Antoine Doinel é um personagem cinematográfico sui generis. Surgido como uma espécie de alterego do cineasta François Truffaut em Os Incompreendidos (1959), ele foi o protagonista de, ao todo, cinco filmes (entre longas e curta-metragem) nos quais testemunhamos seu desenvolvimento físico e emocional. Interpretado por Jean-Pierre Léaud (que venceu cerca de sessenta concorrentes na disputa pelo papel), Doinel se rebela contra a escola e a família por ele aparentemente desinteressadas. O choque com um mundo mais propenso às reprimendas que propriamente aos incentivos ganha nos episódios posteriores o aporte das questões adultas, entre elas o amor, dos correspondidos aos não recíprocos, a relação nem sempre amigável com o trabalho, as desilusões sentimentais e existenciais, ou seja, tudo que se encarrega de moldar uma personalidade, de certo ponto em diante.
Durante exatos vinte anos, vemos Jean-Pierre Léaud literalmente deixando a infância de lado e se tornando uma figura importante do cinema francês, em virtude dessa parceria tão longeva quanto significativa com Truffaut. Embora tenha colaborado com outros diretores de renome, ele será sempre associado à Antoine Doinel, um dos principais símbolos da nouvelle vague. Originalmente projeção das vivências de seu criador, somada à vontade de abordar questões urgentes da época (mas ainda hoje atuais), como o abandono familiar e a dificuldade de entendimento entre pessoas de gerações distintas, Doinel se transformou num homem plenamente enriquecido pelas mais diversas experiências e, portanto, pronto para seguir adiante, em meio a sorrisos e lágrimas.
L’amour en Fuite, França, 1979
Drama, 94 minutos
De François Truffaut
Com Jean-Pierre Léaud, Marie-France Pisier, Claude Jade, Dani, Dorothée, Daniel Mesguich, Julien Bertheau, Jean-Pierre Ducos, Marie Henriau, Rosy Varte, Pierre Dios, Alain Ollivier, Julien Dubois, Monique Dury, Emmanuel Clot, Christian Lentretien, Roland Thénot, Alexandre Janssen, Chantal Zaugg
Sinopse: Com 35 anos, Antoine Doinel se divorcia de Christine e reencontra diversos personagens marcantes em sua vida, como Colette, seu primeiro amor. Ao mesmo tempo, se apaixona por Sabine, uma jovem vendedora de discos com quem vive um novo romance.
Premiações: Vencedor do César de Melhor Trilha Sonora; Indicado a Melhor Diretor no Festival de Berlim
Nota IMDb: 7,1
Nota Rotten Tomatoes: 67%
Nota Papo de Cinema: 8/10
O que nós achamos: “Uma obra emocionante, que encerra com emoção e respeito um belo arco dramático.” Confira na íntegra a crítica de Robledo Milani
Domicile conjugal, França/Itália, 1970
Dama, 100 minutos
De François Truffaut
Com Jean-Pierre Léaud, Claude Jade, Hiroko Berghauer, Barbara Laage, Danièle Girard, Daniel Ceccaldi, Claire Duhamel, Daniel Boulanger, Silvana Blasi, Pierre Maguelon, Jacques Jouanneau, Claude Véga, Jacques Rispal, Jacques Robiolles, Pierre Fabre, Christian de Tillière, Billy Kearns, Annick Asty, Marianne Piketti, Guy Piérauld
Sinopse: Antoine Doinel e Christine Darbon são marido e mulher. Antoine trabalha tingindo flores enquanto Christine dá aulas particulares de violino. Christine espera seu primeiro filho e quando está próximo de seu nascimento, Antoine decide procurar um novo trabalho para sustentar melhor sua família. Ele arruma um novo trabalho devido à uma confusão de seu empregador. Porém, em uma reunião de trabalho ele conhece a exótica Kyoko, com quem tem um caso.
Premiações: Indicado ao National Board of Review de Melhor Filme Estrangeiro
Nota IMDb: 7,7
Nota Rotten Tomatoes: 78%
Nota Papo de Cinema: 6/10
O que nós achamos: “Um bom filme. Ao menos um filme correto.” Confira na íntegra a crítica de Willian Silveira
Baisers volés, França, 1968
Comédia/Drama, 90 minutos
De François Truffaut
Com Jean-Pierre Léaud, Delphine Seyrig, Claude Jade, Michael Lonsdale, Harry-Max, André Falcon, Daniel Ceccaldi, Claire Duhamel, Catherine Lutz, Martine Ferrière, Jacques Rispal, Serge Rousseau, Paul Pavel, François Darbon, Albert Simono, Jacques Delord
Sinopse: Expulso do exército, Antoine Donel está em busca de emprego. Ele consegue uma vaga como balconista de hotel, mas é demitido após permitir que um detetive, Henri, entre em um quarto ocupado alegando se tratar de um caso urgente. Henri na verdade queria dar o flagra na esposa de seu cliente, que estava hospedada com outro homem. Ele acaba levando Antoine para a agência de detetives em que trabalha, onde ele consegue um novo emprego. Só que, ao trabalhar em um caso, Antoine acaba se apaixonando por Fabienne, a mulher de seu cliente.
Premiações: Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro
Nota IMDb: 7,8
Nota Rotten Tomatoes: 96%
Nota Papo de Cinema: 6/10
O que nós achamos: “Se o primeiro longa é, indiscutivelmente, o mais bem sucedido, o segundo episódio é mais uma nota de rodapé, apenas registrando a vontade do cineasta em seguir os passos desse personagem que lhe é tão caro.” Confira na íntegra a crítica de Robledo Milani
L’amour à 20 Ans, França, 1962
Drama/Romance, 120 minutos
De Shintarô Ishiharam, Marcel Ophüls, Renzo Rossellini, François Truffaut e Andrzej Wajda
Com Jean-Pierre Léaud, Marie-France Pisier, Patrick Auffay, Rosy Varte, François Darbon, Jean-François Adam, Pierre Schaeffer, Cristina Gaioni, Geronimo Meynier, Eleonora Rossi Drago, Nami Tamura, Kôji Furuhata, Barbara Frey, Christian Doermer, Vera Tschechowa
Sinopse: Histórias de amor na idade dos vinte anos trazem lutas internas e externas para jovens em uma época de transição da adolescência para a maioridade. Gravidez, ciúme e incompreensão marcam as vidas apaixonadas desses jovens.
Premiações: Selecionado para o Festival de Berlim
Nota IMDb: 7,5
Nota Papo de Cinema: 6/10
O que nós achamos: “Ecoa ideais progressistas e antecipa condutas atuais acerca do amor e das relações entre pessoas.” Confira na íntegra a crítica de Danilo Fantinel
Les Quatre Cents Coups, França, 1959
Drama, 99 minutos
De François Truffaut
Com Jean-Pierre Léaud, Claire Maurier, Albert Rémy, Guy Decomble, Georges Flamant, Patrick Auffay, Daniel Couturier, Jean-Claude Brialy, Jeanne Moreau
Sinopse: Antoine Doinel é o filho negligenciado de Gilberte Doinel, que parece ter tempo para tudo menos o bem-estar da criança. Julien Doinel não é o pai biológico, mas cria o menino como se fosse seu filho. Gilberte está tendo um caso e não se surpreende quando, por acaso, Julien fica sabendo que Antoine não está indo à aula, pois ela sabia que na hora do colégio o filho a tinha visto com seu amante. A situação se agrava quando Antoine, para justificar sua ausência no colégio, “mata” a mãe. Quando seus pais aparecem na escola, a verdade é descoberta e Julien o esbofeteia na frente de seus colegas. Após isto ele foge de casa e arruma um lugar para dormir. Paralelamente seus pais culpam um ao outro pelo comportamento dele, após lerem a carta na qual ele se despede. No outro dia Antoine vai à escola normalmente. Lá sua mãe o encontra e se mostra preocupada por ele ter passado a noite em uma gráfica. Ela alegremente o aceita de volta, mas os problemas não acabam. Antoine se desentende com um professor, que o acusa de plagiar Balzac. Como ele odeia a escola, sai de casa de novo e para viver é obrigado a fazer pequenos roubos.
Premiações: Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original; Indicado ao BAFTA nas categorias de Melhor Filme e Iniciante Mais Promissor (Jean-Pierre Léaud); Vencedor do prêmio de Melhor Diretor, e concorrente à Palma de Ouro no Festival de Cannes; Premiado como Melhor Filme pelo Sindicato dos Críticos de Cinema da França; Premiado como Melhor Filme Estrangeiro pelos Críticos de Cinema de Nova York
Nota IMDb: 8,1
Nota Rotten Tomatoes: 100%
Nota Papo de Cinema: 10/10
O que nós achamos: “É o longa que todo realizador estreante gostaria de ter feito, mas que somente Truffaut alcançou em sua plenitude.” Confira na íntegra a crítica de Robledo Milani