Foram 500 do apogeu à decadência, um dos mais grandiosos períodos da história. O Império Romano não só gerou mitos e lendas sobre seus imperadores e vasta conquistas de territórios em guerras e batalhas como também serviu e serve de base para os mais variados épicos do cinema. Nesta semana entrou em cartaz mais um filme sobre o tema. Na verdade, o remake de um clássico de 1960. Ben-Hur traz frescor ao assunto, ainda que seja praticamente uma cópia reduzida de seu produto original. Por conta disso, a equipe do Papo de Cinema se reuniu para listar dez dos melhores longas que tratam da Roma daquela época. O resultado você confere a seguir. Será que o seu título favorito está aqui?
Quo Vadis? (1951)
Os idos do catolicismo são a base deste filme de Mervyn LeRoy que retrata o período da Roma comandada por Nero (Peter Ustinov) e sua perseguição adeptos da nova religião que dominaria o mundo. Para dar mais ênfase ao conflito há a história de amor proibida de Lygia (Deborah Kerr), uma plebeia, com o general Marcus Vinicius (Robert Taylor). Estes precisam se encontrar escondidos em cerimônias religiosas já proibidas e conhecem São Pedro (Finlay Currie), dando mais um passo à revolução contra o tirano e maluco imperador, inclusive chegando ao famoso episódio do incêndio em Roma. O título vem do latim que traduzido seria “aonde vai?” e o longa mostra os novos religiosos como vítimas e heróis perante o império e seu governante, mas nem por isso parece superficial ou católico demais. Dentro do possível, há uma atmosfera realista que garante bons questionamentos sobre o período histórico. – por Matheus Bonez
Júlio César (Julius Caesar, 1953)
Alçado à condição de astro do primeiro time de Hollywood quando sua carreira cinematográfica estava recém começando, Marlon Brando encarnou um dos mais famosos regentes de Roma em seu quarto papel nas telas. A adaptação de Joseph L. Mankiewicz para o texto literal de William Shaespeare pode incomodar um pouco pelo zelo à grafia e pronúncia exata das palavras de seu autor, assim como o sotaque novaiorquino de Brando parece perdido muitas vezes nas falas do imperador romano. Porém, além do ator ter sido indicado ao Oscar pela terceira vez por conta deste trabalho, é justamente a fidelidade à obra shakesperiana que traz o charme à produção, já excepcional em sua fotografia preto-e-branco e à montagem que torna o filme ágil no decorrer dos fatos, compensando o que poderia ser apenas um livro/peça teatral transcrito para as telas. E a história? Os últimos anos de Júlio César à frente do Império Romano e a artimanha para de conspiradores para tirá-lo do poder com a deflagração da famosa sentença “até tu, Brutus?” em seu clímax. Uma aula de história, assim digamos. – por Matheus Bonez
Ben-Hur (1960)
Empatado em primeiro lugar, junto com Titanic (1998) e O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003), como o maior vencedor de Oscars da história (11 ao todo, incluindo Melhor Filme), Ben-Hur é na verdade a segunda versão levada ao cinema do livro de Lew Wallace – uma anterior já havia sido filmada em 1925. A história relata como um destacado oficial do exército romano, Judah Ben-Hur (Charlton Heston), é traído e feito escravo. Aos poucos, ele galga os degraus de volta à Roma para vingar-se e libertar sua família. Quem comandou a super-produção foi William Wyler, que não poupou na grandiosidade (tão relacionada ao Império Romano), abusando de planos abertos em cenários que impressionam ainda hoje, principalmente quando levado em conta a inexistência de efeitos digitais na época. Essa condução segura e sem medo de apostar no seu orçamento é o que permitiu a concepção de uma das mais famosas sequências do cinema: a violenta e intensa corrida de bigas. Que também não é o único momento memorável do longa, que traz ainda um desfecho catártico e até mesmo, apoteótico, sempre cruzando com a história de Jesus Cristo – fazendo uma comparação inevitável com o herói de nome Judah. – por Yuri Corrêa
Spartacus (Spartacus, 1960)
Reza a lenda que Kirk Douglas desejava ardentemente encabeçar o elenco do épico Ben-Hur (1959), mas o diretor William Wyler teria escolhido em seu lugar Charlton Heston, pensando ser este um protagonista melhor para seu filme. Desejoso em fazer seu próprio Ben-Hur, Douglas resolveu produzir um épico no qual pudesse estrelar. E, assim, nasceu Spartacus. Depois de demitir o primeiro diretor contratado (Anthony Mann) por incompatibilidade de gênios, Douglas chamou Stanley Kubrick, com quem havia trabalhado em Glória Feita de Sangue (1957) para comandar a obra. O script foi assinado por Dalton Trumbo, roteirista que estava na lista negra de Hollywood desde o período da caça às bruxas MacCartista e que ganhava uma chance de trabalho por insistência de Kirk Douglas. A história de Spartacus é ambientada antes do nascimento de Cristo e mostra a jornada do personagem título, um escravo que vira gladiador e que tenta libertar seus companheiros da opressão. Kirk Douglas é um astro apropriado para o papel e convence completamente como uma figura de liderança para os escravos de então. De Kubrick se reconhece os enquadramentos inteligentes, a falta de pudor em mostrar cenas violentas e o desinteresse em construir um filme de gênero como o conhecemos. – por Rodrigo de Oliveira
Cleópatra (Cleopatra, 1963)
Superprodução de números faraônicos, lançada no período de instabilidade compreendido entre o ocaso da chamada Era de Ouro dos estúdios e a eclosão da Nova Hollywood impulsionada pelos movimentos contraculturais. Dirigido por Joseph L. Mankiewicz e protagonizado por Elizabeth Taylor e Richard Burton, este filme ficou marcado como um enorme fracasso comercial, em função da relação entre seu orçamento superlativo e a resposta ínfima do público. O longa-metragem narra em tons grandiosos a ascensão e o posterior declínio da rainha do Egito, mulher de beleza fulgurante, em meio ao relacionamento dela com o Império Romano, mais precisamente com Julio Cesar e Marco Antônio. Os cenários portentosos, os figurinos extremamente detalhados, em suma, o esmero da produção denota a vontade genuína de recriar minuciosamente uma época historicamente importante. Paixões, intrigas, traições e toda sorte de sentimentos e conflitos circundam uma das personagens mais famosas da História. Mesmo sendo um caso famoso de insucesso, boa parte em função do período de seu lançamento, os efervescentes anos 1960 em que as plateias já se mostravam avessas a esse tipo de realização, o filme de Mankiewicz beneficiou-se da passagem do tempo, pois, devidamente reavaliado, teve reconhecido seu valor. – por Marcelo Müller
A Queda do Império Romano (The Fall of the Roman Empire, 1964)
Quem assiste a esse filme após Gladiador (2000) pode notar diversas semelhanças na história. Situado no ano de 186 D.C., acompanhamos um dos pontos que levaram o Império Romano à decadência. Na época, Marco Aurélio (Alec Guinness) era o imperador e estava deflagrando batalhas contra as tropas germânicas às margens do Danúbio. Prestes a nomear seu sucessor, ao invés de escolher o filho Commodus (Christopher Plummer), ele escolhe Caio Livius (Stephen Boyd), líder de seu exército apaixonado por Lucilla (Sophia Loren), a outra filha de Marco Aurélio. Como acontece no filme de Ridley Scott, Commodus manda matar o pai, assume o império e começa a comandar tudo de forma desastrosa. Caio Livius não se torna gladiador, mas também é considerado traidor ao enfrentar seu novo superior e precisa lutar contra isso, ainda mais para ficar ao lado da amada. Filme grandioso inclusive para sua época (ironicamente, também foi um dos motivos que levou sua produtora à falência) é mais conhecido por sua bela trilha, indicada ao Oscar e vencedora do Globo de Ouro. Porém, também traz atuações grandiosas de seu elenco e uma história sempre curiosa a respeito de como funcionava o governo daquela – não tão diferente em seus esquemas de corrupção como nos dias de hoje. – por Matheus Bonez
Satyricon (Fellini Satyricon, 1969)
O lado mais revolucionário, decadente e perverso do Império Romano talvez tenha sido visto em Calígula (1979), de Tinto Brass. Mas ninguém que assistiu a esse filme estava preocupado com isso, e mais ligado nas cenas de sexo explícito e nas situações constrangedoras em que os personagens de Helen Mirren, Peter O’Toole e Malcolm McDowell se envolviam em cena. Por isso, o cinéfilo mais atento deve dar um pulo de outros dez anos para trás em busca desse que é um dos grandes clássicos de Federico Fellini. O sexo, os absurdos e os exageros característicos dessa época também estão presentes, porém com um teor crítico e satírico muito mais evidente. Fellini desconstrói todas as verdades tão emuladas por Roma como centro do universo em uma trama que envolve governantes déspotas, casais gays movidos por ciúmes e rebeldia, ninfas envoltas por luxúria e sedução e heróis de índoles duvidosa em vários questionamentos morais. A provocação, no entanto, fez efeito. Tanto que o diretor foi indicado ao Oscar por seu trabalho, além do filme ter concorrido ao Globo de Ouro e sido premiado no Festival de Veneza. – por Robledo Milani
Calígula (Caligola, 1979)
Toda a sordidez e excessos do Império Romano se encontram no cerne desta que é considerada uma das mais controversas produções cinematográficas da história. Baseado num roteiro do dramaturgo Gore Vidal, e produzido por Bob Guccione, fundador da revista masculina Penthouse, o longa narra a trágica trajetória no poder do imperador Calígula, marcado pela História como um tirano demente, cruel e extravagante. Na direção estava o mestre italiano do erotismo Tinto Brass, mas Guccione, com seu desejo de inserir cenas de violência e sexo explícito, visando o retorno comercial gerado pelo choque, assumiu o comando do projeto. Isto levou à demissão de Brass antes da edição final, que foi alterada pelo produtor, além de uma disputa com Vidal – que tentou retirar seu nome dos créditos. Mesmo com estes bastidores conturbados e as diversas versões lançadas, o errático filme possui valores inegáveis: os suntuosos cenários e figurinos criados por Danilo Donati, sequências visualmente deslumbrantes – como a da “máquina de decapitações” – e um elenco renomado, com Malcolm McDowell no papel-título, Helen Mirren, John Gielgud e Peter O’Toole. Apesar dos defeitos, há algo em Calígula para além da curiosidade e da aura quase mítica de “épico pornográfico mais caro de todos os tempos”. – por Leonardo Ribeiro
Gladiador (Gladiator, 2000)
O general que virou escravo. O escravo que virou gladiador. O gladiador que desafiou o império. Se existiu na última década um crescimento exponencial de filmes que mergulhavam no gênero “espada e sandália”, isto deve-se ao sucesso desta produção, que não tinha vergonha alguma de beber completamente na fonte de Ben-Hur (1959) e Spartacus (1960), dois dos filmes mais emblemáticos do estilo. Ainda que seja bastante derivativo destas duas produções supracitadas, Gladiador tem méritos que as demais não possuem: conseguir trazer de volta Roma e o Coliseu em toda a sua glória. Ponto para o diretor Ridley Scott. Gladiador recebeu cinco prêmios da Academia, incluindo Melhor Filme, e foi um grande sucesso nas bilheterias. Com cenas de batalha muito bem conduzidas e efeitos visuais impressionantes, Ridley Scott conquista o espectador com sua visão de Roma. Ao assistirmos o povo recebendo o pão e o circo e ao nos confrontarmos com o tamanho do Coliseu – e da barbárie que lá recebia – difícil não relembrar das aulas de história, quando apenas ouvíamos falar daquele período. Primeiro dos vários trabalhos conjuntos entre Ridley Scott e Russell Crowe, Gladiador marcou para o ator uma grande reviravolta na carreira, quando começou a conquistar mais espaço em Hollywood. – por Rodrigo de Oliveira
A Legião Perdida (The Eagle, 2011)
Aqui temos Channing Tatum antes do astro que é hoje como Marcus Flavius Aquila, um general do Império Romano, em 140 A.C., que precisa defender uma posição fortificada no norte da Inglaterra. A história começa 20 anos após o desaparecimento da Nona Legião, nas montanhas da Escócia, levando consigo uma marcante estátua de águia, símbolo de sorte e do poder de Roma. O pai de Marcus era o comandante desta expedição, e será missão do rapaz descobrir o que aconteceu com ele e resgatar a preciosidade perdida. Ao seu lado, apenas um escravo (Jamie Bell). Quando encontram um guerreiro oponente (Tahar Rahim) a parceria ganha uma nova dinâmica, o filme aumenta seu interesse, e será neste ponto em que os laços que os unem serão testados. Outras participações, como Donald Sutherland e Mark Strong aumentam ainda mais o interesse pelo filme, um thriller que funciona bem como aventura e também como drama histórico. – por Robledo Milani