Depois de duas décadas trabalhando em Hollywood, o holandês Paul Verhoeven retornou à sua terra natal para concretizar um antigo projeto, utilizando ideias e relatos colhidos para a concepção do roteiro de Soldado de Laranja (1977), que acabaram não utilizados. Da costura de tais fragmentos de história nasceu este thriller ambientado na Holanda ocupada pelos nazistas, que narra a trajetória de Rachel Stein (Carice van Houten), cantora judia que, após ver seu esconderijo bombardeado e a família assassinada pelos alemães numa tentativa de fuga, se junta a uma célula da Resistência Holandesa. Incumbida da missão de se infiltrar na Gestapo, Rachel tinge seus cabelos de loiro, adota o nome Ellis de Vries e se envolve com Müntze (Sebastian Koch), oficial alemão de alto escalão. Como de costume, Verhoeven se apropria das convenções dos gêneros – o filme de espionagem e o de guerra – para tratar de temas específicos que lhe são caros, no caso, a retomada do olhar crítico, lançado anteriormente no citado Soldado de Laranja, sobre o colaboracionismo de seus compatriotas com o nazismo. Com uma trama calcada em reviravoltas e jogos de aparências, numa mistura da história de Mata Hari com toques de Os Doze Condenados (1967), o cineasta cria uma obra carregada da subversão típica de seu cinema, tendo como elemento fundamental a presença magnética de van Houten que, com sua beleza, e oferecendo a entrega sem pudores exigida pelo papel, eleva a jornada de busca pela sobrevivência, pela justiça e de resgate da memória apresentada pelo longa. – por Leonardo Ribeiro
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