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Segundo o dicionário Aurélio, a expressão drag queen significa: Homem que se fantasia de mulher e usa maquilagem teatral, para comparecer a festas, shows, ou a outros eventos; transformista. Para evitar distorções ou equívocos, essa definição nos guiou durante a escolha dos exemplares deste Top motivado pela estreia do longa-metragem Viva (2015), coprodução Cuba/Irlanda que fala sobre o conflito entre um pai e seu filho drag queen. Já tivemos no cinema drags no centro de tramas praticamente folclóricas; abordagens que tratam de dramas cotidianos envolvendo esses homens que homenageiam suas divas nos palcos; discussões mais profundas, inclusive acerca da sexualidade; o escracho oriundo do bom humor de artistas que fazem da ribalta o seu alimento; e por aí vai. Confira, então, nossa seleção dos melhores filmes sobre drag queens.

 

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Pink Flamingos (1972)
Reza a lenda que alguns cinemas distribuíam sacos de papel nas sessões deste filme, imaginando que o clássico cult de John Waters talvez fizesse a audiência vomitar. Não era exagero. Este longa-metragem não é para os de estômago fraco. Realizado com um orçamento baixíssimo,  traz como protagonista a drag queen Divine – famoso personagem de Harris Glenn Milstead, que colaborou com o diretor diversas vezes -, encarnando Babs Johnson, uma mulher que teme, sobretudo, perder o título de “pessoa mais imunda” para um casal de criminosos interpretados por David Lochary e Mink Stole. Assim como Babs busca o status de pessoa mais imunda, a obra busca o status de filme mais repulsivo. Há incesto, canibalismo, assassinato, coprofagia… Waters faz questão de passar dos limites a cada cena. É curioso, então, que uma obra que se descreve como “um exercício em mau gosto” tenha cativado tanto o público e criado uma base sólida de fãs dedicados. O longa é nojento em todos os aspectos, mas carrega suas bizarrices com tanto orgulho que consegue até despertar simpatia no espectador. Babs pode ser terrível, mas é difícil não torcer por ela na briga da imundície contra personagens que, ironicamente, são muito piores do que ela. – por Marina Paulista

 

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Polyester (1981)
Divine já era a musa máxima da contracultura drag quando protagonizou mais esta comédia incorreta de John Waters, que marca sua oitava parceria com o mestre do cinema trash norte-americano. Aqui ela inspira toda sua feminilidade questionável como Francine Fishpaw, dona de casa suburbana de Baltimore que sofre uma crise existencial ao descobrir a infidelidade do marido. Para piorar sua situação, ela tem uma relação conflituosa com seu casal de filhos; enquanto a garota a ignora, o menino cheira cola e abusa de mulheres para saciar seu fetiche podólatra. Adultério, aborto, divórcio, alcoolismo e sátira religiosa são alguns dos temas do escracho de Waters, que novamente coloca Divine em situações absurdas ao lado de figuras icônicas como Edith Massey, que aqui interpreta a melhor amiga de Francine, reconhecida como a debutante mais velha do mundo. Primeiro filme de John Waters a conquistar audiências mainstream – talvez por sua classificação que permitia a entrada de menores nos cinemas – a produção também ficou reconhecida por ser exibida com o artifício do Odorama. Os espectadores ganhavam cartões para cheirar em determinadas sequências do filme, interagindo assim com os odores apresentados em tela. Entre eles, flatulências e sapatos sujos estavam inclusos. – por Conrado Heoli

 

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Paris is Burning (1990)
Provavelmente, a importância deste documentário para a cena drag internacional seja, hoje em dia, mais relacionada ao reality show RuPaul’s Drag Race, que se refere abertamente a ele nos bordões trazidos pelos personagens acompanhados por Jennie Levingston. Durante a década de 1980, a cineasta registrou a rotina de diversos artistas drag queens em Nova York, investigando o que na época era um submundo de fantasias e expressões que se insurgiam contra a repressão que acontecia ao nível das ruas. Com figuras como Pepper LaBeija, o filme mergulha sem preconceito na intimidade dessas pessoas, que, diferentemente de travestis ou dos transexuais (comumente confundidos), transformam-se em personagens do sexo oposto como uma forma de intervenção, e que, através da caricatura, futilidade e extrema preocupação com a beleza, trazem à tona uma visão da própria sociedade que os relega aos porões da maior cidade do mundo. O movimento drag pode ser demonizado de várias formas, e o longa não tenta negar isso, mas, por outro lado, também não deixa de considerar a sua força. Enterrado no circuito independente, depois de ter sido premiado em Berlim e Sundance, o filme finalmente fez valer sua relevância em meados dos anos 2000 quando RuPaul o trouxe para o centro de seu programa.  – por Yuri Correa

 

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Priscilla: A Rainha do Deserto (The Adventures of Priscilla, Queen of the Desert, 1994)
Se no Brasil a superestrela Rogéria se autointitula “a travesti da família brasileira”, ou seja, aquela que popularizou o termo e a expressão junto ao grande público, este foi o filme responsável por tornar o conceito de ‘drag queen’ universalmente aceito e reconhecido. Isso porque, pela primeira vez na história, tínhamos como protagonistas três personagens assumidamente confortáveis diante da condição que defendiam: duas drags, Mitzi (Hugo Weaving) e Felicia (Guy Pearce) e uma mulher transgênero, Bernardette (Terence Stamp). A bordo de um ônibus prateado – a tal Priscilla do título – elas embarcam em uma aventura que irá mudar suas vidas para sempre. O que buscam é aquilo que todos nós, independentemente da sexualidade, almejamos: família, profissão, reconhecimento. Porém nunca antes havia se dado voz a uma minoria como essa – e de maneira tão bem feita, emocional e competente. Como resultado? Ganhou um Oscar, dois Baftas, foi indicado ao Globo de Ouro como Melhor Filme e se tornou um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema australiano de todos os tempos, além de ter aberto as portas para toda uma nova geração no cinema LGBT. Um feito e tanto! – por Robledo Milani

 

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Wigstock: O Filme (Wigstock: The Movie , 1995)
Durante os anos 80 e 90 um festival foi muito popular no meio LGBT por trazer as drag queens norte-americanas como sua atracão principal. O nome Wigstock não poderia ser melhor, em virtude de fazer alusão ao clássico Woodstock, tanto por ser um evento de grande porte quanto por proporcionar uma quebra de paradigmas na sociedade, dando voz a uma parcela totalmente rejeitada pela sociedade. O documentário retrata o Wigstock de 1994, ano em que RuPaul teve sua maior fase de popularidade antes de voltar de vez aos holofotes na última década por conta de seu reality show, e as performances das queens ao lado de bandas e artistas simpatizantes como Dee-Lite e Debbie Harry. Entre bastidores do evento e entrevistas sobre a importância das drag queens no contexto mundial, ainda somos agraciados com tiradas ótimas, como a de Lady Bunny, a mestre de cerimônias do evento, que questiona a possibilidade de colocar uma peruca na Estátua da Liberdade. Uma produção importante  e incrível na mesma medida. – por Matheus Bonez

 

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Para Wong Foo, Obrigada por tudo! Julie Newmar (To Wong Foo, Thanks for Everything! Julie Newmar, 1995)
Após empatarem numa disputa de drag queens em Nova York, Noxeema (Wesley Snipes) e Vida Boheme (Patrick Swayze) partem para uma viagem com o objetivo de participar de num concurso nacional que eleverá o nome da mais nova drag queen. Porém, ambas não esperavam cruzar com a drag Chi-Chi (John Leguizamo), uma novata rebelde que Vida decide tomar como sua protegida, ensinando-a a se portar. Na viagem rumo à Califórnia, acabam reagindo à uma abordagem policial abusiva. Na fuga, o carro das três damas quebra e elas ficam presas em uma cidadezinha no meio do deserto, onde tanto os habitantes quanto elas precisaram enfrentar as diferenças.Em uma época na qual não havia reality show sobre o meio drag, este longa-metragem serviu para mostrar um lado pouco conhecido da comunidade gay. Mesmo repleto de clichês, o filme de Beeban Kidron consegue mostrar um incrível cuidado ao tratar de questões como abuso e homofobia, além de desenvolver aspectos feministas pouco vistos em produções estúdios e com um elenco tão estelar de galãs como Swayze, ou astros de ação como Snipes. Destaque para a presença e bênção de RuPaul para o filme logo no começo de sua projeção e ad diva Julie Newmar. – por Renato Cabral

 

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A Gaiola das Loucas (The Birdcage, 1996)
Comédia farsesca divertidíssima, com a assinatura do sempre competente Mike Nichols, esta produção tem elenco graúdo, capitaneado por Robin Williams, Gene Hackman, Dianne Wiest e Nathan Lane. Este último vive a drag queen Starina, em uma performance que lhe deu sua primeira e merecida indicação ao Globo de Ouro como Melhor Ator em Comédia ou Musical. Por trás das plumas e paetês de Starina está Albert, que vive uma vida nada secreta com o dono da casa de shows The Birdcage, Armand (Williams). Embora não seja um relacionamento escondido, os dois se veem obrigados a disfarçar sua afeição quando os conservadores sogros em potencial do filho de Armand, vividos por Hackman e Wiest, aparecem em sua casa para “aprovar” o futuro casamento de sua filha. A partir daí, o longa-metragem vira uma verdadeira metralhadora de gags, fazendo rir pelas situações e, principalmente, pela atuação de Lane, que dá à Starlina uma força de vida sem paralelos. O mais interessante do filme é que ele sempre ri com os personagens, não deles. Uma obra que soube retratar de forma respeitosa, profunda e divertida a vida de uma drag queen. Remake da produção italiana de mesmo nome, lançada em 1978. – por Rodrigo de Oliveira

 

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Ninguém é Perfeito (Flawless, 1999)
Um ex-policial sofre um AVC quando tenta ajudar um vizinho, tem o corpo semi-paralisado e acaba fazendo aulas de canto com uma drag queen para poder retomar a fala. O filme de Joel Schumacher pode até ser clichê em diversos pontos ao tratar daquela velha história de personalidades totalmente opostas que acabam por criar uma grande amizade. Porém, consegue pontos extras por trazer dois grandes personagens interpretados por Robert De Niro e Philip Seymour Hoffman. O eterno touro indomável faz a linha conversador/preconceituoso que critica o status quo de seu tutor a todo momento, seja com grosseria ou olhares indelicados. Já o saudoso Hoffman acerta em cheio ao não fazer uma simples caricatura afeminada, mas diluir as nuances de seu papel numa pessoa que sonha alto, ainda que não consiga realizar tudo que deseja. Dois personagens que se completam ao trazer a dor e a esperança de renovação um ao outro, através da convivência e da admiração que acabam por surgir com o tempo. Por sinal, o título do filme em português se aproveita da emblemática fala de Quanto Mais Quente Melhor (1963) e se adequa totalmente à trama, que pode não retratar todo o universo das drag queens como um todo, mas foca as alegrias e desprazeres de ser uma. – por Matheus Bonez

 

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Kinky Boots: Fábrica de Sonhos (Kinky Boots, 2005)
Muito antes de Chiwetel Ejiofor ser indicado ao Oscar e Joel Edgerton se revelar um ator e diretor de respeito, os dois estiveram juntos nessa inusitada comédia inglesa. O longa de Julian Jarrold não se esquiva em colocar uma drag queen (Ejiofor) como uma figura exótica, mas ela logo escapa desse lugar clichê ao aparecer como a solução dos problemas de um jovem empresário que, após herdar uma fábrica de sapatos, se vê perdendo terreno para a concorrência por não conseguir inovar seu produto. Qual o caminho que acaba escolhendo? Desenvolver calçados femininos… para homens! Ou seja, uma demanda que ninguém havia identificado – afinal, drags e travestis também precisam ter o que calçar, certo? Principalmente como parte dos figurinos de seus shows e apresentações. A condução é leve e divertida, e as mensagens que o enredo transmite ao público, como pregar tolerância e respeito, não poderiam ser mais bem intencionadas. Mas o resultado foi suficiente para colocar o nome de Ejiofor no mapa – foi indicado ao Globo de Ouro e ao British Independent Film Awards – e, anos depois, uma versão musical dessa mesma história ganhou os palcos da Broadway, mostrando que talento e irreverência se dão bem em qualquer formato! – por Robledo Milani

 

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Elvis & Madona (2008)
Este longa-metragem do diretor carioca Marcelo Lafitte fala sobre o amor improvável que nasce entre Elvis (Simone Spoladore) e Madona (Igor Cotrin). Travestido de mulher para homenagear suas cantoras favoritas, em shows marcados por muitas cores e luzes, o personagem de Cotrin, a despeito de se identificar como mulher, podendo ser considerado travesti, também usa e abusa das plumas e dos paetês no palco, ou seja, se apresenta como drag queen em casas de espetáculo. O insólito se instaura quando ele se apaixona pela mulher com trejeitos masculinos, motoboy que sonha em ser fotógrafa, interpretada por Spoladore. Em meio à rotina de cabelereira no salão Divas, em Copacabana, bairro nobre do Rio de Janeiro, Madona alimenta o sonho de montar um grande espetáculo de drag queens. É aí que entra em cena o vilão, seu ex-amante João Tripé (Sérgio Bezerra), que, além de agredi-la, leva todas suas economias embora. Cortin constrói Madona com tintas diversas, transitando do drama à comédia, contudo sem resvalar num eventual escracho que poderia prejudicar a empatia do espectador por ela. O tom de comédia romântica se instaura quando os protagonistas decidem lutar pelo amor que os une, sentimento tão improvável quanto bonito. – por Marcelo Müller

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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