Era um dia cinzento em Porto Alegre. Estávamos no final de maio, e o inverno já havia dado seus primeiros sinais de que estava chegando à capital gaúcha. Foi neste cenário, entre garoa e um vento frio constante, que fomos convidados a conversar com a equipe do ainda inédito Depois de ser Cinza. A produção da Pironauta Filmes irá marcar a estreia na direção de longas de Eduardo Wannmacher, responsável por curtas como 24 Horas com Carolina (2012), selecionado para o Mix Brasil, e Um Dia como Hoje (2007), premiado no Festival de Gramado. Faltavam apenas cinco diárias para o término das filmagens, que tinham se iniciado no outro lado do mundo – na Croácia! – e agora entravam em sua reta final no Rio Grande do Sul. Fomos, então, encontrar não só o cineasta, mas também dois dos protagonistas do filme, o ator João Campos e a atriz Branca Messina, para um bate-papo sobre esse processo em construção. Confira!
HISTÓRIA
“Não é muito fácil dizer a sinopse”, comenta Eduardo Wannmacher. E segue: “Em resumo, temos três mulheres na vida de um homem. Ou melhor, um homem na vida de três mulheres. É uma história de tempos diversos. O roteiro foi composto a partir dos olhares narrativos delas. E o ponto em comum é terem amado o mesmo homem, ao longo de cinco anos. Não interagem entre si, mas com ele”. Seria uma história de amor – ou melhor, várias? Quem fala agora é João Campos: “O Raul, meu personagem, é quem costura as histórias. Por isso concordo com o que o Dudu disse: não são três mulheres na vida de um homem, e sim um homem na vida de três mulheres. E todas muito fortes”, finaliza. Pois bem, imagina-se que escolher atores que enfrentem na boa esse nível de desafio não tenha sido uma tarefa fácil. Mas parece que o universo estava conspirando a favor. É o João que continua: “entrei no elenco por causa de um curta que fiz em Fortaleza, chamado Cidade Nova, em 2015. Foi um trabalho que circulou bem, e na época o Bruno Carboni, montador do Depois de ser Cinza, estava passando pelos mesmos festivais com um trabalho dele. A gente acabou se cruzando, acho que em Recife. Tempos depois, quando estavam escolhendo nomes para quem ia ser o Raul, ele lembrou de mim e me indicou. Essa foi a ponte. Era também um momento de visibilidade, pois estava saindo de uma novela (A Lei do Amor, 2016-2017). Isso tudo somou”, explica.
E bastava definir os protagonistas? “Na verdade, é um filme de quatro atores. É um filme de atuações, e toda a sua história está voltada para esses quatro personagens. Mas, claro, há outros intérpretes no elenco, participações especiais muito queridas. Como o Marcio Reolon ou a Catharina Conte, que são parte da turma, e também se aproximaram muito. E também dei liberdade para eles. O filme cresceu com isso”, complemente Wannmacher. Bom, mas se o que importa são os personagens, qual a relação com o cenário onde se encontram?
ROTEIRO
Vamos acompanhar o Raul passando pela Suzy (Branca Messina), depois Isabel (Elisa Volpatto) e por fim pela Manuela (Silvia Lourenço)? Tudo bem ordenado? Como irá funcionar? “Não é muito fácil definir”, diz Wannmacher. “Essa linha de vida, de cinco anos, na estrutura do roteiro, é invertida, toda fragmentada”, aponta. Apenas para ser logo interrompido por Branca. “Isso, na verdade, é a grande beleza do filme. A magia está aí, também. A gente não está contando uma história linear. E tem a descoberta do público, pois as informações não são dadas de cara. Você vai descobrindo, entendendo essas relações, que mulheres são essas, e que homem é esse na vida delas. É um filme muito feminino”, justifica, gerando um olhar curioso do diretor. Então reitera: “apesar de sermos guiadas por homens – diretor, roteirista – na equipe temos diretora de arte, figurinista, maquiagem, tudo feito por mulheres. Quando peguei, oito anos atrás, a sinopse desse projeto para ler, já achei muito forte. Durante todo esse tempo ficava na torcida, e cada vez que a gente se encontrava, aqui ou no Rio de Janeiro, onde moro, ou em qualquer outro lugar, minha primeira pergunta era sempre: “e aí, vai rolar?”. Não existe, para mim, nada mais perfeito do que trabalhar em Porto Alegre, do que filmar e fazer esse filme aqui. Estou muito feliz. Sem falar do João, aqui ao meu lado, que foi um verdadeiro presente”, termina rasgando elogios ao colega de elenco – e par romântico na ficção.
8 ANOS
Mas… como assim, “oito anos”. O que a Branca quis dizer com isso? Que fale o diretor, por favor! “Levou-se muito tempo no desenvolvimento do projeto. O roteiro teve, ao todo, onze tratamentos. Nesse meio tempo, inscrevemos em vários editais, se pensou mil vezes que nunca seria filmado (risos). Mas ganhamos o FAC – Fundo de Apoio à Cultura – de 2015, que contemplou um orçamento de R$ 1 milhão. Por causa disso, tivemos que resolver com essa quantia – que já é um baixo orçamento há muito tempo”. Em muitos casos, quem assina a direção também cuida da produção, como um todo. Não foi o caso aqui no Depois de ser Cinza. “A produtora principal é a Pironauta, do Frederico Mendina. Não cheguei a me envolver nessa parte. O Fred é que me convidou para participar do projeto. Não acompanhei os desenlaces financeiros de perto. Mas sei que, com o dinheiro que tínhamos, fizemos milagre. Não só para conseguir filmar tudo que estava na história, mas para terminar com tudo pago e em dia” afirma, respirando aliviado.
CROÁCIA
É o diretor que explica: “O Léo Garcia, autor do roteiro, tinha em mente a Croácia desde a origem do roteiro. Ele escolheu porque, na época em que estava escrevendo, oito anos atrás, ainda era um lugar desconhecido para muita gente. Só tempos depois é que virou ponto turístico. Mas ele queria um lugar distante, para justificar o que se passa com esse cara, um brasileiro, que mora lá, está perdido na vida, arrependido com a vida que está levando, e que mesmo assim não consegue voltar. Poderiam ser muitos lugares, na real. Acontece que não foi uma escolha nossa. Em determinado momento, por causa da logística da produção, pensamos que seria impossível filmar lá. Até pela estrutura do filme, somos muito pequenos. Mas fomos, e foi incrível”.
O Dudu, como é carinhosamente chamado pelos atores, não foi até o país europeu sozinho. O João explica: “Na Croácia filmamos a parte da Isabel, interpretada pela Elisa Volpatto. Então, dos protagonistas, fomos só nós dois. Todo o elenco de apoio era de lá mesmo. Ter filmado na Croácia foi importante pelo lance do deslocamento, do choque de imagem, das paisagens. Acho que um pouco da proposta que o Léo queria era justamente esse confronto. É um momento de deslocamento emocional dos personagens, e a isso se soma também as mudanças de língua, clima. É um país muito diferente em vários sentidos”, complementa.
HOLLYWOOD
Wannamcher continua explicando os encantos e as descobertas que tiveram durante a passagem da equipe pela Croácia. “O Léo escreveu o primeiro e o segundo tratamento por lá. Ele percorreu a linha geográfica do roteiro, visitando os lugares onde iríamos, anos depois, filmar. E isso foi em 2010 ou 2011, se não me engano. Uma vez na Croácia, foi quase como um road movie, pois tivemos vários deslocamentos. Começamos em Zagreb, a capital, depois fomos para Zadar, que é no litoral, e acabamos em Dubrovnik, que é a principal cidade do país. É um lugar completamente turístico, mas que preserva uma cidade medieval dentro dela”, complementa. Isso é muito interessante. Uma cidade contemporânea, mas que preserva no seu centro um registro histórico de como tudo começou? Incrível. Mas como faz para filmar? Basta chegar e montar a câmera? “Contamos com o apoio de uma produtora local, um time de profissionais especializado justamente em trabalhar com equipes de fora que vão filmar lá. Nós estávamos em, mais ou menos, vinte pessoas. Eles tinham um cara cuja função era justamente abrir portas. Foi por isso que conseguimos filmar em qualquer lugar que queríamos. É um tipo de produtor que não se encontra no Brasil. E essa turma tem renome internacional. Fizeram coisas incríveis. E nos tratavam da mesma forma. A gente desse tamaninho, mas nos sentindo como se fôssemos de Hollywood! Ele nos dizia: “olha, o pessoal do Game of Thrones filmou aqui, a turma do Star Wars preferiu mais lá na frente…”. Ele chegou a ser figurante em alguns destes filmes. São experiências surreais que vivemos. E, quando entramos nessa cidade medieval, que é toda murada, entendemos porque tanta gente escolhe filmar lá. O Jamie Foxx, por exemplo, estava um mês antes da gente filmando o novo Robin Hood (2018) no mesmo cenário”. Luke Skywalker, Jon Snow e agora Robin Hood? Realmente, Depois de ser Cinza está seguindo os passos de gigantes!
PORTO ALEGRE
Então, se na Croácia foram filmadas apenas as cenas do Raul e da Isabel, os outros personagens estão em Porto Alegre. E como foi a experiência em solo gaúcho? É a vez da Branca Messina dar sua opinião: “Não existe nada mais perfeito para a minha personagem do que esse tempo cinzento de Porto Alegre. Ela é a melancolia pura. A Suzy é uma carioca que mora no sul. O pai dela era professor da faculdade que veio morar aqui, e ela veio junto, ainda na pré-adolescência, e acabou ficando. É uma pessoa bem sozinha. O Raul entra na vida dela ainda bem jovem, quando os dois eram estudantes. E ele é o que ela tem. É tudo para ela. Não há mais nada, apenas ele e os estudos”. Mas teria sido esse o único interesse da atriz em filmar no Rio Grande do Sul? “Acho que tem um resgate de uma ancestralidade. Minha família paterna é gaúcha. Então, sempre que tenho a oportunidade de vir pra cá e retomar esses laços, aproveito. Amo estar em Porto Alegre. Esse é o meu terceiro filme feito no sul, após o Menos que Nada (2012), do Carlos Gerbase, e o Vingança (2008), do Paulo Pons”. Realmente, a Branca já é quase uma gaúcha honorária! “Porto Alegre é a cara da Suzy. Sei que quando está iluminada, com muito sol, o céu é lindo aqui. Parece que Deus está, realmente, se comunicando com você. Mas, no inverno, você quer ir embora. Se sente sufocado. Nada melhor do que isso para a Suzy”.
E como fizeram os atores que nunca tinham estado antes na cidade? “Pensando no Raul, foi fundamental termos filmado em Porto Alegre. Ele é um personagem que está sempre transitando, e nestes cinco anos passou por vários lugares, emocionais e paisagísticos, pontuando cada momento pessoal. Só que carrega consigo uma coisa de Porto Alegre, algo que senti quando vim para cá pela primeira vez. Há uma certa melancolia. Essa coisa meio cinzenta, essa garoa. Você sai à noite, tipo 23h, e já não tem mais nada aberto, as ruas estão vazias, ninguém na rua. Foi importante sentir isso e trazer para o Raul. Ele é um cara que carrega Porto Alegre, nos vários sentidos da cidade”, elabora João.
ENSAIOS
O certo é que não bastou chegar no set e começar a filmar. Houve um longo período de preparação, antes. “A gente tinha o roteiro, e foram muitos ensaios. Fiquei em Porto Alegre uma semana ensaiando antes das filmagens, com o João e com o Dudu”, Branca explica. “Isso foi importante para criarmos essa relação. Fizemos um laboratório intenso, vivemos um ao outro, nos conhecemos. No Rio, a gente se conhecia só de vista. Nunca tínhamos nos tocado, nos abraçado. Aqui até saímos para dançar! E isso tudo com esse olhar do Dudu conduzindo a gente. Sempre pensando o que cabia na boca, o que os corpos estavam falando. Era preciso esse encontro real, entre Branca e João, antes da Suzy e Raul. O roteiro foi permeado por essa preparação. Tivemos essa liberdade”. E, mais uma vez, se percebe que o sentimento não é único. “Foi uma direção muito especial”, se apressa a adicionar João. “Concordo com o que a Branca falou: “confiança”. A gente confia um no outro, e também no trabalho do Dudu. Sentimos que ele confia na gente. Foi uma construção horizontal. Claro que o diretor é ele, é quem tem a visão do todo, é quem está dando vida a essa história, lindamente e muito apropriada, mas existe espaço para ouvir. Então a gente propõe, muda uma coisa aqui, até na movimentação, daí ele vem e afina. E isso é muito gostoso. Quando abre pra construção coletiva, é muito bonito”.
FILMAGENS
Um filme é feito, basicamente, por três etapas: pré-produção, filmagens e finalização. Roteiro, levantamento do orçamento, escolha dos atores, da equipe, dos cenários, tudo isso está lá no começo. Já a montagem, ajuste de cores, inserção de efeitos, cuidado com o som, escolha e composição da trilha sonora, vem no final. O meio, portanto, parece ser a parte mais “divertida”. É quando estão todos no set, transformando em realidade aquele mundo de ficção. “Tá sendo absurdamente maravilhoso”, fala com um sorriso no rosto João. “Foi um set muito especial, amoroso, competente. A gente tá assustado com quão bom foi todo esse processo. As convivências, as trocas. A qualidade do material que produzimos, mesmo sem ter uma noção perfeita de tudo. Mas tá todo mundo muito feliz, as imagens são lindas, a fotografia é primorosa. As trocas com o elenco, essas três mulheres… Branca, Silvia e Elisa, o que posso dizer?”. Ele parece não se conter em si mesmo. Mas não está sozinho nesse sentimento. “Isso tudo só foi possível porque contamos com o Dudu dirigindo”, explica a Branca. “Ele é o capitão desse time. Nunca vi uma pessoa confiar tanto, delegar tanto em um set. A palavra que me vem à cabeça, quando estamos filmando, é ‘confiança’. O Dudu confia plenamente em cada integrante da equipe. Isso gera uma segurança para todos, deixando todo mundo muito alinhado. Comecei a minha primeira diária dizendo: “já estou com saudades”. Olha aqui: fiquei toda arrepiada! Foi um clima muito único”, diz, se emocionando.
Bom, mas o que o próprio homem tem a dizer sobre isso? “Eu não faço nada. Só fico olhando. E, de vez em quando, digo: ‘vai, vai, vai’” se diverte Wannmacher, num misto de humildade com constrangimento.
SOTAQUE
Seja em Hollywood ou na Croácia, uma das questões mais complicadas em um filme é escolher onde filmar. E na capital gaúcha não foi diferente. “Tivemos muitas locações. Mais do que gostaria, para falar a verdade (risos)”, desabafa Wannmacher. “Fizemos uma pesquisa muito criteriosa. E uma coisa era certa: não queríamos dar uma identidade local. As internas foram quase todas feitas aqui, por exemplo. Queria universalizar o filme, tirar esse ranço local. Sou contra essa ideia de que filme gaúcho tem que ser gaúcho, e o resto é que é brasileiro. Discuti muito com o elenco a questão do sotaque, por exemplo”. Bom, isso é fato: o gaúcho possui um sotaque forte, facilmente identificável em qualquer lugar do país. O elenco teve que aprender a falar “gauchês”, então? Mais ou menos.
“Isso foi libertador”, começa a se justificar Branca. “Estou nesse projeto há tanto tempo. Nos conhecemos quando vim para cá fazer o Menos que Nada. Naquele filme eu fazia uma psiquiatra gaúcha, totalmente diferente da Suzy. E o Gerbase me pediu muito para trabalhar o sotaque, o que pra mim até não é tão difícil, até pela minha formação – cresci na Espanha, estudei em colégio francês, minha família é gaúcha. Nunca soube, exatamente, qual era o sotaque da Branca, na vida. Cada momento era um diferente. Tive que ir descobrindo por conta própria”.
IDENTIDADE
Quem eram essas pessoas? Quem era o Raul e quem era a Suzy, por exemplo? “Quando finalmente conheci o João, lá no Rio, veio o aviso: “ok, vai acontecer, vamos filmar”. Saímos para jantar, todos nós, e começamos a conversar sobre o filme”, explica Branca. “Já naquela ocasião o Dudu nos avisou: “quero que esse seja um filme do mundo”. Sem limitação. E completou: “você pode falar do jeito que quiser. Não me importa se a Suzy é gaúcha ou não”. Pesquisando, trocando muito, com o Dudu, principalmente, decidimos: ela é carioca. Tem uma história pregressa que importa só para a gente, para o espectador não vai fazer diferença. E foi muito bom chegar a esse lugar. As coisas vão se dando com o tempo”. A Branca teve essa opção, assim como as demais atrizes. Porém, o mesmo não aconteceu com o João. E isso precisava ficar bem claro.
“Uma coisa estava certa: o Raul é gaúcho. Mas abrimos bastante isso: são personagens do mundo. O Dudu falou para nós quatro, para mim, para a Branca, Silvia e Elisa: ‘o sotaque não é uma questão para mim, o filme é universal, vamos conversar e entender melhor isso’”. Era preciso que isso ficasse claro para todos. Cada um podia escolher um caminho, pelo que se percebe, mas todo mundo deveria estar em acordo. “Quando a Silvia veio pra fazer a Manoela, sentamos para conversar melhor a respeito disso. Eu defendia que, ele não precisava ser aquele gaúcho de sotaque carregado, mas tinha que ter uma referência de Porto Alegre no jeito de falar. E a Silvia tinha uma visão parecida. Por isso optamos por algumas referências mais básicas, como o uso do “tu”, por exemplo, que é característico dessa região do Brasil. Ou o “erre” mais forte. Que é muito diferente de como se fala em Brasília, por exemplo, que é mais rasgado. Decidimos por uma aproximação mais suave, sutil. Acho que foi acertada. Estou muito feliz em estar aqui, é um lugar que a gente respeita muito. E que permitiu que tenhamos um filme universal, mas que, ao mesmo tempo, aproxima os personagens da cidade”, comenta o ator.
CINEMA UNIVERSAL
Eliminando os sotaques – ou ao menos os suavizando – o filme não perde sua cara? Muito pelo contrário, afirma o diretor. “Sempre pensei como um projeto universal. Não quis mostrar muito Porto Alegre. Não precisava. Ela já está ali, na forma. É um filme brasileiro. E do mundo, ainda mais que um terço dele se passa na Croácia – que é uma geografia absurda, se comparada com a nossa. É radicalmente diferente. O meu desejo era construir essa história que passasse pela subjetividade dos personagens. A montagem vai ser muito a partir disso. O ritmo da história, como as coisas acontecem com eles e como isso irá definir o tempo dentro do filme. O que gostaria, mesmo, de fazer, é que as pessoas pudessem também entender que esse é um filme diferente daqueles que geralmente são feitos por aqui. Ele quer construir coisas que não necessariamente estão vinculadas às questões locais, ainda que essas estejam presentes. Essa melancolia que paira por aqui, vai estar presente”. Essa busca pelo universal, no entanto, não se restringe a eliminar os traços locais. Wannmacher deixa claro suas preocupações em também agregar novas cores: “uma coisa diferente, por exemplo, é que uma palestra, que ocorre na Universidade, e quem está no comando é o Muniz Sodré, do Rio de Janeiro, um jornalista e sociólogo negro, e uma autoridade acadêmica. A gente também trouxe um ator de Goiânia, o Otto Caetano, que é amigo do João. Ele veio fazer um personagem que no original era um rapaz branco, mas acabou sendo interpretado por um ator negro. É um ex-namorado da Manoela, que hoje é casado com a irmã dela. Essa vontade de criar diversidade étnica e sexual não existia no roteiro, e a gente colocou. Há um afeto muito grande em cena, todo mundo dança, beija, se toca, estão sempre juntos. E tudo muito natural, não chega a ser uma questão. Não é uma proposta de debate, mas um desejo de reproduzir um comportamento que já existe. Não queria que fosse um filme branco, ariano, do Rio Grande do Sul. Essa foi uma vontade que foi crescendo e tomou forma no filme”, deixa claro para quem quiser ouvir.
FUTURO
Ainda há muito a ser feito. Como foi dito antes, as filmagens são apenas uma etapa de todo o processo de se fazer um filme. Ainda em 2017, após o término das filmagens ainda no primeiro semestre, os seis meses seguintes foram ocupados com a montagem e demais etapas da finalização. “Tudo vai estar pronto para estrear em 2018. Vamos fazer a cartilha, passar pela maior quantidade possível de festivais e depois programar a estreia. E temos também esse link com a Croácia. Queremos fazer esse circuito internacional. Vamos lançar lá também. Foi um lugar muito forte para nós”. Wannmacher não deixa dúvidas que esse é um filme para sonhar alto. E ele não é o único: “Só nessa nossa conversa você já percebeu que é confiança pura. E foi o Dudu que deu essa liberdade para a gente, que nos permitiu descobrir essas coisas. Isso foi muito maravilhoso”, finaliza Branca Messina.
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