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Confira a primeira parte do Set Visit de O Doutrinador

A programação passada com antecedência aos jornalistas pela assessoria de imprensa de O Doutrinador previa apenas a visita ao set para a conferência de uma filmagem, isso após a entrevista coletiva cujo relato está aqui. Contudo, como revelou a produtora Renata Rezende, os planos foram ligeiramente alterados em virtude de circunstâncias alheias à vontade da própria equipe. A cena que acompanharíamos inicialmente, provavelmente a da morte de um político corrupto, seria registrada à beira da piscina. Contudo, a meteorologia chamava atenção a um maior volume de chuva no dia de nossa estada, o que forçou a troca de cronograma (e acabou não chovendo, mas, faz parte). Portanto, fomos testemunhar a feitura de uma sequência interna, um diálogo alusivo diegeticamente às negociatas que pipocam diariamente nos noticiários. E, para, de certa forma, compensar, foi incluída em nosso itinerário a possibilidade de assistirmos a algumas passagens já filmadas, sem tratamento algum, mas que nos permitiram analisar com mais clareza “a cara” que a série de TV e filme O Doutrinador estão ganhando.

O Papo de Cinema fez parte da primeira leva ciceroneada pela assessora de imprensa na, de fato, visita ao set e à ilha de edição montada num espaço anexo. E, acreditem, isso fez toda a diferença. Nos deslocamos do QG à mansão ao lado, onde estava a estrutura que conferimos a seguir. Na chegada, sobressaiu a quantidade de profissionais envolvidos, bem como o ambiente montado à realização da cena envolvendo um homem público rechaçando a necessidade de ser escoltado pela polícia para escapar à ira do justiceiro mascarado. Um entra e sai frenético, com pessoas azeitando a máquina paquidérmica (se comparada à média do cinema brasileiro) o que, novamente, nos permitiu dimensionar um pouco melhor o tamanho da produção. Fomos convidados a sentar nos fundos da função para enxergar tudo pelos monitores do vídeo assist, exatamente o equipamento que dá ao diretor a imagem do enquadramento, pelo qual geralmente ele acompanha o trabalho. Como o ensaio demorava um pouco, fomos deslocados à ilha de edição instalada logo ali perto, na qual o editor escolhia planos.

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O diretor Gustavo Bonafé. Crédito: Aline Arruda

Portanto, acabamos tendo muita sorte, pois, diferentemente de outros colegas, que acabaram vendo cenas prévia e estrategicamente selecionadas, testemunhamos um pouco do processo de triagem de algumas partes “boas” para uma eventual montagem final. Claro que não tivemos revelações bombásticas, mas vimos certas sequências-chave e até uma bastante emblemática, conforme deixou escapar o protagonista Kiko Pissolato numa posterior conversa. Vamos chegar lá. O que deu para perceber nesse primeiro contato, e que corrobora o discurso dos diretores, é a tentativa de aproximar visualmente o conteúdo dos quadrinhos. E isso no bom sentido. Todas as imagens que vimos foram noturnas e já ali, mesmo sem pós-produção, se destaca a fotografia e, por meio dela, a vontade de aludir ao suporte original. É muito forte a imagem do Doutrinador com seus olhos vermelhos irrompendo na penumbra numa cena de perseguição. Aliás, já dá para imaginar que a figura desse justiceiro será facilmente assimilada, por sua potência iconográfica. Num rápido excerto, o Doutrinador levanta o rosto, já devidamente paramentado, e a máscara, antes apagada, tem os olhos acesos. Pensamos: “aí tem coisa”.

Noutra parte, vimos o Doutrinador dando um mortal de costas, caindo de uma altura considerável, numa proeza, soubemos depois, de um dos dublês da produção. A maior parte das imagens antecipadas foi filmada em frente ao Teatro Municipal de São Paulo, numa simulação de manifestação pública, na qual há relances de Kiko sem a vestimenta que lhe resguarda a identidade. Continue somando: máscara sendo “ligada” + personagem à paisana. Em meio à balbúrdia, a black blocks devidamente mencionados, vimos o Doutrinador defendendo a população, para isso enfrentando um policial escudado. As demais cenas foram variações das relatadas até aqui. Logo depois, retornamos à frente do vídeo assist e acompanhamos os ensaios, os reposicionamentos de câmera, mas tivemos de dar lugar ao próximo grupo que aguardava para fazer um tour similar ao nosso. Já estava ótimo.

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O Doutrinador em ação. Crédito: Aline Arruda

De volta ao QG, encontramos Kiko Pissolato fazendo um lanche e fomos conversar com ele, inclusive, e principalmente, sobre o que tínhamos visto. Lembram-se da soma “máscara sendo ‘ligada’ + personagem à paisana”? Pois é, mencionamos isso ao protagonista e ele abriu um sorriso do tipo: vocês viram uma coisa muito legal e não sabem. Um colega verbalizou a pergunta que nos fazíamos: “nós vimos o ‘nascimento’ do Doutrinador”? O sorriso de Kiko se alargou, confirmando o que já era para lá de evidente. Ele completou com: “eu não disse isso a vocês”. Não disse, verdade, mas ali  sabíamos que tínhamos conferido, em primeira mão, o momento em que Miguel, em meio a uma manifestação popular de grandes proporções, resolve proteger sua identidade com uma vestimenta especial e começar sua senda de perseguição, julgamento e extermínio de corruptos.

Logo depois, juntaram-se ao nosso pequeno grupo os criadores Luciano Cunha e Gabriel Wainer, ambos demonstrando bastante entusiasmo. Amenidades vão, amenidades vêm, falaram um pouco sobre o selo de quadrinhos que criaram em conjunto, o Guará, com sede no bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro. Comentamos, também, acerca das cenas vistas, da qualidade das coreografias, da “cara de gibi”, e eles desandaram a tecer loas à adaptação, dizendo-se muito felizes com o resultado até então obtido. Nessa altura do campeonato, nossa jornada chegava ao fim. Passava das 21h, hora prevista para encerrar as atividades de imprensa, mas à equipe de O Doutrinador as coisas estavam apenas começando, vide que o cronograma previa trabalhos até às 6h da manhã. Nas ruas ao lado das casas, tanto a de filmagem quanto a de QG, diversos caminhões com equipamentos, figurinos e toda sorte de elementos intrínsecos a uma produção dessa magnitude.

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O ator Cláudio Betão e o diretor Fábio Mendonça ensaiando a cena. Crédito: Aline Arruda

Mesmo que as imagens conferidas empolguem, ainda não dá para saber se O Doutrinador vai funcionar nas telinhas e nas telonas. O que dá para perceber, de antemão, é o empenho do time, nas mais diversas instâncias, para fazer um produto competitivo, mercadologicamente, e disposto a entreter. Vai gerar controvérsia? Certamente, afinal de contas estamos falando de coisas altamente inflamáveis, como políticos corruptos e a “autorização” que alguns se dão para condensar toda a justiça em si, conforme critérios certamente distorcidos. Não sabemos o que o filme vai ser, mas, a julgar pela disposição da produção de fazer desse um case importante, de investir numa dinâmica multiplataforma, o que dá para prever é uma boa repercussão. Os investidores agradecerão. Mas, quem sabe não estejamos diante de uma bem-vinda quebra de paradigmas. Isso apenas saberemos em setembro, quando o filme chegar às telonas, é bom que se diga, um pouco antes das eleições marcadas para outubro.

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Nosso agradecimento especial à Agência Febre, à Paris Entretenimento e à Downtown Filmes, que nos convidaram para visitar o set de O Doutrinador, em São Paulo.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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