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Em 1816, o francês Joseph Nicéphore Niepce conseguiu gravar uma imagem com ajuda de uma caixa de madeira numa folha de papel sensibilizado quimicamente. Nove anos depois, o mesmo Niepce conseguiu registrar, de forma definitiva, uma imagem sem que ela corresse o risco de sumir com o tempo. E ela dura até hoje. Mas os registros sobre a fotografia conseguem ser imprecisos na maior parte do tempo, seja o ano ou mês de criação. Aqui no Brasil, a maioria celebra o ano da técnica em agosto. Curiosa e coincidentemente, mês em que nasceu e morreu Henri Cartier-Bresson, um dos mais famosos fotógrafos da história e considerado pai do fotojornalismo. Fato é que fotografia e cinema tem uma relação intrínseca e a sétima arte já retratou inúmeras vezes fotógrafos da vida real e da ficção em obras primas. Então, que tal lembrar algumas das dez melhores pela equipe do Papo de Cinema? Confira a nossa seleção. Vá que seu título favorito esteja aqui.

 

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Janela Indiscreta (Rear Window, 1954)
Entre todas as experimentações de Alfred Hitchcock com os limites da linguagem cinematográfica, a mais bem-sucedida talvez seja este suspense realizado no período por muitos considerado o auge do diretor no domínio de suas habilidades. O desafio da vez era apresentar a trama sob um ponto de vista único, o do fotógrafo L.B. Jeffries (James Stewart), preso a uma cadeira de rodas em seu apartamento devido a uma perna quebrada. Entediado, ele passa o tempo observando os vizinhos pelas lentes de sua câmera, até que certo dia começa a desconfiar que um dos moradores do edifício em frente possa ter assassinado a esposa. Hitchcock estabelece a tensão superando limitações espaciais – a ambientação única – e direcionando o olhar do espectador através do voyeurismo do protagonista, do uso diegético do som e do modo inventivo como estabelece o universo da vizinhança vista através das janelas. Para manter o ritmo narrativo, entra em cena a namorada do fotógrafo, Lisa (Grace Kelly), mulher liberal e moderna que trava diálogos afiados e deliciosamente repletos de duplo sentido com Jeffries. Ajudado pela excelente química entre Kelly e Stewart, o cineasta entrega um exercício de gênero singular que se tornou referência. Mais uma obra-prima do mestre. – por Leonardo Ribeiro

 

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Blow-Up: Depois Daquele Beijo (Blowup, 1966)
O que é realidade e o que é apenas fruto da nossa imaginação? Ou, neste caso, da nossa visão? Em sua obra-prima, Michelangelo Antonioni utiliza a fotografia como simulacro, não necessariamente uma representação da verdade pelas lentes, como muitos gostam de afirmar. O diretor italiano, em seu primeiro filme falado em inglês, se baseou bem de leve na narrativa do conto do escritor argentino Julio Cortázar para retratar o fotógrafo de moda Thomas (David Hemmings). Ele é um dos fotógrafos fashion mais requisitados da Londres dos anos 1960, quando os editoriais de moda estão pipocando cada vez mais. Cheio de dinheiro e mulheres, ele poderia não querer nada mais, porém, vive um eterno vazio. O que começa a dar um pouco de sentido à sua vida é uma suspeita de assassinato. Tudo porque ele descobre em seus negativos de um ensaio um suposto indício do crime. Mas até que ponto isto é verdade ou apenas uma obsessão na qual o fotógrafo se afunda para fugir da própria rotina sem vida a qual está estabelecido há tanto tempo? Assim como a fotografia, a subjetividade das interpretação é a alma do filme de Antonioni e da própria narrativa a qual seus personagens estão inseridos. Um grande estudo sobre o olhar e, especialmente, sobre como o ser humano se comporta diante (ou por trás) das supostas lentes da verdade. – por Matheus Bonez

 

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Os Olhos de Laura Mars (The Eyes of Laura Mars, 1978)
Baseado em um roteiro do mestre John Carpenter, este filme estrelado por Faye Dunaway, no auge de sua carreira, trata da história de Laura, personagem título, fotógrafa reconhecida por editoriais de moda em que usa e abusa de imagens sensuais misturadas às cenas de assassinatos e mortes. Esse flerte com o perigo logo toma um viés inesperado e sobrenatural quando a protagonista começa a ter visões de seus colegas de trabalho assassinados. A trama ganha um tom macabro quando essas visões começam a se concretizar. Tommy Lee Jones interpreta um investigador decidido a ajudá-la nesse processo de dar algum significado às visões e, mais que isso, identificar o serial killer. Afinal, segundo suas visões, ela pode ser a próxima vítima. Mesmo com críticas medianas na época de seu lançamento, com o passar dos anos foi possível redescobrir este trabalho de Irvin Kershner e torná-lo um clássico cult dos anos 70. O destaque fica para o trabalho de fotografia com câmeras subjetivas e, ainda, nos ensaios de Laura inspirados em produções do fotógrafo Helmut Newton. – por Renato Cabral

 

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O Fotógrafo (1980)
A Pornochanchada é um capítulo controverso da cinematografia brasileira. Em meio a produções que abusavam de nudez e de insinuações sexuais, fazendo do erotismo seu principal, quando não o único, pilar de sustentação, alguns diretores conseguiram criar obras verdadeiramente importantes, ainda que não abdicassem da lascívia como forte tempero. E um dos filmes de destaque do período é este dirigido por Jean Garrett, protagonizado por um fotógrafo de modelos nuas que aspira a mudar seu trabalho para registrar janelas e outros elementos que não as curvas das mulheres. O obturador da câmera e o flash servem de maneira inteligente à estrutura da montagem, funcionando muitas vezes como marcação das transições. Além de trazer em seu encerramento uma subversão no que tange ao papel masculino – uma vez que não era comum a Pornochanchada abordar coisas como impotência e rejeição, pelo menos não numa chave dramática, já que na seara cômica tais coisas teriam um peso completamente diferente, pois diluído em piadas – este longa-metragem se destaca por observar uma dicotomia tão pertinente ao cinema quanto à fotografia em si, já que em ambos a arte e o comércio se instauram como faces distintas da mesma moeda. Assim, o relevo aqui se apresenta na forma e no conteúdo. – por Marcelo Müller

 

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As Pontes de Madison (The Bridges of Madison County, 1995)
Apesar de à época de seu lançamento ter soado como um projeto atípico para Clint Eastwood, esta adaptação do livro de Robert James Waller resultou em um de seus melhores trabalhos como diretor. A trama se concentra no intenso caso de apenas quatro dias vivido durante o verão de 1965 por Francesca Johnson (Meryl Streep), uma imigrante italiana do Iowa, e Robert Kincaid (Eastwood), um renomado fotógrafo da Revista National Geographic, que visitava a região para realizar uma série fotográfica sobre pontes. Filmando com seu estilo refinado e econômico, o ator e cineasta realiza um sublime mergulho nos meandros de um romance maduro protagonizado por um casal de meia-idade, algo raro na indústria hollywoodiana. Com diálogos que aliam simplicidade e riqueza de significados (sobre desejo e arrependimento), o longa consegue envolver o público por completo, mesmo que o desfecho da história seja conhecido desde o início – já que a trama é narrada em flashback a partir da morte de Francesca. Contando ainda com atuações magníficas – em especial de Streep, indicada ao Oscar pelo papel – Eastwood nos brinda com diversas sequências belíssimas, como a despedida de Robert e Francesca sob a chuva. Um dos momentos mais dolorosamente arrebatadores da história do cinema. – por Leonardo Ribeiro

 

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A Pele (Fur – An Imaginary Portrait of Diane Arbus, 2006)
Esta produção dirigida por Steven Shainberg traz um retrato da fotógrafa nova-iorquina Diane Arbus. E, longe de criar um filme que busca uma abordagem fiel de sua história, o diretor apenas se inspira na elogiada biografia escrita por Patricia Bosworth para criar uma trama digna de conto de fadas e fábulas. As referências aos contos de Alice no País das Maravilhas e A Bela e a Fera são uma constante e ajudam a refletir um pouco do trabalho quase fantasioso, para a época, da fotógrafa, no qual Arbus retratava tipos considerados à margem da sociedade e figuras estranhas: deficientes, prostitutas, anões, transsexuais, entre outros. Aqui, Shainberg coloca em cena Nicole Kidman como uma Arbus introspectiva e retraída, quase como uma princesa da Disney, que encontra na chegada de um misterioso vizinho, interpretado por Robert Downey Jr., a porta de entrada para um mundo onde o pudor e o preconceito não existem. O destaque de A Pele, tal qual o título original em inglês traz (An Imaginary Portrait of Diane Arbus), é a capacidade de ambientar um mundo imaginário a respeito deste personagem tão importante da fotografia mundial. Este distanciamento do verossímil, que muito foi criticado pelos entusiastas de Arbus e seus trabalhos, dá ao filme um tom que se diferencia do retrato usual em cinebiografia. Muito positivo no resultado geral, é este aspecto que constrói uma forma romântica de navegar e refletir pelas obras de Arbus. – por Renato Cabral

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Cidade de Deus (2002)
Fernando Meirelles e Kátia Lund abrem esse jovem clássico do cinema brasileiro com uma fuga: uma das galinhas que estava prestes a virar almoço consegue escapar e sai a toda velocidade pelas ruazinhas da Cidade de Deus, perseguida pela gangue que controla o tráfico na região. A ave leva a gangue até Buscapé, um jovem que sonha em ser fotógrafo e que se vê encurralado entre a gangue, a galinha e a polícia, que acabara de chegar. O rapaz com a câmera no pescoço pode até não ser exatamente o protagonista do filme (seria mais apropriado dizer que esse título cabe à comunidade como um todo), mas é através das suas lentes que o espectador conhece a vida pulsante da Cidade de Deus e as histórias daqueles que cresceram junto com a favela, causos que se entrelaçam e se esbarram ao longo da narrativa. Longe de ser apenas um interesse de Buscapé, a fotografia – e sua paixão por ela – é parte importantíssima da trama, além de ser responsável por resgatá-lo da realidade difícil daquele lugar. O menino encontra nela a oportunidade de quebrar um ciclo e, assim como a galinha, conseguir fugir do destino cruel que aguarda seus semelhantes. – por Marina Paulista

 

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Mil Vezes Boa Noite (Tusen Ganger God Natt, 2013)
Rebecca (Juliette Binoche) é uma fotógrafa especializada em situações de perigo, principalmente em regiões de conflito ao redor do mundo. Logo nas primeiras cenas, percebemos que ela está no Oriente Médio acompanhando o preparo de uma garota destinada a se tornar uma mulher-bomba. A repórter está lá com suas lentes registrando cada momento, o passo a passo de uma pessoa decidida a abdicar da própria vida e causar o fim de tantas outras em nome de uma crença maior. Mas nem sempre o lado profissional é forte o suficiente para se impor diante do emocional. A caminho do local onde o atentado deveria acontecer, ela se desespera e decide interferir na ação, antecipando a explosão ao mesmo tempo em que se arrisca na tentativa de salvar a vida de tantos outros. As consequências do incidente a levam a reconsiderar sua atividade e seu papel enquanto mulher e mãe de família. Ao voltar para casa, no interior da Inglaterra, encontra um marido distante (Nikolaj Coster-Waldau), sem conseguir estabelecer química com ela) e duas filhas que praticamente não a reconhecem. – por Robledo Milani

 

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A Fotografia Oculta de Vivian Maier (Finding Vivian Maier, 2014)
Vivian Maier teve a sina de Van Gogh, Franz Kafka e tantos outros artistas geniais (re)conhecidos apenas postumamente. Em vida, ela era excêntrica: uma babá de Chicago que carregava as crianças sob seus cuidados para jornadas pela cidade, algumas delas por bairros perigosos e desconhecidos. Suas incursões por cenários improváveis tinham uma única intenção: registrar cenas singulares. Em A Fotografia Oculta de Vivian Maier, documentário indicado ao Oscar dirigido por John Maloof e Charlie Siskel, revela-se a intrigante história de uma mulher que registrou mais de 100 mil fotografias – a maioria delas excepcionalmente belas – que seus poucos amigos e empregadores jamais haviam visto. Maloof, diretor e depoente, descobriu lotes inteiros de fotos nunca reveladas de Maier em um leilão; fascinado pelas imagens, decidiu documentar sua própria peregrinação para descobrir a pessoa que estava por trás daquelas fotografias. O que ele encontra é tão fascinante quanto triste: uma mulher que sofria de estágios iniciais de uma doença mental nunca diagnosticada e que jamais foi compreendida por aqueles ao seu redor. Um filme que merece a sessão e que honra este talento tão precioso de Vivian Maier. – por Conrado Heoli

 

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O Sal da Terra (Salt of the Earth, 2014)
Este longa-metragem indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2015 captura o trabalho do renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, um dos principais nomes da fotografia mundial. Produção entre Brasil, França e Itália, o longa é dirigido pelo cineasta alemão Wim Wenders e por Juliano Ribeiro Salgado, filho do retratado. Diferente de Revelando Sebastião Salgado (2014), de Betse de Paula, que se debruçava no homem por trás da câmera, O Sal da Terra se atém mais aos trabalhos desse incrível profissional. As imagens capturadas por ele em trabalhos tão interessantes, belos e, ao mesmo tempo, duros, são retratados de forma muito competente pela dupla de diretores, que não faz apenas um doc com “cabeças falantes”, costurando os trabalhos de Salgado com histórias de sua vivência, imortalizando ainda mais aquela figura. Além da indicação ao Oscar, o filme levou o prêmio especial na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes além do César (o Oscar francês) na categoria Melhor Documentário. Ao lado de Revelando Sebastião Salgado, é uma excelente forma de saber mais sobre não apenas o retratado, mas sobre fotografia como um todo. – por Rodrigo de Oliveira

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