A celebração do amor. Festas de casamento geralmente são inesquecíveis, mas, se alguma coisa dá errado, as marcas que tais eventos deixam na memória dos principais envolvidos – sejam os protagonistas ou meros convidados – costumam ser ainda mais indeléveis. Foi pensando nisso – e na estreia de Casamento Grego 2, que catorze anos depois finalmente dá sequência ao inesperado sucesso campeão de público e indicado ao Oscar em 2002 – que organizamos essa lista com algumas das mais impactantes cerimônias de união já vistas na tela grande. E não só a cerimônia em si, mas também o “felizes para sempre” apresenta suas controvérsias. Por isso, nossa seleção está pra lá de eclética! De clássicos tanto da Suécia quanto do Brasil, aos poucos estaremos nos deparando com descrições literais de escatologias sendo praticadas ao céu aberto no meio de uma grande cidade em movimento. Sim, pois casamentos serão lembrados para sempre – para o bem, e para o mal. Confira!
Cenas de um Casamento (Scener ur ett Äktenskap, 1973)
Concebido originalmente como uma série para a televisão sueca, esta emocional pérola de Ingmar Bergman ganhou uma versão internacional, condensada em pouco menos de três horas de duração, para ser apresentada nos cinemas de alguns países. Assim, mais que merece espaço na presente lista, talvez por motivos controversos. Quando exibida no início dos anos 1970, a produção ganhou notoriedade não apenas pelas supremas qualidades estética e narrativa atreladas ao cinema de seu autor, ou pelas soberbas performances de Liv Ullman e Erland Josephson, mas principalmente por ter impulsionado as taxas de divórcio na Escandinávia – que quase dobraram no ano de sua exibição. Coincidência ou não, a obra de Bergman é um retrato íntimo e naturalista da longa relação de amor e ódio entre duas pessoas. Os closes claustrofóbicos, juntamente com longos e intensos monólogos, apresentam em tom trágico a narrativa que se dedica ao esfacelamento da tão sagrada instituição do casamento. Anos mais tarde, as cenas entre Marianne e Johan ganharam continuidade no tocante e nostálgico Saraband (2003), numa afirmação de que certas histórias de amor e casamento podem mesmo perdurar por toda uma vida – ainda que no divórcio. – por Conrado Heoli
O Casamento (1976)
Logo após Arnaldo Jabor ganhar o Urso de Prata do Festival de Berlim com Toda Nudez Será Castigada (1973), ele decidiu regressar ao universo de Nelson Rodrigues com esse drama igualmente baseado em um texto clássico do autor. Um poderoso empresário e pai de família nutre um amor incestuoso pela filha, que está de casamento marcado. O futuro noivo é acusado de ter sido visto beijando um outro homem na boca. A moça, ao ficar a par destas revelações, começa a rever a própria vida, em uma trajetória envolvendo sexo, violência e dilemas morais de diferentes naturezas, desconstruindo pouco a pouco a aparente normalidade burguesa. Camila Amado, reconhecida como Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Gramado – o filme ganhou também o Prêmio Especial do Júri – esbanja desenvoltura como Noêmia, a que tudo sabe e pouco faz, enquanto que Nelson Dantas é outro destaque do elenco, justamente premiado como Melhor Ator pelo Instituto Nacional de Cinema, em 1976. Mas, mais que isso, o que se destaca é a análise devastadora da uma instituição nacional, que sob o olhar do escritor pernambucano – e do cineasta carioca – não sobra pedra sobre pedra. – por Robledo Milani
Cerimônia de Casamento (A Wedding, 1978)
Famoso pela criação de mosaicos narrativos, Robert Altman atingiu um recorde pessoal com este longa, colocando em cena aproximadamente 48 personagens. O encontro de todas estas figuras ocorre em uma mansão, durante a festa de casamento de um jovem casal da alta sociedade. Um evento que se transforma em catástrofe antes mesmo de seu início, com a morte da matriarca da família do noivo. Enquanto alguns familiares tentam ocultar a tragédia, os convidados começam a chegar, e o desenrolar da celebração traz à tona diversos segredos e intrigas. Através dos conflitos familiares – uma gravidez indesejada, um caso de adultério, um relacionamento proibido com um empregado, etc. – Altman realiza uma de suas críticas mais ácidas à hipocrisia da sociedade. Sua câmera passeia com liberdade pelo ambiente, fazendo do espectador um convidado que, aos poucos, vê diversas máscaras caírem, com resultados tanto cômicos quanto trágicos. O ótimo elenco conta com nomes como Mia Farrow, Carol Burnett, Paul Dooley, Desi Arnaz Jr., Geraldine Chaplin, Lauren Hutton, o italiano Vittorio Gassman e a lenda do cinema mudo Lillian Gish. Um trabalho não tão celebrado quanto Nashville (1975) ou O Jogador (1992), mas que talvez seja aquele que melhor sintetize a obra do cineasta. – por Leonardo Ribeiro
O Casamento dos Trapalhões (1988)
Em muitos filmes dos Trapalhões, Renato Aragão se apaixona por uma mocinha que acaba nos braços de um “rival” galã. A contumaz e essencialmente chapliniana decepção amorosa não ocorre neste filme dirigido por José Alvarenga Jr., já que finalmente Didi arruma uma esposa. Joana (Nadia Lippi) se muda para a fazenda onde o trapalhão mora com os irmãos interpretados por Dedé, Mussum e Zacarias. Não só os três também conseguem arranjar noivas, mas os sobrinhos, interpretados pelos então integrantes do Grupo Dominó, da mesma maneira levam para a propriedade no interior de São Paulo suas respectivas namoradas, despertando a ira do valentão urbano vivido por José de Abreu. Bem ao gosto das peripécias dos Trapalhões, consagradas tanto na televisão quanto no cinema, este filme é um dos mais lembrados pelos fãs do quarteto, sobretudo por sua inclinação à aventura e ao embate entre heróis e vilões. Em meio à correria, a Senhora Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumbo entra em trabalho de parto, anunciando, assim, a chegada do herdeiro da veia bondosa e intrépida da insólita família formada por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, cuja inadequação sob as luzes da cidade se configuram em celebração singela da doçura campesina. – por Marcelo Müller
Banquete de Casamento (Xi yan, 1993)
Antes de ganhar dois Oscars de Melhor Direção e um de Melhor Filme Estrangeiro, Ang Lee compareceu à premiação da Academia com uma obra bem mais discreta, porém não menos envolvente. Este, que foi seu segundo trabalho como realizador, foi igualmente indicado na categoria de longas estrangeiros – tanto no Oscar quanto no Globo de Ouro – porém mais marcante talvez tenha sido o Urso de Ouro que ganhou no Festival de Berlim. Aqui ele revelava pela primeira vez seu apreço à temática homossexual – que anos depois lhe renderia o aclamado O Segredo de Brokeback Mountain (2005). Wai-Tung (Winston Chao) vive feliz com o namorado em Nova Iorque, até o dia em que seus pais, que moram em Taiwan, decidem visitá-lo, preocupados por ele ainda não estar casado. Em desespero, o rapaz precisa encontra na jovem Wei-Wei (May Chin) a ajuda perfeita – ele precisa de uma noiva de aluguel, e ela de um casamento de fachada que lhe ofereça a cidadania norte-americana. É claro que a mentira não irá se sustentar por muito tempo, e o que tinha tudo para resvalar em uma comédia besteirol ganha ares muito mais sensíveis, graças à condução precisa e delicada deste grande cineasta. – por Robledo Milani
Quatro Casamentos e um Funeral (Four Weddings and a Funeral, 1994)
Esta produção britânica dirigida por Mike Newell chegou de mansinho, conquistando primeiramente os espectadores do seu país de origem e, depois, se mostrou um legítimo sucesso ao redor do mundo. Na trama, o tímido e charmoso Charles (Hugh Grant) está às voltas com o casamento de seu amigo Angus, do qual é padrinho, e conhece a bela americana Carrie (Andie McDowell). Eles têm uma noite juntos, mas ela precisa voltar à sua terra natal. Por sorte ou destino, os dois se encontram novamente em outros três casamentos – e um funeral, como diz o título. E a cada encontro, um novo empecilho para o romance vingar. Com elenco muito carismático e roteiro redondinho, o filme conquista pelo fino humor britânico. Do cast, além dos protagonistas, destacam-se Kristin Scott Thomas, John Hannah e Simon Callow, como o espevitado Gareth. O sucesso do filme foi tamanho na época que a Academia acabou o indicando para dois importantíssimos Oscars: Melhor Filme e Melhor Roteiro Original. Para alguns, um exagero. Para outros, que se deliciaram com a trama divertida e romântica, nada mais justo. De qualquer forma, foi a plataforma de lançamento perfeita para a carreira de Grant nos EUA. – por Rodrigo de Oliveira
O Casamento de Muriel (Muriel’s Wedding, 1994)
Toda mulher é ensinada a ter o sonho de casar e viver feliz para sempre, certo? Ao menos é o que acontece com a personagem-título desta história. Muriel vive numa pequena cidade da Austrália, onde nada acontece. Acima do peso, com a autoestima em baixa, sem amigos e vivendo com a família apática, um dia se enche de tudo, desfalca o patriarca e foge para Sidney com outro nome: Mariel. É nos desafios que a cidade lhe proporciona e na amizade com a despachada Rhonda (Rachel Griffiths) que as coisas começam a acontecer de verdade. Para o bem e para o mal. E seu sonho de casar começa a se tornar realidade – mesmo que não seja bem o que ela ansiava. Crítica ácida à posição relegada às mulheres sobre o matrimônio, traz ainda um elenco em grande forma, com destaque para Toni Collette. Sua Muriel ingênua e desengonçada vai ganhando mais tons à medida em que a história avança e, é claro, com o talento da atriz, que torna a protagonista uma mulher mais complexa do que as vistas em geral em comédias românticas. Um papel que lhe valeu o passaporte para Hollywood em voos cada vez mais altos. – por Matheus Bonez
O Casamento do Meu Melhor Amigo (My Best Friend’s Wedding, 1997)
Em uma das comédias românticas de maior sucesso da década de 1990, Julia Roberts interpreta Julianne Potter, que fica decepcionada ao receber a notícia de que seu melhor amigo, Michael O’Neal (Dermot Mulroney), irá se casar dali poucos dias com a estudante Kimmy Wallace (Cameron Diaz). Percebendo que está apaixonada pelo sujeito, Julianne decide impedir que o casamento ocorra, mesmo tendo sido convidada para ser uma das madrinhas. O longa de P. J. Hogan (o mesmo de O Casamento de Muriel) se constrói como um exemplar inofensivo e simpático do subgênero, sendo que o roteiro consegue dar uns toques especiais na trama ao subverter um pouco alguns elementos comuns em filmes como esse. Mas deve, claro, boa parte de seu sucesso ao carisma de Roberts, que se mostra capaz de conquistar o público por mais que os atos de sua personagem sejam, na verdade, reprováveis. Além disso, a atriz tem uma bela dinâmica com o restante do elenco, em especial com o excelente Rupert Everett, que como George Downes, o melhor amigo gay de Julianne, rouba todas as cenas em que aparece. – por Thomas Boeira
O Casamento de Rachel (Rachel Getting Married, 2008)
O enlace entre duas pessoas apaixonadas o suficiente para construir uma vida conjunta geralmente é visto como ocasião feliz. O cinema, porém, já se valeu diversas vezes do, a priori, momento festivo para ressaltar o oposto, ou seja, vínculos corroídos por ressentimentos e outros expedientes venosos. O filme do veterano e oscarizado Jonathan Demme é exemplar desse filão. Nele, Anne Hathaway vive Kym, madrinha do casamento da irmã, Rachel (Rosemarie DeWitt). A presença dela evoca fantasmas familiares até então relegados aos porões da memória, um lugar que nem todos querem acessar. O clima se adensa gradativamente durante a cerimônia e Kym vira o epicentro dos abalos que atingem a todos como ondas, movimento responsável por abrir velhas feridas. Hathaway foi nominada ao Oscar por sua interpretação. Indicado no mesmo ano ao Leão de Ouro no prestigiado Festival de Veneza, se impõe pela maneira incisiva com que descortina as complexidades intrínsecas aos relacionamentos parentais, num registro visualmente expressivo, marcado pelo uso da câmera na mão que denota urgência e tensão. A festa de casamento, instante de comemoração, se torna palco de uma agressiva lavagem de roupa suja, cujas implicações atingem boa parte dos convidados. – por Marcelo Müller
Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids, 2011)
Com destaque, Paul Feig vem se especializando em comédias escrachadas que sobrevivem às tolices que o subgênero normalmente carrega consigo. E foi com esse exemplar que isso começou a ser notado. Na trama, a melhor amiga de Annie (Kristen Wiig) vai se casar, e chama ela para ser uma espécie de organizadora das madrinhas de casamento. Acontece que entre as estranhas figuras está Helen (Rose Byrne), uma ricaça que não vai poupar esforços para começar uma verdadeira batalha pela atenção da noiva e a “liderança” das madrinhas. No grupo, aliás, está Megan (Melissa McCarthy), que viraria o colírio do diretor em projetos seguintes, talvez devido ao sucesso de uma cena em especial: depois que Annie tem a brilhante ideia de levar o grupo para almoçar em um restaurante brasileiro, todas começam a passar mal e precisar urgentemente de um banheiro, e de todas as reações ao problema, a de Megan consegue ser ainda mais inesquecível do que a de Lillian (Maya Rudolph), que acaba fazendo suas necessidades no meio da rua. É, esse é o nível do filme. Mas funciona, então, a risada é certa. Elenco afinado e o roteiro esperto tornam o esforço muito eficiente. – por Yuri Correa
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