20170723 corrida sem fim papo de cinema

No mesmo ano do lançamento de Corrida Contra o Destino, o grande Monte Hellman entregava ao mundo outro exemplar fundamental da representação da contracultura nas telas, reforçando ainda mais uma importante característica do movimento: a integração dos ideais libertários com a música. Tal elemento surge não necessariamente através de uma trilha sonora emblemática, como ocorria em Sem Destino, por exemplo, mas pela presença de dois nomes notórios do meio musical, o cantor James Taylor e Dennis Wilson, baterista dos Beach Boys, como intérpretes dos protagonistas sem nome do longa, conhecidos simplesmente como O Motorista e O Mecânico, respectivamente. Na trama, os dois atravessam os Estados Unidos num Chevy 55, participando de competições de corrida. Pelo caminho, acabam cruzando com duas figuras que alteram sua rotina, A Garota (Laurie Bird), que passa a acompanhá-los, e G.T.O (Warren Oates), homem de meia-idade, que dirige justamente um G.T.O amarelo e os desafia a uma corrida até Washington. Ao invés da ação, Hellman privilegia a contemplação, criando uma jornada existencialista que coloca em confronto os valores do passado norte-americano, representados por G.T.O, com suas histórias inventadas e a gana por vencer os jovens na disputa, e os da geração dos anos 60/70, que tem no trio que vaga sem rumo, mas com apreço pela liberdade de fazê-lo, seus símbolos. Nesse contexto, O Motorista vivido Taylor, de fisionomia inabalável e emprestando sua voz suave aos raros diálogos do personagem, surge como catalisador desse sentimento de não pertencimento, de desorientação, encontrando na velocidade uma válvula de escape e rumando pela vastidão da estrada em busca de um sentido para o mundo que o cerca. Algo que as lentes de Hellman captam com rara beleza. – por Leonardo Ribeiro

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