Giselda Castro e Magda Renner. Se você não as conhece ou nunca ouviu falar delas, saiba você, meu caro leitor, que nós já tivemos algo em comum. A conhecida frase: “a beleza está nos olhos de quem vê” sublinha o valioso trabalho empreendido por estas duas mulheres. O que elas fizeram por você e eu. Ambas foram detentoras de valores nobres. E esses, assim como suas belezas, são parte fundamental do tema abordado pelo documentário Substantivo Feminino (2017). Consciência coletiva. Consciência verde. Herdada e assimilada por elas a partir de uma palestra de José Lutzemberger. Curiosamente, o filme também é assinado por uma dupla: a jornalista Daniela Sallet e o cineasta Juan Zapata. O projeto marca o batismo de Daniela com o cinema. Com um entusiasmo e fôlego que a fez estar cinco anos à frente da realização independente. Ao seu lado, está Zapata. Realizador nascido na Colômbia, conhecido por documentários e projetou autorais como A Dança da Vida (2007), Simone (2013) e o recente Another Forever (2016), ele demonstra frequente disposição à novas experiências, mirando seu olhar e ações no mercado internacional.
Daniela e Juan enxergaram as duas senhoras (até então pouco conhecidas e valorizadas) cujos nomes estão ligados a famílias tradicionais gaúchas. Acontece que assuntos comuns das rodas de sociedade – dinheiro, poder e status – em quase nada interessaram as duas. Ao contrário, seus olhares, ações, dedicação e reivindicações convergiam ao coletivo. Em especial, ao meio ambiente. Essa foi a causa e o sonho que nortearam a vida das ativistas. Proteger. Preservar. Reciclar. Se hoje falamos e exigimos cuidados com a biodiversidade, com a sustentabilidade, entenda leitor: foram Giselda Castro, Magda Renner e seus parceiros e colaboradores que deram origem, significado e valor a esta causa 40 anos atrás. Uma defesa realizada com unhas e dentes. Empreendida de porta em porta em busca de seus objetivos.
Protestando nas ruas, discursando em eventos ou na mídia, nos gabinetes de deputados e senadores. Nas mobilizações ou no dia a dia de trabalho à frente da sede da entidade criada por elas, a A.D.F.G. (Ação Democrática Feminina Gaúcha), parceira da Amigos da Terra.
Juntas elas foram longe. Percorreram o mundo em conferências internacionais, na ONU e no Banco Mundial. Com acesso a generais, líderes de governo e até presidentes da República, a dupla soube tirar vantagem das boas relações e do seu prestígio. Sem jamais esmorecer, demonstraram coragem e persistência louváveis. Toparam de frente contra o poder de diretores de grandes empresas poluidoras que descumpriram leis ambientais. Defenderam as ilhas ao redor do Rio Guaíba, no Rio Grande do Sul, com a mesma tenacidade com a qual defenderam a Amazônia.
Conquistaram reconhecimento no Brasil e no mundo. Foram responsáveis por leis inéditas no Brasil, como a da reciclagem do lixo. Incansáveis na busca de alternativas para manter mais limpo e saudável nosso país e nosso planeta. Um trabalho originado em 1964, quando criaram iniciativas de cidadania junto à população carente e com acesso limitado a informações.
Pesquisa, montagem, música e roteiro de Substantivo Feminino são eficientes. Prova das boas escolhas na composição da equipe. Integrada por nomes conhecidos da produção cinematográfica atual. O resultado é um documentário com uma história interessante e reveladora. Cabe lembrar que a linguagem do filme não pretende inovar ou surpreender, obedecendo, do princípio ao fim, uma estrutura permanente de depoimentos, entrevistas e imagens de arquivo. Mas e daí? O que realmente interessa é que o filme funciona, e muito bem. Está claro na tela a grande beleza que Giselda e Magda perceberam na defesa pelo meio ambiente. O valor imensurável em dedicar a plenitude de suas vidas e generosas na busca de um ideal. Mulheres nobres. Profundamente humanas. Com uma capacidade de erguer um legado inspirador.
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