“Não vá se enrolar nos cabos!”. Essa frase, como nenhuma outra, aponta o último destino do Papo de Cinema: mais um set de filmagens. Desta vez, fomos convidados para acompanhar as gravações de A Um Toque das Suas Teclas, novo curta-metragem do cineasta Le Daros. Para tanto, nos deslocamos até a cidade de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, para saber um pouco mais da empreitada cinematográfica que propõe discussões sobre o futuro das redes sociais. Abaixo, temos uma ideia do que esperar por conta da sinopse divulgada pelos responsáveis:
“João, 24 anos, vivencia a experiência de ter que administrar seus impulsos amorosos em paralelo a uma realidade de supervalorização da experiência virtual. Virtualidade que acaba por dificultar seu posicionamento numa festa noturna, levando-o a titubear na hora de impressionar a garota dos seus sonhos: Jusy. Nessa tempestade de situações tecnológicas, precisará do apoio de seu amigo Henri“.
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A trama acima – estrelada por Rodrigo Teixeira, Duda Andreazza e João Vítor Perozzo, respectivamente – se conecta com outra produção de Daros: O Grande L (2014). Aliás, esse foi o start dos diálogos que antecederam nossa chegada ao ambiente das gravações. Em uma conversa descontraída, o cineasta nos revelou que A Um Toque das Suas Teclas pode servir como uma continuação do filme lançado há quase uma década. Nas palavras de Le, o antecessor segue um garoto que “utiliza ferramentas de uma rede social para criar uma outra realidade, na qual que ele pode ser uma figura de destaque, diferente da vida normal que leva”. Ele segue: “agora, estamos desenvolvendo um enredo que pode servir para daqui alguns anos, quando as ideias de virtual e real irão se misturar, causando algumas confusões”.
Recepção (quase) festiva
O espaço escolhido para as gravações foi uma boate repleta de luzes neon, reafirmando uma identidade futurista. Fomos recebidos por Daniela Néspolo (diretora de arte), Edson Luiz Fulber (produtor executivo) e Fábio Borges (diretor de produção), que trataram de explicar a ordem do dia e nos aclimatar ao espirituoso momento. Para captar as imagens da festa principal da história, foi necessário escurecer a casa de festas o suficiente para disfarçar a ensolarada tarde de outono, em trabalho comandado por Néspolo e Alesi Ditadi (diretor de fotografia). Vencidas algumas imprevisibilidades típicas da sétima arte, como a falta de um ou outro figurante, foi preciso apenas aguardar a preparação do elenco.
As forças complementares
Em meio aos ajustes de Julia Webber (figurinista), pudemos conversar com o trio principal. O primeiro foi Rodrigo, que tratou de desvendar o protagonista. “O João vive numa época futura, mas relativamente próxima, vivenciando várias situações que a gente já está vendo se desenvolver em 2023. Através da potencialidade de inteligências artificiais e realidades aumentadas, ele vai se ver perdido numa noite de festa. Unindo o interesse amoroso por uma colega, a bebida alcóolica e a tecnologia, muita coisa vai fugir do controle”. “O João é um cara meio medroso e que talvez seja uma boa representação de muitos caras do futuro, acostumados cada vez mais com interações virtuais e pouco presenciais. Uma sociedade onde se aproximar de alguém que você não teve uma pré-socialização virtual é muito difícil”, completa o ator.
E, é claro, para reforçar a timidez de João, o contraponto da narrativa é Henri, jovem desenvolto e comunicativo interpretado por Perozzo. Segundo ele, seu personagem é “rápido” e um “bom propulsor”. “Ele é o oposto do João, mas ambos se complementam em ideias. O Henri é aquele coadjuvante que vai ficar pedindo para o amigo se permitir, saindo da zona de conforto”. “Acho que esse bom amigo que o Henri proporciona para o João seja a coisa que mais me faça gostar desse papel, mais do que a personalidade carismática”, conclui o ator.
Nasce uma estrela
Por fim, falamos com a atriz principal dessa aposta. Duda Andreazza, que também participou de O Grande L (2014), revelou que Daros a convidou para o filme há quase quatro anos, durante a concepção do roteiro. Ao descobrir que seria Jusy, uma blogueira muito popular, Duda disse não ter se “identificado”, mas encarou como um “desafio”.
“Como eu já conheço o Le de muito tempo, ele me deixou livre para compôr a Jusy, o que facilitou muito. Criamos alguns perfis de redes sociais para essa influenciadora e eu comecei a dar alguns formatos pra ela. Com algumas frases de efeito, anseios e trejeitos, ela foi se tornando real. Eu não me espelhei em alguma personalidade específica, mas acho que o conteúdo de influenciadoras já está tão internalizado em mim, pelo recebimento indireto, que o processo acabou se tornando divertido”, disse a atriz. “Particularmente, acho que mandei bem”, conclui.
Produzido pela ELF Mídia, e contemplado no edital FAC Filma RS de 2022, A Um Toque das Suas Teclas ainda não possui uma estreia prevista. O primeiro passo da pós produção, segundo Le, é a inscrição da obra em festivas. Em seguida, será disponibilizado em plataformas digitais, tal qual o cineasta nos revelou ter feito com produções anteriores. Nos últimos bate-papos da tarde, e com informações adicionais do diretor, é possível destacar que A Um Toque das Suas Teclas pretende propor a seguinte pergunta: “estaremos substituindo o cumprimento físico pela recompensa fácil e segura do elogio virtual, coletivo, múltiplo e sem limites?”. É esperar para ver.
Por volta das 17h, demos por encerrada a nossa visita, não sem antes agradecer à Daniela Néspolo (diretora de arte), Edson Luiz Fulber (produtor executivo) e Fábio Borges (diretor de produção), que reforçaram futuras convocações para o Papo de Cinema em outros sets. Ah! E fiquem ligados para, em breve, mais informações sobre o curta.
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