Quais foram os dez artistas mais esnobados entre os indicados ao Oscar 2016, o prêmio máximo do cinema mundial, oferecido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas? E veja bem, estamos falando de atores, atrizes, diretores ou roteiristas, e não apenas de filmes. Discutir sobre um longa ou outro sempre é complicado, pois além de observações técnicas e imagéticas, há também o gosto pessoal interferindo – uns não são fãs de comédia, para outros violência demais incomoda, e também excesso de romance pode amenizar demais as expectativas. Por isso decidimos nos focar em talentos individuais. Sendo assim, a equipe de editores do Papo de Cinema organizou um ranking bastante pessoal, mas que reflete a nossa visão de cinema sobre quais talentos a gente gostaria que tivessem sido reconhecidos neste ano, pois cada um deles, em seus trabalhos, mostraram qualidades suficientes para estarem entre os melhores do ano. Confira a nossa lista, e dê também a sua opinião – ela é importante para nós!
10. Michael B. Jordan, como Melhor Ator por Creed: Nascido para Lutar
Michael B. Jordan é um dos nomes mais promissores de Hollywood no momento. Depois de despontar para o grande público como protagonista de Fruitvale Station: A Última Parada (2014), ele viveu o Tocha Humana, no recente reboot cinematográfico do Quarteto Fantástico (2015). Agora, chega às telas como o filho bastardo de Apollo Creed, em Creed: Nascido para Lutar, filme com potencial para iniciar uma nova franquia derivada da saga Rocky Balboa. Sua atuação é digna de prêmios, mas a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas não achou isso, preterindo seu nome, para a fúria, inclusive, de entidades ligadas a questões de igualdade racial. Controvérsias à parte, Jordan sai-se muito bem como esse Balboa dos novos tempos, que, assim como Rocky nos anos 1970, precisou enfrentar muita coisa até subir num ringue de verdade. Fora da arena de luta, ele consegue conferir camadas ao seu personagem, fugindo de estigmas, preparando para Adonis um lugar próprio na mitologia criada por Sylvester Stallone. Infelizmente não teremos a possibilidade (ainda que ela fosse remota, de qualquer maneira) de uma dobradinha Melhor Ator/Melhor Ator Coadjuvante na festa do próximo dia 28. – por Marcelo Müller
09. Steven Spielberg, como Melhor Direção por Ponte dos Espiões
Steven Spielberg já tem dois Oscar de Melhor Direção, por A Lista de Schindler (1993) e O Resgate do Soldado Ryan (1998). Ele é, portanto, uma figurinha carimbada na premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Embora alguns achem esse reconhecimento no mínimo exagerado, difícil negar a importância do cineasta, responsável por tantos filmes marcantes. Na festa do dia 28, por exemplo, sua ausência será sentida entre os concorrentes a Melhor Direção. Ficaria bem entre alguns novatos o veterano Spielberg, neste caso menos por seu currículo e peso midiático, e mais pelas qualidades latentes de seu trabalho em Ponte de Espiões. No filme, Tom Hanks interpreta um advogado que vai às últimas consequências para cumprir seu papel. Essa tenacidade ética o aproxima do espião soviético que ele aceita defender contra todos. Não há uma viva alma que entenda sua determinação para garantir os direitos de um inimigo do jeito norte-americano de viver. Spielberg dirige o filme sem tantos maneirismos, evitando exagerar nas emoções, dosando ações e reações em prol do equilíbrio entre os focos geral e particular das tramas, que vão se encadeando de maneira inteligente e instigante. Merecia certamente uma vaga. – por Marcelo Müller
08. Idris Elba, como Melhor Ator Coadjuvante por Beasts of no Nation
O filme foi um importante passo para uma nova geração de produções realizadas para o cinema e outras plataformas. O discurso foi intenso, totalmente calcado numa cruel realidade. Acima de tudo, a performance de Idris Elba é carregada de um tom naturalista que não apenas humanizou seu personagem, que poderia ser tratado como um vilão qualquer, como também lhe rendeu diversas indicações e prêmios, incluindo o do Sindicato dos Atores. O que, em teoria, já seria termômetro suficiente para o Oscar. A premiação da Academia deste ano tem sido alvo de polêmicas (e com razão) pela falta de atores e atrizes negros indicados. Não há uma desculpa plausível que possa justificar como se os papeis para brancos fossem melhores. Ao lado de Elba poderia citar outras cinco, no mínimo, que poderiam estar espalhadas entre as categorias de atuação, mesmo que elas sejam de filmes menores ou desconhecidos. Mas aqui não há razão: seu personagem alcançou uma popularidade pouco vista em uma produção independente. Uma falha imensamente grave para uma cerimônia considerada, há tempos, elitista e que prefere dar voz apenas às produtoras que investem em lobby. – por Matheus Bonez
07. Kristen Stewart, como Melhor Atriz Coadjuvante por Acima das Nuvens
Quem diria que a menina apaixonada por um vampiro-purpurina e por um lobisomem adolescente estaria, um dia, em uma lista como essa? Pois não é que Kristen Stewart, a jovem estrela da saga Crepúsculo, fez por merecer em Acima das Nuvens? No longa assinado pelo diretor francês Olivier Assayas ela aparece como a assistente pessoal de uma grande estrela, interpretada por magnitude por uma sempre fantástica Juliette Binoche. Pois se a excelência desta é uma constante – e, talvez por isso mesmo, muitas vezes subestimada por erroneamente acharem que se trata de mais do mesmo – a surpresa geral foi justamente em relação à Stewart, que não só está muito bem em cena como também demonstra segurança e talento suficiente para se posicionar à altura de sua parceira de cena, em duelos verbais que exigem confiança no próprio potencial e uma tranquilidade invejável a respeito do seu alcance pessoal. Por tudo isso, ganhou o César (o Oscar do cinema francês) e o prêmio da Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA, além de reconhecimentos dos críticos de Boston, Florida e Nova York. Faltou, portanto, apenas esse olhar mais atento dos votantes da Academia. Uma falha, no mínimo, constrangedora. – por Robledo Milani
06. Ridley Scott, como Melhor Direção por Perdido em Marte
Ridley Scott conquistou o público, e boa parte da crítica, com sua trama que enfoca o resgate improvável de um astronauta esquecido em Marte. Estranhamente considerado como comédia pelos votantes do Globo de Ouro, Perdido em Marte teve sete indicações ao Oscar. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, assim, fez coro aos elogios que sobrevieram às estreias em várias partes do mundo, mas, de maneira insólita, não colocou Ridley Scott entre os cinco indicados a Melhor Direção. É uma decisão estranha, talvez apenas melhor compreendida quando percebemos o perfil majoritário dos nominados, ou seja, profissionais que nunca haviam sido lembrados na categoria – Alejandro González Inãrritu é a exceção. Uma pena, pois não faria mal algum, muito pelo contrário, se o trabalho de Scott fosse reconhecido mais uma vez. Na nova trama espacial, ele rege a saga quase solitária do personagem de Matt Damon com muita competência, propiciando, inclusive, que o humor se infiltre pelas frestas do desespero. Ainda que não apresente a profundidade e a complexidade de Alien: O Oitavo Passageiro (1979), só para ficar na ficção espacial mais famosa do cineasta, esta nova realização mostra que Scott ainda está em plena forma, apto, inclusive, a concorrer por prêmios e, porque não, vencê-los. – por Marcelo Müller
05. Benicio Del Toro, como Melhor Ator Coadjuvante por Sicario: Terra de Ninguém
Benicio Del Toro levou seu Oscar em 2001, quando foi indicado pela primeira vez pela Academia como Ator Coadjuvante por sua performance em Traffic (2000). Em 2004, foi lembrado novamente na mesma categoria pelo filme 21 Gramas (2003). Desde então, tem sido sumariamente ignorado pelos votantes da Academia. Alguns podem argumentar que a carreira de Del Toro deu uma estagnada. Outros lembrarão de atuações marcantes em Che (2008), Selvagens (2012) e Escobar: Paraíso Perdido (2014). Mas é ponto pacífico que Benicio Del Toro rouba a cena em Sicario: Terra de Ninguém, dirigido por Denis Villeneuve (outro ignorado pelo Oscar). O ator tem uma atuação magnética, perigosamente naturalista. Seu Alejandro é frio, calado e extremamente perigoso. Não sabemos quais são suas intenções ou plano de ação, mas temos certeza de que ele dispara como uma flecha em direção dos seus objetivos. O personagem é uma legítima criação conjunta entre roteirista, diretor e ator. Durante as filmagens, Del Toro e Villeneuve iam cortando todas as falas que pareciam expositivas demais, tirando cerca de 90% do texto. Com isso, transformaram Alejandro em um ser extremamente ameaçador e misterioso, sendo o verdadeiro destaque do filme. Ele seria o lobo na lista final da premiação. – por Rodrigo de Oliveira
04. Aaron Sorkin, como Melhor Roteiro Adaptado por Steve Jobs
Em um domingo, Aaron Sorkin sobe ao palco do Globo de Ouro para receber seu prêmio pelo roteiro de Steve Jobs. Na quinta-feira seguinte, tem seu nome esquecido pelo Oscar, que não o indica como Melhor Roteiro Adaptado. Um verdadeiro disparate dado a qualidade do trabalho em questão e pelo fato de Sorkin ser um dos melhores profissionais da área em atividade em Hollywood. Ele venceu o Oscar por A Rede Social (2010) e foi indicado pelo O Homem que Mudou o Jogo (2011). Mas Steve Jobs representava um novo patamar até mesmo para ele. A forma como a trama é construída é o seu principal predicado. Em vez de fazer um filme que tente abranger toda uma existência, o roteirista preferiu escolher três momentos marcantes da vida de Jobs e preenchê-los com fatos que seriam essenciais para conhecermos a personalidade do retratado. Logicamente, os acontecimentos ligados aos lançamentos dos produtos mostrados não se deram daquela forma, nem naquele preciso tempo. O mais inteligente do roteiro é criar um ambiente em que tudo aquilo poderia acontecer, nos dando uma ideia do que viveu o personagem. Com diálogos inteligentes e o seu tradicional walk and talk, Sorkin foi um esquecimento imperdoável da Academia. – por Rodrigo de Oliveira
03. Jacob Tremblay, como Melhor Ator Coadjuvante por O Quarto de Jack
Existe algo de muito forte nos laços criados por Brie Larson e Jacob Tremblay, os dois jovens atores que vivem mãe e filho em O Quarto de Jack. A situação em que seus personagens vivem é angustiante e o que os intérpretes conseguem criar naquele espaço confinado tão pequeno é nada menos do que especial. A primeira meia hora do filme dirigido por Lenny Abrahamson, na qual os dois estão confinados no “Quarto”, é intensa e muito bem conduzida pelo cineasta. O filme perde a força posteriormente, mas nos apresenta um ator nato na figura do simpático Tremblay, indicado ao SAG Awards e vencedor do prêmio de ator revelação no Critic’s Choice Awards. Por melhor que Larson esteja, o jovem Tremblay (com pouco menos de 9 anos) rouba completamente a cena a partir do segundo ato. A descoberta de um novo mundo não se dá sem traumas, mas sua curiosidade e sensibilidade lhe dão armas que lhe ajudam neste momento diferente. Existe uma interessante mudança de papéis a partir do terceiro ato, quando o menino passa a ser o porto seguro, o lado forte da família. Sensível e cativante, merecia uma lembrança no Oscar. – por Rodrigo de Oliveira
02. Quentin Tarantino, como Melhor Roteiro Original por Os Oito Odiados
Não há diálogos como os redigidos por Quentin Tarantino para seus atores. O cineasta pode ter mil loucuras em seus roteiros, deixar muitos desconfiados de suas intenções (é só lembrar da recepção fria do primeiro volume de Kill Bill, 2003, quando este foi lançado), mas da força de suas falas ninguém pode falar mal. Quando realiza um western em que os tiros são menos importantes que a trama em si (carregada de uma aura de Agatha Christie, por sinal), aí sim é mais importante entender sua voz. Bom, neste ano a Academia preferiu dizer não a ele. Os Oito Odiados não foi o imenso sucesso de critica como seus dois filmes anteriores (estes sim, indicados nesta categoria e ainda em Melhor Filme), mas nada justifica ficar fora do páreo. O longa é praticamente a síntese de toda sua obra, misturando vingança, crimes, armas em punho e aquele humor negro tão único que é identificado por um simples corte de câmera ou uma gag disparada de forma rápida. Ok que o cineasta sempre está presente na cerimônia, mas isso diminui seu trabalho? Fosse assim, Meryl Streep não seria lembrada há muito tempo já. – por Matheus Bonez
01. Charlize Theron, como Melhor Atriz por Mad Max: Estrada da Fúria
Os anos passam, mas a Academia continua com vários preconceitos pregando suas escolhas na hora de indicar produções, atores e atrizes. Filmes de ação, então, nem se fala. As mulheres que o digam. Já é sabido há tempos que os bons papeis femininos estão sempre em desvantagem em relação à ala masculina, mas como ignorar Charlize Theron e sua Furiosa neste filme? Tom Hardy pode encabeçar o elenco com o nome no título, mas ele acaba fazendo o papel de apoiador de uma causa muito maior do que a perseguição ensandecida do longa. É a personagem de Theron que provoca as mudanças mais profundas da história ao ser a renegada que luta pelos direitos das mulheres daquele mundo pós-apocalíptico. E a atriz não apenar interpreta, mas submerge muito além do físico em que a beleza é o que menos conta. Justamente num ano em que os dois grandes filmes do gênero foram protagonizados por mulheres (contando com Star Wars: O Despertar da Força), os votantes do Oscar pisaram feio na bola ao ignorar esta performance que coroaria esta mudança de paradigma. – por Matheus Bonez