Ela dispensa apresentações. Meryl Streep é a maior recordista de indicações ao Oscar, com 19 lembranças em menos de 40 anos. Em 2015 ela repete a façanha como Melhor Atriz Coadjuvante por sua Bruxa de Caminhos da Floresta (2014). Vencedora de três prêmios já, a certeza é que Streep merecia muito mais do que este número de vitórias. Pensando nisso tudo, a equipe do Papo de Cinema resolveu organizar quais são os dez melhores papéis da intérprete que já compareceram à festa da Academia. Então, eis a nossa seleção!
Kramer vs. Kramer (1979)
Das 19 indicações ao Oscar que Meryl Streep recebeu ao longo de toda sua carreira até agora, três se converteram em estatuetas. A primeira delas veio em 1980, graças a sua atuação no belíssimo Kramer vs. Kramer. Aqui, Streep ficou com o papel de Joanna Kramer, que abandona o filho, Billy (Justin Henry), e o marido viciado em trabalho, Ted (Dustin Hoffman), retornando tempos depois querendo a custódia do garoto, exatamente no momento em que ele e o pai estão mais próximos um do outro e se acostumaram a conviver sem ela. Seria muito fácil para o roteiro pintar Joanna como uma vilã, tendo em vista o crescimento do amor entre Ted e Billy (numa dinâmica maravilhosa e tocante entre Hoffman e Henry), que são as figuras que acompanhamos durante a maior parte da história. “Quem ela pensa que é para atrapalhar isso agora?”, pensariam alguns. No entanto, conseguimos entender as motivações da personagem, que é tratada como uma mulher que decide partir ao ver que toda sua energia está se perdendo em um casamento infeliz, que parece tê-la feito se esquecer de viver a própria vida. E Streep a interpreta com grande sensibilidade, tendo merecido o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante. – por Thomás Boeira
A Mulher do Tenente Francês (The French Lieutenant’s Woman, 1981)
Muito antes de Meryl Streep ser “a” Meryl Streep aclamada que hoje reconhecemos, ela estrelou esse drama romântico que já permitia revelar muito do talento com o qual hoje tantos se emocionam. Dirigido pelo tcheco Karel Reisz (que colocaria outras atrizes de respeito, como Jessica Lange e Vanessa Redgrave, também na disputa do Oscar em anos seguintes), Streep conquistou sua primeira indicação na categoria principal (ela já tinha duas, incluindo uma vitória, como Coadjuvante) ao brincar com a metalinguagem que o filmes propunha mais de duas décadas antes do genial Adaptação (2002), outro exemplar do gênero em sua filmografia. Aqui ela tanto dá vida à personagem do título, a sofrida apaixonada que é abandonada, como a atriz contemporânea que precisa vivenciar a mesma história na ficção. E é surpreendente como ela dá conta das duas missões com absoluta excelência. Apesar do filme ter concorrido ao Oscar em cinco categorias – sem, no entanto, ganhar em nenhuma delas – o desempenho da protagonista foi reconhecido no Globo de Ouro, no Bafta e pelos Críticos de Los Angeles, dando início a uma longa trajetória que até hoje segue colhendo frutos. – por Robledo Milani
A Escolha de Sofia (Sophie’s Choice, 1982)
Por quase três décadas Meryl Streep ficou apenas com dois Oscar na estante de casa e, até A Dama de Ferro (2011), sua primeira vitória como atriz principal foi por este denso papel. No longa, a personagem título (Streep) é uma imigrante polonesa nos EUA que namora o judeu americano Nathan (Kevin Kline). Um jovem escritor sulista, Stingo (Peter MacNicol), vai parar na mesma casa dos dois e fica amigo do casal. Porém, o jogo do título com a sinopse oficial é uma armadilha. A tal escolha não é com quem ela deve ficar como parceiro, e sim seus dois filhos, uma menina e um menino. Se esta história do casal pertence ao presente, em flashback sabemos mais dos segredos da personagem principal e os porquês de sua complexa personalidade. Algo que Streep desnuda com força e delicadeza, sem nunca apelar para o melodrama em que o filme parece cair às vezes, por mais que a narrativa já seja dramática por si só. A atriz dá uma aula de como construir um personagem com eficiência, sendo mais do que merecido não só o Oscar, mas todos os prêmios conferidos a ela por esta inesquecível e dolorida atuação. – por Matheus Bonez
Lembranças de Hollywood (Postcards from the Edge, 1990)
Baseado no livro semi-autobiográfico da atriz Carrie Fisher sobre a relação com a mãe, a atriz Debbie Reynolds, Lembranças de Hollywood traz Meryl Streep interpretando Suzanne Vale, uma atriz viciada em drogas que junta os pedaços de sua carreira fadada ao fracasso após ultrapassar os limites durante um encontro e ter uma overdose. É quando sua mãe Doris Mann (Shirley MacLaine), um ícone das comédias musicais dos anos 1950 e 60, surge para ajudá-la… ou enlouquecê-la ainda mais. Na rivalidade entre mãe e filha, o diretor Mike Nichols explora a versatilidade de Streep, oscilando entre a comédia e o dramalhão, sem nunca perder a qualidade do espetáculo. Com um belíssimo número musical entre as atrizes, o diretor dá espaço para a excelente química que possuem em cena. Dentre tantas indicações ao Oscar que Streep já recebeu, algumas até mesmo desnecessárias, é bonito de ver um trabalho tão inesperado da parte da atriz ser reconhecido. Sem sombra de dúvidas, Lembranças de Hollywood é um dos melhores títulos da década de 1990 e deve muito ao carisma e talento de Meryl Streep. – por Renato Cabral
As Pontes de Madison (The Bridges of Madison County, 1995)
Em As Pontes de Madison, Meryl Streep interpreta uma dona de casa interiorana, que vive a rotina de se doar aos filhos e ao marido. Sozinha enquanto os seus estão numa competição pecuária, ela conhece o fotógrafo interpretado pelo também diretor Clint Eastwood, forasteiro que chega para registrar as pontes da cidade. A cordialidade inicial vai gradativamente dando espaço a um sentimento improvável, misto de desejo e paixão, que aproxima os dois, fazendo-os viver um amor tão curto quanto memorável. Pelo papel dessa mulher, angustiada por ter de escolher entre o homem que bateu em sua porta e a manutenção da estrutura familiar, Meryl Streep recebeu uma de suas 19 indicações ao Oscar, não sem merecimento. Há poucos filmes tão românticos quanto As Pontes de Madison e isso se deve, além da direção precisa de Eastwood, à maneira como os dois atores interagem para nos passar a dimensão de um sentimento arrebatador, e depois a melancolia por não poder vivê-lo. Streep expressa com maestria o turbilhão de emoções que assola sua personagem, cuja força não está em largar tudo em busca da felicidade, mas em permanecer, indo contra o próprio coração. – por Marcelo Müller
Adaptação (Adaptation, 2002)
Sem a maquiagem pesada utilizada em outros filmes, a grande Meryl Streep tinha poucos suportes para se apoiar ao construir sua personagem para Adaptação, mas alguns reveses. Sua missão era personificar Susan Orlean, premiada escritora norte-americana, a partir do imaginário proposto pelas mentes lúdicas e loucas de Charlie Kaufman e Spike Jonze, que já tinham no currículo uma magistral parceira em Quero Ser John Malkovich (1999). O êxito da atriz mais uma vez a levou ao Oscar com uma indicação como coadjuvante, num casting excepcional que rendeu o mesmo prêmio para Chris Cooper e nomeou Nicolas Cage na categoria principal. Sessão obrigatória para qualquer cinéfilo, ainda mais para os apaixonados por roteiros elaborados, Adaptação vai de exercício metafórico e metalinguístico para uma obra-prima em poucos frames. Streep sempre faz valer cada minuto que tem em tela, e aqui enumera motivos para ser considerada por tantos a maior atriz em atividade, provando para qualquer possível e infeliz detrator que maquiagem, figurinos e quaisquer adereços afins são apenas artifícios quando comparados com seu poder de interpretação. – por Conrado Heoli
O Diabo Veste Prada (The Devil Wears Prada, 2006)
De todas as suas últimas indicações – e elas tem sido anuais, praticamente – uma em que Meryl Streep realmente merecia ter saído vitoriosa foi na que recebeu pelo papel de Miranda Priestly aqui em O Diabo Veste Prada. A comédia acompanha a jovem jornalista Andy (Anne Hathaway), que para fazer algum nome na grande Nova York, começa a trabalhar de secretária para a editora chefe de uma grande revista de moda. Acontece que Priestly é uma mulher dura, exigente e sem coração, que ainda por cima faz as demandas mais absurdas para a suas subordinadas. Com uma expressão fundamentalmente de desprezo no rosto, Streep constrói a “vilã” com uma postura rígida que alterna entre os movimentos graciosos quando em público e os precisos e secos quando não e tem apenas a praticidade em mente. Assim, quando raramente desconstrói essa figura autoritária, a atriz não precisa fazer muito para comover com o ser humano que há por baixo de toda aquela imponência. Se o filme funciona – e realmente – é muito graças a sua presença e interação com o ótimo elenco com quem contracena. De Hathaway, passando por Emily Blunt até Stanley Tucci, todos afinadíssimos com aquela que é a verdadeira estrela do projeto. – por Yuri Correa
Dúvida (Doubt, 2008)
Como não ficar maravilhado com um filme que tem uma dupla de protagonistas como Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman? Em Dúvida , o diretor John Patrick Shanley conseguiu unir a atriz ao já saudoso ator em uma história espinhosa, que conta ainda com boas performances de Amy Adams e Viola Davis. Adaptada da peça de teatro do próprio Shanley, Dúvida se passa nos anos 60 e nos mostra as suspeitas da irmã Aloysius (Streep) sobre o comportamento do padre Brendan Flynn (Hoffman). Aos olhos da freira, o padre está aliciando impropriamente o jovem Donald Miller (Joseph Foster), o primeiro aluno negro do colégio. A forma como a trama é contada faz jus ao título do filme. Ficamos na dúvida em quem acreditar. Streep cria uma freira durona e controladora, que está completamente segura de suas certezas, mesmo que não tenha provas para corroborar suas acusações. Já Hoffman interpreta um padre simpático e afeito a mudanças. Um homem que acredita que a Igreja deve se mostrar mais amigável para os fiéis e que, às vezes, usa seus sermões para passar mais do que a voz de Deus para sua paróquia. Dúvida consegue manter o interesse do espectador até o final e merece louros por isso, já que se escora basicamente nos diálogos para trabalhar sua narrativa. Felizmente, o elenco muito bem escalado faz com que a experiência seja imperdível. – por Rodrigo de Oliveira
Julie & Julia (2009)
Em 2010, o título Julie & Julia recebeu apenas uma indicação ao Oscar e Meryl Streep foi a responsável, em sua 16ª indicação, dessa vez para Melhor Atriz. O motivo não foi nenhum outro senão o fato de que ela deu para o personagem Julia um tempero adicional delicioso na forma de um sotaque “franco-americano”. No filme, ela interpreta a esposa de um diplomata americano na França, que se matriculou na tradicional Le Cordon Bleu, tornou-se uma autora de livros no segmento e, anos mais tarde, inspirou outra mulher (Amy Adams) a produzir as mais de 500 receitas que escreveu. Além da maneira peculiar de falar, Streep adotou trejeitos específicos da cozinheira, um tanto quanto desajeitada, marca registrada de alguém que enveredou pela “profissão” tardiamente, mas popularizou a cultuada culinária francesa. Embora Adams também esteja bem no seu papel, não seria difícil imaginar alguém dizendo que gosta mais do momento Julia Child, com a recordista de indicações emprestando seu carisma. Nora Ephron escreveu, produziu e dirigiu esse longa morninho e agradável de se ver. Bon appétit! Quer dizer, boa sessão! – por Roberto Cunha
A Dama de Ferro (The Iron Lady, 2011)
O principal destaque de A Dama de Ferro é, obviamente, a perfeita e irretocável interpretação da musa do cinema hollywoodiano Meryl Streep. Em sua décima sétima indicação ao Oscar – recordista absoluta – chega a ser inacreditável que ela tenha ganho até aquele momento em apenas duas ocasiões, sendo que a anterior fora quase trinta anos antes (por A Escolha de Sofia, 1982). Meryl compõe uma mulher forte e imbatível, mas ao mesmo tempo faz uma senhora frágil e incomodada com sua atual situação, porém contendo um vulcão dentro de si. Sua resignação escapa apenas em questão de olhares, que mesmo na velhice apontam para todas as conquistas e feitos que já protagonizou. Streep está presente em cerca de 90% das cenas, e as carrega com tamanha desenvoltura e habilidade como somente uma grande intérprete conseguiria, atravessando épocas e espaços, discussões e debilidades, fraquezas e poderes com igual maestria. Um exemplo que merece ser seguido. – por Robledo Milani
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