20170811 dia dos pais desatque

Neste fim de semana comemora-se o Dia dos Pais, uma data sempre muito importante, seja para aqueles que tem os seus por perto, para os que estão longe e, é claro, até mesmo para quem aproveita a ocasião para buscar na memória seus melhores momentos junto a essa pessoa tão importante em nossas vidas. E se a sétima arte é uma das formas de expressões artísticas mais populares, em que todo mundo tem acesso e programa recomendado para toda a família, são incontáveis os papais que já marcaram presença na tela grande. Desde clássicos como O Pai da Noiva (1950), com Spencer Tracy e Elizabeth Taylor e refilmado em 1991 com Steve Martin, passando por obras emocionantes como Meu Pai, Uma Lição de Vida (1989), com Jack Lemmon, e Em Nome do Pai (1993), com Daniel Day-Lewis, chegando até comédias ligeiras como O Paizão (1999), com Adam Sandler, A Creche do Papai (2003), com Eddie Murphy, ou até mesmo Os Pinguins do Papai (2011), com Jim Carrey. Em todos, algo em comum: o patriarca é, indiscutivelmente, uma figura a ser lembrada. E aproveitando a ocasião, a Equipe Papo de Cinema reuniu dez pais que fizeram história na tela grande. Temos aqui os nossos preferidos – e entre eles estão gângsteres, divorciados, peixes, mentirosos, transexuais, deficientes e verdadeiros leões. Confira a nossa lista e descubra o seu papai favorito – no cinema, é claro!

 

o poderoso chefao papo de cinemaO Poderoso Chefão (The Godfather, EUA, 1972), por Willian Silveira
Cenas memoráveis não faltam. Em uma delas, Dom Vito Corleone acaricia seu gato. O trato delicado com o animal será um contraste perfeito para o pedido que se seguirá. Em O Poderoso Chefão, Francis Ford Coppola usa o afeto, uma das principais características italianas, como barganha. O afeto puro é desinteressado, enquanto o interessado mascara o poder. Símbolo máximo desse traço, a figura de Vito Corleone, irretocavelmente interpretada por Marlon Brando, se apresenta além do patriarca, mas como aquele que dá a vida para proteger os seus, pois sem eles, sabe não ser nada. O individualismo não é a marca do poder desenfreado. Corleone conquista o espectador por ser verdadeiro, mesmo quando as ações expõem seus vícios. A ética da lealdade é a moral particular, transvestida pela função paterna – pela família.

 

 

kramer vs kramer papo de cinemaKramer vs. Kramer (Kramer vs. Kramer, EUA, 1979), por Robledo Milani
Poucos longas foram tão importantes e representativos para a figura paterna na sociedade moderna quanto este clássico dirigido por Robert Benton e estrelado pelos sempre excelentes Dustin Hoffman e Meryl Streep – todos, merecidamente, vencedores do Oscar, além do roteiro baseado no romance de Avery Corman e do próprio Filme, escolhido o melhor daquele ano. Se no final da década de 1970 o divórcio e a separação de casais ainda era uma realidade nova, ainda mais surpreendente eram os casos em que os filhos ficavam sob a guarda paterna – e não, como até hoje é mais usual, materna. Mas quando Ted (Hoffman) e Joanna (Streep) decidem se separar, será ele que reunirá todas as suas forças para ficar próximo do filho Billy (a revelação Justin Henry, de apenas 8 anos e também indicado ao Oscar). Uma obra relevante, de grande valor social e sintonizada com o tempo presente, que felizmente se mantém atual até hoje. E, ainda mais importante, trata-se de um filme que mostra como poucos outros a força da família e o quanto ela pode ser adaptada, colocando em evidência o quanto os moldes mais tradicionais estão ultrapassados.

 

reileao01O Rei Leão (The Lion King, 1994), por Matheus Bonez
Desde a morte da mãe de Bambi (1942) nenhuma outra animação dos estúdios Disney provocou tamanha dor com uma cena como a morte de Mufasa em O Rei Leão. Pai de Simba, o protagonista, o então felino chefe dos animais ensinou os melhores valores para o filho em sua criação: coragem, ética, bondade, liderança. Sempre austero, mas nunca sem sentimentos. Simba pode até passar anos traumatizado com a culpa pela morte do pai e tentando esquecer tudo com Hakuna Matata, Timão e Pumba, mas é por conta da natureza de Mufasa que o filhote cresce e amadurece até tomar o seu devido lugar no reino animal. Assim como sua morte é um dos momentos mais tristes do filme, o seu reencontro (através de uma visão ou espírito) com um Simba já adulto em um diálogo dolorido, mas esperançoso, é um dos mais emocionantes da história do cinema – e não apenas das animações. Não é fora do comum encontrarmos “paizões” nas telas, mas Mufasa merece seu devido destaque por ser o exemplar de como todo progenitor deveria ser. E assim permanece quase vinte anos depois de ter estreado nas telonas.

 

uma licao de amor poster papo de cinemaUma Lição de Amor (I Am Sam, EUA, 2001), por Rodrigo de Oliveira
Tudo o que você precisa é amor. Mensagem singela e poderosa, que foi entoada pelos Beatles em um de seus hinos mais potentes, All you Need is Love, e que resume bem o longa-metragem Uma Lição de Amor, dirigido por Jessie Nelson. Utilizando as canções do quarteto de Liverpool para embalar sua bela história, a cineasta comove com uma trama que traz Sean Penn vivendo Sam, um sujeito com deficiência mental e que, por uma daquelas surpresas do destino, se vê às voltas com uma filha, bastante despreparado para a tarefa. No entanto, como a música supracitada afirma, o amor pode suplantar qualquer problema. No filme, uma batalha é realizada pela guarda da pequena Lucy quando assistentes sociais observam que a menina de apenas sete anos já ultrapassa o pai em Q.I. Cabe a Sam reaver a guarda da filha com a ajuda da advogada Rita (uma inspirada Michelle Pfeiffer). Ainda que a trama resvale para o dramalhão em alguns momentos, é uma terna história do amor entre pai e filha, fortalecida pelas canções de Lennon e McCartney, com performances competentes do elenco. Penn, inclusive, recebeu indicação ao Oscar pelo trabalho, no filme que ainda revelou a talentosa Dakota Fanning.

 

father and son poster papo de cinemaPai e Filho (Otets i syn, Rússia, 2003), por Pedro Henrique Gomes
O pai (Andrey Schetinin) do filme de Sokurov não é aquele pretensioso registro de afetividades e relações de simples encaixe e captura. A troca de gestos entre ele e seu filho não apresenta símbolos ocultos ou desejos disfarçados. Há claramente um contexto de problematizações engendrada pelo diretor para amplificar a ambiguidade daquela relação, mas jamais se pode confundir a força do gesto com idealização que fizemos dele. Na figura do pai, com seus problemas e suas contradições, há uma história de pertencimento, de comunidade interfamiliar, de uma partilha de experiências e troca de subjetividades com o filho. Pai e Filho é aquele filme que não abre mão de estabelecer um confronto moral direto com o espectador, mas quer mesmo, antes disso, compartilhar uma sensação de respeito, lucidez, força emocional e intelectual. Ao espectador, é imperiosa uma compreensão das sutilezas que compõem o drama como parte de uma equação que tem no próprio pai o resultado de um sucesso possível. A vitória dele é também um pouco nossa.

 

peixe grande papo de cinemaPeixe Grande (Big Fish, EUA, 2003), por Renato Cabral
Baseado no livro de Daniel Wallace e uma das melhores realizações da carreira de Tim Burton, Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas traz a história de William Bloom, que espera, junto de sua esposa, o primeiro filho do casal, ao passo que seu pai, Edward Bloom, se encontra no leito de morte. Isso o leva a juntar todas as histórias sobre o patriarca dos Bloom durante os anos. Com isso, William acaba recriando os anos de juventude do pai através de lendas e mitos inspirados nestas fábulas, e assim acaba entendo sobre os erros e acertos de seu pai. Burton trata com delicadeza os acontecimentos, sem exagerar até mesmo no meio fantasioso, apresentando uma direção de arte discreta. E é nos atores, Ewan McGregor e Albert Finney, que encarnam o jovem e o velho Edward Bloom, que o filme ganha a quem o assiste.

 

 

Finding Nemo Poster papo de cinemaProcurando Nemo (Finding Nemo, EUA/Australia, 2003), por Dimas Tadeu
Embora Nemo seja a “estrela-título” de um dos maiores sucessos da Pixar, é seu pai, Martin, quem fica na tela a maior parte do tempo, tentando encontrar o filho desaparecido. Numa divertida fábula sobre família, superproteção e liberdade, Procurando Nemo é uma excelente pedida para o dia dos pais, com chance de agradar mais de uma geração e arrancar gargalhadas e lágrimas. Tudo isso com um subtexto que remete à Odisseia, de Homero, a “primeira” de todas as histórias (“nemo” significa “ninguém”, em latim, uma metáfora para a autodescoberta que foi usada também em 20 Mil Léguas Submarinos, onde o comandante do Nautilus é ninguém menos do que o Cap. Nemo). O tipo de aventura que, quando termina, deixa gosto de quero mais. Não por acaso, a Pixar já anunciou a sequência, Procurando Dory, para 2015

 

 

transamerica papo de cinemaTransamérica (Transamerica, EUA, 2005), por Conrado Heoli
O que caracteriza um bom pai? Presença, atenção, interesse e afetividade são qualidades indispensáveis, mas a masculinidade é um item tão essencial quanto os anteriores? Bree poderia oferecer as características supracitadas para um filho, exceto a última. Às vésperas da cirurgia que removeria um dos últimos vestígios de seu passado como Stanley, a transexual Sabrina “Bree” Osbourne descobre que teve um filho na adolescência e é obrigada por sua terapeuta a ir ao encontro do jovem – que está envolvido com drogas e prostituição. O argumento curioso de Transamérica (2005), primeiro e único longa-metragem de Duncan Tucker, é base para um road movie agridoce que percorre temas como a autodescoberta e a importância da figura paterna na vida de alguém. Felicity Huffman se despe de quaisquer maneirismos para compor Bree, o que lhe rendeu copiosos elogios para sua caracterização singular e constantes questionamentos sobre sua orientação sexual e gênero. Indicada ao Oscar como protagonista, a interpretação marcante da atriz foi sublimada pela apática Reese Witherspoon, que venceu o prêmio por Johnny & June (2005) injustamente. Ainda assim, permanece como um dos mais interessantes – e peculiares – retratos da complexa relação entre pais e filhos.

 

the road poster papo de cinemaA Estrada (The Road, EUA, 2009), por Danilo Fantinel
Se em um mundo apocalíptico a melhor companhia que uma criança poderia ter é a do próprio pai, o garoto de A Estrada poderia sentir-se felizardo: está ao lado do seu, vagando em um território destruído em busca de salvação. Porém, neste ambiente desolado onde faltam água, comida e civilidade, nem mesmo a segurança paterna pode ser garantida eternamente. O filme inspirado no livro de Cormac McCarthy, vencedor do Pulitzer em 2007, relata a jornada da dupla entre os escombros de uma sociedade caída, coberta por fuligem leve e violência pesada. Cada um tem apenas ao outro como motivação para seguir em frente. Responsável pelo filho, o pai maximiza seu papel de tutor enquanto sofre um natural processo de embrutecimento. Conta histórias de ninar à noite, ensina o uso de armas pela manhã e pensa em infanticídio à tarde. Responsável pelo pai, e em vias de perder a inocência, o filho resgata a decência paterna constantemente. Ambos querem viver, mas cogitam morrer. O pai pede ao filho para esquecer isso, mas recebe como resposta uma pergunta: como fazê-lo? O rosto silencioso do excelente Viggo Mortensen é uma sentença: é tão impossível não pensar na morte quanto é improvável a salvação.

 

despues de lucia poster papo de cinemaDepois de Lúcia (Después de Lucía, México/França, 2012), por Marcelo Müller
Roberto acaba de perder a mulher em trágico acidente. Seu sofrimento irrompe já na primeira sequência de Depois de Lucia, quando larga o automóvel da falecida em via pública. Pouco importa o bem material, mais vale desfazer-se desse elemento alusivo à perda. Mesmo assim, despedaçado, Roberto reúne forças para mudar-se com a filha adolescente, largando emprego e tudo mais. Grande pai esse Roberto, sempre disposto a relevar as pequenas falhas, zeloso quanto ao rendimento escolar, cuidadoso com o dia a dia da menina privada da mãe provavelmente no instante em que mais precisaria dela. A angústia de Roberto se faz latente, mas ele se esforça para preservar Alejandra daquilo que o dilacera particularmente – afinal ela tem sua própria cota de agonia – ao passo que se agarra na menina também como tábua de salvação. Para Roberto perder duas vezes é provação demais, talvez por isso sua consternação exploda em violência no final do filme. Enquanto pai, colocou em prática a máxima “olho por olho, dente por dente”, já entorpecido pela possível tragédia da filha. Quem há de julgá-lo?

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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