Auckland, Nova Zelândia, dia 30 de maio de 2012
Estamos no fim de maio de 2012, e um grupo de jornalistas especialmente selecionados foi reunido em Auckland, na Nova Zelândia, para uma visita ao set de refilmagem de A Morte do Demônio. À época do seu lançamento, em 1981, o conteúdo de violência explícita do filme original fez com que fosse banido por censores cinematográficos em vários países. Mesmo assim, A Morte do Demônio (1981) catapultou as carreiras de Sam Raimi e Bruce Campbell, se tornou um clássico cult entre os fãs de terror em todo o mundo e gerou duas sequências, videogames, quadrinhos e até um musical. O nosso guia nos informa que veremos uma prévia do visual da maquiagem, dos adereços e próteses, e também assistiremos a alguns trechos das filmagens e conversaremos com o elenco e os cineastas durante a visita. Nós também somos informados de que, mais tarde, seremos levados até uma floresta próxima para conhecermos o verdadeiro chalé mostrado no filme, construído especialmente para o longa. Mal podemos esperar.
MAQUIAGEM E PRÓTESES
À medida que percorremos o lugar, logo vêm se juntar ao nosso grupo o desenhista de adereços e próteses, Roger Murray, e a supervisora de maquiagem, Jane O’Kane. É uma boa oportunidade para o grupo fazer duas perguntas cruciais: até que ponto o filme será um tributo ao original e que tom ele irá assumir? “É uma representação bem mais séria”, afirma Murray. “Ele tem alguns momentos engraçados, mas em contexto”. O’Kane acrescenta: “É bastante realista. Nossas instruções originais recomendavam que não fosse uma paródia, mas você também precisa criar um equilíbrio em termos daquilo que é esperado do público”. Murray continua: “Nós só empregamos efeitos visuais onde era preciso, mas estamos nos apoiando ao máximo possível ‘nas imagens de câmera’ – o que foi muito divertido”. Posteriormente, descobrimos que o diretor, Federico Alvarez, insistiu no uso mínimo da computação gráfica.
Se você for uma pessoa sensível, este não é o lugar para você. No departamento de maquiagens e próteses vemos esboços de estudos de um integrante do elenco que perdeu o maxilar, outra que disparou uma pistola de pregos contra o próprio crânio para dar fim à possessão demoníaca (no dia da filmagem, a cena envolveu um processo particularmente complicado incluindo diversas próteses e pregos de borracha), enquanto uma outra, numa tentativa desesperada de livrar-se da possessão, acabará decepando o próprio braço. Essas ilustrações servem como guias para o departamento de maquiagem, que se valerá cada vez mais delas à medida que a contagem de corpos for subindo.
O LIVRO DOS MORTOS
Quando conhecemos o desenhista de produção Robert Gillies, ele nos dá a chance de vermos e segurarmos o verdadeiro Livro dos Mortos! É possível imaginar a excitação geral. Este é o adereço central do filme; é o catalisador do inferno que os jovens invocam e, sendo ou não algo fabricado, é ainda um objeto arrepiante ao se segurá-lo. Encadernado com pele humana e cabelo humano artificiais, ele é diferente da sua versão original, mas parece bem mais apavorante. A capa realmente aparenta ser de pele humana morta e fria e, quando você o abre, seu conteúdo satânico ganha vida; páginas e mais páginas de rabiscos desesperados, ilustrações explícitas, alertas amaldiçoados e borrões de sangue. A minúcia de detalhes em cada página é simplesmente estarrecedora e a equipe de Gillies se superou na sua aparência incrivelmente realista. O livro aparenta ter sido confeccionado há séculos; na verdade, o livro parecer ser um portal para o inferno
A ESCOLHA DA LOCAÇÃO DO CHALÉ
Outra peça-chave do universo de A Morte do Demônio é o chalé em si. Gillies nos leva até um mural com várias fotos de fachadas e de interiores de chalés reais. Gillies admite que, inicialmente, eles buscaram inspiração no Google, pesquisando “chalés de madeira” na região sul dos Estados Unidos, em estados como o Tennessee. Explica também como a equipe de desenho precisou projetar um chalé numa floresta em 2012 e inventar uma premissa pregressa para explicar como e por que ele se encontra lá (construído por uma família nos anos 1930, residentes com problemas no passado, não era visitado há muitos anos, etc.). Uma vez que o chalé original é tão icônico, Gillies estava disposto a se dissociar do projeto original? “A tentação é ser diferente”, admite ele, “mas também acho que a regra do ‘mantenha a simplicidade’ se aplica e, depois de considerarmos a fundo a questão, os fãs do original ficarão satisfeitos em saber que, ‘sim, há um porão!’”.
CONHECENDO A TURMA DE MIA
Depois de um almoço em que a maioria tinha perdido o apetite, fomos, então, reunidos num grande salão para conhecermos pessoalmente alguns dos jovens astros A Morte do Demônio, incluindo a protagonista do filme, Jane Levy, que interpreta Mia. Levy é a primeira a entrar, chocando todos os presentes que não esperavam vê-la inteiramente caracterizada com a sua maquiagem demoníaca. “Eu nem sei dizer a vocês quantas vezes, depois das filmagens, pensei que nunca mais teria nenhum amigo”, confessa Levy, brincando, “e que ninguém nunca mais iria querer me namorar! Há coisas que saem da minha boca que eu nem posso… Vocês vão ver!”
Depois da confissão sincera da protagonista, chegam Lou Taylor Pucci, Shiloh Fernandez, Elizabeth Blackmore, o produtor do Evil Dead original, Rob Tapert, e o diretor da nova versão, Fede Alvarez. O elenco é um grupo jovem e simpático, todos empolgados com sua participação nesta refilmagem. Então, os atores são fãs do gênero terror? Pucci é o primeiro a responder. “Só assisti a filmes de terror nos últimos dois, três anos, e aí, isso aconteceu. Mas eu era muito fã do A Morte do Demônio original”. Levy, então, admite: “Na verdade, sou muito medrosa. Diante de qualquer suspense, já começo a beliscar a pessoa sentada ao meu lado. Acho que vou ficar com medo demais de assistir a esse filme!”
E o homem que insistiu para que eles superassem a barreira do sofrimento? É o diretor estreante Fede Alvarez. O que o elenco achou de trabalhar com ele para levar às telonas a visão do cineasta para A Morte do Demônio? “Ontem nós tivemos uma briga (risos)”, admite Pucci, “mas está tudo bem, porque já nos entendemos. Isso é o que de melhor podemos encontrar em um diretor. Estou muito satisfeito por ele ser tão aberto ao trabalho de equipe. Todos nós sabemos que o filme vai ser fantástico!”.
Nós, então, passamos a discutir a censura. Depois da polêmica em torno do original, eles vão pegar mais leve? Parece a hora apropriada para a intervenção do produtor original, Rob Tapert: “A Sony Film District e a Screen Gems têm nos dado todo o apoio, dizendo coisas do tipo, ‘nós queremos o filme mais brutal que você puder nos dar!’, afirma Tapert. E ele continua: “nós estamos indo fundo e algumas cenas são simplesmente brutais.”
OS FIGURINOS DE SARAH VOON
A nossa próxima parada é conhecer a figurinista Sarah Voon, que nos mostra o vestuário dos personagens. Sua primeira tarefa, afirma ela, era dar uma personalidade real aos personagens através dos seus figurinos e, para isso, criou cada caracterização para que fosse identificável instantaneamente. “Foi um processo que fruiu depois de muitas conversas com o Fede (Alvarez)”, afirma Voon. “Nós queríamos nos manter fiéis à história, mas também acentuá-la e dar uma aparência muito cool a todos eles, sem ser cool demais”. Voon nos apresenta vários painéis ilustrativos do processo de definição de cada personagem em termos da sua caracterização e figurinos. Nós também vemos uma família de caipiras que aparecerá no filme, cuja criação Voon afirma ter sido muito divertida, inspirada em filmes como Inverno da Alma (2010) e no seriado de TV, True Blood.
Algo que necessitou muita atenção, no entanto, foram as cópias, uma vez que cada figurino precisa ter inúmeras réplicas. O recorde de maior número de réplicas de figurinos pertence a Jane Levy (pobre Mia!), com impressionantes 62 cópias. E ainda tem o sangue. “Eu nunca tive tantas conversas sobre sangue”, afirma Voon. “E há sangue dos mais diversos tipos também, como uma mistura de sangue humano e sangue de demônios”, que, aparentemente, tem uma coloração bem mais escura. “A continuidade foi o nosso maior desafio”.
O CHALÉ VIVE
No dia seguinte, seguimos de carro floresta adentro para vermos o chalé real construído para A Morte do Demônio. Depois de uma curta caminhada através do bosque de aspecto lúgubre, aparentemente no meio do nada, nós nos deparamos com ele. A primeira coisa que nos impressiona é um ar incômodo de familiaridade, e os fãs do original não ficarão desapontados – é uma casa de aspecto bastante sombrio. À medida que nos aproximamos, notamos um carro abandonado à entrada e uma banheira velha esquecida na sua lateral. Tudo parece real demais. E, num certo sentido, é mesmo; é um chalé de madeira construído segundo os requisitos exatos dos desenhistas de produção e envelhecido para parecer totalmente autêntico. Ele realmente parece uma construção que está naquele local há centenas de anos e que talvez já tenha pertencido a uma família predatória de caipiras.
Depois de um tour pela área externa, nós nos aventurarmos pelo seu interior. Na escuridão soturna, pode-se ver todo o esforço empreendido pelos desenhistas de produção, com fotos de família penduradas nas paredes, um piano velho e desgastado (que realmente toca música) e, é claro, um alçapão, embora ninguém se arrisque a tocar nele! Enquanto seguimos no nosso tour nas trevas (não há nenhuma luz), cruzando a sala de estar e percorrendo outros cômodos menores, é impressionante e uma prova do esforço dos cineastas de, mais uma vez, não terem utilizado somente um estúdio de filmagem para dar vida ao chalé. Ele existe no mundo real, como o próprio Livro dos Mortos, e o universo de A Morte do Demônio (1981) continua vivo.
FIM
Deixar o chalé para trás parece ser um fim adequado para todos nessa fantástica visita. O estúdio definitivamente guardou o melhor para o final. O que cada um leva consigo da experiência é saber que A Morte do Demônio não podia estar em melhores mãos, a cargo de Raimi, Tapert, Campbell. Essa é a equipe que criou A Morte do Demônio original e é a responsável pelo seu renascimento. Com um jovem elenco emocionante, um roteiro bem escrito e um diretor jovem, apaixonado e determinado a refilmar o longa-metragem da maneira certa, os fãs de terror não perdem por esperar para conferir esse novo sucesso nos cinemas.
(tradução e adaptação do artigo original em inglês por Robledo Milani)
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