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Há muito tempo o cinema nacional é estigmatizado aqui no país. Para muitos, é sinônimo de filmes chatos, redundantes. Para outros, é exatamente o contrário. O certo é que poucas produções brasileiras conseguem atingir um grande público, ainda mais com a competição acirrada dos blockbusters estrangeiros, especialmente os norte-americanos. Algumas conseguem ultrapassar esta barreira e atingem altos números nas bilheterias. Então, que tal revermos alguns destes filmes que figuram nesta lista? A equipe do Papo de Cinema se utiliza da lista das dez maiores bilheterias nacionais para falar dos longas em questão, seja qual for a qualidade de cada um. Acima de tudo, é uma amostragem do que figurou nas nossas salas ao longo dos últimos 40 anos. Confira!

 

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10. Os Trapalhões na Guerra dos Planetas (1981)
Arrecadação: R$ 5.089.970
Eles foram os reis das bilheterias do cinema brasileiro. E este foi um dos filmes que iniciou os bem-sucedidos lançamentos cinematográficos do grupo, atestando a força da trupe, completa pela primeira vez com Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Com pouco mais de 5 milhões de espectadores, o longa pega carona no sucesso de Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança (1977), parodiando a criação de George Lucas e injetando humor naquela ópera intergaláctica. Embora o intento, infelizmente, não seja alcançado, isso não impediu que as plateias invadissem os cinemas naquele ano de 1978. Na trama, os Trapalhões são surpreendidos pela visita de um alienígena, o príncipe Flick, que pede ajuda para libertar o planeta das garras do vilão Zuco. Relutantes, eles partem nesta jornada e terão de enfrentar as forças do mal daquele planeta em busca da princesa Myrna, raptada pelo vilão com feições de Darth Vader. O príncipe, por sua vez, é uma mistura de Luke Skywalker e Han Solo, mas com um quimono em vez da tradicional túnica dos jedi. Ainda que exista boa química dentro do grupo, o uso extremo da câmera lenta por parte do diretor e os efeitos visuais capengas dão pouco espaço ao riso. – por Rodrigo de Oliveira

 

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9. Os Saltimbancos Trapalhões (1981)
Arrecadação: R$ 5.218.574
Para grande parte do público e da crítica esta é a verdadeira obra-prima dos Trapalhões, planejada para atingir tal status desde o início, quando Renato Aragão procurou Chico Buarque para adaptar sua versão da peça italiana Os Saltimbancos. O cantor não só atendeu ao pedido, como colaborou com o roteiro e escreveu novas canções especialmente para o longa, comandado pelo experiente J.B. Tanko. Na trama, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias interpretam humildes funcionários de um circo que acabam se transformando em atração principal com seus números cômicos e combatem a opressão do Barão, o dono do circo. A comédia mambembe do grupo atinge a perfeição, com os quatro em total sintonia, gerando inúmeros momentos antológicos, como Didi “popotizando” o mago Satã (Eduardo Conde), a viagem onírica a um estúdio de cinema (filmada em Hollywood) ou a cortante cena final. Os números musicais tornaram-se inesquecíveis, através de belíssimas canções como “História de Uma Gata”, interpretada por Lucinha Lins, “Meu Caro Barão”, que reforça o viés de luta de classes do roteiro, e “Piruetas”, que embala uma sequência de um lirismo quase felliniano sobre o universo circense. Um verdadeiro marco do cinema nacional, símbolo de toda a geração dos anos 80. – por Leonardo Ribeiro

 

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8. 2 filhos de Francisco (2005)
Arrecadação: R$ 5.319.677
Quem imaginaria que uma biografia sobre a dupla sertaneja Zezé DiCamargo e Luciano poderia render tantos aplausos e, especialmente, tanto público? Pois o filme de Breno Silveira é um trunfo em várias frentes. O principal: é simples. Tem uma boa e emocionante história para contar através de um roteiro que não busca recursos melodramáticos banais, uma direção que se distancia totalmente de uma produção televisiva, como muitos poderiam esperar, e, é claro, um elenco mais do que afiado para compor esta família que foi além de uma tragédia pessoal para realizar seus sonhos. Quem não era fã da dupla ficou depois. Não é preciso gostar de sua música para entender este sentimento. É ter empatia com histórias de gente de verdade, ter esperança nos outros e, especialmente, saber valorizar aqueles que ajudam na caminhada da vida. Algo que, a ver por este belíssimo longa,  Zezé e Luciano tem de sobra: humanidade. – por Matheus Bonez

 

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7. Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia (1976)
Arrecadação: R$ 5.401.325
Vencedora de quatro kikitos no Festival de Gramado em 1978, esta produção comandada por Hector Babenco saiu da serra gaúcha para conquistar o Brasil. Com bilheteria graúda, chamou a atenção do público por mostrar a história baseada em fatos reais de uma figura bastante controversa da história deste país. Na trama, conhecemos o criminoso Lúcio Flávio (Reginaldo Faria), sujeito que vive na corda bamba, assaltando aqui e ali, com um sonho praticamente inalcançável de se dar bem na vida. No seu caminho, uma polícia tão corrupta quanto a bandidagem, que faz acordos escusos para levar algum lucro em qualquer empreitada. Neste contexto em que o Esquadrão da Morte, parte da polícia que eliminava criminosos sem prestar contas, começou suas operações, Lúcio Flávio foi uma das vozes que colocou o jogo sujo dos homens da lei nos jornais. Reginaldo Faria carrega bem o filme como protagonista e tem um elenco de apoio de luxo, com nomes como Milton Gonçalves, Ivan Cândido, Paulo César Peréio e Grande Otelo dando performances à altura de uma trama policial instigante. As cenas de ação têm apuro técnico e a captação de som direto impressiona para a época – além de uma boa dublagem na pós-produção. – por Rodrigo de Oliveira

 

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6. O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão (1977)
Arrecadação: R$ 5.786.226
Ainda sem a presença do mineiro Zacarias no grupo, os Trapalhões alcançaram o maior sucesso de público de sua filmografia com este longa inspirado no clássico romance de Henry Rider Haggard. Na versão “trapalhônica” da história, os amigos Pilo (Renato Aragão), Duka (Dedé Santana) e Fumaça (Mussum, apenas em seu segundo trabalho com a trupe), que ganham a vida simulando lutas pelas praças da cidade e recolhendo o dinheiro das apostas, embarcam em uma missão a pedido da bela Glória (Monique Lafond) com o intuito de resgatar seu pai, o arqueólogo Aristóbulo (Carlos Kurt), que desapareceu ao tentar encontrar as lendárias Minas do Rei Salomão. Com um roteiro que compensa sua total falta de lógica com muita criatividade, rendendo cenas marcantes como a da Fonte da Vida e da Morte e o final emotivo envolvendo o simpático cachorro de Didi, o longa resulta em uma das aventuras mais agitadas dos Trapalhões, sempre calcada no humor simples e ingênuo dos comediantes. Entre as mais diversas e absurdas ameaças enfrentadas pelo trio, como gigantes, piratas, árabes e uma tribo canibal, há também a Bruxa interpretada por Vera Setta, uma vilã emblemática, que povoou os pesadelos da infância de milhões de brasileiros.  – por Leonardo Ribeiro

 

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5. Se Eu Fosse Você 2 (2009)
Arrecadação: R$ 6.112.851
Confesso que me diverti muito quando este longa foi lançado há sete anos. A sinopse de troca de corpos em comédias sempre me atraiu e aqui não foi diferente. Mas hoje, numa época que se discute tanto o que é gênero, especialmente, os clichês do filme começam a se tornar quase insuportáveis de tão simplistas e medíocres. Quase porque os talentos de Tony Ramos e Glória Pires conseguem se sobressair, ainda que ela apele para o lado “machão” ao incorporar o corpo do marido ou ele acredita que ser mulher é ser a pessoa mais afetada e afeminada que existe. Não há problema nenhum nos tipos porque eles existem na sociedade e convivemos diariamente com eles, mas o problema é a falta de discussão que isso traz. A guerra de sexos aqui sempre mostra elas como o lado mais frágil, complacente. Como se as mulheres não pudessem virar a mesa para saber jogar (e perdão pela redundância) o jogo da vida como qualquer homem. A lição aqui é que elas precisam se assemelhar a eles para crescerem. Assim como o caso contrário: ele precisa se sentir “inferior”, no caso, feminino, (olha a homofobia incrustada aí) para entender os males que as mulheres sofrem. Porém, assim que a lição começa a ter algum aprofundamento, o longo acaba. E aí ficam risadas vazias ecoando. – por Matheus Bonez

 

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4. A Dama do Lotação (1978)
Arrecadação: R$ 6.509.134
Nelson Rodrigues não é somente o escritor da história original, mas também um dos roteiristas deste filme derivado, ao lado do diretor Neville de Almeida. O maiúsculo sucesso de público do longa-metragem pode ser atribuído a diversos fatores. O primeiro deles é a própria trama, tipicamente rodriguiana, que envolve uma mulher estuprada pelo marido na noite de núpcias. Depois disso, ela resolve fazer sexo com estranhos encontrados nos ônibus. O segundo é a habilidade de Neville de transpor o erotismo e as complexidades das páginas diretamente à telona, sem vulgarizar as situações nem os personagens. O terceiro, e talvez aquele que mais diga respeito ao interesse massivo da audiência, é o protagonismo de Sônia Braga, atriz então já amplamente conhecida em virtude de seus trabalhos televisivos, que encarna exemplarmente a luxúria e as questões que sobrevém ao trauma decorrente da violência. O elenco de apoio também ajuda, afinal de contas nomes como Nuno Leal Maia, Jorge Dória, Paulo César Pereio e Cláudio Marzo, igualmente íntimos do grande público, também são chamarizes. No total, mais de 6,5 milhões de espectadores foram assistir ao filme no cinema, fazendo dele, até hoje, o quarto colocado entre as maiores bilheterias do cinema nacional.   – por Marcelo Müller

 

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3. Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976)
Arrecadação: R$ 10.735.524
Um dos romances mais conhecidos de Jorge Amado, por muito tempo este foi o maior sucesso de bilheteria do cinema nacional. Quem assiste a produção de Bruno Barreto pode até ficar na dúvida porque o filme foi o campeão até ser desbancado pelos longas que virão a seguir na lista. O questionamento fica não apenas pelas questões técnicas, que deixam claro em qual época houve a produção, mas pela temática sexual bem acentuada. A resposta está na própria história do escritor baiano: não é apenas o roteiro que acentua o desejo de Dona Flor (Sônia Braga) pelo mulherengo Vadinho (José Wilker), seu ex morto e que reaparece em espírito após tanto clamor por sexo – algo que a própria não consegue com o atual companheiro, o farmacêutico Teodoro Madureira (Mauro Mendonça). A narrativa expõe um Brasil recheado de contradições que mostram o quanto o brasileiro quer se mostrar acima da moral e dos bons costumes, mas no fundo gosta de uma boa safadeza – e não só na cama. – por Matheus Bonez

 

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2. Tropa de Elite 2 (2010)
Arrecadação: R$ 11.146.723
Como todos devem saber, o sucesso de Tropa de Elite (2007) começou antes mesmo de ele estrear nos cinemas, graças aos milhões de DVDs piratas do filme que foram vendidos nas ruas. Vindo no encalço disso, Tropa de Elite 2 teve um esquema anti-pirataria bolado por seus realizadores, algo que, somado a expectativa em torno do longa, certamente o ajudou a levar um número enorme de pessoas aos cinemas. Dessa vez, acompanhamos o Capitão Roberto Nascimento (Wagner Moura) sendo promovido a Secretário de Segurança e encarando figuras corruptas piores que os traficantes que ele pegava nas favelas. O resultado disso é um filme de ação tenso e empolgante na medida certa, mas que se destaca ainda mais como um comentário pertinente sobre a sujeira existente em grandes setores do Brasil, seja na polícia, na política ou na mídia. É uma obra que, em suma, atira em vários alvos e os acerta admiravelmente. Merecidamente, Tropa de Elite 2 acabou sendo escolhido como representante do Brasil para o Oscar 2012, mas infelizmente a Academia preferiu deixa-lo de fora da lista final. – por Thomas Boeira

 

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1. Os Dez Mandamentos – O Filme (2016)
Arrecadação: R$ 11.259.128
Como uma produção totalmente amadora, com (d)efeitos especiais tão simplórios, um elenco sem sal e eclipsado por diálogos fajutos consegue tamanho feito? Com apoio da igreja patrocinadora do filme para vender ingressos dentro de seus templos, é claro. A pré-venda deste “filme” foi uma das maiores daqui. Engraçado que apenas em números de bilheteria, porque salas lotadas foram difíceis de encontrar. Resultado de um “resumo” da novela exibida pela Rede Record, este longa peca em vários aspectos que seria redundância citar aqui. O que é uma pena, pois, com tantos recursos humanos e financeiros, poderia ser feito algo relativamente decente e até de bom nível. Mas não foi o que aconteceu. E aí o nosso primeiro lugar brasileiro fica manchado por algo tão medíocre. – por Matheus Bonez

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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