As exibições das mostras competitivas do 48° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro se encerraram na noite da última segunda-feira, dia 21 de setembro, e hoje à noite, 22 de setembro, serão conhecidos os grandes vencedores da seleção deste ano. Como ninguém sabe o que se passa na cabeça dos jurados, é difícil afirmar com certeza quem deverá ganhar esse ou aquele prêmio. A seleção de longas foi organizada pelo montador Giba Assis Brasil, pelo cineasta Jeferson De, pela roteirista Juliana Reis, pelo diretor Renato Barbieri e pela professor e crítico de cinema Sérgio Moriconi, enquanto que o júri avaliador foi composto pelo curador Amir Labaki, pela atriz Ana Cecília Costa, pelo roteirista Claudio Marques, pelo cineasta Iberê Carvalho, pelo documentarista Joel Zito Araújo, pela montadora Luelane Corrêa e pelo ator Werner Schünemann. Robledo Milani, editor-chefe do Papo de Cinema, está na capital federal desde a abertura oficial do evento, e após uma análise das suas próprias percepções e de muita conversa com outros críticos e jornalistas, podemos fazer algumas apostas. Confira quais são os títulos e artistas com maiores chances de vitória na noite de hoje!
Melhor Filme
Dos seis longas concorrentes, apenas três possuem chances reais de vitória: Fome, de Cristiano Burlan; Big Jato, de Claudio Assis; e Para Minha Amada Morta, de Aly Muritiba. O primeiro parece ser o favorito dos mais alternativos, enquanto que o segundo seria uma aposta mais segura, até pelo realizador já ter sido premiado por aqui em anos anteriores. Nossa aposta, no entanto, está no trabalho vindo do Paraná, que parece ser o mais arriscado, criativo e interessante dentre todos os apresentados.
Vai ganhar: Big Jato, de Claudio Assis
Merece ganhar: Para Minha Amada Morta, de Aly Muritiba
Melhor Direção
Claudio Assis e Roberto Gervitz, de Prova de Coragem, são os veteranos deste ano, e reconhecer o talento de qualquer um dos dois seria uma aposta segura. Mais corajoso, no entanto, seria investir em revelações como Cristiano Burlan (que tem produzido muito na última década) ou Aly Muritiba, estreando no formato, porém consagrado como curta-metragista. Ainda que este último apresente o trabalho mais criativo em sua condução, Burlan é o maestro de um filme difícil, cujos muitos dos seus méritos se devem ao seu esforço.
Vai ganhar: Cristiano Burlan, por Fome
Merece ganhar: Aly Muritiba, por Para Minha Amada Morta
Melhor Ator
Todos os longas de ficção apresentados são histórias masculinas, defendidas com vigor por seus intérpretes. Murilo Quirino, de A Família Dionti, se sai melhor do que Rafael Nicácio, de Big Jato, ambos crianças. Mas os pesos das atuações estão mesmo nos ombros de Matheus Nachtergaele (com papel duplo em Big Jato), Jean-Claude Bernardet (que repete sua persona – inclusive já premiada anos atrás aqui mesmo em Brasília – em Fome), Fernando Alves Pinto (o mais sutil, em Para Minha Amada Morta) e Armando Babaioff (esforçado em Prova de Coragem).
Vai ganhar: Fernando Alves Pinto, por Para Minha Amada Morta
Merece ganhar: Fernando Alves Pinto, por Para Minha Amada Morta
Melhor Atriz
Se entre os homens a disputa está acirrada pela qualidade dos papeis e de seus intérpretes, infelizmente não se pode dizer o mesmo sobre as atuações das mulheres. Há apenas três personagens femininas de destaque: Mayana Neiva, em Para Minha Amada Morta, Marcélia Cartaxo, em Big Jato, e Mariana Ximenes, em Prova de Coragem. A última é a que tem o maior papel, mas todas elas são coadjuvantes em suas histórias, ainda que sejam as atrizes principais de seus filmes. Cartaxo, excelente como sempre, seria o reconhecimento mais justo, enquanto que Neiva tem uma presença interessante, porém não desenvolvida no seu todo.
Vai ganhar: Mariana Ximenes, por Prova de Coragem
Merece ganhar: Marcélia Cartaxo, por Big Jato
Melhor Ator Coadjuvante
A Família Dionti é um filme bonito, mas convence mais pela trama do que pelas atuações. Com Matheus Nachtergaele em participação dupla em Big Jato, seria difícil escolher quem apontar como coadjuvante. Fome está inteiramente nas costas do protagonista. Sobre Lourinelson Vladmir, de Para Minha Amada Morta, em composição forte e interessante, ou Daniel Volpi, que funciona mais como um alívio cômico em Prova de Coragem. A escolha, no entanto, parece meio óbvia.
Vai ganhar: Lourinelson Vladmir, por Para Minha Amada Morta
Merece ganhar: Lourinelson Vladmir, por Para Minha Amada Morta
Melhor Atriz Coadjuvante
Áurea Maranhão não tem peso suficiente para tomar o filme para si nas poucas participações que Prova de Coragem lhe reserva, ainda que não seja uma opção que possa ser descartada. Giuly Biancato, de Para Minha Amada Morta, por outro lado, tem uma participação melhor desenvolvida, e sua construção tanto envolve quanto intriga. Nos demais filmes, se as participações femininas de destaque já eram restritas, como coadjuvantes a situação fica ainda mais precária.
Vai ganhar: Giuly Biancato, por Para Minha Amada Morta
Merece ganhar: Giuly Biancato, por Para Minha Amada Morta
Melhor Roteiro
O roteiro melhor elaborado é o de Para Minha Amada Morta, que brinca com clichês, evitando-os na medida certa e empregando as expectativas geradas a seu favor. Big Jato e A Família Dionti, em suas devidas proporções, são histórias de formação, similares entre si, e talvez se anulem. Prova de Coragem tem um início um tanto trincado, o que pode ter afetado sua percepção geral. Fome é uma aposta interessante, tanto pela crítica que levanta quanto pelo formato escolhido. O documentário Santoro: O Homem e sua Música é um equívoco, a ponto de provocar questionamentos a respeito de sua própria seleção entre tais concorrentes.
Vai ganhar: Cristiano Burlan e Henrique Zanoni, por Fome
Merece ganhar: Aly Muritiba, por Para Minha Amada Morta
Melhor Fotografia
O que Helder Filipe Martins faz em Fome é impressionante. A São Paulo captada em preto e branco com delicada abordagem mas honesta percepção comove e choca. Nenhum dos seus concorrentes chega perto desse resultado, com a discutível exceção das cores saturadas de Marcelo Durst, em Big Jato, ou pelo tom sombrio adotado por Pablo Baião em Para Minha Amada Morta.
Vai ganhar: Helder Filipe Martins, por Fome
Merece ganhar: Helder Filipe Martins, por Fome
Melhor Direção de Arte
Ambientado em um universo mágico, A Família Dionti contou com um esforço fundamental de Oswaldo Eduardo Lioi, cujo resultado colaborou de forma decisiva no resultado apresentado. Ananias de Caldas e Karen Araújo também se esmeram em Big Jato, e podem ser uma interessante alternativa.
Vai ganhar: Ananias de Caldas e Karen Araújo, por Big Jato
Merece ganhar: Oswaldo Eduardo Lioi, por A Família Dionti
Melhor Trilha Sonora
DJ Dolores é o grande autor das trilhas sonoras vindas dos filmes de Pernambuco, e ele repete o feito em Big Jato, criando um ambiente colorido e de extremos. Sua escolha é um tanto óbvia, ainda mais ao lado de bons trabalhos como os de Luiz Henrique Xavier, em Prova de Coragem, ou de Juão Nin, em Fome. Clower Curtis constrói algo interessante em A Família Dionti, mas qualquer um seria melhor escolha do que Alessandro Santoro, que tudo o que faz é reciclar antigas criações do pai em Santoro: O Homem e sua Música.
Vai ganhar: DJ Dolores, por Big Jato
Merece ganhar: Clower Curtis, por A Família Dionti
Melhor Som
Kiko Ferraz é o mestre do Som em muitas das produções gaúchas recentes, mas ele já teve trabalhos que lhe exigiram mais do que o visto em Prova de Coragem. Por outro lado, o que Claudio Gonçalves e Fábio Bessa fazem em Fome é impressionante, calando e dando voz, ao mesmo tempo, a uma metrópole em mutação assim como o protagonista do filme.
Vai ganhar: Claudio Gonçalves e Fábio Bessa, por Fome
Merece ganhar: Claudio Gonçalves e Fábio Bessa, por Fome
Melhor Montagem
O trabalho de João Menna Barreto, em Para Minha Amada Morta, é fundamental para a criação desse universo de suspense contido e revelações seguras, colaborando de forma decisiva no sucesso do projeto. Karen Harley, por outro lado, é uma das mais conceituadas profissionais da área no Brasil, e em Big Jato ela comprova sua excelência em interessantes provocações. Cristiano Burlan, ao lado de Renato Maia, construíram Fome também na ilha de edição, algo visível na tela e que pode ser recompensado.
Vai ganhar: Cristiano Burlan e Renato Maia, por Fome
Merece ganhar: João Menna Barreto, por Para Minha Amada Morta
Melhor Filme pelo Júri Popular
Dos seis concorrentes, apenas um é de Brasília. Como o Júri Popular é decidido pela quantidade de votos recebidos, pode ser que Santoro: O Homem e sua Música tenha alguma vantagem. Mas essa se limita diante a precariedade do trabalho apresentado. Surpreendente, no entanto, foram os aplausos entusiasmados ao término da sessão de Big Jato, e se isso significa alguma coisa, este troféu já está garantido. O filme mais popular, no entanto, e também por isso acessível a todos, é mesmo A Família Dionti, uma história bonita e envolvente.
Vai ganhar: Big Jato, de Claudio Assis
Merece ganhar: A Família Dionti, de Alan Minas
Melhor Filme pelo Júri da Crítica
A crítica, em teoria, deveria sempre procurar ressaltar investidas mais ousadas e arriscadas, que não se contentem em trilhar caminhos convencionais. Com isso em mente, os títulos que melhor abraçariam esses conceitos são Big Jato, de Claudio Assis; Fome, de Cristiano Burlan; e Para Minha Amada Morta, de Aly Muritiba. O primeiro revela uma guinada na carreira o seu realizador, algo sempre positivo. Já o segundo, até por contar com o crítico e pesquisador Jean-Claude Bernardet como protagonista, para a escolha óbvia – até pelo camaradismo entre colegas. Já o último, que investiga com eficiência a estrutura de gênero, é o mais bem-sucedido em sua proposta, e por isso mesmo seria a nossa aposta, ainda que dentro dos limites mais convencionais que escolhe para trilhar seu caminho.
Vai ganhar: Big Jato, de Claudio Assis
Merece ganhar: Para Minha Amada Morta, de Aly Muritiba
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