A relação entre mães e filhos é uma fonte inesgotável de inspiração para peças e filmes. Para não cair na mesmice e na sensação de “já vi isto antes” é necessário algum diferencial. No espetáculo Conversando com Mamãe, atualmente em cartaz em São Paulo, esse algo a mais é a comunhão perfeita de um emocionante texto, uma dupla de atores de primeira grandeza e uma diretora sensível que respeita seu elenco.
Conversando com mamãe é uma obra do cineasta argentino Santiago Carlos Oves e foi levada às telas em 2004 com a grande atriz China Zorilla no papel principal. A versão para o teatro é de Jordi Galcerán e a tradução de Pedro Freire. A estrutura da peça mantem-se fiel à do filme: uma mãe de 82 anos que vive com seu namorado é procurada pelo filho ausente que está em difícil situação financeira para vender o apartamento em que ela vive. Desta simples premissa se desenrola uma linda e sensível história sobre o convívio destes dois personagens. As diferenças, um mero bate papo para aparar as arestas serve para ilustrar a relação mais intensa que pode haver entre duas pessoas, que é a de mãe com seu próprio filho. Com início puxando para a comicidade, damos gargalhadas com a implicância da mãe com a nora, com a sogra do filho e com a ausência deste, as lembranças da infância e com a comida sempre pronta no fogão. Em um segundo momento, nos emocionamos com o desenrolar bonito desse encontro, com o amor, com a última conversa e com as lembranças de cada espectador, que tenho certeza teimam em rondar nossos pensamentos durante o espetáculo.
Na minha modesta opinião, uma boa peça se faz primeiro de uma história que mereça ser contada e de bons atores que nos façam crer naquilo. Nesse caso, estamos muito bem servidos: uma dupla de atores de qualidade indiscutível, e aqui não tem como destacar um em detrimento do outro. A consagração se dá graças à cumplicidade e o amor desses dois atores pelo texto e por seu ofício. Herson Capri, um brilhante ator que, creio, está no auge de sua carreira, seja na televisão ou no teatro, e Beatriz Segall, que aos 85 anos segue demonstrando uma garra e uma vitalidade que fazem nossos olhos brilharem. É tocante ver uma senhora nessa altura ainda se emocionar com seu trabalho. E, não bastando isso, a direção da jovem Susana Garcia dá um toque todo especial ao conjunto.
No meio de tanta correria, de grandes montagens, musicais, exageros, figurinos chamativos e cenários que sobem e descem, Conversando com Mamãe segue em cartaz há 2 anos com lotação quase sempre esgotada, fazendo a gente parar e assistir com brilho no olho a essência do teatro. Um bom texto e bons atores conjugando o verbo “to play” da forma mais completa. Como está escrito na capa do dvd do filme: “que a ternura te toque o coração”.
Cotação: Muito Bom (****)
Conversando com Mamãe está em cartaz até 15 de Abril em São Paulo e em seguida começa turnê nacional.
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