Confira a primeira parte do Set Visit de O Doutrinador
A programação passada com antecedência aos jornalistas pela assessoria de imprensa de O Doutrinador previa apenas a visita ao set para a conferência de uma filmagem, isso após a entrevista coletiva cujo relato está aqui. Contudo, como revelou a produtora Renata Rezende, os planos foram ligeiramente alterados em virtude de circunstâncias alheias à vontade da própria equipe. A cena que acompanharíamos inicialmente, provavelmente a da morte de um político corrupto, seria registrada à beira da piscina. Contudo, a meteorologia chamava atenção a um maior volume de chuva no dia de nossa estada, o que forçou a troca de cronograma (e acabou não chovendo, mas, faz parte). Portanto, fomos testemunhar a feitura de uma sequência interna, um diálogo alusivo diegeticamente às negociatas que pipocam diariamente nos noticiários. E, para, de certa forma, compensar, foi incluída em nosso itinerário a possibilidade de assistirmos a algumas passagens já filmadas, sem tratamento algum, mas que nos permitiram analisar com mais clareza “a cara” que a série de TV e filme O Doutrinador estão ganhando.
O Papo de Cinema fez parte da primeira leva ciceroneada pela assessora de imprensa na, de fato, visita ao set e à ilha de edição montada num espaço anexo. E, acreditem, isso fez toda a diferença. Nos deslocamos do QG à mansão ao lado, onde estava a estrutura que conferimos a seguir. Na chegada, sobressaiu a quantidade de profissionais envolvidos, bem como o ambiente montado à realização da cena envolvendo um homem público rechaçando a necessidade de ser escoltado pela polícia para escapar à ira do justiceiro mascarado. Um entra e sai frenético, com pessoas azeitando a máquina paquidérmica (se comparada à média do cinema brasileiro) o que, novamente, nos permitiu dimensionar um pouco melhor o tamanho da produção. Fomos convidados a sentar nos fundos da função para enxergar tudo pelos monitores do vídeo assist, exatamente o equipamento que dá ao diretor a imagem do enquadramento, pelo qual geralmente ele acompanha o trabalho. Como o ensaio demorava um pouco, fomos deslocados à ilha de edição instalada logo ali perto, na qual o editor escolhia planos.
Portanto, acabamos tendo muita sorte, pois, diferentemente de outros colegas, que acabaram vendo cenas prévia e estrategicamente selecionadas, testemunhamos um pouco do processo de triagem de algumas partes “boas” para uma eventual montagem final. Claro que não tivemos revelações bombásticas, mas vimos certas sequências-chave e até uma bastante emblemática, conforme deixou escapar o protagonista Kiko Pissolato numa posterior conversa. Vamos chegar lá. O que deu para perceber nesse primeiro contato, e que corrobora o discurso dos diretores, é a tentativa de aproximar visualmente o conteúdo dos quadrinhos. E isso no bom sentido. Todas as imagens que vimos foram noturnas e já ali, mesmo sem pós-produção, se destaca a fotografia e, por meio dela, a vontade de aludir ao suporte original. É muito forte a imagem do Doutrinador com seus olhos vermelhos irrompendo na penumbra numa cena de perseguição. Aliás, já dá para imaginar que a figura desse justiceiro será facilmente assimilada, por sua potência iconográfica. Num rápido excerto, o Doutrinador levanta o rosto, já devidamente paramentado, e a máscara, antes apagada, tem os olhos acesos. Pensamos: “aí tem coisa”.
Noutra parte, vimos o Doutrinador dando um mortal de costas, caindo de uma altura considerável, numa proeza, soubemos depois, de um dos dublês da produção. A maior parte das imagens antecipadas foi filmada em frente ao Teatro Municipal de São Paulo, numa simulação de manifestação pública, na qual há relances de Kiko sem a vestimenta que lhe resguarda a identidade. Continue somando: máscara sendo “ligada” + personagem à paisana. Em meio à balbúrdia, a black blocks devidamente mencionados, vimos o Doutrinador defendendo a população, para isso enfrentando um policial escudado. As demais cenas foram variações das relatadas até aqui. Logo depois, retornamos à frente do vídeo assist e acompanhamos os ensaios, os reposicionamentos de câmera, mas tivemos de dar lugar ao próximo grupo que aguardava para fazer um tour similar ao nosso. Já estava ótimo.
De volta ao QG, encontramos Kiko Pissolato fazendo um lanche e fomos conversar com ele, inclusive, e principalmente, sobre o que tínhamos visto. Lembram-se da soma “máscara sendo ‘ligada’ + personagem à paisana”? Pois é, mencionamos isso ao protagonista e ele abriu um sorriso do tipo: vocês viram uma coisa muito legal e não sabem. Um colega verbalizou a pergunta que nos fazíamos: “nós vimos o ‘nascimento’ do Doutrinador”? O sorriso de Kiko se alargou, confirmando o que já era para lá de evidente. Ele completou com: “eu não disse isso a vocês”. Não disse, verdade, mas ali sabíamos que tínhamos conferido, em primeira mão, o momento em que Miguel, em meio a uma manifestação popular de grandes proporções, resolve proteger sua identidade com uma vestimenta especial e começar sua senda de perseguição, julgamento e extermínio de corruptos.
Logo depois, juntaram-se ao nosso pequeno grupo os criadores Luciano Cunha e Gabriel Wainer, ambos demonstrando bastante entusiasmo. Amenidades vão, amenidades vêm, falaram um pouco sobre o selo de quadrinhos que criaram em conjunto, o Guará, com sede no bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro. Comentamos, também, acerca das cenas vistas, da qualidade das coreografias, da “cara de gibi”, e eles desandaram a tecer loas à adaptação, dizendo-se muito felizes com o resultado até então obtido. Nessa altura do campeonato, nossa jornada chegava ao fim. Passava das 21h, hora prevista para encerrar as atividades de imprensa, mas à equipe de O Doutrinador as coisas estavam apenas começando, vide que o cronograma previa trabalhos até às 6h da manhã. Nas ruas ao lado das casas, tanto a de filmagem quanto a de QG, diversos caminhões com equipamentos, figurinos e toda sorte de elementos intrínsecos a uma produção dessa magnitude.
Mesmo que as imagens conferidas empolguem, ainda não dá para saber se O Doutrinador vai funcionar nas telinhas e nas telonas. O que dá para perceber, de antemão, é o empenho do time, nas mais diversas instâncias, para fazer um produto competitivo, mercadologicamente, e disposto a entreter. Vai gerar controvérsia? Certamente, afinal de contas estamos falando de coisas altamente inflamáveis, como políticos corruptos e a “autorização” que alguns se dão para condensar toda a justiça em si, conforme critérios certamente distorcidos. Não sabemos o que o filme vai ser, mas, a julgar pela disposição da produção de fazer desse um case importante, de investir numa dinâmica multiplataforma, o que dá para prever é uma boa repercussão. Os investidores agradecerão. Mas, quem sabe não estejamos diante de uma bem-vinda quebra de paradigmas. Isso apenas saberemos em setembro, quando o filme chegar às telonas, é bom que se diga, um pouco antes das eleições marcadas para outubro.
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Nosso agradecimento especial à Agência Febre, à Paris Entretenimento e à Downtown Filmes, que nos convidaram para visitar o set de O Doutrinador, em São Paulo.
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