Quase uma década após Tenda dos Milagres, o cineasta Nelson Pereira dos Santos se voltou mais uma vez à obra de Jorge Amado, uma de suas principais influências, com a adaptação deste romance escrito pelo autor baiano na década de 30. A trama apresenta um retrato social da Salvador do início do século 20 ao acompanhar a trajetória de Antônio Balduíno, o Baldo. De origem humilde, tendo sido criado pela tia, Baldo, ainda criança, passa a viver com uma abastada família até, anos mais tarde, ser expulso de casa devido ao seu relacionamento com Lindinalva, a filha do comendador que o acolhera. Na rua, ele faz o possível para sobreviver – cometendo pequenos delitos, lutando capoeira – sempre contando com a proteção do pai de santo Jubiabá (Grande Otelo) e preservando sua paixão por Lindinalva. Vindo do êxito de Memórias do Cárcere (1984), baseado em outro grande nome da literatura nacional, Graciliano Ramos, Pereira dos Santos realizou este longa em coprodução com a França – o que explica o grande número de franceses no elenco, como Françoise Goussard, Raymond Pellegrin, Julien Guiomar e Catherine Rouvel, atuando ao lado de nomes nacionais, como Betty Faria e Zezé Motta – utilizando o romance interracial proibido como fio condutor para tratar de temas como o preconceito e a luta de classes. A tomada de consciência de Baldo, que chega a se tornar uma espécie de líder sindical carismático, conduzindo uma greve, carrega as marcas essenciais tanto da escrita de Amado quanto do cinema de Pereira dos Santos, resultando num longa que talvez não seja tão celebrado quanto outros do realizador, mas que não deixa de ter seu apelo