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20150515 top 10 diva papo de cinema

Cinema e psicanálise não são estranhos um ao outro. Assim como muitas terapias já foram desencadeadas a partir do que é visto na tela grande, também muitas obras cinematográficas tomaram como ponto de partida o que acontece dentro – e fora – do consultório psiquiátrico. E se no Brasil esse elemento parece restrito ao universo das comédias românticas – como na estreia da semana Divã a 2, que retoma a ideia do sucesso de bilheteria Divã (2009), com Lilia Cabral – em Hollywood e ao redor do mundo esse assunto pode gerar as mais diversas interpretações e abordagens. Foi pensando nisso que a equipe do Papo de Cinema se reuniu para apontar dez das melhores histórias já vistas na sala de cinema sobre psiquiatras, psicólogos e, é claro, seus pacientes. Afinal, se na televisão um dos maiores sucessos recentes é a série Sessão de Terapia (versão nacional de um seriado israelense que já foi adaptado anteriormente em países como Estados Unidos e Itália, entre tantos outros), quando o assunto ganha outras proporções, as interpretações podem ser as mais variadas possíveis. Confira!

 

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Quando Fala o Coração (Spellbound, 1945)
Que os filmes de Alfred Hitchcock parecem ser feitos para sessões inteiras de análise, isto não é novidade. Personagens complexos psicologicamente eram sua especialidade, vide Psicose (1960) como um dos maiores exemplos. Mas foi aqui que a influência freudiana ficou explícita ao tratar do caso de doutor (Gregory Peck) que tem memórias estranhas sobre ser quem é e sua relação com uma misteriosa morte. Quem o ajuda é outra médica (Ingrid Bergman) e ambos se apaixonam. Ao tratar boa parte do suspense no divã, Hitchcock desmembra uma trama muito maior do que aparenta. Ainda mais quando entramos nos sonhos do personagem de Peck, uma passagem concebida por Salvador Dalí em parceria com o mestre do suspense, uma das mais fantásticas da carreira do diretor. O filme hoje em dia pode parecer menor perante outras obras, mas tem sequências interessantes e percebe-se a mão do cineasta a todo momento na sua habitual abordagem psicológica. Ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora, além de ter recebido outras cinco indicações, inclusive a Melhor Filme do ano. – por Matheus Bonez

 

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Visões de Sherlock Holmes (The Seven-Per-Cent Solution, 1976)
Baseado na obra de Nicholas Meyer, Solução A Sete Por Cento, este filme se apresenta como uma alternativa para o “hiato” – chamado também de morte – do detetive de Baker Street, mostrando-o se consultando com ninguém menos que Sigmund Freud. Holmes, interpretado por Nicol Williamson, é um homem repleto de problemas que é levado por seu fiel escudeiro John Watson (Robert Duvall) até Viena, onde se consulta com o Freud de Alan Arkin. Em comum, o psicoterapeuta e o detetive particular têm o vício em cocaína, sendo Sigmund um dos poucos que conhecidamente se livrou do vício. No decorrer da trama, revelam-se que figuras importantes do canône de Arthur Conan Doyle eram possibilidades de delírios do homem imberbe, fruto de sua imaginação ou variações da realidade, incluindo até envolvimentos extra conjugais de seu arqui-inimigo Doutor Moriarty com sua mãe. Suavizado, o filme modifica o final em relação ao livro, a fim de chocar menos as plateias, mas ainda assim, serve de bela análise do Id, Ego e Superego do investigador londrino. – por Filipe Pereira

 

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A Outra (Another Woman, 1988)
Este pode não ser um dos mais conhecidos ou festejados trabalhos de Woody Allen como roteirista/diretor. Mas deveria ser redescoberto, até por se tratar de um drama intenso envolvendo duas personagens femininas fortes – como é praxe nos roteiros do cineasta. Na trama, Gena Rowlands interpreta Marion, uma mulher em licença para escrever seu livro. À procura de sossego, aluga um pequeno apartamento. Uma espécie de retiro para conseguir se concentrar. Este local, no entanto, divide parede com um consultório psiquiátrico e, com isso, ela consegue ouvir os diálogos durante as sessões. Uma conversa chama a atenção daquela mulher: uma jovem perdida na vida, que afirma não encontrar sentido para a sua existência. Curiosa e encontrando reflexos daquela fala em sua própria vida, Marion tenta encontrar a moça e, surpresa, descobre que a menina, Hope (Mia Farrow), além de bela, está grávida. Isso é só o começo deste drama intimista, que coloca a protagonista em um processo de reavaliação de sua própria vida. Além de grandes performances de Rowlands e Farrow, o filme ainda conta com participações especialíssimas de Gene Hackman, Ian Holm e Blythe Danner. – por Rodrigo de Oliveira

 

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Gênio Indomável (Good Will Hunting, 1997)
Indicado a nove Oscar, saiu da premiação com as estatuetas de Melhor Ator Coadjuvante e Roteiro Original, o que terminou por reconhecer basicamente todo o elenco principal, já que foi Robin Williams quem levou a primeira e Ben Affleck e Matt Damon – os responsáveis pelo texto – que subiram ao palco para receber a outra. Gus Van Sant é quem assumiu o comando da produção, que já demonstrava, dentro dos padrões de um filme mais comercial, as nuances da sua sensibilidade para conduzir histórias focadas em jovens deslocados dentro do próprio mundo – aptidão que o levaria a realizar o premiado Elefante (2003). Aqui acompanhamos o caso de Will Hunting (Damon) que, faxineiro em uma universidade, acaba por resolver um problema matemático proposto publicamente pelo egocêntrico professor Lambeau (Stellan Skarsgard), impressionando-o. Porém, sua personalidade atípica e impulsiva o trazem problemas que o colocam nas mãos do analista Sean Maguire (Williams), que é o único que parece capaz de entender o garoto, já que ele mesmo parece ter que lidar com outros problemas próprios. São as relações entre Will e seu melhor amigo Chuckie (Affleck), com Lambeau e, principalmente, com Sean que carregam o filme através de um estudo de personagem insuspeito. – por Yuri Correa

 

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Máfia no Divã (Analyze This, 1999)
Imagine os problemas que um chefão da máfia pode passar quando não consegue mais oprimir seus adversários. Quando simplesmente apertar o gatilho causa lágrimas e mais lágrimas naquela figura que deveria ser, em última análise, um sujeito durão e confiante. Paul Vitti (Robert De Niro) não consegue mais comandar os negócios escusos da família como antes e não entende o que pode fazer para melhorar. Isso até conhecer o psiquiatra Ben Sobel (Billy Crystal), renomado profissional que pode dar um jeito nestes problemas. Agora inverta a situação. Imagine você que um grande nome do crime aparece em seu consultório necessitando dos seus trabalhos. Como não atende-lo? É a sua função, afinal de contas. Mas o perigo em se envolver com um sujeito assim é bastante óbvio. Juntando tudo isso com muito bom humor e com uma dupla protagonista em perfeita sintonia, tem-se como resultado um dos mais divertidos filmes do saudoso diretor Harold Ramis. Grande sucesso nos cinemas, foi uma das primeiras incursões bem sucedidas de De Niro na comédia. Billy Crystal faz uma excelente dobradinha, fazendo rir ao tentar imitar o sotaque italiano do capo. Rendeu uma continuação esquecível em 2002. – por Rodrigo de Oliveira

 

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Tratamento de Choque (Anger Management, 2003)
Esta é uma típica comédia estadunidense que visa o grande público e busca obter boa arrecadação de bilheteria. No entanto, mesmo com o diretor Peter Seagal arriscando pouco, Adam Sandler fazendo as piadinhas de sempre em muitas situações forçadas para causar risos, existem alguns pontos interessantes. Pode soar estranho, mas a ideia de juntar Jack Nicholson, que dispensa apresentações, com o comediante odiado por muitos e aplaudido por outros tantos deu certo, mesmo com as diferenças de estilo, trajetória e talento dos dois. A história é sobre Dave Buznik (Sandler), um designer de roupas para felinos que aceita ser tratado como lixo por várias pessoas e não curou os sofrimentos que passou desde a infância. Seus problemas começam a afetar a namorada Linda (Marisa Tomei), que sem ele saber, traça um plano com o caricato e nada convencional Dr. Buddy Rydell (Nicholson) para ajudá-lo. A trama tem inúmeras situações cômicas e um final clichê, bem hollywoodiano, para agradar o espectador que espera um desfecho feliz. De qualquer forma, a boa atuação do veterano, que mostra sua versatilidade, e a direção de arte, merecem destaque. Pode ser um filme clichê e cheio de estereótipos, mas sabe também divertir com competência. – por Gabriel Pazini

 

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Terapia do Amor (Prime, 2005)
Recém separada, a belíssima Rafi (Uma Thurman) chegou aos 37 anos como uma mulher independente. Mais que nunca decidida a se dedicar à carreira depois do desapontamento com o ex-marido, ela quer esquecer qualquer tentativa de se relacionar com outros homens. Tudo muda, entretanto, ao conhecer David (Bryan Greenberg), um pintor quase 15 anos mais novo. O que Rafi não desconfia é que David é filho de sua terapeuta de longa data, Liza (Meryl Streep). A história ganha ainda mais corpo quando a futura sogra descobre o casal. Mas sem ter conhecimento do fato, Rafi narra no divã de Liza as suas experiências e expectativas por David. Em boas performances, Thurman e Streep demonstram uma deliciosa química em cena e Greenberg se encaixa bem no papel de galã, já tão explorado na televisão americana. Leve e sem grandes pretensões, esta comédia ganha pontos devido à sua construção narrativa, que começa um pouco desconjurada, mas acaba se mostrando muito boa com tons realistas. Seu final inesperado para os padrões do gênero em Hollywood é um dos melhores momentos. – por Renato Cabral

 

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Um Método Perigoso (A Dangerous Method, 2011)
Desafiado por um caso aparentemente impossível, o Dr. Carl Jung aceita como paciente a instável Sabina Spielrein, com a qual colocará em prática seus métodos pouco convencionais de terapia. A principal arma em seu tratamento é seu mestre, o renomado Sigmund Freud, que acaba, assim como seu pupilo, extremamente seduzido pela enigmática moça. Filme obrigatório para qualquer interessado em psicanálise, freudismos, jungianismos ou apenas por bom cinema, tem-se aqui é uma sessão de terapia dividida entre frames iluminados pela assinatura autoral de David Cronenberg e por um trio protagonista excepcional. Michael Fassbender, Viggo Mortensen e Keira Knightley dominam a essência do roteiro de Christopher Hampton, que já havia se valido de tão envolvente trama para conduzir uma peça teatral também baseada no livro de John Kerr. Em grande parte composto por sessões de psicanálise e uma série de cartas narradas, o filme é verborrágico e por vezes cansativo, porém desafia o público com conteúdo extremamente intelectual e intrigante. Está, portanto, à altura dos pensadores que retrata, responsáveis por inventar uma linguagem hoje utilizada para falarmos sobre as coisas das quais não desejamos falar – algo que Cronenberg retrata magistralmente. – por Conrado Heoli

 

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Habemus Papam (2011)
O cineasta italiano Nanni Moretti parte de uma situação insólita neste filme. Escolhido novo Papa pelo conclave, após a morte do antigo sumo pontífice, o personagem de Michel Piccoli sente pesar nos ombros toda a responsabilidade vindoura de liderar uma instituição milenar e ainda muito influente. A igreja católica tem suas regras próprias, seus dogmas. Entre eles, certa restrição velada à psicanálise. Entretanto, a circunstância é urgente demais para que a Santa Sé se aferre às próprias convicções, e ela se vê pedindo ajuda à ciência. Recorre a um psicanalista (interpretado pelo próprio Moretti) para que ele, digamos, desbloqueie aquele que deveria saudar os fieis que aguardam ansiosos na Praça de São Pedro. Com a posterior fuga do Papa às ruas, onde ele se aproxima do rebanho necessário à significação da tarefa para a qual foi selecionado, o personagem de Moretti passa a desenvolver dinâmicas com os enclausurados no Vaticano, que não podem sair antes do novo líder ser anunciado. A atuação desse psicanalista num ambiente que, a priori, só reconhece abertamente a fé e nada além dela, deflagra a porção humana dos cardeais, os pecados instaurados nas frestas dos discursos consagrados pela tradição do catolicismo. – por Marcelo Müller

 

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Terapia de Risco (Side Effects, 2013)
Conhecido por ser até agora o último trabalho que Steven Soderbergh lançou nos cinemas, esta é uma obra interessante em muitos aspectos. Rooney Mara interpreta Emily Taylor, que teoricamente deveria ficar feliz agora que seu marido, Martin (Channing Tatum), saiu da prisão e voltou para casa. Mas ela fica depressiva, iniciando um tratamento com o psiquiatra Jonathan Banks (Jude Law), que decide receitar um remédio que a faz melhorar, mas também pode ser o responsável por levá-la a cometer um ato horrível. Neste ponto o roteiro insere reviravoltas que fazem a trama começar de um jeito para terminar de outro, com tudo ocorrendo naturalmente e aumentando o interesse do espectador. Em meio a isso, há espaço para explorar a indústria farmacêutica e a ética profissional de figuras no meio, sendo notável a honestidade de Jonathan, psiquiatra que claramente se importa com seus pacientes. E se Jude Law traz carisma e segurança para o personagem, Rooney Mara encarna admiravelmente as várias nuances de Emily e seus problemas psicológicos. Não se sabe quando que Steven Soderbergh voltará aos cinemas, mas se este realmente vier a ser seu último trabalho nesse sentido, ao menos é uma obra à altura de sua admirável filmografia. – por Thomas Boeira

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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