Billy Wilder foi um dos cineastas responsáveis por “inaugurar” o cinema noir e estabelecer alguns de seus principais arquétipos e visualidades – afinal, ele dirigiu Pacto de Sangue (1944). Nada menos apropriado, então, que ele tenha levado às telas uma das histórias da Dama do Crime, em particular a que se debruça sobre uma mulher fria, focada nos próprios objetivos e envolvida de alguma forma com um assassinato misterioso: a típica femme fatale. Christine (vivida pela sensacional Marlene Dietrich) é esposa de Leonard (Tyrone Power), acusado de matar uma ricaça que investiria nas suas invenções. Para defender o homem, o advogado Sir Wilfrid Roberts (Charles Laughton, excelente) chama a mulher para testemunhar a favor da acusação, numa tentativa de desmoronar os argumentos da promotoria. Porém, Roberts começa a perceber que talvez existam mais intenções por trás da indiferença de Christine do que ela deixa aparentar. Para descobrir a respeito disso, é preciso remontar sua história. Nada incomum para uma trama escrita pela autora de E Não Sobrou Nenhum, O Assassinato no Expresso do Oriente e Morte no Nilo, assim como também não é surpresa que, num filme de Wilder, as performances chamem tanto a atenção quanto o intrincado plot. De outra forma, o que um olhar atual pode revelar sobre a obra é a pressa com que condena Christine. Sim, ela é uma pessoa dissimulada e traiçoeira, o filme deixa isso claro desde o início. Porém, o que ninguém aponta (ao menos não de modo a culpabilizar os homens) é que aquele mundo nunca foi um lugar gentil com Christine, que suas táticas são resultado de uma vida inteira submetida ao olhar de homens que apenas a desejam superficialmente – e perceber isso não enfraquece o filme, pelo contrário, o enriquece ainda mais como documento de sua época.
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