido há trinta anos – ele fugiu no final do primeiro filme, lembra? E como fica claro que não queria ser encontrado, os dois não irão para o abraço de imediato – assim como aqueles atrás dos dois também não terão tempo a perder para partirem no encalço deles. Harrison Ford, cada vez mais disposto a abraçar antigos sucessos – como fez em Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008) e com Star Wars: O Despertar da Força (2015) – se mostra confortável ao revisitar um dos seus personagens mais icônicos, e no pouco que nos foi mostrado já ficou claro ter ele fôlego suficiente para exigir um esforço extra do seu colega protagonista. Se Gosling achou que iria se deparar com uma lenda quase aposentada, é bem provável que tenha se enganado.
E quanto ao nosso querido Jared Leto? Bom, nossa entrevista com ele já foi publicada – e você pode conferi-la aqui. Niander Wallace pode ser “o seu pior pesadelo”, isso de acordo com as palavras ditas pelo próprio durante nossa conversa. E mesmo nos deparando com apenas duas sequências dele, já deu para ficarmos cientes da sua frieza, objetividade e determinação. K e Deckard seguem lutando com seus passados e indecisos quanto ao futuro que se desvenda diante deles – sonhariam os androides com ovelhas elétricas, afinal? – mas é certo que, ao contrário do Tyrell, o empresário que no original era defendido pelo robótico Joe Turkell (lembra dele como o barman Lloyd, de O Iluminado, 1980?) – dessa vez eles terão em Wallace um oponente bem mais osso duro de roer, se é que podemos dizer. Afinal, 20 minutos podem parecer pouco, ainda mais se levarmos em conta que Blade Runner 2049 possui 163 minutos de duração (quase três horas!). Mas é, também, o início de tudo.