Filmes sobre religião imperam o cinema desde seu início. Produções que retratam situações cotidianas de mosteiros, igrejas, conventos, além de outras que denunciam os bastidores mais pesados da Igreja Católica. No caso, a estreia da semana, o brasileiro Irmã Dulce, retrata a vida da personagem-título, religiosa conhecida como Anjo Bom da Bahia que dedicou sua vida a ajudar os necessitados. Por conta deste longa, a equipe do Papo de Cinema resolveu eleger as dez melhores produções sobre freiras e irmãs. Quer saber quais? Confira!
Os Sinos de Santa Maria (The Bells of St. Mary’s , 1945)
Os Sinos de Santa Maria é um daqueles clássicos bem no estilo que Hollywood gostava na época: leve, sem grandes pretensões… enfim, algo bem família. O tema religioso se centra em um duelo de ideias entre o padre O’Malley (Bing Crosby), recém chegado a uma paróquia e a irmã Benedict (Ingrid Bergman). O alvo principal das discussões é a reforma do prédio da escola onde os religiosos lecionam. Uma obra antiga que precisa urgente de investimento. O único que pode ajudá-los é o milionário Horace P. Bogardus (Henry Travers), que tem um coração de pedra. Apesar de parecer um fiapo de trama para os dias atuais, a produção é interessante, prende a atenção e conta com dois grandes intérpretes defendendo o seu personagem. Só por eles já vale a espiada. O filme recebeu oito indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, além de Melhor Ator e Melhor Atriz para a dupla de protagonistas. Uma curiosidade: Bing Crosby foi o primeiro ator a receber duas indicações ao Oscar pelo mesmo personagem. No anterior, havia levado a estatueta para casa também pelo papel de O’Malley em O Bom Pastor (1944), longa que também recebeu o prêmio de Melhor Filme. – por Matheus Bonez
Narciso Negro (Black Narcissus, 1947)
Baseado no livro de Rumer Godden, Narciso Negro é uma realização de uma das mais impressionantes duplas de cineastas, os chamados “arqueiros” Emeric Pressburger e Michael Powell. Focados sempre no retrato das mulheres e do feminino, o foco aqui são cinco freiras designadas para um convento que se localiza na beira de um precipício no Himalaia . O local, que já fora abandonado por uma outra irmandade, tem um efeito bizarro entre as irmãs. A Irmã Clodagh, por exemplo, começa a recordar do caso que tinha com uma jovem antes de entrar para o convento. Ao passo que outras irmãs começam a trilhar caminhos que poderão levá-las à loucura e o local à ruína. – por Renato Cabral
Uma Cruz à Beira do Abismo (The Nun’s Story, 1959)
Poucas religiosas foram tão marcantes na história do cinema hollywoodiano quanto Audrey Hepburn ao ser dirigida por Fred Zinnemann (cineasta vencedor de quatro Oscars, entre eles pelo clássico A Um Passo da Eternidade, 1953). Por este trabalho, tanto ele quanto ela foram lembrados pelo prêmio máximo do cinema mundial, sendo que o longa somou um total de oito indicações – inclusive, também, à Melhor Filme e Roteiro Adaptado. Ainda que tenha saído de mãos abanando, Audrey ganhou o Bafta (Inglaterra), o David (Itália) e o troféu dos críticos de Nova York, enquanto que a obra foi escolhida como a melhor do ano pelo National Board of Review. Um reconhecimento à altura do esforço da estrela, que com este projeto desejava mostrar ser mais do que somente um rostinho bonito e simpático de títulos como A Princesa e o Plebeu (1953) e Cinderela em Paris (1957). Aqui, ela retoma suas próprias origens ao aparecer na Bélgica como Gabrielle, uma garota rica que abandona sua família para viver como irmã Luke e trabalhar em comunidades carentes na África. Ao combinar uma incrível jornada de auto-aceitação com o drama da Segunda Guerra Mundial, este é um filme indicado tanto aos admiradores da atriz como àqueles que buscam no tema religioso um universo de paz e respeito universal. – por Robledo Milani
Madre Joana dos Anjos (Matka Joanna od Aniolów, 1961)
O polonês Madre Joana dos Anjos, dirigido por Jerzy Kawalerowicz, retoma um caso histórico ocorrido no Convento de Loudun, na França, no século XVII, notório por constituir-se de uma série de eventos ligados ao plano sobrenatural, por isso mesmo, a priori, perturbadores. A madre superiora que empresta seu nome ao filme é vítima de possessão demoníaca, assim como outras de suas colegas religiosas, elas que habitam uma paisagem cuidadosamente arquitetada para amplificar a sensação de estarmos – junto delas – num terreno meio inóspito que não nos permite fincar os dois pés na compreensão total e irrestrita dos fenômenos. Exorcistas vão ao encontro das possuídas que sofrem um verdadeiro martírio, mas a bem da verdade o elemento principal da narrativa é o desejo. Madre Joana dos Anjos venceu o grande prêmio do júri no Festival de Cannes de 1961. O exorcismo adquire ainda mais potência como ritual por conta das hospedeiras do demônio serem mulheres que abdicaram de sua dimensão carnal para doar-se a Deus. – por Marcelo Müller
A Noviça Rebelde (The Sound of Music, 1965)
Vencedor de cinco Oscars, incluindo melhor filme, e indicado a outros cinco, A Noviça Rebelde é um dos musicais mais populares da história do cinema. Traz como protagonista Maria (Julie Andrews), que acaba indo trabalhar na mansão do Capitão Von Trapp (o jovem Christopher Plummer), onde é incumbida de cuidar de seus filhos, antes considerados indomáveis por qualquer babá. Claramente adaptado para os cinemas, da peça homônima, na onda de Mary Poppins (1964), também estrelando Andrews e que fora lançado apenas um ano antes, o filme é, até hoje, bastante eficiente em não fazer notar suas quase três horas de duração, desenvolvendo-se em uma trama ágil, que da diversão de se desafiar o Capitão e suas rígidas regras, passa para um romance belíssimo onde logo o inimigo torna-se outro, e termina em um clímax que usa da própria música como elemento. Ah sim, tudo isso permeado por canções que grudam mais que Let it Go. – por Yuri Correa
Maus Hábitos (Entre Tinieblas, 1983)
A jovem Yolanda (Cristina S. Pascual) vive uma rotina de excessos. Cantora de bolero, passa do ponto principalmente no consumo de drogas. Contudo, depois de assistir o namorado morrer de overdose, decide se purificar, se redimir dos pecados. Vai, então, para o Convento das Redentoras Humilhadas, justamente buscar sossego e um pouco de paz. Mas esse lar de religiosas é uma criação do iconoclasta Pedro Almodóvar, cenário principal de Maus Hábitos, então dá pra imaginar que a “pecadora” não vai encontrar apenas conforto na companhia das freiras com nomes estranhos. Almodóvar carrega na mistura entre comicidade e crítica. A madre superiora é viciada em cocaína; as outras religiosas – Irmã Esterco, Irmã Rata de Esgoto, Irmã Víbora, Irmã Perdida e Irmã Amaldiçoada – não são nada ortodoxas; e as meninas que, assim como Yolanda, num primeiro momento buscam salvação, na verdade não querem ser salvas. As freiras de Almodóvar estão entre as mais engraçadas que o cinema já mostrou, mas essa característica não serve (unicamente) ao propósito de entreter por meio da distorção de uma imagem clássica, e sim está na base de uma estrutura um pouco mais complexa, criada pelo cineasta espanhol para implodir as estruturas religiosas que teimam em fazer de todos nós pecadores em potencial. Afinal, quanto mais clientes, melhor. – por Marcelo Müller
Mudança de Hábito (Sister Act, 1992)
Depois de ter roubado a cena em Ghost: Do Outro Lado da Vida (1990), levando um Oscar como atriz coadjuvante, Whoopi Goldberg utilizou seus talentos cômicos para protagonizar um dos filmes mais divertidos do início dos anos 1990: Mudança de Hábito. No longa, dirigido por Emile Ardolino (do clássico da Sessão da Tarde Dirty Dancing, 1987), Whoopi é Deloris Van Cartier, uma corista de Las Vegas que acaba testemunhando um crime e se vê obrigada a passar um tempo em um convento como forma de proteção. As confusões começam quando ela descobre que precisa se passar por freira, inclusive tomando as rédeas do coral do convento. Além de ter um ótimo timing cômico, Whoopi se revela uma cantora de mão cheia, cativando com as canções executadas no filme. O elenco de apoio, com destaque para Maggie Smith, Harvey Keitel e Kathy Najimy, defendem bem seus personagens. O filme acabou ganhando uma continuação, em 1993, sem o brilho do original, mas com alguns bons momentos musicais. – por Rodrigo de Oliveira
Em Nome de Deus (The Magdalene Sisters, 2002)
Filme-denúncia dos mais pesados sobre a Igreja Católica, Em Nome de Deus é uma bela produção irlandesa sobre a rigidez e autoristarismo. No convento das Irmãs Magdalenas, meninas chamadas de promíscuas são enviadas para reabilitação. A história centra-se em três novatas: a violentada pelo primo, a mãe solteira e a que dava em cima dos garotos do orfanato. Ao lado de outras garotas, elas são submetidas a situações revoltantes que envolvem trabalhos braçais pesados e punições físicas e humilhação pública. As freiras, nem um pouco boazinhas como a imagem geral, parecem não ter um pingo de solidariedade, além de serem extremamente machistas. Um reflexo da própria Igreja Católica no seu grau mais elevado. Um baita soco no estômago. – por Matheus Bonez
Dúvida (Doubt, 2008)
Escrito e dirigido por John Patrick Shanley a partir de sua peça ganhadora do Pulitzer, Dúvida se passa em 1964 e acompanha o tenso embate entre o carismático padre Brendan Flynn (o saudoso Philip Seymour Hoffman) e a rígida irmã Aloysius Beauvier (a fantástica Meryl Streep), que o acusa de ter uma relação muito mais íntima do que aparenta com um aluno de sua escola. Mesmo que não haja provas disso, a irmã passa a tentar destruir o padre com todas as suas forças, enquanto ele busca se defender, ainda que a dúvida permaneça na cabeça do espectador. Ao longo do filme, é possível ver que a narrativa às vezes parece ser conduzida por Shanley de maneira um tanto teatral, algo que acaba servindo muito bem para a história e ainda cria uma atmosfera interessante em volta dos personagens. Isso se deve até ao brilhante roteiro, repleto de diálogos maravilhosos e que ganham ainda mais força graças ao excepcional elenco. Se Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman brilham, Amy Adams e Viola Davis (esta última aparece em apenas duas cenas) não ficam muito atrás, e não à toa todos foram indicados ao Oscar por seus trabalhos memoráveis aqui. Tudo isso fez de Dúvida um dos melhores filmes de 2008. – por Thomás Boeira
Philomena (2014)
Talvez uma das produções mais conhecidas sobre a Igreja Católica atualmente, Philomena é baseado em uma história real – e das mais revoltantes. A personagem-título (interpretada de forma magistral por Judi Dench, indicada ao Oscar) foi enviada grávida ao convento em 1952. Ela é obrigada a dar o filho para adoção. Décadas depois, ela ainda lembra do fato e, com a ajuda da filha, consegue que o jornalista Martin Sixsmith (Steve Coogan) auxilie na sua busca, descobrindo fatos asquerosos sobre o ocorrido e que envolvem as irmãs da congregação. Dirigido por Stephen Frears, Philomena pode parecer convencional em sua forma, mas trata de um tema tão pesado que é impossível não ficar com o estômago embrulhado com a verdade apurada pelo jornalista. Ao mesmo tempo, é um retrato sensível de uma mãe que só queria estar ao lado do filho, o que atinge o coração do espectador mais durão. Recebeu quatro (merecidas) indicações ao Oscar. – por Matheus Bonez
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