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20170402 top 10 deus papo de cinema

Quem é Deus? Alguém que nos criou à sua imagem e semelhança ou o contrário? Exceto nas religiões politeístas, que atribuem divindade a diversas figuras, nas monoteístas sempre impera um ser supremo, onipresente e onisciente. O Deus cristão é o mais difundido deles. A imagem do homem branco, idoso e de barba longa grudou no imaginário por ser a representação predominante. Mas, se existir realmente um Deus, ele não pode ser mulher, negro, criança, asiático, ou ter forma abstrata? Por conta da estreia de A Cabana (2017), que traz a oscarizada Octavia Spencer interpretando Deus – aliás, já conferiu nossa entrevista exclusiva com ela? –, resolvemos fazer um apanhado das vezes em que o cinema deu corpo e/ou voz a Deus. Dá para perceber, apenas pela amostragem abaixo, que nas telonas ele (ainda bem) nem sempre foi pintado com as cores habituais. Confira e não deixe de comentar.

 

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Groucho Marx, em Skidoo se Faz a Dois (Skidoo, 1968)
Quando falamos das representações de Deus nas telonas, dificilmente vamos encontrar uma mais insólita quanto a deste filme do cineasta Otto Preminger. O simples fato de sabermos que Groucho Marx interpreta o Todo Poderoso já dá margem à curiosidade, afinal de contas estamos falando de um dos comediantes mais iconoclastas de Hollywood, homem acostumado a fazer graça com a hipocrisia da sociedade, com seus costumes amplamente aceitos, embora de natureza nem sempre nobre. Como era de se esperar, Groucho não encarna Deus apenas como uma figura onipotente e onipresente, acima do bem e do mal, mas como alguém que, entre outras coisas, vende drogas para crianças e gosta de fumar maconha. O longa-metragem é uma sátira da contracultura, mais precisamente do comportamento hippie. Reza a lenda que na preparação para a filmagem, Groucho mergulhou nas drogas para viver essa divindade para lá de controversa. Ele teria feito uso de LSD. Conjecturas à parte, foi o último filme desse verdadeiro gênio que, então, se despediu das telonas com uma explosiva versão de Deus. Embora considerada um fracasso, esta realização de Preminger carrega, então, o peso considerável de ser a derradeira de Groucho Marx. – por Marcelo Müller

 

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Graham Chapman, em Monty Python em Busca do Cálice Sagrado (Monty Python and the Holy Grail, 1975)
Religião sempre foi um assunto caro para o grupo britânico formado por Graham Chapman, John Cleese, Eric Idle, Terry Gilliam, Michael Palin e Terry Jones. Eles não se esquivavam de fazer piadas, tendo inclusive realizado em A Vida de Brian (1979), controverso longa (para a época) parodiando a vida de Jesus e, claro, tirando um sarro da Igreja Católica em Monty Python: O Sentido da Vida (1983). Mas, Deus mesmo – ou melhor, a representação da divindade pelo olhar mordaz dos Monty Python – apareceu nesta clássica paródia do Rei Arthur e os cavaleiros da távola redonda. Com voz de Graham Chapman – mesmo ator que fazia o protagonista real – e desenhado com os traços característicos de Terry Gilliam, Deus é uma figura cartunesca, com olhos alaranjados, coroa avantajada, barba longa e sem muita paciência para desculpas. “Toda vez que tento falar com alguém é ‘desculpe por isso’, ‘perdão por aquilo’ e ‘não sou merecedor’. Se tem algo que não suporto é gente rastejando!” – falava. Embora apareça pouco, é essa figura enigmática, que surge entre as nuvens, que dá a Arthur e seus cavaleiros a tarefa de procurar o cálice – busca que, como bem sabemos, é hilária do início ao fim. – por Rodrigo de Oliveira

 

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George Burns, em Alguém Lá em Cima Gosta de Mim (Oh, God, 1977)
George Burns foi um dos comediantes mais talentosos de sua geração, tendo feito uma carreira longeva tanto na televisão quanto no cinema. E neste longa-metragem ele interpreta Deus em pessoa, numa atuação que lhe valeu o Saturn Awards de Melhor Ator. Na trama, uma espécie de reinterpretação da história de Moisés para o mundo contemporâneo, Deus aparece para um pacato assistente de gerência de um supermercado (John Denver), o encarregando de ser seu novo mensageiro na Terra. O que aquele sujeito precisa fazer é espalhar para o mundo que Deus deu todas as ferramentas possíveis à raça humana para que ela tenha uma vida feliz. Basta enxergar essa possibilidade. O Deus de George Burns é, como não poderia deixar de ser, cheio de piadas e frases de efeito, divertindo o espectador com sua lógica divina. Dirigido por Carl Reiner, o longa chegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado e originou duas continuações, todas com George Burns como o protagonista: A Menina que Viu Deus (1980) e O Céu Continua Esperando (1984). Neste, Burns não vive apenas Deus, mas o Diabo também – comprovando aquela máxima dos dois lados da mesma moeda. – por Rodrigo de Oliveira

 

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Charlton Heston, em Quase um Anjo (Almost An Angel, 1990)
O astro Charlton Heston ficou conhecido por uma respeitável coleção de papeis icônicos. Entre eles, talvez nenhum seja tão emblemático quanto Moisés, do épico bíblico Os Dez Mandamentos (1955), de Cecil B. De Mille. A cena dele abrindo o Mar Vermelho é daquelas que definem carreiras. Ainda no campo dos acontecimentos bíblicos, o ator interpretou Ben-Hur, no longa-metragem homônimo dirigido por William Wyler, protagonista cuja história é contemporânea a de Jesus. Pois bem, no que tange às figuras cristãs, Heston ganhou o que se pode chamar de “promoção” neste filme de John Cornell, afinal de contas ele encarna Deus em pessoa.  Nesta comédia protagonizada por Paul Hogan – que vinha do sucesso estrondoso dos filmes da cinessérie Crocodilo Dundee – um assaltante recém-solto da prisão cai novamente na senda de crimes, até que pula diante de uma van que estava prestes a atropelar uma criança. Ainda no hospital, ele encontra o personagem de Heston, que se apresenta como agente da condicional. Por conta do ato de nobreza, ele tem mais uma chance para salvar a sua alma. O Deus de Heston é o mais próximo possível da representação clássica, por possuir uma longa barba branca e vestes esvoaçantes, igualmente alvas. – por Marcelo Müller

 

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Alanis Morissette, em Dogma (1999)
Este filme de Kevin Smith, cineasta que despontou como grande promessa no início dos anos 90, sobretudo após o lançamento de O Balconista (1994), pode até não ser o ápice da genialidade, mas diverte ao cutucar a Igreja Católica com a história de dois anjos rebeldes (vividos pelos amigos Ben Affleck e Matt Damon) que querem voltar para o céu. Mas, caso consigam realizar a façanha, eles simplesmente destroem o mundo. Entre profetas tarados, uma salvadora perdida e um profeta negro que não foi citado na bíblia, temos a presença de Deus na forma e na interpretação de ninguém menos que a cantora Alanis Morissette. Ainda que não exiba aquela performance digna de prêmios, Alanis está bem à vontade com seu Deus silencioso nas palavras, mas que age como uma criança, inclusive nas cambalhotas que dá. Ora, nada mais que uma ironia ao fato do “Todo Poderoso” realmente parecer estar brincando com a vida de todos que controla. Uma pequena ponta, mas que faz toda a diferença no clímax desta história. – por Matheus Bonez20170402 deus e brasileiro papo de cinema e1491169305834
Antônio Fagundes, em Deus é Brasileiro (2003)
Baseado no do conto “O Santo que não acreditava em Deus”, de João Ubaldo Ribeiro, o Todo Poderoso interpretado por Fagundes está cansado dos erros cometidos pela humanidade que ele mesmo criou e chega à conclusão de que precisa de férias. A busca pelo substituto que deve cobrir sua folga é o fio condutor do longa, que tem como cenário as belas paisagens do norte e nordeste do Brasil. Ao lado de Wagner Moura, que dá vida ao esperto Taoca, Fagundes constrói um Deus rabugento, esperto e até original, apesar dos vícios de interpretação do ator ao qual o público televisivo já está acostumado. O humor é garantido pelos diálogos em que ele questiona a inteligência de suas criações, os pedidos intermináveis recebidos e os poucos agradecimentos escutados. Sem preocupação com estereótipos católicos, o Deus de Fagundes caminha pelo sertão com olhar pensativo, traçando uma crítica à política brasileira e à maneira como a fé é explorada pelo homem. Mais que milagres, o ator veterano cria um Deus que gosta do povo, do amor e, como bom cidadão, merece um descanso em meio ao caos. – por Bianca Zasso

 

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Morgan Freeman, em Todo Poderoso (Bruce Almighty, 2003)
De todas as caras que o Deus católico já teve no cinema, a da Morgan Freeman é uma das mais marcantes. Este longa-metragem, na verdade, é centrado em Bruce, vivido com a espontaneidade habitual por Jim Carrey, então um repórter aspirante à âncora que recebe um “toque espiritual” do Todo Poderoso e assume o seu lugar durante alguns dias. E com grandes poderes vêm grandes irresponsabilidades, pois Bruce passa a usar seus novos dons para dar uma melhorada na própria vida, no seu relacionamento e na perspectiva de carreira. Tanta imprudência só poderia encontrar contraponto na figura de um ator como Freeman, que consegue imprimir um misto único de autoridade, sabedoria e gentileza em qualquer papel para que seja designado. Desde Um Sonho de Liberdade (1994) até Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995), o ator tem mostrado que domina o nicho de personagens de consciência onipresente. Além disso, o fato de ser negro não deixa de impactar na escolha para viver esse ícone, principalmente num projeto de Hollywood. Tanto é que, até hoje, seu rosto é referência na cultura pop quando se fala de Deus. – por Yuri Correa

 

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Rob Zombie, em Super (2010) ​
A participação de Deus neste filme é bastante pequena – na verdade, o protagonista nunca tem certeza se as intervenções divinas em sua vida são reais ou imaginadas –, mas merece estar nesta lista simplesmente por ser uma escolha muito inusitada. Aqui, a voz de Deus é a de Rob Zombie, músico de heavy metal e diretor de filmes de terror como A Casa dos 1000 Corpos (2003), Rejeitados pelo Diabo (2005) e o remake Halloween (2007), todos centrados em maníacos homicidas e repletos de mortes sangrentas. Nesta violenta aventura do diretor James Gunn (o mesmo de Guardiões da Galáxia, 2014), Frank (Rainn Wilson) enxerga numa série de TV sobre um super-herói cristão um sinal divino que o inspira a se fantasiar e combater o crime. Longe da assepsia de alguns outros filmes de herói, esta obra usa uma violência exagerada para conflitar com o tom juvenil que um homem adulto usando roupas coloridas para vencer o mal confere a qualquer história. Com muito sangue e cérebros expostos, a trama leva o espectador a questionar todo o conceito de super-herói e se perguntar: que tipo de Deus iria querer que alguém que fura filas vá parar na UTI?. Segundo James Gunn, esse Deus é Rob Zombie. – por Marina Paulista

 

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Whoopi Goldberg, em Pronta para Amar (A Little Bit of Heaven, 2011)
Se você pensa que Octavia Spencer, em A Cabana (2017), foi a primeira atriz negra vencedora do Oscar a ter a oportunidade de interpretar ninguém menos do que Deus, muito se engana. Esse privilégio coube a Whoopi Goldberg, estrela premiada por sua incrível atuação cômica em Ghost: Do Outro Lado da Vida (1990). Nos últimos anos ela até pode andar um pouco sumida, restringindo seu trabalho a aparições como apresentadora em programas de televisão ou como dubladora em projetos animados, mas aqui ela tem uma das suas melhores – e mais divertidas – performances em muito tempo. Quando uma garota alto astral (Kate Hudson) descobre estar com uma séria doença, ela passa a evitar qualquer tipo de envolvimento mais duradouro, se afastando de todos que demonstram interesse nela, inclusive o médico bonitão (Gael Garcia Bernal) que está lhe tratando. Porém, durante uma experiência de quase-morte, ela acaba batendo um papo com o próprio Criador (Whoopi), que irá lhe oferecer uma segunda chance aqui na Terra após um ou outro conselho. Sem deixar a peteca cair e mantendo seu humor sarcástico, Goldberg, em poucos instantes, se revela o grande destaque dessa produção indicada apenas aos mais suscetíveis à açucaradas histórias de amor. – por Robledo Milani

 

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Benoît Poelvoorde, em O Novíssimo Testamento (Le tout nouveau testament, 2015)
Deus vive entre nós, mais precisamente em Bruxelas, é o que mostra o belga Jaco Van Dormael nesta sátira surrealista que, além de alfinetar os dogmas religiosos, realiza uma calorosa defesa do livre-arbítrio. A trama, co-escrita pelo cineasta, oferece uma visão da relação Criador/criaturas como a de um homem que brinca com uma fazenda de formigas, passando seus tediosos dias vestindo um surrado roupão e elaborando desastres naturais, tragédias ou leis como “a fila ao lado sempre andará mais rápido”, por puro divertimento. Tal comportamento repulsivo faz com que sua filha de 10 anos, Ea (Pili Groyne), resolva fugir de casa em busca de seis apóstolos para reescrever o Novo Testamento. Antes, porém, ela hackeia o computador do Pai, enviando para todos os humanos, via SMS, as datas de suas mortes, gerando um verdadeiro caos na Terra. Com grande inventividade visual e humor subversivo, Dormael apresenta Deus à imagem e semelhança da humanidade, mas apenas refletindo suas piores características: vaidoso, rancoroso, intolerante, violento, injusto etc. O papel acaba casando muito bem com o estilo cômico energético do também belga Benoît Poelvoorde, que faz do Todo Poderoso uma figura antipática, porém carregada de uma aura patética extremamente irônica e divertida. – por Leonardo Ribeiro

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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