É de praxe. Sempre tem algum ator ou atriz em ascensão que ganha destaque (muitas vezes superestimado, outras não) em alguma produção, leva o ouro para casa e, após, embarca em projetos furados e de mau gosto ou que ainda tentam, mas nunca estão à altura de seu talento. A maldição do Oscar pode ser tenebrosa para algumas carreiras. Poucos conseguem se revitalizar. Pode ser um excesso de ego que leva a querer escolher demais os próprios papeis, ou não ter uma visão ampla para tal. Na semana passada chegou às telonas Mortdecai: A Arte da Trapaça, filme estrelado por Johnny Depp (que apesar de não sofrer da maldição tem tido cada vez mais fracassos de bilheteria e crítica) com participação de Gwyneth Paltrow, um notório caso amaldiçoado pela estatueta dourada. E ela está listada aqui com mais nove colegas no nosso Top 10 da semana. Por sinal, de dez, oito são mulheres, confirmando o discurso de Patricia Arquette na última cerimônia sobre como papeis femininos de relevância são difíceis em Hollywood. Confira!
Tatum O’Neal, premiada como Melhor Atriz Coadjuvante por Lua de Papel (1973)
Contracenando com seu pai, Ryan, em Lua de Papel (1973), Tatum O’Neal conquistou os votantes da Academia e garantiu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Então com 10 anos, se tornou a pessoa mais jovem a receber a honraria e viu sua carreira ascender ao estrelato, da noite para o dia. A celebridade já não era um conceito estranho para ela, afinal de contas seus pais são atores (a mãe é Joanna Moore). Era de se esperar, portanto, que Tatum tivesse um futuro brilhante pela frente, pois não apenas era um evidente talento precoce, como também tinha certa intimidade com as sempre complicadas engrenagens da fama. Todavia, no mundo do entretenimento dois mais dois não necessariamente somam quatro. Logo após o Oscar, Tatum não conseguiu sustentar a expectativa. Sua biografia é marcada por relações conturbadas, vício em drogas e litígios de diversas naturezas. Tatum foi a primeira namorada do cantor Michael Jackson. Diante das poucas atuações dignas de nota depois da aclamação que recebeu pela coadjuvância no filme de Peter Bogdanovich, é o que de mais notório pode-se dizer da menina que um dia venceu o prêmio com o qual muitas veteranas ainda sonham. – por Marcelo Müller
Geena Davis, premiada como Melhor Atriz Coadjuvante por O Turista Acidental (1988)
Qual foi o último filme que você viu com Geena Davis? Caso sua resposta seja Os Fantasmas se Divertem (1988) ou Thelma & Louise (1991), deve concordar que faz considerável tempo que a atriz não protagoniza nada de relevante. No entanto, se sua resposta foi “Quem é Geena Davis?”… Você entendeu onde queremos chegar. Modelo descoberta por Sydney Pollack em Tootsie (1982), Davis iniciou sua carreira no cinema ao lado dos grandes Dustin Hoffman e Jessica Lange. Depois de trabalhos para a televisão e filmes menores, ganhou projeção como a protagonista feminina de A Mosca (1986) e a protagonista fantasma da comédia supracitada de Tim Burton. Seu Oscar veio com O Turista Acidental (1988), seguido por uma nova indicação como a Thelma do road movie de Ridley Scott, mas, depois do estrelado período, pouco aconteceu. Nos anos 1990, ela aparecia frequentemente na Sessão da Tarde em A Ilha da Garganta Cortada (1995) e O Pequeno Stuart Little (1999), e também no Supercine, em Despertar de um Pesadelo (1996), porém seu maior destaque tem sido a série médica Grey’s Anatomy. Geena Davis atualmente desenvolve um importante trabalho como militante pela diversidade de gêneros e contra os estereótipos femininos no cinema e televisão. – por Conrado Heoli
Whoopi Goldberg, premiada como Melhor Atriz Coadjuvante por Ghost: Do Outro Lado da Vida (1990)
Alguns adoram o romance entre Patrick Swayze e Demi Moore em Ghost: Do Outro Lado da Vida. Para mim, o filme só começa quando Oda Mae Brown surge injetando doses cavalares de humor, interpretada por uma sobrenatural Whoopi Goldberg. Por seu desempenho, venceu o Oscar na categoria Coadjuvante, depois de ter concorrido pelo prêmio de atriz principal por A Cor Púrpura (1985). Whoopi ainda gozou de sucesso pós-vitória no Oscar, protagonizando o divertidíssimo Mudança de Hábito (1992), chegando a ser indicada ao Globo de Ouro. No entanto, depois disso, só desilusões. O cúmulo do fracasso foi a malfadada comédia Meu Parceiro é um Dinossauro (1995), no qual ela contracenava com um ator vestido como um tiranossauro. Existem, aqui e acolá, algumas produções medianas, que acabam divertindo muito por causa do carisma de Whoopi – Mudança de Hábito 2 (1993) e Eddie (1996) se encaixam nesta categoria, mas servem mais como guilty pleasures do que qualquer outra coisa. Depois de desistir de protagonizar, a atriz acabou encontrando alguns bons papéis coadjuvantes em Garota Interrompida (1999) e Nas Profundezas do Mar sem Fim (1999). Mas nunca com o mesmo brilho. Refugiada em alguns programas de tevê, brilhou mais em suas participações como apresentadora do Oscar. – por Rodrigo de Oliveira
Nicolas Cage, premiado como Melhor Ator por Despedida em Las Vegas (1995)
Em Despedida em Las Vegas, Nicolas Cage está impressionante. Não à toa, entre elogios e outros prêmios, foi contemplado com o Oscar de Melhor Ator. Interpretando um dramaturgo de Hollywood em rota de colisão consigo mesmo, que bebe compulsivamente para abreviar a chegada da morte, Cage alcançou o reconhecimento que seu talento merece. Contudo, depois de levar para casa a estatueta mais cobiçada da indústria norte-americana do cinema, o sobrinho de Francis Ford Coppola alternou vertiginosamente altos e baixos, com destaque para a última categoria, responsável, inclusive, por fazer dele um alvo fácil de piadas e outras observações jocosas. Parecendo pouco preocupado com a solidificação de sua carreira, tem empilhado atuações questionáveis, algumas tão risíveis que são compiladas em vídeos da internet como exemplos do “método Cage”, expressão obviamente pejorativa. Nesse sentido, ele cavou a própria sepultura. Sorte que, de vez em quando, sob a direção de gente gabaritada como Martin Scorsese (Vivendo no Limite, 1999) e Spike Jonze (Adaptação, 2002), só para citar dois, exiba a capacidade que um dia o Oscar reconheceu, mas que, infelizmente, ele próprio não valoriza como deveria. – por Marcelo Müller
Mira Sorvino, premiada como Melhor Atriz Coadjuvante por Poderosa Afrodite (1995)
A maldição do Oscar chega rápido para alguns, devagar para outros. Para Mira Sorvino, veio a galope. Filha do ator Paul Sorvino, a jovem atriz começou a mostrar seu talento em papéis pequenos em Quiz Show (1994) e Sem Fôlego (1995). Ninguém dava muito por ela até estrelar, ao lado de Woody Allen, Poderosa Afrodite, filme no qual ela vive uma prostituta de fala fina, pouca inteligência e grande coração. Sua atuação foi muito elogiada, o Oscar de Atriz Coadjuvante veio, mas os bons papéis acabaram ficando para trás. Ela ainda teve boas chances em produções como o televisivo A Verdadeira História de Marilyn Monroe (1996), pelo qual foi indicada ao Globo de Ouro, e Romy e Michele (1997), com boas atuações e sucesso moderado. Depois disso, foi fracasso em cima de fracasso. Os papéis de protagonista em grandes produções começaram a rarear – Mutação (1997) não deslanchou como poderia. E ela acabou se voltando a trabalhos em televisão e produções independentes. No cinema, seu último papel de relevância foi em Coração Partido (2009), longa que alcançou algumas premiações em sua época. Na tevê, foi indicada ao Globo de Ouro por seu papel na minissérie Human Trafficking. – por Rodrigo de Oliveira
Gwyneth Paltrow, premiada como Melhor Atriz por Shakespeare Apaixonado (1998)
Gwyneth Paltrow era a “menina dos olhos” de Hollywood. Transitava sem muito destaque em algumas produções, ganhou notoriedade em Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995) – mais por ser namorada de Brad Pitt no filme e na vida real -, até que chegou em 1998 com vários sucessos de público e/ou crítica. Dos cinco filmes realizados naquele ano, é claro que Shakespeare Apaixonado ganhou destaque por ser o mais sério do currículo. Sua atuação realmente é o melhor do filme – que diverte, mas é bobinho demais. Porém, no Oscar de 1999 todas as outras concorrentes eram infinitamente melhores e em papeis muito mais relevantes. Que o digam Cate Blanchett e Fernanda Montenegro. Após a estatueta, a maldição pegou e muito disso se deve à antipatia gerada por ela ter “roubado” o prêmio de outras atrizes talentosas. Mas a culpa é dela ou da Academia que queria uma nova namoradinha da América? Fato é que poucas produções estreladas por Paltrow se destacaram desde então, como Os Excêntricos Tenenbaums (2001), Sylvia: Paixão Além das Palavras (2003) e Amantes (2008). Neste meio tempo, várias bombas como Duets: Vem Cantar Comigo (2000) e Voando Alto (2003). Atualmente chama mais atenção como Pepper Potts, a namorada de Tony Stark nos filmes da Marvel. Muito pouco para quem parecia ir além. – por Matheus Bonez
Halle Berry, premiada como Melhor Atriz por A Última Ceia (2001)
Antes de estrelar o drama dirigido por Marc Foster, Halle Berry nunca havia chamado a atenção da crítica ou do público por causa do seu talento. Seu melhor trabalho até então havia sido o telefilme Dorothy Dandridge: O Brilho de uma Estrela (1999), que lhe valeu um Globo de Ouro, um Emmy e um SAG Award. Sua vitória no Oscar, ainda que não seja contestada – seu trabalho é, afinal, digno do prêmio – foi embalada também por uma feliz coincidência: o Melhor Ator foi Denzel Washington, e pela primeira vez dois intérpretes negros levaram juntos os principais prêmios na maior festa do cinema mundial. Desde então ela tem feito de tudo: foi bondgirl, conseguiu mais destaque na franquia de super-heróis X-Men, ganhou uma Framboesa de Ouro como a Pior Atriz do ano pelo constrangedor Mulher-Gato (2004) e entregou outras atuações dignas de nota, como Coisas que Perdemos pelo Caminho (2007) e Frank & Alice (2010), porém sem nunca, no entanto, chegar perto de receber outro convite para a premiação da Academia de Hollywood. E o que ela está fazendo agora? Um seriado para a televisão. Será o fim? Ou apenas um novo começo? – por Robledo Milani
Jennifer Connelly, premiada como Melhor Atriz Coadjuvante por Uma Mente Brilhante (2001)
A maldição é algo inexplicável. Até dá para entender figuras como Halle Berry e Mira Sorvino, que tiveram um papel decente no meio de tanta porcaria. Mas alguém como Jennifer Connelly, que sempre soube escolher produções independentes de respeito, ter sido afetada pelo azar após o Oscar parece algo inacreditável. Não que ela tenha feito só coisas ruins desde então. Casa de Areia e Névoa (2003) e Diamante de Sangue (2006) estão aí para comprovar que nem tudo foi perdido. Porém, a atriz tem azar de escolher produções em que serve de escada para atuações de outras. Foi assim com Kate Winslet em Pecados Íntimos (2005), por exemplo. Pior de tudo é participar de comédias românticas do naipe de Ele Não Está Tão a fim de Você (2009). Connelly não tem cara para isso. Ela chega até ser antipática devido à sua classe, por isso nunca cola no gênero. Ou talvez este seja mesmo o problema: falta versatilidade. Sempre incrustada em dramas mais profundos, a interprete não consegue ir ao grande público. O que é esperado de quem ganha o Oscar. Mas quando nem as produções menores se destacam, a situação é preocupante. – por Matheus Bonez
Adrien Brody, premiado como Melhor Ator por O Pianista (2002)
Apesar de ter aparecido em filmes de Terrence Malick, Spike Lee e Ken Loach, ninguém parecia saber quem era Adrien Brody. Aí que ele surgiu como protagonista do melhor trabalho de Roman Polanski em anos. Naquela temporada, os favoritos como Melhor Ator eram Jack Nicholson, premiado no Globo de Ouro, e Daniel Day-Lewis, vencedor do Bafta e do SAG Award. Brody, por outro lado, havia ganho apenas o troféu da Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema, um prêmio de menor repercussão. Ele era a terceira opção, e numa eventual divisão entre as duas escolhas mais óbvias acabou ganhando espaço inesperadamente. Sua reação ao receber o prêmio foi de tamanha surpresa que ficou evidente que nem ele mesmo esperava por esse resultado. Um dos mais jovens premiados em toda a história do Oscar – tinha apenas 29 anos – conseguiu aproveitar brevemente esse momento de imensa popularidade, mas foram tantas escolhas erradas desde então que nem mesmo eventuais associações com Woody Allen ou Wes Anderson parecem ter limpado sua barra. E entre trabalhos na televisão e produções feitas na China ou na Austrália, segue tentando encontrar uma nova grande oportunidade. Mas como bem dizem, um raio não cai duas vezes no mesmo lugar… – por Robledo Milani
Renée Zellweger, premiada como Melhor Atriz Coadjuvante por Cold Mountain (2003)
O primeiro papel relevante de Renée Zellweger, que lhe proporcionou alguma notoriedade para trabalhos maiores, foi no indie Empire Records – no Brasil, Sexo, Rock e Confusão (1995). Um ano e três filmes depois, ela emprestou graça e muito carisma para a mãe solteira por quem Tom Cruise se apaixona em Jerry Maguire: A Grande Virada (1996). Duas indicações ao Oscar a colocaram no centro de Hollywood: com O Diário de Bridget Jones (2001) e Chicago (2002), a texana descendente de noruegueses se tornou uma das atrizes norte-americanas mais requisitadas. O prêmio veio como a coadjuvante em Cold Mountain (2003), numa polêmica que apontava seu desempenho como apenas razoável e o Oscar como consolação pelas indicações anteriores. Independentemente de seu mérito, a tal maldição estava lançada: os próximos filmes de Mrs. Zellweger foram fracassos de bilheteria, fiascos de crítica, produções irrelevantes ou uma conjuntura composta pelos três fatores – caso de A Minha Canção de Amor (2010), seu último trabalho lançado. Numa nova investida para alavancar sua carreira e com um novo rosto (mais parecida com Robin Wright do que com ela própria), Renée tem dois projetos para este ano. Basta esperar para ver se ela consegue retomar seu posto de america’s sweetheart. – por Conrado Heoli
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A Kim Basinger e a Diablo Cody, realmente. Mas a primeira nunca foi uma "promessa", pra que se esperasse grandes coisas dela após o Oscar, não é mesmo? Aqui foi um legítimo golpe de sorte. E a Diablo Cody, como tu mesmo afirmou, não é intérprete, que foi o nosso foco. Já quanto à Nicole Kidman, com certeza ela fez muita porcaria após o Oscar, mas também conseguiu uma nova indicação (por Reencontrando a Felicidade, 2010), além de ter tidos outros trabalhos elogiados (Dogville, Obsessão...). Acho que ela merece ficar de fora, né?
queridos, vcs estao se esquecendo de Nicole Kidman/Kim Basinger. Eu iria além. Diablo Cody não é atriz, mas segue esta batuta aí.