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Top 10 :: Alzheimer

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O Mal de Alzheimer é uma das mais cruéis da humanidade. Se ela não transforma de maneira direta o físico de quem é acometido, o mesmo não pode ser dito de sua capacidade dedutiva, já que a doença, degenerativa, aos poucos vai extinguindo as lembranças dos indivíduos. É fatal e, se o próprio “adoentado” (na falta de um termo melhor) sofre, quem está à volta também. Imagine ser filho de alguém que não lembra que é seu pai ou mãe? É preciso coragem para enfrentar de frente. Com a estreia de Para Sempre Alice, filme que deu o Oscar para Julianne Moore neste ano e que aborda o assunto, a equipe do Papo de Cinema resolveu voltar seus olhos para produções que tratem a doença de forma sensível e que, é claro, tenham bom conteúdo para fazer o espectador entender como combater este mal. Confira!

 

 Meu Pai, Um Estranho (I Never Sang for My Father, 1970)
Com roteiro de Robert Anderson, que adaptou a própria peça para o cinema, este longa dirigido por Gilbert Cates tem uma abordagem sensível e intimista sobre uma conturbada relação entre pai e filho intensificada pelo surgimento do Mal de Alzheimer. O filho é Gene Garrison (Gene Hackman), um professor de Nova York que planeja se casar com sua namorada e mudar para California. Porém a mãe morre pouco antes da cerimônia e a saúde do pai, Tom Garrison (Melvyn Douglas), começa a ficar debiiltada por conta da doença. Para piorar, a irmã foi deserdada por ter casado com um judeu, o que obriga o jovem Gene a ter que ajudar Tom, ainda que o mesmo continue tentando controlar a vida do filho, como fez por longos anos. Além de performances memoráveis (especialmente de pai e filho, indicados ao Oscar por suas atuações), o longa é um dos primeiros em Hollywood a dar forma a esta doença que até hoje é motivo de pesquisas atrás de sua cura. Se ainda é difícil agora, imagine há mais de 40 anos, quando o filme foi rodado. – por Matheus Bonez

 

Iris (2001)
Se o trabalho de composição de um personagem vítima de uma doença tão debilitante quanto o Alzheimer muitas vezes rende justos louros ao intérprete que o conduz, neste drama baseado em fatos reais tal processo se repetiu, mas não de modo exclusivo. Afinal, tanto Judi Dench quanto Kate Winslet, ambas se dividindo no papel da novelista Iris Murdoch, foram indicadas ao Oscar e ao Globo de Ouro – dentre tantas outras premiações – por suas atuações. Mas quem recebeu a maioria dos troféus – como a estatueta dourada mais cobiçada de Hollywood, por exemplo – foi Jim Broadbent, ao aparecer como John Bayley, o marido da escritora e testemunha íntima de todo o processo de agravamento da condição física e psicológica da esposa. Será através dos olhos dele que iremos percebe os esforços, as frustrações e o desespero de uma mulher rumo ao inevitável, que é perder-se dentro de si mesma. Uma história emocionante e muito comovente, que se destaca, além da sensível direção de Richard Eyre, pelo incrível conjunto destes três protagonistas, todos oferecendo o melhor dos seus talentos. – por Robledo Milani

 

O Filho da Noiva (El Hijo de la Novia, 2001)
Antes mesmo de vencer o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro com O Segredo dos Seus Olhos (2009), o argentino Juan José Campanella já tinha uma filmografia consistente. No anterior O Filho da Noiva, Ricardo Darín, seu colaborador de costume, interpreta um cara em crise, com responsabilidades demais e sem tempo para lazer, que sofre para manter aberto o restaurante herdado do pai. A mãe, vivida por Norma Aleandro, tem Alzheimer e está perdendo gradativamente a memória. Sobram-lhe apenas alguns lampejos que permitem uma conexão frágil com o passado. É doloroso para seu filho muitas vezes não ser reconhecido e para seu marido constatar que a vontade de casar-se com ela num rito religioso, como manda o figurino, provavelmente terá de passar por um novo ritual de conquista. No centro está o personagem de Darín, suas tentativas de melhorar a vida, de relacionar-se melhor consigo e com os que estão próximos (amigos, familiares, colegas de trabalho, clientes, etc.). A periférica e delicada abordagem dos efeitos de uma doença que não degenera somente o corpo, mas também os laços, atenta à necessidade de aproveitarmos as coisas (e as pessoas) ao máximo, já que tudo é perecível. – por Marcelo Müller

 

Diário de uma Paixão (The Notebook, 2004)
Uma história de amor à moda antiga. Assim pode ser descrito esse romance assumido e sem a menor vergonha de sê-lo. Graças à conjunção de vários fatores, é possível que essa seja a melhor adaptação de uma obra literária de Nicholas Sparks. Isso reflete seu mérito, mas também a falta de originalidade das produções posteriores. E se Ryan Gosling e Rachel McAdams formam o casal perfeito como protagonistas, o drama ganha forças pelo feliz encontro de Gena Rowlands e James Garner. Os dois se conheceram na adolescência, e seguem juntos mesmo décadas depois. O problema é a doença dela, que não a permite recordar de todos os bons momentos que viveram juntos. Mas o amor dele é maior do que esse percalço, e por isso não se cansa e repetir e relembrar a jornada que juntos percorreram, num esforço válido pelos dois. Afinal, a sintonia entre os amantes é tão forte que nem a maior das adversidades – a morte – conseguirá separá-los. Pode ser chamado de piegas, exagerado ou clichê, mas às vezes isso é tudo o que precisamos na companhia de um bom filme que te pega pela mão e te proporciona uma experiência arrebatadora. – por Robledo Milani

 

Longe Dela (Away From Her, 2006)
Primeiro longa-metragem da atriz Sarah Polley na direção, Longe Dela também é um dos filmes mais tocantes e íntimos sobre o Alzheimer e todos os seus males, que transformam a vida de quem é afligido por ele e as de todos ao redor. Indicada ao Oscar de Melhor Atriz por sua impressionante performance, Julie Christie interpreta Fiona, uma bela e carismática mulher casada há quase 50 anos com Grant (Gordon Pinsent, igualmente soberbo) numa relação amistosa, repleta de ternura e humor. Esta serenidade aparente é interrompida apenas quando Fiona passa a perder pouco a pouco suas memórias, momento em que eles percebem que os limites de seu amor e lealdade estão sendo testados e devem ser redefinidos. Na narrativa melancólica e realista do roteiro de Polley, também indicado ao Oscar, não há espaço para melodramas. Sua perspectiva é a de que uma enfermidade não ocorre por azar, mas por ser parte inevitável de uma vida. Polley, que já havia experimentado uma delicada trama sobre os impactos de uma doença em Minha Vida Sem Mim (2003), apresenta um filme doloroso e difícil para seus espectadores, porém recompensador e destacado em sua breve, porém interessante filmografia como cineasta. – por Conrado Heoli

 

A Família Savage (The Savages, 2007)
John e Wendy são dois irmãos que passaram a maior parte de suas vidas adultas tentando se recuperar da sofrida infância que levaram pelas mãos do autoritário pai. Tal não é a ironia quando os dois são chamados de volta para casa para terem que, mais uma vez, enfrentar a figura paterna. A situação agora, no entanto, é outra, e por mais que pensem estar no controle da situação – pois o pai está doente, vítima de Alzheimer e sem condições de tomar conta de si próprio – apenas a presença dele de volta na vida dos dois será suficiente para desencadear uma série de emoções reprimidas e os obrigarem a lidar com seus próprios demônios internos. O drama é bastante familiar a este tipo de cinema independente norte-americano, com muitos diálogos e emoções à flor da pele, mas o melhor mesmo está nas atuações dos dois protagonistas, defendidos com garra e muita entrega pelo falecido Philip Seymour Hoffman (indicado ao Globo de Ouro e premiado no Spirit) e pela excelente Laura Linney (indicada ao Oscar). – por Robledo Milani

 

A Minha Versão do Amor (Barney’s Version, 2010)
O protagonista do filme (Paul Giamatti) é um homem solitário e de caráter questionável. Ele passa a vida sob a suspeita de ter assassinado seu melhor amigo (Scott Speedman). O mal de Alzheimer que sofre na velhice é um dos elementos que garantem a simpatia do público com o anti-herói. Outra forma de apaziguar a relação com o espectador está nos relacionamentos que Barney trava com pessoas próximas, especialmente seu pai (Dustin Hoffman), e a história de amor com Miriam (Rosamund Pike), sua terceira esposa. É a soma de todos esses fatores que constrói um desfecho de alta carga emotiva. No final da vida, o protagonista está sozinho e um de seus hobbies é atormentar o atual marido (Bruce Greenwood) de Miriam. Conforme o Alzheimer progride, Barney tem dificuldades e chega a se esquecer do número do telefone do amor de sua vida. O ápice lacrimoso de A Minha Versão do Amor se dá quando Barney não tem mais consciência de que perdeu sua última esposa, apesar de ambos ainda se amarem. – por Edu Fernandes

 

Poesia (Shi, 2010)
Uma das cinematografias mais elogiadas da atualidade, o cinema sul-coreano surpreende o mundo regularmente com pequenas pérolas como a Trilogia da Vingança, de Park Chan-wook, os filmes que abordam questões de tempo de Kim Ki-Duk, as comédias de Hong Sang-soo e também Poesia, de Lee Chang-dong. A produção traz a história da sexagenária Yang Mi-ja, que decide consultar um médico após notar que anda um tanto esquecida. Diagnosticada com Alzheimer, ela decide iniciar um curso de poesia ao passo que também precisa lidar com seu neto inconsequente. A atriz Yoon Jeong-hee apresenta uma Mi-ja preciosa nos detalhes e de um olhar penetrante. Com diálogos pontuais, a atriz nos descolore aos poucos o mundo da personagem. A direção e o roteiro de Chang-dong é também de um primor, nos colocando frente a situações inesperadas para a protagonista, assim como o avanço da doença. É interessante destacar sua presença na categoria de Melhor Atriz em premiações como a dos críticos de cinema de Los Angeles, mesmo que completamente ignorado na época por premiações como o Oscar e o Globo de Ouro. – por Renato Cabral

 

Planeta dos Macacos: A Origem (Rise of the Planet of the Apes, 2011)
Dez anos após o remake comandado por Tim Burton não ter ajudado a resgatar a franquia, que foi deixada de lado por mais de duas décadas após seu quinto exemplar, Planeta dos Macacos ganhou um bom recomeço em Planeta dos Macacos: A Origem. Como o próprio subtítulo brasileiro indica, a produção se propõe a mostrar como foi plantada a semente que resultou na Terra distópica e primitiva vista no primeiro filme. Nisso, somos apresentados ao cientista Will Rodman (James Franco), que tenta encontrar uma droga que cure o Mal de Alzheimer, doença que aflige seu pai, Charles (John Lithgow). Testando a droga em Caesar (Andy Serkis), chimpanzé que passa a cuidar depois que o projeto é cancelado, Will mal sabe que está dando o estopim para um grande conflito entre homens e macacos. Planeta dos Macacos: A Origem trouxe de volta temas que faziam a franquia chamar a atenção, envolvendo-os em uma história interessante e tendo em Caesar um personagem fascinante, o que se deve também à belíssima performance de Andy Serkis. Assim, o filme colocou a série de volta nos trilhos, gerando inclusive três anos depois Planeta dos Macacos: O Confronto uma continuação que se mostrou ainda melhor. – por Thomás Boeira

 

Para Sempre Alice (Still Alice, 2014)
Drama correto, chamou a atenção do público pela grande interpretação de Julianne Moore, vencedora do Oscar e da maioria dos prêmios em que concorreu como Melhor Atriz. Mas o que faz esta performance ser tão laureada? Um bom indício é a entrega total de Moore ao papel. Na trama, ela vive uma doutora em linguística, muito inteligente e ativa, que começa a perceber pequenos lapsos de memória, esquecimentos que não costumava ter. Ao visitar seu médico, é diagnosticada com Mal de Alzheimer. A partir daí, o filme passa a mostrar como a família convive com a doença – alguns se afastam, outros se aproximam – e, claro, como Alice sucumbe aos males que a doença traz. É interessante saber que o longa foi filmado de forma não-linear, portanto o desafio para a atriz foi ainda maior ao transmitir ao espectador as condições de sua personagem em cada fase do filme. Moore é uma atriz talentosíssima e sua atuação, por si só, é motivo suficiente para assistir ao longa-metragem dos diretores Richard Glatzer e Wash Westmoreland. Por tratar da doença de forma correta e muito respeitosa, mas sem nunca tirar o pé a respeito das dificuldades que os acometidos pelo Alzheimer passam, Para Sempre Alice acaba sendo um interessante drama sobre o assunto. – por Rodrigo de Oliveira

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