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Top 10 :: Músicos Brasileiros

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Que a MPB  é um oceano de compositores e intérpretes cheios de talento, isso não é novidade. Muito menos a curiosidade que tais artistas provocam no público, nos especialistas musicais, em seus fãs. Não à toa diversos documentários pipocam as telas todos os anos relatando shows, momentos íntimos e, é claro, a música produzida por estes gênios da sonoridade. Nesta semana chega aos cinemas Chico: Artista Brasileiro, sobre a vida do mestre Chico Buarque. Com isso, a equipe do Papo de Cinema selecionou dez grandes títulos que retratam o perfil de outros nomes importantes da nossa música. Confira!

 

Vinícius de Moraes, em Vinícius (2005)
Apresentando-se mais como um ‘docudrama’ – ou seja, um documentário intercalado por passagens ficcionais – o longa dirigido por Miguel Faria Jr. virou febre ao ser exibido nos cinemas, dez anos atrás, se tornando o mais bem sucedido representante do gênero nas bilheterias até hoje – foram mais de 200 mil espectadores, um feito e tanto para o formato. Através de leituras dramáticas da obra do autor, interpretadas por Camila Morgado e Ricardo Blat, somos convidados a conhecer a obra de um dos maiores autores da nossa literatura, de expressão forte da poesia, e imortal na música. Adriana Calcanhoto, Zeca Pagodinho, Chico Buarque e Caetano Veloso são apenas alguns dos muitos que prestem suas homenagens nesse trabalho bastante reverencial, possibilitando uma jornada que investida não apenas o cenário cultural do país nas últimas décadas, mas acima de tudo revelando ao público um artista até mesmo pouco conhecido, que sempre esteve por trás das melodias e poemas tão inspirados que nos legou. Autor e obra se confundem em um trabalho elaborado com sensibilidade e carinho, que faz jus ao talento do biografado, enaltecendo o que tinha de melhor e descartando eventuais tropeços. É um filme-abraço, que assume seu tom de exaltação sem vergonha ou constrangimento, e talvez seja justamente essa honestidade que o tenha tornado tão memorável. – por

 

Arnaldo Baptista, em Loki: Arnaldo Baptista (2008)
Dirigido pelo excelente Paulo Henrique Fontenelle, que este ano lançou outro documentário sobre uma grande figura do cenário musical brasileiro (Cássia Eller, 2014), Loki: Arnaldo Baptista faz um grande apanhado da vida do líder e fundador do grupo Os Mutantes, banda fundamental para o movimento da Tropicália. Ao longo de duas horas, Fontenelle retrata com propriedade a ascensão do artista e da banda como um todo, nos colocando diante de um talento inegável que influenciou uma série de outros músicos, mas sem ignorar uma série de problemas que Baptista enfrentou ao longo dos anos, como o uso de drogas e sua crise depressiva na década de 1980, que culminou em uma tentativa de suicídio com sequelas muito claras. Em meio a todos esses aspectos, o filme nos mostra um homem que encanta com sua forma de se expressar e que mostra uma energia que há tempos parecia não ter, algo que culminou em seu retorno com Os Mutantes na metade da década passada. É um documentário brilhante sobre um artista idem e que, de quebra. apresentou o talento de um documentarista que vem merecendo total atenção atualmente. – por Thomás Boeira

 


Caetano Veloso, em Coração Vagabundo (2008)
Um agradável passeio com Caetano Veloso por várias cidades. É essa a sensação que o documentário com duração de pouco mais de uma hora proporciona. No filme, o diretor Fernando Andrade acompanha Caetano em suas apresentações por São Paulo, Nova Iorque, Tóquio, Osaka e Kyoto durante a turnê “A Foreing Sound”, entre 2003 e 2005. Ali conhecemos um sujeito simples, sincero e engraçado. Caetano é desmistificado, mesmo que o filme não tenha nenhuma profundidade. Aquele que vemos é bem diferente daquele que conhecemos pela mídia. A música dos shows, obviamente, é boa, mas o longa vai além. Através dos lugares, dos momentos, dos amigos e conversas, Caetano relata seus pensamentos (sempre andando, sempre em frente) seus desejos, sua inconformidade pela falta de notoriedade da cultura brasileira diante culturas mais tradicionais e afirma não fazer parte daquelas cidades, pois viveu até os 18 anos no interior da Bahia. Caetano no filme parece não dar a mínima para luxo, paparicagens ou sofisticações. Não fica impressionado ou seduzido por se apresentar no Carnegie Hall. Mas fica incomodado ao ser entrevistado em Nova Iorque. O cantor e compositor baiano, fala e age à vontade na maior parte do tempo diante da câmera. E na hora da dor, não disfarça quando não quer falar a respeito de algum assunto da sua vida pessoal (tristeza pela separação com Paula).  O valor do material, somado à linguagem viva e presente, proporciona uma descoberta prazerosa. – Alexandre Derlam

 

Wilson Simonal, em Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei (2009)
Dirigido por um trio de novatos – Micael Langer, Calvito Leal e Cláudio Manoel (esse ex-Casseta & Planeta) – este é um dos mais interessantes e reveladores documentários sobre a música popular brasileira já realizado. Com um elenco impressionante reunido – com nomes que vão de Chico Anysio a Boninho, de Pelé a Nelson Motta, de Ziraldo a Barbara Heliodora – os realizadores conseguirem criar uma obra viva e pulsante, colorida do início ao fim para trazer à luz a vida e a obra de Wilson Simonal, homem que vendeu milhões e acabou quase esquecido por esse mesmo público. Condenado ao ostracismo após um suposto envolvimento com a Ditadura Militar, Simonal pagou os pecados pela própria inconsequência dos seus atos e da forma de encarar as situações que se deparavam em seu caminho. Artista das antigas, ganhou aqui uma interpretação completamente moderna e vívida, dona de uma edição ágil e de uma leitura dinâmica, que não esquece a influência que exerce até hoje – seja na presença dos filhos, Wilson Simoninha e Max de Castro, ou mesmo nos herdeiros artísticos, que tanto se esforçam para reproduzir aquilo que para ele era natural: talento, afinal, se nasce, e não se aprende. E aqui tem-se um belo exemplo dessa verdade inegável. – por

 

Itamar Assumpção, em Daquele Instante em Diante (2011)
Famoso por suas apresentações performáticas imprevisíveis, e por sua obra experimental e vanguardista, Itamar Assumpção se tornou um dos mais cultuados nomes da música brasileira. Apesar deste status entre artistas e estudiosos, Itamar ainda permanece quase desconhecido para boa parte do grande público, e este longa, dirigido por Rogério Velloso, assume justamente a missão de resgatar e apresentar esta figura tão complexa e fascinante, tentando transmitir aos espectadores a noção do valor de seu trabalho. Apesar da narrativa documental bastante convencional, o filme acerta ao buscar um olhar mais íntimo sobre seu documentado, trazendo depoimentos apenas de pessoas muito próximas a Itamar, como sua esposa, filhas, membros de suas bandas e parceiros musicais, como Arrigo Barnabé. Contando com um vasto acervo de imagens, entrevistas e apresentações do cantor, o longa consegue não só decifrar boa parte de seu processo criativo, como também revelar a figura do homem além do músico, especialmente na tocante parte final, que aborda os últimos anos antes de sua morte, em 2003, vítima de um câncer. Um artista inquieto que viveu sempre às margens da indústria, taxado de injustamente de “maldito”, mas que conquistou uma admiração quase unânime e merece ser (re)descoberto através deste longa. – por Leonardo Ribeiro

 

Tom Jobim, em A Música Segundo Tom Jobim (2012)
Um documentário sem depoimentos, apenas uma série de momentos musicais intercalados que contam a história de um música através de grandes momentos de sua obra. Foi assim que Nelson Pereira dos Santos, um dos precursores do Cinema Novo, decidiu relatar a trajetória do mestre Tom Jobim. Aqui, palavras não fazem sentido para Santos. O que importa é o mix de som e imagens que, se por alguns momentos pode dar a ideia de um grande videoclipe, na maior parte de seus 80 e poucos minutos mostram a genialidade do compositor através da emoção de sua música. Com a ajuda da co-diretora Dora Jobim (neta de Tom) e de Antônio Venâncio, que conseguiram boa parte dos clipes no acervo do Instituto Tom Jobim, são apresentadas 42 músicas interpretadas por nomes como Gal Costa, Elis Regina, Chico Buarque, Caetano Veloso, Ella Fitzgerald e Judy Garland, entre tantos outros. No meio de tantos clássicos, é claro que estão alguns facilmente associados à figura do homenageado, como “Garota de Ipanema” e “Águas de Março”, além de muitas outras composições que podem pegar de surpresa os mais desavisados. Um espetáculo de sentimentos que brotam na tela e que demonstra as várias formas de se contar a história de alguém. Ainda mais de um dos nomes mais importantes da MPB. – por

 

Ney Matogrosso, em Olho Nu (2012)
Um artista tão múltiplo e camaleônico quanto Ney Matogrosso não poderia ganhar um documentário convencional que se responsabilizasse de contar sua história. Pois o longa assinado por Joel Pizzini é tudo, menos previsível. Artista imprescindível para o entendimento da cultura nacional, Ney é cantor, intérprete, músico, ator, mestre de cerimônias, ativista e muito mais. Exibido pela primeira vez na mostra competitiva do Festival de Brasília, saiu de lá premiado com o Troféu Marco Antônio Guimaraes, em reconhecimento ao valor artístico da obra. Ainda que possua uma boa seleção de depoimentos e imagens de arquivo – como é de praxe em produções do gênero – este filme vai além, subvertendo essa proposta em busca de um formato que melhor retratasse o homenageado. Há música, há história, há passagens pouco conhecidas e a versão do artista sobre temas polêmicos de sua trajetória. Mas, acima de tudo, aqui encontramos Ney Matogrosso de alma aberta, em um imenso painel sobre sua obra e vida. Provocações à parte, é um filme à altura da personalidade sobre a qual se debruça, e só por isso já merece ser descoberto. – por

 

Raul Seixas, em Raul: O Início, o Fim e o Meio (2012)
Conseguir contar em apenas 120 minutos a história musical de Raul Seixas, por si só, já seria uma tarefa hercúlea. Raulzito lançou 15 discos de estúdio durante sua carreira, do clássico “Krig-Ha, Bandolo!”, de 1973, ao discutível “A Panela do Diabo”, de 1989, lançado pouco tempo antes de sua morte. Não contente com apenas esta tarefa, Walter Carvalho decidiu fazer um documentário que abraçasse outras facetas do músico, como suas variadas esposas e companheiras, seu mergulho no álcool e nas drogas e seu interesse por curiosas seitas. O diretor consegue uma gama enorme de entrevistados e ainda costura os depoimentos com imagens de arquivo raras e vídeos musicais clássicos de Raul Seixas. Não deixa de ser triste observar como as drogas e o álcool cobraram um preço caro na vida de Raul. O músico, que começou como Elvis Presley, no fim da vida estava mais para Roy Orbison, sempre de óculos escuros, com gestos lentos, lembrando pouco o maluco beleza que fizera tanto sucesso no passado. Se Raul: O Início, o Fim e o Meio serve para algo, é para deixar viva na memória dos brasileiros sua herança musical que, assim como seu ídolo de Memphis, jamais morreu. – por Rodrigo de Oliveira

 

Bebeto Alves, em Mais Uma Canção (2013)
Bebeto Alves é um músico que sempre ficou longe da acomodação. Passeando pelos mais variados estilos durante uma carreira que já se aproxima dos 40 anos, o músico pode ser apontado como um dos principais nomes do que chamamos popularmente de MPG, a Música Popular Gaúcha. Seria fácil colar louros e mais louros em Bebeto, o pintando como um músico criativo e bem sucedido. O filme, no entanto, mostra a tentativa de Bebeto em alçar voos mais altos no resto do Brasil e falhando no intento. Nem o contrato com a gravadora Som Livre, uma das grandes da época, conseguiu colocar Bebeto Alves nas paradas de sucesso. Daí surge a pergunta que dá norte à primeira metade do documentário: porque os músicos do Sul não conseguem chegar ao topo das paradas no Brasil?  Esta investigação é feita pelos cineastas Rene Goya Filho e Alexandre Derlam neste documentário, que costura a trajetória de Bebeto Alves com sua busca pela sonoridade que deu origem à música que ouvimos no Sul da América. A pergunta fica sem resposta. E, no final das contas, não importa tanto. Quando Bebeto retorna, encontra uma cena no Rio Grande do Sul que abraça os músicos daqui. E isso faz toda a diferença. – por Rodrigo de Oliveira

 

Cássia Eller, em Cássia Eller (2015)
Cássia Eller era um furacão no palco. Já na intimidade, intimidava-se, não por falta de coragem, aliás, muito pelo contrário, mas por ser tímida. Sua voz poderosa transitou por diversos gêneros musicais, sem limitar-se a qualquer um deles. A imagem que colou no imaginário popular foi a da cantora porra-louca, capaz de mostrar os peitos e falar palavrão entre uma estrofe e outra. Os chegados conheceram uma Cássia diferente, afetuosa, por vezes autodestrutiva, mas que transbordava generosidade. O maior mérito do documentário do diretor Paulo Henrique Fontenelle é justamente nos apresentar a mulher, a amante passional, a mãe que desafiou as convenções até mesmo depois da morte – motivando uma decisão judicial até então inédita que garantiu a guarda do filho à sua companheira de tantos anos. Os parceiros musicais e de vida choram sua partida, a ausência de alguém que tremia de nervosismo ao dar entrevistas, mas que se agigantava de posse do microfone. A íntima relação com as drogas não é omitida, assim como as infidelidades e as zonas cinzentas. Celebração da artista e da pessoa, esse filme só consegue atingir a complexidade, pois não julga Cássia, não a culpa, não a absolve, busca compreendê-la. – por Marcelo Müller

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.

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