Filmes sobre boxe tem geralmente aquela fórmula básica: alguém que está querendo vencer na vida e vê no esporte a chance de fazer sucesso – ou simplesmente ter dinheiro para comer no fim do mês. Ao longo das décadas, Hollywood produziu dezenas de títulos sobre o assunto. Realmente, não foram poucos. Nesta semana chega aos cinemas Nocaute, drama dirigido por Antoine Fuqua e estrelado por Jake Gyllenhaal, Rachel McAdams e Forest Whitaker. Só pelo título já dá pra saber do que se trata, certo? Com este tema em mãos, escolhemos para você dez grandes títulos com boxeadores dos mais diversos tipos. Será que o seu favorito está aqui? Confira!
O Invencível (Champion, 1949)
Nos últimos 40 anos, as histórias de boxeadores foram retratadas com os protagonistas como heróis que venceram pela humildade até alcançarem o estrelato se mantendo fiéis a si mesmos. Pois bem. Quem assiste a este clássico aqui estrelado por Kirk Douglas pode até levar um susto, pois o personagem principal é inescrupuloso e consegue chegar ao ápice através de muitas falcatruas, assim digamos. Douglas é Midge Kelly, um boxeador ambicioso que faz tudo errado aos olhos da maioria: trai amigos e treinador, deixa a família de lado, troca a esposa por uma cantora da noite (mais jovem). Contado como um filme noir, com gangsters no meio do caminho e muitos tiros e socos, o longa é um belo retrato da hipocrisia humana. E com o astro na pele do protagonista, a situação fica ainda melhor, pois Douglas enche o personagem de nuances e dúvidas sobre seu caráter, ainda que suas ações falem mais alto. Não à toa, recebeu sua primeira indicação ao Oscar por este trabalho, um dos mais imperdíveis de sua carreira e, é claro, da história do boxe nas telonas. – por Matheus Bonez
Rocco e Seus Irmãos (Rocco I Suoi Fratelli, 1960)
Brilhantemente capturado em preto e branco na fotografia do mestre Giuseppe Rotunno, Rocco e Seus Irmãos é uma das obras máximas de Luchino Visconti, que contempla em seus 177 minutos um período de 12 anos na vida de uma pobre família sulista radicada em Milão. Seja no retrato iluminado de Alain Delon no auge de sua beleza, como Rocco, ou na brutalidade barroca das cenas de luta protagonizadas pelo boxeador Simone (Renato Salvatori, soberbo), Visconti desenvolve seu drama de proporções épicas proximamente do que seria uma sequência para A Terra Treme (1948) – considerado por muitos como o primeiro filme do movimento neorrealista italiano. O boxe parece coadjuvante, mas tem uma importância essencial na narrativa como figura metalinguística aos duelos que a família enfrenta, centralizados na figura de Salvatore, que sonha com uma carreira no esporte enquanto arruína suas chances por falta de disciplina. Rocco e Seus Irmãos lida com questões como o choque cultural resultante da migração de sulistas para as áreas industriais do norte da Itália, onde o filme se ambienta com notas melodramáticas no retrato detalhado de uma família, os Parondis, e sua luta diária para sobreviver em um lugar ao qual eles não sentem pertencer. – por Conrado Heoli
Rocky: Um Lutador (Rocky, 1976)
Se filmes de esporte geralmente são mais sobre os personagens que nos guiam pelas narrativas do que sobre os esportes em si, Rocky: Um Lutador é um longa exemplar. Sylvester Stallone, um ator até então pouco conhecido, concebeu o próprio estrelato ao criar em Rocky Balboa um personagem icônico e inspirador como poucos. Como diz o subtítulo que o filme ganhou no Brasil, Rocky é um lutador, mas se engana quem pensa que isso é apenas no ringue. Ele é a representação de alguém que vive como pode dentro de suas limitações, estando à espera de uma chance para provar seu verdadeiro potencial. Sua aparência um tanto bruta esconde um homem de grande coração, sendo que é exatamente esta característica que o leva a suas maiores glórias e conquista o espectador, que torce por ele como se fosse um ente querido. Subestimar alguém como Rocky é um grande equívoco, e o campeão dos pesos-pesados Apolo Creed (Carl Weathers) acaba sentindo isso na pele. Não é surpresa que Rocky tenha se tornado um clássico, e se isso não pode ser dito sobre os filmes que continuaram essa história, ao menos eles formam uma franquia bem consistente e que manteve o coração de seu protagonista no lugar certo. – por Thomás Boeira
Touro Indomável (Raging Bull, 1980)
Numa das cenas-chave desta obra-prima de Martin Scorsese, o boxeador Jake La Mota (Robert De Niro), preso, vítima de si mesmo, do comportamento irascível que faz a hostilidade dos ringues vazar para a vida cotidiana, tornando-o um cara essencialmente agressivo (talvez como resposta ao mundo que não lhe deu nada além de porrada), grita aos prantos: “eu não sou um animal, eu não sou um animal”. Ali, “O Touro do Bronx” clama que lhe tratem como gente, pede para verem nele mais do que aquele lutador incansável e orgulhoso de nunca ter caído. Paradoxo vivo, pois ele próprio não dá qualquer abertura para que percebam além de sua revolta materializada na violência desferida com a mesma naturalidade contra adversários, esposas, o irmão, a máfia que cresce o olho sobre seu talento, enfim, contra todos em seu caminho. Talvez o melhor filme de Scorsese, esta cinebiografia retrata a derrocada de um homem que apanhou da vida desde muito cedo, ascendeu posteriormente por revidar à altura, mas que foi à lona no fim das contas em virtude da inabilidade para lidar com os demais. – por Marcelo Müller
Hurricane: O Furacão (The Hurricane, 1999)
“Here comes the story of the Hurricane, The man the authorities came to blame, For Somethin’ that he never done, Put in a Prison cell, but one time he could-a been, the champion of the world”. Em 1975, Bob Dylan já cantava indignado a respeito da controversa prisão do boxeador Rubin “Hurricane” Carter em sua clássica canção “Hurricane”, que tinha como um dos motes a denúncia do preconceito racial na justiça norte-americana. Em 1966, Hurricane foi acusado e preso por um triplo homicídio acontecido em Nova Jersey. Sem provas suficientes para incriminá-lo, o caso foi muito discutido revelando altas doses de preconceito na sociedade norte-americana. Mais de 30 anos depois, o caso ganhou as telas de cinema com a direção de Norman Jewison e com Denzel Washington vivendo o protagonista. Embalado em algumas controvérsias a respeito de divergências entre a história real e o roteiro, o filme ganha força pela atuação de Washington, indicado ao Oscar pela sua visceral interpretação de Rubin Carter – encarnando com voracidade o papel desde sua época de boxeador até seu período encarcerado e sua posterior libertação com a ajuda do jovem Lesra (Vicellous Reon Shannon). – por Rodrigo de Oliveira
Ali (2001)
Estrela da televisão, Will Smith chamou atenção de um público maior pela primeira vez como astro de ação em longas genéricos de Michael Bay e Roland Emmerich. Seu primeiro passo para obter maior respeito também por suas qualidades enquanto ator se deu nessa cinebiografia do maior nome do boxe mundial, Cassius Clay – ou, como ficaria conhecido internacionalmente, Muhammad Ali. Atendendo a um convite do respeitado cineasta Michael Mann, Smith transformou seu corpo – para se adequar ao perfil de um lutador – e estilo de atuação em um processo de imersão no personagem que lembrou os melhores momentos de Robert De Niro e Al Pacino. Ainda que o filme tenha seus deslizes – como a extensa duração de quase três horas – os méritos são inegáveis, do elenco reunido – além do protagonista, Jon Voight também oferece um show à parte, tanto que ambos foram indicados ao Oscar por estes desempenhos – ao trabalho de edição, que coloca o espectador literalmente dentro dos ringues em cenas de muita adrenalina e emoção, aliadas a uma narrativa seca, dura e de grande força. Assim como era o desempenho do próprio Ali quando estava no auge do seu jogo, aqui merecidamente imortalizado na tela grande. – por Robledo Milani
Menina de Ouro (Million Dollar Baby, 2004)
O trabalho que rendeu o segundo Oscar de direção a Clint Eastwood, e também o segundo de atriz a Hilary Swank, se vale da estratégia vencedora dos melhores filmes sobre boxe: utilizar o esporte como metáfora para os dramas pessoais de seus personagens. Maggie Fitzgerald (Swank), a garçonete interiorana que sonha em ser lutadora, enfrenta batalhas diariamente em sua vida. Contra o preconceito, por ser mulher em um esporte majoritariamente masculino. Contra o desprezo de sua família. Contra a solidão. Já o veterano treinador Frankie Dunn (Eastwood, excepcional), que a princípio rejeita ser o mentor da garota, enfrenta seus próprios preconceitos, além de ainda sentir os efeitos de um forte nocaute: o relacionamento inexistente com sua filha. Eastwood constrói uma relação genuinamente tocante entre os protagonistas, trabalhando os arquétipos do melodrama – que inclui seus exageros esporádicos – com muita delicadeza nas entrelinhas. O cineasta talvez atinja aqui a maturidade de seu estilo econômico, de planos aparentemente simples, montagem precisa, incrível jogo de luz e sombra, e condução perfeita de elenco, que conta ainda com Morgan Freeman, também premiado pela Academia. Uma obra que encontra no ringue de boxe o local para tratar de temas pesados de maneira emocionante. – por Leonardo Ribeiro
A Luta Pela Esperança (Cinderella Man, 2005)
Passado na época da Grande Depressão, este filme reúne mais uma vez a dupla responsável pelo sucesso de Uma Mente Brilhante (2001): Russell Crowe e Ron Howard. Apesar da produção querer gritar a todo momento “feito para o Oscar!“, ela é recheada de bons momentos e uma história interessante, mesmo que possa parecer rasa em certos momentos por uma edição ligeiramente falha e um roteiro que não aprofunda tanto seus personagens. No meio disso tudo, temos os talentos de Crowe como o pai de família que vê no violento esporte a chance de sustentar de forma digna seus filhos e a esposa. Esta, por sinal, uma bela interpretação de Renée Zellweger. Além deles, temos Paul Giamatti, indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pelo seu empresário/treinador. O filme cresce por conta do trio e, especialmente, pelo protagonista e seu intérprete, mostrando mais uma história de superação com emoção – ainda que seja preferível deixar de lado a trilha que quer chamar atenção demais para o drama que já vemos na tela. Pode não ser um título perfeito, mas é muito acima da média e merece seus aplausos. – por Matheus Bonez
O Vencedor (The Fighter, 2010)
Emocionante e fenomenal, O Vencedor conta a história dos irmãos pugilistas Dicky Eklund (Christian Bale) e Micky Ward (Mark Wahlberg). O primeiro teve seus momentos de glória, o mais famoso deles, quando o lendário Sugar Ray Leonard caiu no ringue durante uma luta entre os dois, mas se envolveu com drogas e foi preso. Enquanto isso, o segundo vive à sombra do irmão e sob forte influência da mãe, Alice Ward (Melissa Leo). Micky não consegue o tão desejado sucesso, desiste da carreira e começa se relacionar com Charlene Fleming (Amy Adams), ex-atleta dos tempos escolares, que é garçonete. Assim, retoma os ringues, desta vez sem a mãe e o irmão por perto, e consegue chegar ao tão sonhado sucesso até a luta pelo título mundial. É quando Dicky, que há pouco saiu da prisão e está recuperado do vício das drogas, volta para ajudar realizar não só o sonho do irmão, mas também o dele projetado em Micky. A história realmente aconteceu nos Estados Unidos, e os personagens reais inclusive aparecem no fim da película. A obra consegue contar uma história fenomenal, mostrando também o ponto de vista de cada personagem e todo o drama familiar envolvido. E tudo isso é maximizado com atuações espetaculares, especialmente por Christian Bale, soberbo, com uma postura corporal, embocadura, sotaque e expressões faciais perfeitas. Levou, entre outros prêmios, o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. – por Gabriel Pazini
Gigantes de Aço (Real Steel, 2011)
Hugh Jackman é um cara carismático. Junte a ele um ator mirim igualmente cativante e uma trama de superação minimamente bem conduzida e pronto, temos um filme divertido. Dentro de uma fórmula pronta, o longa-metragem nos apresenta a uma relação pai e filho conturbada, em um futuro em que lutas de boxe foram proibidas entre seres humanos. Agora elas acontecem entre enormes robôs cheios de músculos de ferro e articulações de engrenagens. Encontrando um gosto em comum nas lutas, Charlie (Jackman) e Max (Dakota Goyo) começam a se aproximar durante suas tentativas frustradas de elegerem um robô campeão. Quase desistindo, eles topam com uma velharia abandonada, que passam a chamar de Atom. Desatualizado, porém muito resistente, o novo robô, sob o comando mútuo de pai e filho, começa a vencer luta após luta em uma escalada até a liga dos campeões. Dosando bem a intensidade das lutas, o filme deixa realmente o melhor e o mais empolgante para o final, que vibra e explode na tela com cores, efeitos visuais e uma trilha de primeira – de Danny Elfman essa. Um conto distópico de Richard Matheson que vira pura diversão quando protagonizado por um dos mais carismáticos atores da sua geração. – por Yuri Correa
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