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Rock of Ages mostra porque Hollywood devia fazer mais musicais

Publicado por
Dimas Tadeu

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A era de ouro dos musicais em Hollywood começou por volta dos anos 50 e durou até o começo da década de 80, quando o gênero parecia ter atingido sua saturação: crítica e público pediam por um cinema menos afetado, mais naturalista e mais voltado para “coisas sérias”. Preocupada com isso, a indústria cinematográfica começou a se concentrar nas superproduções como nova vaca leiteira: os efeitos especiais substituíram os números musicais, o pano de fundo era mais atual e politicamente provocativo e marmanjões se sentiam mais à vontade na sala escura (especialmente quando o filme era estrelado por Van Damme ou Schwarzenegger, dois grandes ídolos do cinema de ação surgido nesta época).

E foi assim por um bom tempo. Algumas produções musicais tímidas aqui e ali, mas o gênero parecia sepultado. Aparentemente, ninguém queria ver musicais. Daí veio Baz Luhrmann com seu excêntrico Moulin Rouge (2001) e provou que estava longe da hora de pendurar os tapping shoes. No ano seguinte, Chicago (2002) levou o Oscar de Melhor Filme e recolocou os musicais no mapa de Hollywood de uma vez por todas.

Portanto, tem algo de emblemático quando Drew (Diego Boneta, guarde esse nome) e Sherrie (Julianne Hough) se encontram atrás do famoso letreiro de Hollywood, em Rock of Ages, espetáculo que chega aos cinemas adaptado dos palcos da Broadway. É mais do que uma cena clichê de comédia romântica (pra ser recente, tem uma dessas em Amizade Colorida, 2011). É um jeito de dizer que esses clichês se tornam muito mais aceitáveis, divertidos e estéticos quando são feitos com uma partitura. Coisa que Adam Shankman (escolado em musicais na direção de Hairspray, 2007) tirou de letra.

Drew e Sherrie são os protagonistas da história, que ocorre no começo dos anos 80 (coincidentemente, época em que os musicais perderam espaço em Hollywood). Ele é o bom garoto, cheio de energia e determinação, que explode em carisma (muito bem trabalhado pelo ator em coisas como a novelinha Rebelde). Ela é a típica mocinha, afetada, romântica e com um sonho a perseguir. Em volta deles, diversas subtramas. Dennis Dupree (Alec Baldwin, sempre excelente) é dono do Bourbon Room, uma famosa casa de shows em Los Angeles. Seu fiel escudeiro é Lonny (Russell Brand, magnífico). Ambos são velhos amigos de Stacee Jaxx (Tom Cruise), um deus do glam rock ensimesmado, cuja única orientação vem do empresário Paul (Paul Gimatti). E ainda tem um núcleo que seria completamente dispensável se não fosse por seus excelentes números musicais: o prefeito da cidade (Bryan Cranston), baluarte da moral, é casado com Patricia (Catherine Zeta-Jones, hilária), que declara guerra à libertinagem roqueira do Bourbon Room.

Tudo vai acontecer de forma previsível. O roteiro segue as fórmulas de Syd Field de maneira explícita e a montagem chega a ser didática. Tudo isso, unido a uma direção que parece ter um desenho animado como referência, transformam o filme numa imensa cafonalha. Ele poderia ser uma dessas produções que você assiste na TV em dias chuvosos ou quando vai ao cinema mais pela pipoca do que pelo filme. Mas não é.

Por ser um musical (no caso, sobre o chamado “rock farofa”), ele assume a própria superficialidade e se despe de qualquer falsa necessidade de ser inteligente ou artístico. E exatamente por isso, alcança um patamar um pouco mais alto do que filmes semelhantes, divertindo o público e servindo um espetáculo que, se não é profundo em conteúdo, o é em referências e em metalinguagem irônica (algumas tiradas exigem sagacidade do público para serem percebidas, embora sua não compreensão não comprometa o entendimento do filme).

Com tudo isso a seu favor, Rock of Ages parece deixar no ar a mensagem de que o cinemão pipoca de Hollywood poderia ser muito mais divertido, interessante e até estético se desencanasse dos diálogos complicados, das tramas dentro das tramas, da intelectualização de boteco e simplesmente fizesse o que sabe fazer de melhor: música para o público cantar junto e sair dançando da sala de cinema.

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é jornalista, mestre em Estética, Redes e Tecnocultura e otaku de cinema. Deu um jeito de levar o audiovisual para a Comunicação Interna, sua ocupação principal, e se diverte enquanto apresenta a linguagem das telonas para o mundo corporativo. Adora tudo quanto é tipo de filme, mas nem todo tipo de diretor.

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