No segundo domingo de cada mês de Maio comemora-se o Dia das Mães, uma data que pode ter apelo comercial, mas é inegavelmente emotiva. Afinal, apesar de serem milhares, como negar que “mãe só tem uma”? Foi com essa ideia em mente que a equipe do Papo de Cinema resolveu elencar as diversas mães que já deram as caras nas telas de cinema, tendo como única orientação o título nacional de cada filme, que deveria evocá-las de alguma forma – ainda que E Sua Mãe Também (2001) tenha ficado de fora por motivos óbvios. E nossa seleção não poderia ser mais surpreendente: temos mamães cantoras e policiais, assassinas e assassinadas (ainda que figurativamente), insuportáveis e carinhosas, celebridades e cômicas, tradicionais e modernas, brasileiras, francesas, canadenses, espanholas e norte-americanas. Uma amostra diversa e irresistível. E isso que muitas outras ficaram de fora da listagem final. Quem sabe no ano que vem?
Jogue a Mamãe do Trem (1987)
Depois de sofrer o pão que o diabo amassou com os maus tratos da mãe, Owen decide agir e dar cabo da velha senhora. Para tanto, convida um professor – que estava com problemas com sua ex – para trocar crimes. Ele assassina a ex-mulher do amigo, enquanto o outro faz o serviço na velha mãe. Isso poderia ser o plot de um suspense doentio, algo que poderia sair da cabeça de um Alfred Hitchcock da vida. Mas não. Trata-se de Jogue a Mamãe do Trem, comédia divertidíssima dirigida e estrelada por Danny DeVito, que tenta trocar crimes com seu professor de escrita criativa, vivido por Billy Crystal. A mãe em questão é interpretada por Anne Ramsay, a eterna mama Fratelli de Os Goonies (1985), aqui em performance indicada ao Oscar. Tomando emprestado a temática desenvolvida pelo mestre do suspense em Pacto Sinistro (1951), DeVitto capricha no humor negro e nas situações constrangedoras para construir uma comédia deliciosa que, por incrível que pareça, não soa estranha em um especial de Dia das Mães. Afinal de contas, as trapalhadas que a dupla de fajutos assassinos empreende no filme divertem a família toda. – por Rodrigo de Oliveira
Minha Mãe é uma Sereia (1990)
O universo dos filhos é, inevitavelmente, construído a partir das referências que os cercam. Na maioria das vezes, essa é uma tarefa dividida por ambos os pais, mais avós, tios, primos. Não é o caso, no entanto, das irmãs Charlotte e Kate Flax. Filhas de uma mãe solteira, vivem aos trancos e barrancos com essa figura materna que faz de tudo que lhe é possível para afastar suas pequenas da árida realidade que as cerca, com muita fantasia e criatividade. Se a caçula abraça as invencionices proposta com desprendimento, a adolescente não possui o mesmo ânimo, mostrando-se invariavelmente contrária a tudo que foge do normal, classificado por ela como simples ‘maluquices’. Logo após ganhar seu Oscar como Melhor Atriz, a diva Cher escolheu voltar às telas como essa mãe nada convencional, uma sereia que luta por sua família ao mesmo tempo em que mantém a jovialidade, o amor e uma invejável vontade de viver. Winona Ryder e Christina Ricci são as rebentas, e o trio não poderia ser mais inesperado – e em melhor sintonia. Uma comédia deliciosa, discreta e surpreendente.- por Robledo Milani
Pare, Senão Mamãe Atira! (1992)
Não é difícil encontrar estudos que coloquem em cheque a masculinidade tradicional das últimas gerações. Assim como não é necessário ser um especialista pra chegar a essa mesma conclusão. É só olhar para as características latentes: mimados, que se comportam como verdadeiros meninos e têm dificuldade para abraçar responsabilidades. O que geralmente há em comum? Ausência paterna e superproteção materna. A intensão aqui não é suscitar atritos, mas apenas traçar um paralelo com a divertida comédia estrelada por Sylvester Stallone, Pare, Senão Mamãe Atira!. O astro interpreta seu autorretrato, um policial brucutu que resolve tudo na base da força – como todos seus clássicos personagens – quando é surpreendido pela visita da idosa mãe, a hilária Estelle Getty. Constrangido com as circunstâncias que ela o faz passar, temos uma sucessão de fatos que despertam gargalhadas – pela graça ou pela vergonha alheia, não sei. Vê-lo repetir para um dos antagonistas em certa altura o título da produção é impagável! Despretensioso, serve apenas para isso: rir do intérprete de Rambo e Rocky. Ah, e claro: trata-se de uma excelente peça de confronto sobre uma época em que viver debaixo da saia da mãe era algo condenável, e não admirável. – por Eduardo Dorneles
Mamãe é de Morte (1994)
Agradeça aos inventores da tecnologia que substituiu o VHS e superou a necessidade de rebobinar fitas – esta inovação salva vidas. Ainda mais se você tiver uma vizinha psicótica disfarçada de dona de casa perfeita, que se vale de situações como um vídeo não rebobinado para matar. Nessa comédia perversa do insuperável John Walters, Kathleen Turner interpreta a mamãe assassina do título, uma delicada dona de casa que se livra de todos os problemas de sua família da maneira que lhe parece ser a mais fácil e correta: matando. Sem Divine, Walters apresenta seu trabalho mais “acessível” – salvas as devidas proporções – mas não por isso menos memorável. Em personagem inicialmente oferecida para Julie Andrews, Turner entrega uma de suas interpretações mais inspiradas, longe da caricatura de si mesma que a atriz se tornou anos depois. Uma mãe que mataria pelos filhos e marido parece algo ideal no discurso, mas na prática se torna aceitável apenas no universo deste cineasta e nesta deliciosa comédia, nada apropriada para a Sessão da Tarde e muito hilária para não ser esquecida. Convide sua mãe para uma sessão neste Dia das Mães e descubra o quão normal ela é… Ou não. – por Conrado Heoli
Tudo Sobre Minha Mãe (1999)
O começo é um calvário materno. A dor de perder um filho ainda jovem provavelmente não encontra similar em intensidade, pois a morte, além de cindir irremediavelmente uma relação de grande proximidade parental, reivindica para si a condição de inverter a ordem natural das coisas, pela qual os mais velhos iriam antes. Manuela (Cecilia Roth) é essa mãe que vê o filho morrer num acidente, após ambos terem assistido a apresentação teatral da atriz que ele tanto admirava. Ela, então, munida de força tirada sabe-se lá de onde, parte à procura do pai do garoto, a fim de lhe dar a notícia. Esse deslocamento não é apenas físico, mas de alguma maneira também temporal, na medida em que a busca a coloca em contato com o passado, com gente de outrora que, de uma forma ou de outra, fez parte de sua história com o antigo amante, um travesti que nem imagina reencontrar sua paixão de outrora em circunstância tão penosa. E Manuela, o que é de uma mãe sem filhos? Deixa de ser mãe? Ou a maternidade é algo tão sublime que transcende as estripulias da morte, tirando dela um pouco do poder que julga ter? – por Marcelo Müller
Mamma Mia! (2008)
Prestes a se casar, Sophie (Amanda Seyfried) envia convites para a cerimônia a três homens diferentes, pois um deles deve ser o seu pai, que nunca conheceu. Assim, para o terror de sua mãe, Donna (Meryl Streep), logo o trio formado por Pierce Brosnan, Stellan Skarsgård e Colin Firth chega à ilha na Grécia onde moram. Assim se desenrola Mamma Mia!, um musical que traz para o centro de seu palco – antes de um elenco invejável – as músicas do grupo ABBA. Embalados pelos famosos hits da década de setenta criados pela banda, o filme empolga no ritmo e ganha o espectador no carisma imediato exalado por seus protagonistas, logo, tornando-se quase impossível ao menos não se distrair com a experiência de assisti-lo. Mas é a fácil identificação com sua figura central que fez de Mamma Mia! um sucesso. Ainda que em dificuldades financeiras, Donna é trabalhadora, superprotetora e simples em seus modos e linguajar, algo que não a impede de demonstrar extremo amor e carinho pela filha, e a cena máxima que faz valer a citação do filme nesse Top chega quando divide com a mesma a bela canção Slipping Through My Fingers. – por Yuri Correa
Eu Matei Minha Mãe (2009)
Nem toda relação entre mãe e filho é bonita, terna e pacífica. Muitas vezes, esse laço é tenso, apertado, a ponto de estrangular ambas as partes, prendendo-as com um sentimento misto de amor e ódio. Provavelmente, essa não seria a escolha mais óbvia pra um filme de Dia das Mães, mas com certeza é uma das mais interessantes. Foi com Eu Matei Minha Mãe que Xavier Dolan, aos 20 anos, impressionou cineastas de todo o mundo em Cannes. Confessamente pintado com tintas autobiográficas, o filme mostra a relação ao mesmo tempo apaixonada e destrutiva do protagonista com sua mãe possessiva, maluca, engraçada, protetora. O garoto, ao descobrir a sexualidade, se vê preso pela superproteção materna. Já esta, ao ver o filho crescer, não consegue dar o espaço que ele precisa. Embora cravejado com maneirismos aqui e ali – o que, por outro lado, só reforça a personalidade do autor, dando ao longa um tom quase confessional – o filme é divertido e esteticamente atraente na mesma medida, sendo até hoje o principal trabalho deste promissor talento canadense. – por Dimas Tadeu
Minhas Mães e Meu Pai (2010)
Quem disse que crianças e adolescentes precisam de pai e mãe casados para ter uma vida melhor? A pergunta é quase retórica, já que a maioria ainda concorda com isso atualmente, mesmo que muitos sejam (muito bem) criados por casais separados, mães e pais solteiros ou casais homossexuais, sem nenhum problema à (preconceituosa) chamada “normalidade”. Pois Minhas Mães e Meu Pai é um tratado de como as famílias contemporâneas se reinventaram e são, sim, “normais” como qualquer outra. Ora, como não amar Nic e Jules, personagens, respectivamente, de Annette Bening e Julianne Moore? Casadas há anos, cada uma tem seu papel dentro de casa para cuidar dos filhos adolescentes, Joni (Mia Wasikowska) e Laser (Josh Hutcherson). Uma é mais durona, a outra coração mole. Tem a mais braba e a que se emociona por qualquer coisa. Se trocasse uma delas por um homem, não faria diferença. Tanto que, quando os adolescentes resolvem descobrir a quem pertence seu material genético (ambos foram concebidos por inseminação artificial), eles até podem se identificar com o pai de fato (Mark Ruffalo), mas é a elas que os dois recorrem quando estão com problemas. E teria como ser de outra maneira? Afinal, mãe é mãe. E, neste caso, ter duas é melhor ainda. Ainda mais em um filme tão singelo e honesto sobre as relações dos dias de hoje como este. – por Matheus Bonez
Minha Mãe é uma Peça (2013)
Do teatro ao cinema, o sucesso de bilheteria do cinema nacional tem um trajeto certo e conhecido. Recente exemplo, a comédia Minha Mãe é uma Peça, dirigida por André Pellenz, é a adaptação homônima da dramaturgia do ator Paulo Gustavo. Depois de permanecer em cartaz por várias temporadas, a peça ganhou as telas. O diretor levou a sério a máxima de que em time que está ganhando não se mexe. Por isso, não apenas transpôs o conteúdo com poucas alterações – apenas aumentando a participação de personagens secundários – como manteve as atuações teatralizadas, juntando a isso o estilo televisivo. O núcleo manteve-se sob a estridência de Hermínia (Paulo Gustavo), mãe divorciada que faz questão de transformar a vida dos filhos e do ex-marido em um inferno. A rotina de superproteção se rompe quando ela decide deixar a casa sem avisar, ofendida por uma situação. A partir de então, o humor – oriundo exclusivamente da sequencia de gags – ganha um contorno mais delicado e menos invasivo. A fórmula repetiu o sucesso anterior e ao ultrapassar os 4 milhões de espectadores foi o filme nacional mais assistido de 2013. – por Willian Silveira
Eu, Mamãe e os Meninos (2013)
Estreia do ator Guillaume Gallienne atrás das câmeras, Eu, Mamãe e os Meninos adapta a peça na qual o diretor relatava um pouco sua vida, se concentrando bastante na busca por sua real identidade sexual. Quando criança, o protagonista Guillaume (interpretado pelo próprio diretor) era tratado por sua família, em especial por sua mãe, como uma menina. Sendo assim, por que não agir como tal? A situação na qual ele se vê é inusitada, e exatamente por isso é interessante perceber como Gallienne consegue fazer graça a partir daquilo que viveu. Nesse sentido, os momentos em que seu personagem imagina a mãe ao seu lado se destacam. Mas o que faz o filme ser interessante é a sensibilidade com a qual a trama é conduzida, sendo que o modo de agir do protagonista se revela uma tentativa de ser aceito dentro da própria família. Com o desenrolar da trama, a conclusão é que estamos diante de uma bela homenagem de Gallienne a sua mãe, o que culmina em um clímax tocante e que fecha muito bem a narrativa. – por Thomás Boeira