Ah, espionagem… algo tão comum no cinemão hollywoodiano. Nem por isso, com poucos filmes interessantes sobre o assunto. Aliás, classificar o gênero como ação, aventura ou thriller é muito pouco, pois os James Bond, Jason Bourne, Ethan Hunt e outros “famosos do meio” carregam tudo isso e muito mais em seus longas. Com a estreia de November Man: Um Espião Nunca Morre (inclusive estrelado pelo ex-007, Pierce Brosnan), a equipe do Papo de Cinema resolveu eleger o dez melhores filmes sobre espiões. Será que o seu está na lista? Confira!
Intriga Internacional (North by Northwest, 1959)
Que Alfred Hitchcock é o mestre do suspense, todos sabem. Porém, outra faceta do cineasta é a de diretor de filmes de espionagem, tema que o persegue desde a chamada Fase Inglesa, nos anos 1930, com Os 39 Degraus (1935). Se ao se mudar para Hollywood, Hitchcock teve um longa do gênero indicado ao Oscar (Correspondente Estrangeiro, 1940) e, anos depois, retomaria o assunto com Cary Grant e Ingrid Bergman no excepcional Interlúdio (1946), foi com Intriga Internacional que o mestre do suspense se tornaria também referência quando se refere à produções desse gênero. A trama do “homem errado, no lugar errado”, algo tão comum em suas histórias, toma proporções globais com o personagem de Grant, que precisa provar que não é um espião com o qual foi confundido. O destaque vai para duas sequências antológicas: a perseguição do avião em um campo de plantação e a correria do Monte Rushmore. Não estranhe se você lembrar de 007 e afins durante a sessão: ele foi base para muito do que se fala em agentes secretos até hoje. – por Matheus Bonez
Três Dias do Condor (Three Days of the tresCondor, 1975)
Lançado em 1975, pouco tempo depois de o caso Watergate ter estourado em terras norte-americanas (algo que deixou um forte clima de conspiração no ar), Três Dias do Condor traz Robert Redford interpretando o pesquisador da CIA Joseph Turner, que encontra toda a equipe de seu escritório assassinada e se vê em fuga para não ter o mesmo destino. Sem poder confiar em seus superiores, Joe encontra na civil Kathy Hale (Faye Dunaway) alguém que pode ajudá-lo a descobrir o que está acontecendo. Dirigido com elegância por Sydney Pollack, que envolve o público maravilhosamente bem no tom conspiratório da narrativa, o filme possui um ritmo ágil, com um roteiro que desenvolve um jogo de gato e rato no qual a tensão é contínua e, por vezes, de tirar o fôlego. Redford aparece bastante seguro como protagonista, fazendo dele uma figura vulnerável, com quem o espectador se identifica com facilidade. Admirável em tantos sentidos, este é um thriller acima da média em uma época conhecida por render grandes clássicos do cinema norte-americano. – por Thomás Boeira
Jogos Patrióticos (Patriot Games, 1992)
Ainda que tenha surgido na tela grande pela primeira vez no ótimo Caçada ao Outubro Vermelho (1990) – e lá sob o rosto de Alec Baldwin – o agente secreto Jack Ryan fincou de vez o pé em Hollywood com esse thriller lançado dois anos depois. Agora com Harrison – Blade Runner, Indiana Jones, Han Solo – Ford no papel, o espião criado por Tom Clancy deixou de ser secundário em sua própria trama para assumir o posto de protagonista, em uma história que, se por um lado não é tão envolvente quanto à do filme seguinte – Perigo Real e Imediato (1994), também com Ford – ao menos tem o diferencial de levar ao público um viés menos conhecido: seu lado familiar. Durante um passeio de férias pela Inglaterra, ele acaba se intrometendo em um atentado terrorista, o que o torna alvo dos criminosos, decididos a persegui-lo até mesmo nos Estados Unidos em busca de vingança. Com bons momentos de ação e uma atuação competente do nosso herói, o longa dirigido por Philip Noyce (o mesmo do recente, e frustrante, O Doador de Memórias, 2014) estabelece as bases para o desenvolvimento desta saga de modo muito mais eficiente do que o que foi visto nas duas últimas produções baseadas no personagem: A Soma de Todos os Medos (2002), com Ben Affleck, e Operação Sombra: Jack Ryan (2014), com Chris Pine. – por Robledo Milani
True Lies (1994)
James Cameron é o cara do “cinemão”. Quando se ouve falar de um filme seu, pode-se esperar um blockbuster tecnicamente bem realizado, icônico e empolgante. Se Steven Spielberg se consagrou como o senhor do gênero é porque chegou primeiro, já que o diretor de Avatar (2009) não deixa em nada a desejar no quesito diversão. Que é exatamente o que encontramos em True Lies, comédia de ação estrelada por Arnold Schwarzenegger e Jamie Lee Curtis, que traz o ator como um espião que deixa a esposa acreditar que está envolvida num esquema secreto, o que realmente acaba acontecendo. E de uma perseguição à cavalo que passa por um elevador e termina no terraço de um prédio até uma luta sobre um avião a jato, as sequências concebidas de modo absurdo entretém pelo inusitado. Além, claro, de contarem com o ótimo timing cômico de Schwarznegger e Curtis, que partilham de uma química inegável. O longa também destoa bastante dentro da carreira do próprio Cameron com sua descontração, ele que tem na ficção científica o seu chão; até mesmo Titanic (1997) tem muita seriedade. Algo que, ao contrário das muitas gargalhadas, não se encontra por aqui. – por Yuri Correa
Missão Impossível (Mission: Impossible, 1996)
Popular seriado dos anos 1960, Missão Impossível ganhou nova chance de alçar voos no cinema em 1996. Tom Cruise encarna o protagonista, Ethan Hunt, um agente secreto que é acusado injustamente de traição e precisa descobrir quem é o espião infiltrado na IMF. Com direção de Brian De Palma, este primeiro longa da franquia foi um grande sucesso, muito pelas cenas de ação mirabolantes, que viraram marca da série. No segundo filme, dirigido por John Woo, lançado em 2000, as cenas absurdas foram ainda maiores, mas o roteiro raso atrapalhou. Felizmente, a retomada das boas tramas em Missão Impossível 3 (2006), dirigido por J.J. Abrams, e, principalmente, em Missão Impossível: Protocolo Fantasma (2011), dirigido por Brad Bird, fez com que o agente Ethan Hunt tivesse vida longa nos cinemas. Cruise é o ator perfeito para o papel. Destemido, encara as cenas mais perigosas e entende que o público adora ver os malabarismos mais incoerentes na telona. Com a bilheteria graúda do episódio mais recente, uma quinta aventura está marcada para 2015, com direção de Christopher McQuarrie. – por Rodrigo de Oliveira
Jogo de Espiões (Spy Game, 2001)
Se filmes estrelados por investigadores secretos respondem por uma das tradições mais recorrentes em Hollywood, poucas são mais frequentes quanto as que apontam para dinâmicas de gato e rato, com um ótimo agente perseguindo – e sendo perseguido por –outro melhor ainda. Pois é exatamente isso que acontece neste divertido thriller comandado por Tony Scott e estrelado por dois ícones de diferentes gerações: Robert Redford e Brad Pitt. Quando o astro vencedor do Oscar por 12 Anos de Escravidão (2013) surgiu no cenário hollywoodiano, muito se falou a respeito de sua semelhança física com o ator e oscarizado diretor de Gente como a Gente (1980). Os dois haviam trabalhado juntos pela primeira vez no drama Nada é para Sempre (1992), mas sem dividirem a mesma tela – afinal, enquanto o mais jovem era o protagonista, o veterano assumia a posição de realizador. Dessa vez, no entanto, o deleite dos fãs foi realizado, tendo sido possível acompanhar ambos em cena numa história sobre profissionais da CIA que precisam retomar uma antiga parceria, deixando de lado a posição de mestre e discípulo para se assumirem como iguais. Tal qual procedia nos bastidores. – por Robledo Milani
007: Cassino Royale (Casino Royale, 2006)
Ok, James Bond não é novidade hoje em dia e já não era em 2006, quando 007: Cassino Royale foi lançado. Porém, foi a partir dos filmes estrelados por Daniel Craig que a série, iniciada ainda nos anos 1960, ganhou proporções dramáticas e, na medida do possível, mais realistas. Aqui o agente preferido de M (Judi Dench) ainda não tem permissão para matar, toma tiros, se machuca, se apaixona, é traído… Na verdade, tragédia é o que não falta em sua vida. Ao retomar o livro que originou o personagem, o diretor Martin Campbell deu sobrevida a uma série desgastada que sofria dos esculachos do público e da crítica havia anos. E não por culpa dos 007 antecessores. Sean Connery, Roger Moore e Pierce Brosnan, entre outros, ainda são muito queridos pelo público, mas os longas estrelados por eles sofriam de uma falta de criatividade e de uma fórmula arcaica e maniqueísta. Desde então, a série só aumentou sua bilheteria e sua qualidade. Agora Bond pode se servir de um martini batido, mas não mexido, sem se preocupar com o sucesso. – por Matheus Bonez
A Vida dos Outros (Das Leben der Anderen, 2006)
Dirigido por Florian Henckel von Donnersmarck, este longa vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro acompanha Gerd Wiesler (Ulrich Mühe), agente da Stasi – principal organização de polícia secreta e inteligência da República Democrática Alemã (RDA) – envolvido num trabalho de escutas clandestinas no apartamento de duas figuras da cena cultural da Berlim Oriental, o dramaturgo Georg Dreyman (Sebastian Koch) e a atriz Christa-Maria Sieland (Martina Gedeck). Ainda que Dreyman não conteste abertamente o governo, ou seja, mesmo não sendo, à princípio, ameaça ao regime em vigor, tem sua vida monitorada porque instâncias governamentais superiores acreditam que ele esconde algo. Ainda que Gerd, por sua vez, tente desempenhar o trabalho de espionagem da maneira mais fria e distanciada possível, lidando com o cotidiano alheio como se contabilizasse números, aos poucos o contato com o dia a dia do casal vai quebrando essa grossa camada de gelo que forma sua conduta profissional. A Vida dos Outros colide um regime de contornos paranoicos com os anseios particulares dos envolvidos, mostrando, assim, um choque violento entre coerção e liberdade individual. – por Marcelo Müller
O Ultimato Bourne (The Bourne Ultimatum, 2007)
A série Bourne certamente deu uma chacoalhada nos filmes de espionagem, em linhas gerais, por conta de suas tramas intrincadas, contadas de maneira urgente. E este longa em questão é um ótimo encerramento para a primeira trilogia do agente vivido por Matt Damon. Pouco a pouco vamos descobrindo quem é Jason Bourne, a quem serviu e com que propósito se tornou um agente especial da CIA. As cenas de ação são mais físicas, centradas em embates corpo-a-corpo, porém, sem que faltem as muito bem orquestradas perseguições automotivas, marca registrada da série. Mais uma vez o clima conspiratório é importante, a maneira como se expõe a teia de intrigas e os desdobramentos por trás das instituições interessadas no personagem (mais precisamente em sua morte). O Ultimato Bourne reaproveita alguns expedientes de seu antecessor imediato, A Supremacia Bourne (2004), e, mesmo sendo o menos ousado dos episódios – no que diz respeito ao conteúdo, por focar-se nas cenas de ação, uma vez que os conluios principais já haviam sido postos à mesa nos capítulos anteriores – é, provavelmente, o mais maduro nos quesitos montagem e direção, talvez o grande diferencial da saga. – por Marcelo Müller
O Espião que Sabia Demais (Tinker Tailor Soldier Spy, 2011)
Baseado nos escritos de John Le Carré, este foi o filme que marcou a primeira indicação ao Oscar do versátil Gary Oldman. Aqui, o ator tem a oportunidade de mostrar seu talento de forma sutil, construindo um personagem que vive praticamente nas sombras, uma exigência de seu trabalho secreto. Calado, compenetrado, totalmente low profile, George Smiley, é o anti-James Bond. Le Carré foi um espião de verdade, o que explica o fato dele saber muito bem como funcionam as agências de Inteligência do Reino Unido. Por isso, o longa-metragem soa tão real, nos apresentando passo a passo a investigação de Smiley à procura do traidor. Com um dream team britânico que conta ainda com Mark Strong, Toby Jones, Tom Hardy, John Hurt e Colin Firth, O Espião que Sabia Demais é um filme a ser degustado. Se alguém está esperando uma história de espionagem cheia de ação e tiroteios, este definitivamente não é o caso. No lugar, temos um jogo de xadrez muito bem executado. As reviravoltas não são muito surpreendentes, é verdade. Mas a graça não está no xeque-mate, e sim nos movimentos que fizeram o jogador chegar ao final em vantagem. Um filmaço. – por Rodrigo de Oliveira