Dia 31 de outubro é conhecido por muitos como Halloween, apesar de aqui no Brasil a data ser oficialmente o Dia das Bruxas. A tradição norte-americana de fantasias de bruxas, fantasmas, vampiros, monstros e afins com o acréscimo de gostosuras ou travessuras já ultrapassou fronteiras e há muito tempo virou moda também em terras tupiniquins. Geralmente é nesta época do ano também que os cinemas atacam os espectadores com vários filmes de terror e suspense, como a estreia da semana, O Último Caçador de Bruxas, estrelada por Vin Diesel. Então, que tal darmos uma espiada na nossa lista com dez filmes que se passam na época do Halloween? De terror e suspense de raiz até comédias debochadas e produções juvenis, tem para todos os gostos. Confira!
Halloween: A Noite do Terror (Halloween, 1978)
Em uma noite de Halloween em 1963, o garoto Michael Myers apunhalou sua irmã até a morte. Depois de 15 anos do ocorrido e de ficar internado em uma instituição psiquiátrica, Myers foge do hospício decidido a dar segmento a sua série de assassinatos na pequena cidade de Haddonfield. Dirigido pelo mestre John Carpenter, Halloween criou a matriz para o subgênero cinematográfico chamado slasher (esquartejador) e catapultou uma até então desconhecida Jamie Lee Curtis como uma nova rainha dos gritos em uma história que hoje, em uma reflexão mais profunda, traz em seu vilão de caminhar lento e traços misóginos, uma ideia de necessidade de pureza às mulheres ao passo que vivenciavam a liberdade sexual nos anos 70. Realizado com meros 300 mil dólares e arrecadando quase $50 milhões de dólares na época, hoje, se valendo da inflação, Halloween teria faturado em torno de $150 milhões, um feito histórico para uma produção independente que marcou a história do cinema e influênciou inúmeros filmes dali em diante. – por Renato Cabral
E.T.: O Extraterrestre (E.T., 1982)
Mais importante do que as fantasias ou os doces e travessuras, o dia das bruxas é baseado em um espírito de saborosa imaginação. E para isso, não há hora mais fértil do que a noite, quando todos supostamente estão dormindo e as regras que regem a dia a dia parecem estar de retiro junto com o sol. Não é por acaso então que E.T. vai aterrissar na Terra durante a madrugada, que é quando Eliot vai ter seu primeiro contato indireto com ele também, e que é quando vai se dar a mais famosa cena do filme, com ambos em uma bicicleta passando na frente da Lua. Sabendo disso, não é à toa que Steven Spielberg e Melissa Mathison – diretor e roteirista – vão ambientar boa parte da trama durante o Halloween, evocando com precisão a atmosfera fantasiosa e instigante da data através de sua própria história. Afinal, E.T. é típico conto noturno, com uma criança amedrontada encontrando um amigo em uma criatura estranha, que é caçada por autoridades – as vezes armadas, outras não, depende da versão que você assistir. Talvez não tão lembrado por isso, mas o Dia das Bruxas sempre vai ter um representante admirável na história de Eliot e do pequeno Extra Terrestre. – por Yuri Correa
A Dama de Branco (Lady in White, 1988)
Produções de ação e suspense estreladas por crianças pipocavam aos montes na década de 1980. Com ar leve, ainda que com tramas de essência brutal, os filmes eram dirigidos para todas as idades por assustar na medida, com pouco sangue e situações que poderiam ser resolvidas pelos pequenos na telona. Neste mar de longas do gênero, esta aqui se sobressai por tratar de forma delicada o tema da pedofilia. No Halloween de 1962, Frankie acaba trancado no vestiário da escola por colegas e, sem querer, testemunha o assassinato de uma garota. Algo que aconteceu muitos anos antes. Com isso ele descobre a lenda urbana da pequena cidade onde vive, que há tempos havia sofrido com ataques de um serial killer especialista em matar crianças. E o que tem a ver a dama de branco do título? Suas aparições apenas denotam as ligações com o caso. Um mistério a ser resolvido de forma competente em um filme que não compromete em suas intenções. – por Matheus Bonez
A Noite dos Demônios (Night of the Demons, 1988)
Não poderia faltar um terror bem trash na nossa lista. Angela e Suzanne, melhores amigas, resolvem fazer uma festa numa antiga funerária chamada Hull House. O antigo dono era um psicótico obcecado por cadáveres e, segundo a lenda urbana, um dos membros da família teve um surto, causando o fim de todos. O assassino nunca foi encontrado. O local assustador aliado à história perversa surge como oportunidade perfeita para o Halloween de todos. Mas uma brincadeira espírita não termina bem e o demônio morador da região fica livre, com Suzanne possuída. Agora o grupo de dez jovens que se encontra ali precisa escapar, já que a única maneira de fugir do demônio é através da água corrente. Tarefa que se torna quase impossível, já que o riacho subterrâneo do terreno onde fica a casa funerária está protegido por muros levantados pelo mal em pessoa. Com muitos efeitos toscos, um elenco nada memorável em suas atuações e aquele sangue que mais parece catchup, além de maquiagens horrendas, o filme ganha pontos justamente pela falta de pretensão e imenso entretenimento que proporciona. – por Matheus Bonez
Abracadabra (Hocus Pocus, 1993)
Existe uma maldição à solta em Salém. Em 1693, três irmãs condenadas como bruxas são enforcadas em praça pública, mas prometem voltar. Para tanto, uma pessoa virgem deveria ascender uma vela de chama negra na casa das feiticeiras. Em 300 anos, isso nunca havia acontecido. Até Max (Omri Katz), sua irmã Dani (Thora Birch) e a amiga pretendente Allison (Vinessa Shaw) conseguirem o feito, meio sem querer, durante o Halloween. Agora, as temíveis Winnie (Bette Midler), Mary (Kathy Najimy) e Sarah (Sarah Jessica Parker) estão de volta e prometem atormentar sua antiga cidade. O problema é que, em 1993, as coisas não são mais como eram antigamente. Divertida produção Disney dirigida por Kenny Ortega, o longa-metragem é um belo exemplo de como construir uma trama com tons de suspense, comédia e terror para a criançada, sem trata-las de forma infantilóide. As bruxas, mesmo que sejam engraçadas, têm sua malevolosidade e servem como ótimas vilãs para os adolescentes protagonistas. Destaque para a hilária performance de Bette Midler – sua interpretação de I Put a Spell on You é ótima, a bela direção de arte, figurinos e maquiagem (o zumbi é fantástico) e os bons efeitos visuais, que deram vida ao simpático gato falante Binx. – por Rodrigo de Oliveira
O Estranho Mundo de Jack (The Nightmare Before Christmas, 1993)
Fruto de mais uma das homenagens que Tim Burton gostava de fazer aos filmes de horror, O Estranho Mundo de Jack conta com uma inspirada direção de Henry Selick, que mais tarde, executaria também James e O Pêssego Gigante (1996), ambos com claras alusões ao filme original de Burton, Frankweenie (1984) e outro de seus curtas, Vincent. Jack Skellington é um rapaz que vive na cidade do Halloween, cercado de criaturas fantásticas que fazem lembrar os filmes de monstros clássicos da Universal. Cansado da monotonia em que está inserido, Jack subverte o ideal do meio em que vive e perverte o status quo, ao tentar tornar tradicional em seu lugarejo a comemoração do natal, através do rapto do Papai Noel. Apesar da temática infantil, há uma forte carga de debate em relação ao conservadorismo e contravenção, em uma das animações menos maniqueístas do cinema estadunidense geral, sem falar que as animações em stop motion beiram a excelência. – por Filipe Pereira
Donnie Darko (2001)
Donnie pergunta a Frank: “Por que você usa essa fantasia idiota de coelho?”. Frank responde: “Por que você usa essa fantasia idiota de humano?”. Donnie Darko, jovem que escapa por pouco da morte certa, quando uma turbina de avião atinge em cheio seu quarto, vive cercado de mascarados e fantasiados. Ao contrário dele, considerado esquisito, todos interpretam papeis mais ou menos definidos, escondendo sob a fina camada de civilidade alguns comportamentos reprimidos pelas necessidades sociais. Donnie não. Nada mais apropriado, então, que uma das cenas importantes e reveladoras do filme aconteça numa festa de Halloween, em que o protagonista aparece vestido de esqueleto, ou seja, do morto que escapou de virar por não estar em casa no momento e na hora errados. Ali, em meio aos colegas que festejam o Dia das Bruxas, ele presencia a estranha força emanando das pessoas, espécie de ectoplasma que antecipa passos, ou seja, uma pequena fenda no tempo que permite a um visionário, como o personagem de Jake Gyllenhaal, o contato, mesmo momentâneo, com o futuro. Ali ele conhece de fato Frank, coelho gigante que prenuncia o fim do mundo, além de ver algumas peças se encaixarem num enigma até então insolúvel. – por Marcelo Müller
A Casa Monstro (Monster House, 2006)
Muitos são os filmes de terror sobre casas mal-assombradas. Porém, se na grande maioria o que vemos são espíritos do mal – ou até mesmo do bem – que se ocupam de uma residência abandonada (ou não) para fazerem suas diabruras, nessa animação indicada ao Oscar a manifestação sobrenatural não vem de nenhum elemento externo, e sim da própria construção, que se revela uma entidade de vontades próprias – e nada acolhedoras. A jornada de três amigos que buscam descobrir o mistério por trás deste chalé aparentemente em ruínas começa justamente na véspera do Halloween, momento ideal para os garotos invadirem o lugar em busca de respostas – e muitos sustos! Uma babá mais preocupada com o namorado do que com o menino que deveria cuidar, dois policiais atrapalhados e um senhor cheio de segredos estarão no caminho, todos envolvidos nessa aventura que aponta para uma revelação possível de ser vislumbrada somente na noite do Dia das Bruxas! Parece um tanto assustador demais, mas o diretor Gil Kenan – que há pouco retomou o tema na malfadada refilmagem de Poltergeist: O Fenômeno (2015) – demonstra habilidade suficiente para fazer de sua estreia um longa indicado às crianças de todas as idades, dos oito aos oitenta. – por Robledo Milani
Contos do Dia das Bruxas (Trick ‘r Treat, 2007)
A maioria dos filmes produzidos em Hollywood, como a nossa mostragem indica, não tem como tema principal o Halloween, e sim eventos que se passam na época. Pois este longa dirigido por Michael Dougherty vai no âmago da data e apresenta várias histórias entrelaçadas a partir da narração de uma estranha criatura. Entre lendas urbanas, lobisomens, vampiros e bruxaria, há um serial killer que todos desconfiam ser o vizinho, uma brincadeira de crianças que termina mal, um ritual de iniciação com uma virgem e um idoso que precisa resolver um grande mistério do passado. Tendo no elenco nomes conhecidos como Anna Paquin e Brian Cox, o filme diverte não sendo horripilante, com o humor negro em alta sem cair no pastelão. Não há cenas super violentas e nem é a proposta. A questão é um bom entretenimento, evocando o espírito de descontração do Halloween que todos conhecem, com uma leve tendência para o macabro. – por Matheus Bonez
The Guest (2014)
Dirigido por Adam Wingard responsável por filmes como o eficiente Você é o Próximo (2011) e segmentos da antologia de terror V/H/S (2011) e sua continuação, The Guest mostra a habilidade do realizador de fazer thrillers envolventes, tensos e até divertidos. No filme, Dan Stevens interpreta David, militar que volta da guerra no Afeganistão e visita a família de, Caleb, seu companheiro que foi abatido no conflito. Convidado para ficar na casa deles até resolver sua vida, David aos poucos mostra não ser uma figura das mais estáveis, o que definitivamente não é resultado do estresse pós-traumático tão comum de ver em soldados como ele, e apenas a jovem Anna (Maika Monroe), irmã de Caleb, desconfia disso. Situado na época do Halloween e tendo um interessante tom oitentista, perceptível na trilha que embala a narrativa, The Guest ganha tensão gradualmente, nos mantendo atentos a cada passo de David, que Dan Stevens interpreta exalando carisma e ameaça em uma atuação magnética. Tudo culmina em um terceiro ato eletrizante, que conta com uma bela sequência na pista onde o baile de Halloween da escola local deveria acontecer, sendo um bom desfecho para um longa instigante como a data merece. – por Thomás Boeira