Drácula é uma figura há muito habitante no nosso imaginário. E o cinema tem grande responsabilidade nisso, especialmente a emblemática versão de 1931, dirigida por Tod Browning, na qual Béla Lugosi imortalizou o soberano da Transilvânia como uma ameaça ambígua, ao mesmo tempo feroz e dotada de charme. Mas, antes, F.W. Murnau, já tinha se valido da mesma matriz, apenas trocando o nome do vampiro em virtude de questões referentes aos direitos autorais, para nos apresentar uma criatura asquerosa, cujo aspecto causa repulsa e medo imediatos, algo revisto por Werner Herzog, muitos anos depois, com seu remake protagonizado por Klaus Kinski. O então já celebrado Francis Ford Coppola, nos anos 90, decidiu contribuir com sua visão acerca de Vlad, o empalador, tornado monstruoso após o pacto com as forças das trevas. O grande diferencial aqui é a abordagem. Coppola mostra o personagem interpretado por Gary Oldman, tanto no resplendor da juventude quanto na decrepitude da vida eterna, como uma figura trágica, vitimado por circunstâncias devastadoras que lhe tiraram o amor da vida. Com um visual suntuoso, o cineasta constrói um filme essencialmente dramático, em que o horror aparece como consequência natural da feiura de um mundo dividido entre o desespero e a falta de esperança. – por Marcelo Müller