São 42 modalidades, 306 provas e o mesmo número de medalhas, sendo 136 femininas, 161 masculinas e nove mistas. A Olimpíada 2016 ocorre até o dia 21 de agosto no Rio de Janeiro e é o tema mais comentado das manchetes e redes sociais no período. Então, que coisa melhor para o Papo de Cinema do que lembrar de dez grandes filmes que, de alguma forma, tem a ver com os jogos olímpicos? Nem todos os títulos listados falam da competição em si. Alguns retratam períodos históricos e até episódios de terrorismo. Outros são focados em atletas que existiram no lado de cá tela. E tem ainda aqueles que nem falam da Olímpiada clássica, mas sim de seus derivados, como os jogos de inverno. O que importa é o que o esporte toma conta desta nossa seleção. Então, confira se o seu filme favorito está no nosso ranking. Boa leitura!
Olympia (1938)
Leni Riefenstahl é mais conhecida pela obra de pura propaganda nazista O Triunfo da Vontade (1935). Porém, pouco depois, ela seria a diretora desse menos conhecido registro da infame Olimpíada de Berlim em 1936. Sediados então na Alemanha controlada por Hitler, os jogos daquele ano se desdobraram em inúmeras histórias conhecidas, impulsionadas pela ironia de se darem em um evento, que traz tanta diversidade cultural, acontecer em um local dominado por uma política tão segregacionista e preconceituosa – e que ainda viria a mostrar suas garras mais afiadas alguns anos mais tarde. Indo contra as decisões de Joseph Goebbels, que era contra a realização do projeto, Riefenstahl usou sua amizade com o Füher para conseguir a permissão de filmar um documentário sobre a Olimpíada de Berlim. O resultado é um projeto de 3 horas e meia divido em duas partes, que ressalta, claro, o poderio físico principalmente dos atletas alemães. Leni ganhou um orçamento gordo e pode fazer mudanças estruturais dentro da própria Vila Olímpica para acomodar os equipamentos de filmagem – mandou cavar trincheiras em torno dos campos, e instalar trilhos de travelling do topo das arquibancadas, tudo para conseguir as melhores imagens possíveis. De fato, como registro histórico, Olympia é impecável, com seus diversos ângulos e planos em definição invejável, já que foram pensados de antemão – mas carrega, obviamente, um teor racista e xenofóbico (excluindo a maior parte dos atletas negros, por exemplo) digno da doutrina nazista que a cineasta seguia de perto. – por Yuri Correa
Carruagens de Fogo (Chariots of Fire, 1981)
Talvez a música-tema deste filme dirigido por Hugh Hudson, parte da trilha sonora marcante a cargo de Vangelis (o mesmo de Blade Runner: O Caçador de Andróides, 1982), tenha se tornado ainda mais famosa que o próprio longa-metragem. Tornada praticamente um hino das maratonas, a canção rima com esforço e recompensa, palavras de ordem dos vencedores na seara esportiva. Mas, justiça seja feita, essa trama que mostra a preparação da equipe bretã de atletismo para a disputa dos jogos olímpicos de Paris, em 1924, ganhou prêmios a dar com pau. Venceu os Oscar de Melhor Filme, Melhor Roteiro Original, Melhor Figurino e, claro, Melhor Trilha Sonora. Levou para casa o BAFTA (maior láurea do cinema inglês) de Melhor Filme, Melhor Figurino e Melhor Ator Coadjuvante (Ian Holm). No Globo de Ouro, ficou com a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro. Para finalizar, e não alongar muito (pois a lista é grande), foi indicado à Palma de Ouro em Cannes, vencendo o certame francês na categoria Melhor Ator Coadjuvante (Ian Holm), além de receber uma menção honrosa do júri ecumênico. Embora seja pouco mencionado no quesito filmes destaque dos anos 1980, esta celebração do espírito esportivo trouxe a emoção das pistas às telonas, subindo ao pódio como poucos, provando seu valor. – por Marcelo Müller
Jamaica Abaixo de Zero (Cool Runnings, 1993)
Neste divertido longa-metragem dirigido por Jon Turteltaub e estrelado pelo saudoso John Candy, vemos a superação através do esporte, quando uma equipe jamaicana de atletas entra para Olímpiada de Inverno competindo com seus bobsleds – os rápidos e gelados trenós. Isso sem nunca terem praticado o esporte na vida. A história é livremente baseada no time da Jamaica que disputou a Olimpíada de Inverno de Calgary, no Canadá, em 1988 – mesma competição retratada em outra biografia com toques cômicos chamada Voando Alto (2016). Em Jamaica Abaixo de Zero, vemos Derice (Leon Robinson) tentando sua chance nos jogos olímpicos principais como corredor. Depois de um incidente, ele e outros competidores acabam ficando de fora da competição. Mas ele não se dá por vencido e resolve participar do evento de inverno, tomando dicas e sendo treinado por um controverso esportista do passado. Além de ter momentos cômicos memoráveis – principalmente pela atuação do simpático Doug E. Doug como o excêntrico Sanka – o longa é um daqueles exemplos clássicos do efeito transformador do esporte na vida das pessoas. O espírito olímpico é bem capturado pela equipe jamaicana, que é motivo de chacota por boa parte da trama, conquistando posteriormente as pessoas pelo seu talento e determinação. – por Rodrigo de Oliveira
Munique (Munich, 2005)
1972. A Olimpíada retornava à Alemanha 36 anos após serem usadas como palco para o espetáculo nazista em Berlim. Estado e sociedade alemães, responsabilizados pelas atrocidades cometidas contra os judeus nos tempos de Hitler, buscavam passar para o mundo uma imagem de superação do passado, de cura dessas feridas ainda abertas. No entanto, novamente na Alemanha, agora em meio a um ambiente que deveria ser de concórdia, judeus foram brutalmente assassinados – desta vez por terroristas da organização Setembro Negro. Junto aos atletas de Israel mortos em Munique, era sepultada uma certa inocência, encarnada na crença de que o Holocausto fora tomado como aprendizado absoluto e que atrocidades do tipo jamais se repetiriam contra o povo judeu. Munique, o filme de Steven Spielberg, parte desse episódio trágico para mostrar outra perda de inocência: dos próprios israelenses, em sua crença de que a defesa a todo custo do lugar conquistado por eles no mundo, fazendo uso inclusive da violência, não cobraria um alto preço – no limite, a própria identidade do Estado de Israel. Na filmografia de Spielberg, Munique, duríssimo do início ao fim, também representa ruptura com um olhar idealizado sobre os judeus, povo ao qual o diretor pertence, presente sobretudo em seu filme maior, A Lista de Schindler (1993). – por Wallace Andrioli
Asterix nos Jogos Olímpicos (Astérix aux jeux olympiques, 2008)
No ano das Olimpíadas de Pequim, veio da França um dos mais importantes filmes já feitos sobre essa grande festa do esporte mundial. Terceiro longa da saga do pequeno – porém valente – Asterix na tela grande (após Asterix e Obelix contra César, 1999, e Asterix e Obelix: Missão Cleópatra, 2002), a produção contou com uma mudança no elenco principal – saiu Christian Clavier, que interpretou o protagonista nos títulos anteriores, e entrou no seu lugar Clovis Cornillac. A diferença pouco se sentiu – ainda mais para o público brasileiro, uma vez que nenhum dos dois atores são populares por aqui. Mas, principalmente, porque o inigualável Gerard Depardieu continuou marcando presença como o invencível Obelix. Além disso, as participações especiais de esportistas como Michael Schumacher e Zinédine Zidane também foram determinantes para manter em alta o espírito esportivo entre os irredutíveis gauleses que, pela primeira vez na vida, se veem obrigados a deixar de lado sua famosa poção mágica para competirem nos jogos recém criados pelos gregos em pé de igualdade com os demais povos do Império Romano. E será por isso, também, que Obelix será obrigado a se conter – ainda mais diante de um Júlio César interpretado por ninguém menos que Alain Delon! – por Robledo Milani
B1: Tenório em Pequim (2009)
Este ótimo documentário, lançado em 2010, conta a trajetória do judoca Antônio Tenório, que, até então, havia vencido quatro vezes medalha de ouro nas Paraolimpíadas (Atlanta, em 1996, Sidney, em 2000, Atenas, em 2004 e Pequim, em 2008), tendo sido o único a realizar tal feito. Dirigido pelos cineastas estreantes Felipe Braga e Eduardo Hunter Moura, o filme mostra não só Tenório na competição paraolímpica, como também o acompanha durante sua preparação para este novo desafio. B1, como explicado no documentário, é a classificação para um judoca totalmente cego. Bastante didático ao mostrar o universo dos atletas paraolímpicos, o filme é rico em imagens das competições e um prato cheio para admiradores do esporte. Os diretores mantêm a estrutura habitual dos documentários, com depoimentos costurados a imagens dos confrontos de Antônio Tenório. Nada inovador – até chegarmos ao terceiro ato. Neste trecho, testemunhamos a luta final do judoca, disputando a medalha de ouro em Pequim. É neste momento que os diretores têm o melhor insight do documentário, colocando o espectador no lugar de Antônio Tenório. É uma cena simples, mas que requer o aguçamento de sentidos do espectador. Uma ideia ótima que, sabiamente, é usada apenas em um momento chave. – por Rodrigo de Oliveira
The Crash Reel (2013)
Talvez você não saiba o que é um half-pipe, a não ser que seja um entusiasta do snowboard. Trata-se de um fosso em formato de U dividido por duas paredes de quase sete metros de altura. Snowboarders decolam nessas paredes, projetam manobras incríveis e pousam perfeitamente – com algumas exceções. Para o candidato à medalhista olímpico Kevin Pearce, uma vida dedicada a quebrar limites no esporte foi deixada de lado após uma queda quase fatal. Imersa em uma série de gravações caseiras da família Pearce enquanto confrontavam o traumático ocorrido, a diretora Lucy Walker construiu um documentário esportivo tão empolgante quanto emotivo. The Crash Reel se estende para muito além das pistas de inverno; o filme se arrisca ao apresentar atletas em seus ambientes naturais, entre rivalidades, espectadores e patrocinadores muitas vezes mais perigosos que o próprio esporte que eles praticam. Enquanto a história de Kevin toma rumos inesperados, o filme explora os laços familiares contra as responsabilidades individuais, assim como as difíceis provações que nem sempre terminam em medalhas. Longe dos clichês do filme de esporte, The Crash Reel narra uma perspicaz e afetuosa jornada de descoberta que merece a sessão em tempos olímpicos ou não. – por Conrado Heoli
Invencível (Unbroken, 2014)
Angelina Jolie havia revelado ser uma diretora acima da média em Na Terra de Amor e Ódio (2011). Ela até pode não resistir a um ou outro clichê, mas suas intenções são reais – ainda que destas, como diz o ditado, o inferno esteja cheio. Porém, neste seu segundo trabalho por trás das câmeras, ela dá um passo adiante, ajudada principalmente por se ocupar da história real de Louis Zamperini, atleta olímpico – ele participou dos jogos de 1936, em Berlim – e herói militar. Durante a Segunda Guerra Mundial, como capitão das Forças Aéreas do Exército dos Estados Unidos, teve seu avião abatido, por pouco não morreu em alto mar apenas para, na sequência, ser capturado por forças japonesas inimigas, nas mãos de quem ficou preso até o final do conflito. Jolie força um pouco no melodrama, mas o desempenho de Jack O’Connell como o protagonista é de uma entrega impressionante. E se o segmento sobre as Olimpíadas parece restrito ao início do filme, é suficiente para perceber que foi de sua dedicação ao esporte que encontrou a força e a determinação para seguir vivo até os 97 anos, tendo falecido apenas em 2014, poucos meses antes deste filme chegar às telas. – por Robledo Milani
Foxcatcher: Uma História Que Chocou o Mundo (Foxcatcher, 2014)
O mundo esportivo não é composto apenas por histórias de superação e glórias, como prova este longa baseado em fatos, tipo de filme no qual o diretor Bennett Miller se especializou. Aqui o cineasta reconta o caso envolvendo os irmãos Mark (Channing Tatum) e David Schultz (Mark Ruffalo), campeões olímpicos de luta greco-romana em Los Angeles 1984, e o milionário John Du Pont (Steve Carell). Apreciador da modalidade, Du Pont cria um moderno centro de treinamento e convida os Schultz para se juntarem à sua equipe. Aos poucos, porém, a relação entre os três ganha contornos sombrios, prenunciando uma tragédia. Filmando com classe e precisão, Miller cria uma atmosfera densa, que envolve o mergulho no complexo estudo psicológico dos protagonistas e a investigação sobre os excessos do culto à vitória enraizado na sociedade norte-americana. Além da direção exemplar e da impecável parte técnica, o filme conta com atuações inspiradas do elenco. Tatum surpreende pela segurança e entrega física como o atormentado Mark, enquanto Ruffalo confirma seu posto entre os atores mais versáteis e confiáveis da atualidade. Mas é mesmo Carell – sob pesada maquiagem – quem se destaca com uma composição atípica em sua carreira, criando uma figura imprevisível e ameaçadora. – por Leonardo Ribeiro
Raça (Race, 2016)
O atleta Jesse Owens é um dos maiores emblemas olímpicos. Seu desempenho nos jogos de Berlim, em 1936, representou um ideal de resistência político-social. Além disso, foi um grande triunfo pessoal, já que ele veio de uma família pobre e sofreu toda sorte de discriminação por ser negro num país (os Estados Unidos) ainda bastante marcado pelo racismo. Vale lembrar que a Alemanha então testemunhava a ascensão do nazismo, que culminaria três anos depois na eclosão da Segunda Guerra Mundial. Portanto, Owens vencer quatro medalhas de ouro debaixo do nariz da liderança do Terceiro Reich simbolizou a vitória dos oprimidos frente à força bruta dos opressores. Este filme de Stephen Hopkins foca na relação de Owens (Stephan James) com seu treinador, este interpretado por Jason Sudeikis. Embora não se debruce sobre as complexidades que envolvem tanto a trajetória pessoal do protagonista quanto a sua representatividade histórica, o longa possui o mérito de apresentar o lado heroico do personagem – infelizmente não sem encobrir suas possíveis falhas, tratando-as como barreiras menores diante da possível glorificação. De qualquer maneira, as subidas do garoto negro ao pódio dos jogos cujo anfitrião foi Hitler aqui ganha um desenho, senão multifacetado, ao menos competente. – por Marcelo Müller
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