Hoje em dia, todos parecem conhecer ou já ter ouvido falar de um hacker próximo ou, ao menos, um aspirante. Invadir computadores alheios, quebrar protocolos, alterar as regras do sistema são atividades corriqueiras e que volta e meia viram notícia. Logo, há uma infinidade de histórias do gênero para se contar e o cinema não ficou atrás no tema. São diversos filmes sobre o assunto e, com a estreia de O Teorema Zero (2013) nos cinemas brasileiros, a equipe do Papo de Cinema acionou sua memória cibernética para lembrar os dez filmes mais interessantes sobre hackers já lançados. Confira!
Jogos de Guerra (War Games, 1983)
Jogos de Guerra pode ser chamado de um filme muito à frente de seu tempo. Em 1983, quando computadores ainda eram desacreditados pelo público em geral e estavam longe (ao menos, visivelmente) do poder que teriam na era da globalização, o diretor John Badham contou esta história estrelada por um jovem Matthew Broderick. No longa, o ator de Curtindo a Vida Adoidado (1986) interpreta David, um adolescente obcecado por jogos de computador que consegue acessar o sistema da escola e muda suas notas. Como um bom hacker em busca de desafios, o próximo passo é invadir ciberneticamente o Departamento de Defesa dos EUA na época em que o governo está informatizando o sistema de lançamento de mísseis – a um passo da Terceira Guerra Mundial. A produção foi indicada aos prêmios de Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia e Melhor Som no Oscar da época e, há algum tempo, depois dos remakes de RoboCop (2014) e Carrie: A Estranha (2013), a MGM vem tentando tirar do papel uma nova versão do filme, mas ainda sem novidades. – por Matheus Bonez
Hackers (1995)
Em 1995, os computadores estavam por aí, mas não tão acessíveis. A popularização dos PCs teve seu início, a internet engatinhava e o conceito de hackers começou a ser estabelecido ao grande público. Foi nesta onda irreversível que o diretor Iain Softley resolveu surfar, mostrando aos espectadores uma trama fantasiosa – por vezes bastante ingênua – de piratas do computador que podiam fazer praticamente qualquer coisa através dos computadores. Assim nasceu Hackers, longa-metragem protagonizado pelos jovens talentos Johnny Lee Miller e Angelina Jolie. A trama coloca estes gênios incompreendidos disputando jogos virtuais, tentando decidir quem é o melhor hacker do pedaço. Quando o perigoso Eugene Belford (Fisher Stevens) descobre que seus planos de enriquecer indevidamente poderão ser atrapalhados pela turma de Zero Cool (Miller), o vilão chantageia o rapaz a trabalhar a seu favor. Os efeitos visuais envelheceram mal e chega a ser engraçado observar os gráficos lisérgicos criados para representar o que “acontece” dentro do computador enquanto está sendo manuseado. As atuações exageradas colocam Hackers mais próximo de um desenho animado do que de uma produção séria. Ainda bem. Divertimento descompromissado é o que Iain Softley propõe e consegue entregar com seu thriller à frente do seu tempo. – por Rodrigo de Oliveira
A Rede (The Net, 1995)
Longe de ser um filme cerebral, A Rede foi lançado em 1995 e servia para um objetivo duplo: se utilizar de Sandra Bullock, a nova queridinha da América que despontava e, ainda, explorar as temáticas cibernética e tecnologia, que começavam a dar seus grandes passos para se tornarem disponíveis para a grande população a custos menores. Logo, aquela sua vizinha solitária, personificada por Bullock, poderia ser ou se tornar facilmente uma hacker. A atriz interpreta Angela Bennett, participante de uma rede de engenheiros de software pelo ciberespaço. Prestes a entrar em férias após anos de trabalho árduo à frente do computador, ela se vê em uma teia de conspirações e espionagem. A Rede não foi muito bem recebido por alguns críticos, porém se tornou um sucesso instantâneo de espectadores, elevando ainda mais a figura de Bullock, que cativa qualquer espectador. – por Renato Cabral
Matrix (1999)
Neo (Keanu Reaves) é, em principio, escolhido parte da resistência à dominação das máquinas por ser um grande hacker e transitar com mais desenvoltura que os demais no mundo virtual. Mal sabe ele que esse dom lhe transforma numa espécie de messias. Em Matrix temos o confronto de dois mundos, o real e tangível, no qual humanos ou se escondem e lutam como podem ou apenas servem de energia vital aos conquistadores, e o virtual, a ilusão. Neo consegue subverter as regras do virtual, alterando a programação como se dela fosse senhor, deformando as diretrizes binárias que moldam aquilo que se apresenta aos sentidos de todos como sendo verdade. Então este hacker, destacado por conseguir invasões em menos tempo e apagar de maneira mais eficiente os próprios rastros, vira “O Escolhido”, a principal esperança de libertação da raça humana. Talvez nenhum outro hacker do cinema tenha recebido (ou sido “obrigado” a) missão tão importante e decisiva. – por Marcelo Müller
A Senha: Swordfish (Swordfish, 2001)
Mais um competente passatempo do que um filme que merecesse ser levado à sério, A Senha: Swordfish é o típico projeto de ocasião, que possui tantos interesses envolvidos por trás de sua realização que nos afastam irremediavelmente daquilo que é exibido na ficção. Afinal, temos como protagonista um jovem Hugh Jackman querendo provar seu valor como astro de cinema, um veterano John Travolta buscando resgatar seu status e popularidade e uma bela e sexy Halle Berry ainda antes do merecido Oscar que conquistaria no ano seguinte. Neste contexto, uma trama que combinasse espionagem industrial, investigação tecnológica e hackers capazes de proezas inimagináveis parecia a mais apropriada – lembrem-se, estamos na virada do século, logo após o temido “bug do milênio” e às vésperas de um futuro em que a modernidade anda de mãos dadas com os confortos cibernéticos. Com uma sequência de abertura de grande impacto – que já prende o espectador sem chances de retorno – e um enredo que cumpre exatamente o que promete, a aventura dirigida por Dominic Sena faturou mais de US$ 100 milhões nas bilheterias de todo o mundo e hoje se apresenta como um artigo de curiosidade – envelhecido, porém dono de um inegável valor pop. – por Robledo Milani
Minority Report: A Nova Lei (Minority Report, 2002)
Estamos em Washington, ano 2054. Mas Minority Report nos leva ainda mais longe. O filme de Steven Spielberg reconstrói a engenharia futurista da história de Philip K. Dick, em que o domínio da tecnologia – tara maior de qualquer ficção científica – é superado pelo domínio da mente e do próprio futuro. Aqui, o policial John Anderton (Tom Cruise) é o líder de uma equipe cujo trabalho deixa de ser resolver crimes para antecipá-los. Pela visão dos Pre-cogs, nada menos do que um grupo futurista de hackers, sabe-se tudo. O mundo reconfigurado é um desejo humano para o qual não mediremos forçar na sua realização, ainda que o preço – ético – seja prender um assassino-inocente ou um inocente-assassino. O futuro está condenado ao presente, como no pior dos pesadelos. O problema torna-se mais delicado quando Anderton, símbolo máximo da justiça do futuro, se vê cometendo um crime dentro de 36 horas. Preso entre a culpa antecipatória e a inocência desconfiada, o protagonista tem de provar inocência, o que significa apontar falhas na máquina ou desvios no futuro, enquanto é procurado pelo esquadrão que coordenava. – por Willian Silveira
Tron: O Legado (TRON: Legacy, 2010)
Quase vinte anos após o longa original – Tron, lançado em 1982 – a saga visual criada por Steven Lisberger e Bonnie MacBird voltou às telas num formato revigorado e ainda mais radical. Se a proposta do primeiro filme, também estrelado por um competente Jeff Bridges, era aproximar ainda mais o homem do universo cibernético representado pela evolução constante dos computadores, o novo longa ganhou, através da direção de Joseph Kosinski – que em seguida dirigiria o ainda mais refinado Oblivion (2013) – levou não só o protagonista para esse ‘admirável mundo novo’, mas também carregou consigo uma gama inteira de espectadores sedentos por alguma forma de deslumbre eletrônico. Se em última instância o que temos aqui é uma grande aventura, em sua gênese está uma das primeiras histórias a propor uma união definitiva entre os humanos e as máquinas, entre a inteligência emocional e aquela provida artificialmente. Seguindo os passos de 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) e muitos anos antes do revolucionário Matrix (1999), Tron já indicava um futuro que apenas em Tron: O Legado as possibilidades tecnológicas conseguiram realizar. – por Robledo Milani
A Rede Social (The Social Network, 2010)
Inteligente, incisivo, frio e metódico. A princípio, não haveria diretor melhor para conduzir a história de Mark Zuckerberg enquanto personagem do que David Fincher, que sempre demonstra estas mesmas características de personalidade em sua direção. Mergulhado em uma fotografia pálida, A Rede Social investe em uma fantástica e complexa montagem – merecidamente reconhecida com o Oscar na categoria – para remontar a amizade do protagonista vivido por Jesse Eisenberg com o brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield) e o desenvolvimento da ideia por trás do Facebook. Paralelamente acompanhamos duas linhas temporais no futuro, cada uma dedicada a explorar um dos processos judiciais sofridos por Zuckerberg em decorrência da criação do site. Isso enquanto mistura termos e estratégias de divulgação e ampliação do projeto sem jamais soar confuso ao espectador. A execução de Fincher é de precisão matemática, tal qual a de Eisenberg, admirável em sua performance, tal qual seus colegas de cena. Intensamente envolvente, apesar da frieza que impera na tonalidade e de não retratar nenhum fato inusitado, o longa-metragem é também estranhamente humano e singularmente pessoal, o que é de se espantar quando se repara que ainda é um filme sobre a origem do Facebook. – por Yuri Correa
Millennium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres (The Girl with the Dragon Tattoo, 2011)
Os livros da trilogia Millennium, escritos pelo sueco Stieg Larsson, ganharam suas próprias adaptações cinematográficas em seu país de origem, mas não são filmes particularmente satisfatórios. Mesmo assim eles fizeram sucesso, e por isso não foi surpresa ver que o primeiro exemplar ganharia uma versão em Hollywood. No entanto, o excepcional David Fincher conseguiu realizar em Millennium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres uma refilmagem que é infinitamente melhor do que o original, trazendo uma narrativa bem mais envolvente e construída com grande inteligência, além de contar com personagens muito interessantes, que nos guiam ao longo da investigação envolvendo o desaparecimento de uma jovem, que aconteceu na década de 1960. Se Daniel Craig aparece muito bem no papel de Mikael Blomkvist, dando até certa vulnerabilidade ao personagem, Rooney Mara rouba as atenções como a fascinante hacker Lisbeth Salander, surgindo em cena com uma força admirável e mostrando plena segurança com relação aos atos e o modo de ser da garota (sua indicação ao Oscar e o sucesso que vem fazendo desde então em outras produções são mais do que merecidos). Um grande filme, sem dúvida. – por Thomás Boeira
O Quinto Poder (The Fifth Estate, 2013)
Impossível fazer um top sobre hackers e não mencionar o mais falado dos últimos tempos: Julian Assange, criador do Wikileaks. O Quinto Poder chegou aos cinemas dos Estados Unidos com grande polêmica em torno de sua produção. Isso porque o seu retratado gritou para todos que queriam ouvir que não endossava de forma alguma a dramatização realizada por Bill Condon da criação do Wikileaks, baseada nos livros de Daniel Domscheit-Berg (co-criador do site) e dos jornalistas do The Guardian David Leigh e Luke Harding. A gritaria deu certo, já que o filme foi um fracasso de bilheteria. Poucos viram a ótima performance de Benedict Cumberbatch como Julian Assange. O hacker é retratado como uma pessoa obsessiva e implacável, que tem objetivos muito claros na sua luta a favor da liberação total e irrestrita de informações. O que não fica claro, no entanto, é se essa proliferação de material secreto é feita com o público em mente ou se é basicamente uma forma de irritar as autoridades, chamar a atenção. Existem bons momentos e ótimas performances do elenco principal, mas a falta de convicção de Bill Condon a respeito do que deveria mostrar acaba atrapalhando o resultado final. A importância do retratado vale uma olhada, de qualquer forma. – por Rodrigo de Oliveira
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