Batizar animais de estimação é uma arte. Criativos que só, os irmãos Joel e Ethan Coen optaram por dar um nome imponente e significativo para o gato do protagonista de seu décimo oitavo longa-metragem. O felino se faz presente em cena com uma função que vai além do truque de causar ternura no espectador. Ulisses é confidente, presença constante em todos os momentos da insólita trajetória do músico que esbanja talento na mesma proporção em que não consegue pagar as contas em dia. Vivendo de favor na casa de amigos e depois de cidade em cidade ao lado do parceiro musical Roland, interpretado por John Goodman, mesmo que ele se mostre inquieto e pouco preocupado com o dia seguinte, o protagonista não larga o animalzinho. A ótima trilha sonora, composta por T-Bone Burnett, a caminhada em ritmo de odisseia e, claro, o gato de pelagem amarela são os elementos que prendem o espectador numa trama nada fácil, em que a vida não poupa Llewyn (Oscar Isaac) de socos e pontapés, seja no sentido real ou figurado, como fica claro na cena de abertura do filme. Se houve quem procurasse um significado mais profundo e até filosófico para a presença de Ulisses, basta lembrar que nem tudo precisa ser explicado com detalhes na obra dos Coen. Um gato pode ser apenas um gato. – por Bianca Zasso
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