Lançado em 1959, o romance A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água pode ser considerado – pelos mais puristas, ao menos – como uma das obras menores do grande Jorge Amado. E isso por se tratar quase de um folhetim, com menos de 100 páginas e publicado inicialmente em capítulos da revista Senhor. Aos poucos, no entanto, foi ganhando status de clássico, principalmente pelos personagens carismáticos e pelo inusitado de sua trama, que, mesmo apelando para o realismo fantástico, conseguiu retratar com precisão uma parcela significativa do povo da Bahia. A história do defunto que não é deixado em paz pelos melhores amigos e levado para uma última noite de festa, mulheres e bebedeira em uma Salvador triste por sua partida foi adaptada pela primeira vez em 1978, em um especial de televisão com Paulo Gracindo como o personagem-título. O telefilme funcionou, mas faltava ainda uma visão cinematográfica, digamos. E depois de uma tentativa no Egito com Gannat al Shayateen (1999), versão do texto do autor que chegou a ser premiada nos festivais de Damasco, Alexandria e Cairo, mas que permanece inédita no Brasil, a história, enfim, foi levada às telas pelo baiano Sérgio Machado. Paulo José surge como o mais vivo dos mortos, enquanto Irandhir Santos e Marieta Severo lideram a trupe de desajustados que se recusam a dar adeus ao amigo de tantas noitadas, ao mesmo tempo em que enfrentam os chiliques da filha boa moça, vivida por Mariana Ximenes, e pelo genro acomodado, aqui na pele de Vladimir Brichta. A reunião do ótimo elenco é um dos destaques da produção, que merecidamente recebeu dez indicações ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro – o Oscar da produção nacional – tendo recebido duas estatuetas: Melhor Direção de Arte e Figurino.
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