Há um bom tempo se comenta a respeito do crescimento – quantitativo e, principalmente, qualitativo – das produções televisivas norte-americanas. O argentino Juan José Campanella, vencedor do Oscar por O Segredo dos Seus Olhos (2009) e diretor, nos Estados Unidos, de séries como House (2007-2010) e Law & Order: Special Victims Unit (2000-2010), discorreu sobre isso em sua entrevista exclusiva aqui para o Papo de Cinema. Mas o que pouco tem se comentado é sobre a progressiva melhora dos produtos feitos para a televisão brasileira. E um bom exemplo desse momento auspicioso é a recente série Sessão de Terapia, que estreou no canal GNT no início de outubro de 2012. Além de um elenco de ponta encabeçado por Zécarlos Machado (Eu receberia as piores notícias do seus lindos lábios, 2011), o seriado traz ainda Selton Mello por trás das câmeras como produtor e diretor. Méritos suficientes para justificar um olhar mais atento ao trabalho. E após conferir a primeira semana de exibição, a satisfação – ao menos até agora – tem sido garantida.
Depois de conquistar o respeito do público e da crítica como um dos melhores atores de sua geração, Selton Mello começou, já há alguns anos, a explorar outras habilidades, principalmente na direção. Enquanto que no cinema ele realizou os ótimos Feliz Natal (2008) e O Palhaço (2011) – este último premiado no XVII Prêmio Guarani como Melhor Filme e Diretor, entre outros – na tevê suas experimentações, até o momento, haviam se resumido ao programa de entrevistas Tarja Preta (no Canal Brasil) e ao seriado A Mulher Invisível, da Rede Globo, que adaptava o filme homônimo de grande sucesso. Nada que se compare, no entanto, com o que agora é possível conferir em Sessão de Terapia. Mais do que uma boa história, temos cinco tramas envolventes coordenadas por um legítimo autor, que soube oferecer um olhar diferenciado a um produto já explorado anteriormente.
Sim, pois Sessão de Terapia não é original. O universo psicanalítico é constantemente explorado no cinema, seja em filmes sérios como Um Método Perigoso (2011) ou Jornada da Alma (2002), ou ainda em comédias como Máfia no Divã (1999), com Robert De Niro, ou Terapia do Amor (2005), com Meryl Streep. Mais do que isso, o seriado capitaneado por Mello é nada mais do que a versão brasileira de In Treatment, produção americana estrelada por Gabriel Byrne iniciada em 2008 e que atualmente se encontra em sua quarta temporada. Esta, por sua vez, é também inspirada em Be Tipul, criada por Hagai Levi para a televisão israelense. E mesmo com tantos modelos anteriores, Selton conseguiu, ao menos de início, propor algo novo e único, mostrando que o talento nacional pode, sim, fazer a diferença.
Sessão de Terapia é composto por cinco episódios por semana, cada um com pouco mais de 20 minutos, representando uma – como o título já anuncia – sessão terapêutica. Theo (Zécarlos Machado) é o psicólogo, casado e com três filhos, que terá que lidar com os problemas de cinco pessoas (distribuídas de segunda à quinta), enquanto que na sexta-feira busca o desabafo com a sua própria orientadora e psicóloga. Mesmo sendo um programa diário – numa estrutura que se assemelha mais às nossas novelas do que aos seriados americanos – ele é sempre renovado, pois a cada dia temos um paciente diferente. São universos em conflito, e o modo como rapidamente nos envolvemos com eles e que dará sentido ao programa.
Júlia (Maria Fernanda Cândido) é a mulher com medo de assumir seu próprio relacionamento. Breno (Sérgio Guizé) é um atirador de elite com um trauma recente. Nina (Bianca Miller) é uma ginasta que sofreu há pouco um grave acidente. Ana (Mariana Lima) e João (André Frateschi), ela publicitária, ele ator, formam o casal que busca ajuda para decidir se abortam ou não uma gravidez inesperada. E, por fim, Dora (Selma Egrei) é a antiga conhecida que irá ajudá-lo a colocar a vida nos eixos. É muito fácil reduzir os conflitos de cada um a velhos clichês – a primeira está num caso de transferência emocional, o segundo é um gay reprimido, a garota tem tendências suicidas, o casal tem problemas entre eles e não com o filho futuro, e a antiga mestre tem mais rancor do que profissionalismo – mas, principalmente para quem já conhece o desenrolar destas histórias pelo que viu nas versões estrangeiras, pode-se apostar que há muito mais a ser revelado nas próximas sessões.
Desde Os Normais (2001), que teve três temporadas e gerou dois filmes para o cinema, o mercado de seriados tem se renovado constantemente na televisão nacional. Mas, para cada A Grande Família (versão atual já está em sua 12° temporada) surgem diversas que terminam por morrer na praia. Sessão de Terapia, por estar num canal à cabo, pode ter melhores chances, ainda mais se levarmos em conta o histórico do realizador e as bem-sucedidas versões anteriores. Um elenco em forma, texto preciso, cenário minimalista e muita vontade de fazer algo acima da média: uma receita quase sempre infalível que tem tudo para dar certo mais uma vez.