O cartaz desta adaptação cinematográfica da obra de Jorge Amado já nos mostra a referência básica da personagem imortalizada pelo baiano na pele de Sônia Braga: a Vênus de Milo. É na seca do nordeste que a história se passa. Gabriela é parte de um grupo de retirantes que se muda para Ilhéus, na Bahia, em busca de novas oportunidades de vida. Ela é encontrada toda suja nas ruas por Nacib Saad (Marcello Mastroianni), que precisa de uma cozinheira. Ele logo se apaixona pela menina, tão jovial e sensual quanto ingênua, numa atuação marcante de Sônia Braga. Só que, após um casamento forjado, por Gabriela não possuir certidão de nascimento, a relação dos dois começa a esfriar. Não pela falta de paixão, mas por conta de toda a sociedade ao redor. Se antes a jovem podia frequentar a cama dele como sua amante, as normas morais diziam que, passando a ser esposa, ela precisava ser recatada e do lar. Algo nem tão distante da realidade de hoje, por mais que a trama de Amado sirva como uma metáfora do fim do coronelismo e subsequente surgimento de uma sociedade menos arcaica e mais urbana. Com isso, a personalidade indomável e sexual da protagonista se mostra cada vez mais presa a tudo que lhe é imposto: modos de se vestir, falar e agir. Só que uma fera não fica enjaulada por muito tempo, algo que Nacib experimenta na própria pele. O diretor Bruno Barreto traz um ar televisivo para a trama, o que, mesmo assim, não tira sua força como história sobre a hipocrisia do imaginário brasileiro e do papel da mulher. Gabriela é uma personagem revolucionária por não ter medo de dizer o que gosta, o que deseja, o que é. Ser autêntico tem seu preço. E Jorge Amado sabia bem disso quando transformou essa personagem tão simples em suas atitudes numa criatura feroz e humana como todos. Talvez por isso mesmo a gente fique tão apaixonado por ela como Nacib o faz incondicionalmente.
