O sexo, entendido como cópula, penetração, orgasmo, gozo e prazer entre pessoas adultas sempre rendeu bons enredos em todas as artes. As narrativas da literatura já descreviam com detalhes estes atos, variando desde as minúcias insinuantes que deixam ao leitor o acréscimo por conta da imaginação criativa até o “pornotexto”, praticamente um apoio em linhas para uma masturbação bem sucedida. Com o advento do cinema, aos poucos a telona foi produzindo boas cenas de amor e lascívia em variadas escalas. O primeiro beijo no cinema, um simples encostar de lábios entre May Irwin e John C. Rice, em 1895, rendeu escândalo. Aos poucos, no entanto, o espectador foi se habituando a ver no escurinho público o que fazia no escurinho privado, e assim o assunto foi explorado de diversos ângulos.
Mas qual a melhor cena de sexo da história do cinema?
Mae West e Marilyn Monroe sempre chamaram atenção mais por provocar do que propriamente por fazer. A primeira, em Night After Night (1932), se destacava pelo “toque sexy” que dava aos filmes. O mito de Mae West, languidamente estendida em um sofá ou envolvida por uma pele branca de raposa com um pródigo decote e uma das mãos apoiada na cadeira, foi o marco de uma época. Já a Marilyn Monroe insinuante nas telas voltou a ter seu nome ligado ao sexo quando uma cópia de um vídeo, feito lá anos 1950, em que a atriz loira aparece fazendo sexo oral em um homem não-identificado, foi vendido para um empresário nova-iorquino pela quantia de US$ 1,5 milhão.
O sexo anal ganhou status de arte na clássica cena da manteiga entre Marlon Brando e Maria Schneider em O Último Tango em Paris (1972). A rapidinha teve momentos de glória em vários filmes, e minha preferida é entre Glenn Close e Michael Douglas, quando na cozinha de casa deram uma “coelhinho” em Atração Fatal (1987), o mesmo filme que cozinha o coelho, animal de estimação da filha do personagem de Douglas, em água fervente. Em O Último Rei da Escócia (2006), a miscigenação ganha espaço, com símbolo de encontro de mundos diferentes unidos pelos gemidos “transidiomáticos”. Ainda falando em gêneros alimentícios, há a antológica cena do ovo no oriental Império dos Sentidos (1976), sendo este também um emblemático signo de amor e morte.
O órgão sexual masculino é em geral dissimulado, escondido ou aparece em cenas rápidas. O pênis aparece como personagem valorizado em Boogie Nights (1997), se tornando a grande atração nas cenas finais. E no francês Romance X (1999) nunca se viu nada tão grande. Já o sexo oral, no entanto, teve vários momentos de glória. Destaque para David Bennent, que – então com onze anos – faz Oskar, o personagem principal do alemão O Tambor (1979) e protagoniza uma cena de pseudo-sexo oral numa mulher e, depois de ter o rosto encoberto pelo corpo da companheira, retorna para o foco da câmera limpando a face dos pubianos entre os dentes.
O sexo solitário também protagonizou boas cenas ao cinema. Destaco as masturbações juvenis na cena da piscina do mexicano E sua mãe também (2001), além do impactante Pecados Inocentes ( 2008), que ousa numa cena de onanismo entre mãe e filho. Estes são dois exemplos extremos. O sexo pode se tornar instrumento de vingança, como em Lua de Fel (1992), em que a amante ofendida transa em frente ao seu opressor, já frágil numa cadeira de rodas, com um deus de ébano. Ganha status de necessidade de saúde em Adrenalina (2006), quando Chev Chelios (Jason Stathan), um assassino profissional que foi envenenado e, por isso, não pode deixar a taxa de adrenalina em seu organismo baixar, pois caso contrário morrerá, entra numa verdadeira corrida contra o tempo para se vingar e, quem sabe, achar a cura para seu problema. Em uma das cenas picantes o protagonista transa com a namorada em um local movimentadíssimo e com todos olhando – justamente para manter o ritmo interno em alta. Ela resiste no começo, mas depois acaba cedendo – e cede muito gostoso.
No cinema nacional são fartas as cenas de gemidos e gritos usados às vezes para atrair o público, mais prometendo do que mostrando. No meio de uma história bege sempre aparecia uma prostituta na calçada, uma atendente de lanchonete na madrugada, uma mulher que antes de ir ao banheiro de um bar olha para trás. Clássica mesmo é a cena de Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976) em que Sonia Braga (Dona Flor) transa comportada e formalmente com o segundo marido Teodoro (Mauro Mendonça) enquanto o fantasma do primeiro marido, Vadinho (um dos melhores papeis de Jose Wilker), assiste a cena aos risos.
E sexo gay, qual a melhor cena?
Lembro que assisti em Porto Alegre, ainda nos anos 90, ao filme oriental Banquete de Casamento (1993). Numa cena muito bonita Wai-Tung presenteava seu namorado Simon com um telefone celular (símbolo de consumo na época). Ato contínuo ligava para o mesmo e dizia que o amava, e a cena acaba com um quente beijo entre os dois. O público se inquietava nas poltronas: uns balançavam a cabeça, outros manifestavam sua indignação soltando sons censores. Minha cidade provinciana mostrava suas origens, mas no decorrer dos anos foi se tornando mais aberta à diversidade, até mesmo porque não havia outro caminho a seguir.
De novo E sua mãe também têm na parte final uma cena de beijos e insinuações muito excitante, entre os dois adolescentes, mas sem mostrar a consumação. Almodóvar trouxe variações diversas do sexo entre iguais, desde Antonio Bandeiras na posição “franguinho assado” em A Lei do Desejo (1987) até Gael Garcia Bernal em Má Educação (2004), ambos os casos verdadeiros clássicos do gênero. Mas o sexo entre homens mais presente no imaginário dos cinéfilos, até pelo recente de sua produção, é do oscarizado O Segredo de Brokeback Mountain (2005), quando, em terras geladas, dois vaqueiros másculos (Heath Ledger e Jake Gyllenhaal) dividem a barraca para escapar do frio e acabam atraídos por um outro calor. A “cuspidinha” de Ennis del Mar entrou para o panteão das cenas de sexo de sétima arte – ainda mais que é fator desencadeador de uma linda história de amor. Premiado com as maiores glórias do cinema mundial, o filme levantou a ira de fudamentalistas, mas levou muito da sociedade, principalmente a americana conservadora, a repensar estereótipos e modelos pré-concebidos.
E para você, qual a melhor cena de sexo da história do cinema?